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Desenvolvimento comportamental : Parte II

billshcot

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Nov 10, 2010
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( este artigo constitui uma continuação do anterior )


Do ponto de vista comportamental, o período de socialização, que decorre entre a 4ª e a 12ª semana, é, de um modo geral, considerado o mais importante.


Período de socialização (entre a 4ª e a 12ª semana)


Nesta altura, existe um coincidente desenvolvimento dos componentes cerebrais e da complexidade dos comportamentos. A rapidez e eficiência com que conseguem processar informação e a maturação dos orgãos dos sentidos são factores preponderantes para a capacidade de exploração do meio ambiente, bem como para a capacidade de comunicação dos cachorros e, consequentemente, para a sua vida social.


Os comportamentos de solicitação de cuidados maternais são, nesta fase, relativamente “sofisticados”, consistindo principalmente em: abanar a cauda (mantendo-a numa posição baixa); latir; lamber o nariz, focinho e lábios da mãe; saltar; dar “patadas” e seguir, muito estreitamente, a fêmea. A relação de solicitação/cedência de cuidados maternais, existente em fases mais precoces, evolui, durante este período, para uma relação de dominância/submissão. Esta alteração inicia-se por volta da 4ª-5ª semana, quando a fêmea evita e desencoraja activamente, através de rosnados, ameaças com a boca e “dentadas inibidas”, as tentativas que os cachorros fazem para mamar. De um modo geral, aos 60 dias o desmame está completo. Estudos têm sugerido que na 7ª semana a relação de dominância/submissão entre a mãe e as crias já se encontra estabelecida, tendo a severidade utilizada pela fêmea, nesta transição, efeitos importantes no desenvolvimento comportamental dos cachorros, nomeadamente no que se refere à coesão do grupo e à relação com humanos. Assim, indivíduos sujeitos a uma maior agressividade materna tendem a ser menos gregários e menos sociáveis com humanos.


O cão é uma espécie naturalmente gregária. Durante o período de socialização, desenvolvem-se comportamentos de grupo, coordenados dentro da ninhada. Estes incluem várias acções efectuadas em conjunto como: dormir, comer, andar, correr, sentar, dormir, investigar, ladrar e uivar. Os cachorros cheiram-se, lambem-se e dão “patadas”, uns aos outros, envolvendo-se em actividades de grooming mútuo. Este fenómeno de “atracção social” pode ser usado como uma vantagem em treino precoce, na medida em que, quando separados da mãe e irmãos, os animais direccionam estes comportamentos para os humanos (nova “matilha”), tendendo a seguir e a aproximar-se do dono. Existe também forte efeito de “facilitação social” entre os cães que, devido ao factor de competição ou a um aumento da actividade emocional, faz com que tendam, por exemplo, a correr mais depressa ou a comer mais na presença de outros do que sozinhos.


O sistema social segue regras, que devem, necessariamente, ser comunicadas e entendidas pelos indivíduos que lhes pertencem. A aprendizagem das regras sociais, através da mãe e das relações desenvolvidas com os restantes elementos da ninhada, tem uma função adaptativa de grande importância. No contexto das relações hierárquicas desenvolvidas dentro da ninhada, existe um forte elemento competitivo, nomeadamente no que se refere à aquisição de alimento e posse de objectos. O desenvolvimento dos cachorros envolve, por um lado, o desenvolvimento dos comportamentos agressivos e, por outro, de todas as sinalizações e movimentos expressivos (ritualizações) susceptíveis de os inibir. Os sistemas de contra-agressão conseguem, na maioria das vezes, substituir o acto agressivo, evitando os elevados custos que estes comportamentos envolvem. Neste contexto, a comunicação visual, através de posturas corporais e expressões faciais, exerce uma função primordial. Os sinais visuais, nesta espécie, envolvem a posição das orelhas, a boca, expressões faciais, o pêlo nas zonas das espáduas e garupa, a cauda, bem como a postura e posição de todo o corpo. Um cão subordinado tende a reduzir a aparente dimensão do seu corpo e a mostrar uma diminuição do seu potencial de ameaça: mantém a cabeça e o corpo numa posição baixa, com as orelhas planas, a cauda é mantida em baixo e junto às coxas. Não olha fixamente para o indivíduo dominante, tendendo a lamber-lhe o focinho e a dar-lhe leves pancadas com o nariz. O comportamento de submissão pode assumir contornos ainda mais exagerados (ex. rolar, mantendo-se de costas, com exibição da região inguinal; urinar). Por seu lado, um cão dominante tende a manter o corpo numa postura rígida e posição relativamente elevada, com pilorecção, com a cabeça e a cauda para cima e as orelhas erectas. Mantém um olhar directo, podendo exibir os dentes, com retracção vertical dos lábios. Este comportamentos são, muitas vezes, acompanhados de vocalizações (ex. rosnar, ladrar). São ainda de referir outros padrões comportamentais relacionados com o estatuto social de dominância, nomeadamente, colocar a cabeça e as patas sobre o subordinado, roçar a cabeça ou pescoço e montar o adversário (geralmente sem impulsos pélvicos).


Tal como referido anteriormente, e como a própria designação indica, o período de socialização é fulcral para o subsequente comportamento social do indivíduo. Na sua maioria, os comportamentos caninos normais são aprendidos durante os períodos de brincadeira. A actividade lúdica é, nesta fase, o mais comum e importante comportamento interactivo. Trata-se de um conjunto de comportamentos com características largamente reconhecidas. Os jogos caninos incluem padrões de comportamentos sexuais, predatórios e agressivos. No jogo social, entre cachorros, incluem-se, por exemplo, os jogos de “perseguição” e de “luta”, frequentemente observados. O primeiro consiste na aproximação e afastamento repentino de um indivíduo relativamente a outro, parecendo um convite à perseguição. A exibição de “vénias” (parte dianteira do corpo baixa, com as patas numa posição “esfígica”, mantendo a traseira erguida, com as patas esticadas verticalmente) é um reconhecido sinal de convite à brincadeira. O jogo de “luta” baseia-se em combates falsos, em que existe um forte elemento competitivo, podendo distinguir-se o vencedor e o vencido através das posturas corporais e do grau de controlo dos eventos subsequentes. Além das brincadeiras efectuadas em contexto social, existem ainda as que consistem em actividades motoras e na manipulação de objectos inanimados.


A actividade de jogo/brincadeira é fundamental para o desenvolvimento comportamental: estimula o comportamento em comum; facilita a interacção social; molda o comportamento adulto; estabelece, precocemente, fortes relações sociais; estimula a destreza física e mental; melhora a coordenação; permite experimentação, sob condições seguras, e a demonstração comportamentos ritualizados; permitem a aprendizagem das regras sociais e da previsibilidade, através das sequências dos eventos; permite a exploração do meio; e constitui uma forma segura de aumentar a capacidade de resolução de problemas cada vez mais complexos.


Neste período, particularmente sensível no que respeita aos aspectos sociais, o isolamento pode ter consequências importantes a longo prazo, inclusivamente ao nível da capacidade de aprendizagem. Os companheiros de ninhada constituem uma importante fonte de estímulos, fundamental para a interacção social e desenvolvimento mental, sendo as relações de dominância/submissão, estabelecidas, essenciais para a aprendizagem das regras da “etiqueta canina”. Assim, quando privados do contacto com outros cães, os indivíduos tendem a ser mais submissos e medrosos, excessivamente ligados aos humanos que os tratam, podendo mesmo apresentar comportamentos sexuais inadequados. A incapacidade de reconhecimento das regras sociais pode, ainda, conduzir a problemas de agressividade entre cães. O processo de sociabilização, nesta espécie, permite o desenvolvimento de fenómenos de vinculação relativamente a indivíduos de outra espécie com quem os cães mantenham contacto social. Observações do comportamento de cachorros criados exclusivamente com gatos, indicam que não reconhecem outros cães como seus companheiros, preferindo os gatos para o efeito. Cães que tenham pouco contacto humano até à 14ª semana de idade, dificilmente poderão vir a ser bons animais de companhia. A falta de exposição a pessoas, durante esta fase sensível, pode conduzir a posteriores situações de medo ou fobia relativamente a humanos e a enormes dificuldades para o processo de treino. Esta é uma situação mais comum em cães criados em canis – “Doença do Canil”. Estes animais, dependendo da sua constituição genética, podem ser demasiado tímidos ou mais difíceis de dominar. Podem exibir uma excitabilidade excessiva, protagonizar respostas de fuga, tentando evitar as pessoas ou, em alguns casos, pelo contrário, “paralisar”. Este medo, resultante de experiências precoces pode ser minimizado, através de experiências mais tardias e agradáveis.


Durante o período de socialização, os cachorros devem ser expostos ao máximo possível de estímulos e experiências, de intensidade moderada. Nesta fase, é nomeadamente importante o reconhecimento de outros animais, de crianças e de novos ambientes. A variabilidade e complexidade dos ambientes físico e social são de grande relevância para o desenvolvimento comportamental, influenciando, inclusivamente, o desenvolvimento de medos. Entre a 3ª e a 5ª semana de idade, os cachorros tendem a aproximar-se de objectos e a interagir com indivíduos que não lhes são familiares. A partir da 5ª semana a resposta de medo começa a desenvolver-se, atingindo o seu máximo entre a 8ª e a 10ª semana. O medo é uma resposta adaptativa, de auto-preservação em situações desconhecidas ou incomuns. Para além da componente genética, contém uma outra aprendida, podendo ser “desaprendido”, através de processos específicos. As situações de medo podem originar comportamentos agressivos de defesa. A agressividade por medo é a causa mais comum de mordeduras a crianças, podendo dever-se ao facto de o cão não estar socializado com elas, considerando-as uma espécie diferente e não familiar, ou a uma experiência nociva ou desagradável.


A adopção de um cão, por humanos, deverá ter em conta factores importantes, nomeadamente no que se refere à fase de desenvolvimento em que se encontra, bem como às experiências a que é sujeito durante o processo. Tem sido geralmente afirmado que a melhor altura para integrar um cachorro é o período entre a 6ª e a 8ª semana, durante a “fase de sociabilização óptima”. No entanto, de acordo com estudos desenvolvidos nesta área, até à 7ª semana de idade poderá ser demasiado cedo para retirar um cão da sua ninhada. Entre a 6ª e a 7ª semana surge uma forte vinculação relativamente a locais e aos companheiros, podendo a separação, nesta fase, ter efeitos prejudiciais para o bem-estar do cachorro, influenciando inclusivamente a sua susceptibilidade a doenças e a sua capacidade de aprendizagem. A adopção deve efectuar-se enquanto existe grande facilidade para o desenvolvimento de relações estáveis. Entre a 7ª semana e meia e a 8ª semana e meia, os cachorros encontram-se preparados para a separação e com um equilíbrio ideal para beneficiar da exposição aos diversos ambientes de socialização, sendo provavelmente esta a melhor altura para se adoptar um cão. A separação da progenitora e dos irmãos não deverá ser concomitante com o desmame, na medida em que os níveis de stress, neste caso, tendem a aumentar. O processo de adopção expõe o cachorro a experiências novas, que constituem importantes fontes de aprendizagem. É, pois, de grande relevância que não induza medo, que não seja doloroso, nem associado a circunstâncias atemorizadoras como, por exemplo, situações traumáticas durante o embarque e transporte, mutilações, tatuagens ou castigos severos.


Período juvenil (até atingir a maturidade sexual)


O período juvenil prolonga-se até à maturidade sexual, que pode ocorrer entre o 6º e o 15º mês de idade (sendo mais comum entre o 7º e o 10º mês). Durante esta fase, os cães aumentam de tamanho e melhoram a capacidade para a execução de actividades mais complexas. Entre o 4º e o 6º mês surgem comportamentos sexuais adultos, começando os machos a ser atraídos por fêmeas em cio.


Considerações Finais


Nem todas as raças respondem da mesma forma a determinadas circunstâncias, existindo também importantes diferenças individuais. O desenvolvimento comportamental depende da interacção da genética, fisiologia e da experiência, sendo um processo progressivo no tempo, fruto da constante combinação de factores genéticos, hormonais, sensoriais e de todos os estímulos ambientais a que o indivíduo é sujeito. Quando os cães não são expostos aos estímulos apropriados, durante os períodos sensíveis, podem não desenvolver um repertório comportamental adequado ou desejável. Assim, o ambiente pré-natal e o manuseamento precoce, bem como as interacções e a experiência com a mãe e companheiros da ninhada, com os humanos e com animais de outras espécies, em fases específicas do desenvolvimento, são factores determinantes para o comportamento dos cães domésticos
 
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