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Despertar para a ciência através da astronomia em Serpa

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Professor Máximo Ferreira leva a XV Astrofesta à serra de Serpa

Despertar para a ciência através da astronomia

O professor Máximo Ferreira é o rosto mais visível da astronomia. Investigador, professor e divulgador, há 33 anos, é o responsável pelo sector de Astronomia do Museu da Ciência da Universidade de Lisboa e director do Centro de Ciência Viva de Constância. “Utilizar a astronomia para sensibilizar o público para a ciência” é o seu mote, a “Astrofesta” é a actividade através da qual a ideia se materializa.

A XV edição da Astrofesta realiza-se nos dias 8, 9 e 10 de Agosto e inaugura o novo espaço de ciência e educação que está a ser edificado nas antigas instalações do posto da Guarda Fiscal, em São Marcos, na zona serrana de Serpa. A associação Rota do Guadiana é a entidade que está a promover o projecto e, simultaneamente, que co-organiza esta jornada de astronomia em parceria com o Museu da Ciência e com o apoio da Câmara Municipal de Serpa, do Centro de Ciência Viva de Constância e de outras associações locais. Máximo Ferreira falou ao "DA" sobre astronomia, a Astrofesta e o seu papel na divulgação da ciência.

Para que serve a Astrofesta?

A Astrofesta é, em primeiro lugar, uma iniciativa de divulgação da astronomia, que se realiza em locais onde há indícios de gosto por esta actividade. O evento, que começou em 1994, na serra da Ossa, já se realizou uma vez em Serpa, local onde, aliás, ocorreu uma coisa inédita, que foi terem-se desligado as luzes da cidade para se observar melhor o céu.


Porquê este ano em São Marcos?


Outro objectivo é levar a Astrofesta sempre a locais diferentes, associando a astronomia ao turismo. Assim proporcionamos a locais diversos, muitas vezes pequenos, a possibilidade de se tornarem conhecidos e de receberem centenas de visitantes durante um fim-de-semana. No centro de São Marcos ficará instalado, permanentemente, um observatório, com uma cúpula e um telescópio que servirá para outras sessões de observação e de aprendizagem.

Por que razão o Alentejo é tão procurado pelos amantes da astronomia?

Fundamentalmente pela ausência de poluição luminosa. Quando não há luz artificial é que nos apercebemos de como o céu é bonito.

Há um segredo para a popularidade da astronomia?

A astronomia é transversal e serve para despertar o interesse pelas outras ciências. Ela está presente em muitas áreas, tais como a literatura e a história. Olhamos para o céu e observamos uma constelação que tem o nome de um animal, urso por exemplo. Mas o que lá vemos parece um papagaio de papel. Então questionamos, quem inventou aquele nome? Porquê? Há inúmeras referências astronómicas na literatura dos descobrimentos, nos Lusíadas.

Estimula a curiosidade das pessoas?

A astronomia aproveita a característica "mística" que há em todos nós, estudando coisas inacessíveis, que não se podem mexer. Por outro lado, estabelece relações de causa e efeito entre essas coisas. Neste sentido, ensina-nos a sermos humildes, a encarar as coisas sem certezas, a ter paciência e não procurar respostas imediatas e definitivas. É uma importante contribuição da ciência para a formação humana.

Os astros foram sempre muito importantes para a vida dos homens. A relação mantém-se?

As pessoas olhavam para o céu e não conseguiam explicar o que viam, mas sabiam encontrar aí ferramentas para se governarem. Havia uma certa intimidade com os astros. É essa intimidade, embora em moldes diferentes, que procuramos incutir nos participantes da Astrofesta.

Com se faz isso?

A Astrofesta decorre durante três dias. Será assim em São Marcos. No primeiro, sexta-feira, começa-se por olhar para os astros, sem instrumentos. Descobre-se o céu da região, as coisas que são iguais e as que são diferentes às das outras regiões. Identificam-se constelações, contam-se histórias, são actividades despreocupadas. Mas também olhamos através de telescópios, chamando a atenção para as mudanças que ocorrem no céu na mesma noite.

Quem pode participar?

Toda a gente, desde crianças de 3 anos. Há actividades para todas as idades. O sábado é, digamos, um bocadinho mais a sério. Há palestras, oficinas, um mini-curso de astronomia. Observa-se o sol com um telescópio e explica-se como funciona o aparelho e também o olho humano. À noite olha-se para o céu, sem instrumentos, com binóculos e com telescópios. Alerta-se para o que se vê e para o que não se vê. Os participantes podem mexer nos telescópios. O domingo é destinado a passeios, palestras e outras actividades. Tudo se pode fazer em família, juntando os muitos frequentadores habituais, que se deslocam de todo o País, ao público local.

SÃO MARCOS

O projecto de São Marcos, que será inaugurado parcialmente a 8, 9 e 10 de Agosto com a Astrofesta, transformou o antigo posto da Guara Fiscal num centro de lazer e de educação ambiental, destinado a estudantes e à generalidade da população. É composto por 9 apartamentos de tipologia T2, um observatório astronómico, salas para formação e outras áreas de apoio. Inserido numa área de floresta, pretende ser uma unidade autónoma de apoio ao desenvolvimento local na serra de Serpa, fazendo parte das áreas de intervenção da associação Rota do Guadiana. Obteve financiamento através do Projecto Ciência Viva da Agência Nacional para a Cultura e Tecnologia, do Ministério da Ciência e Tecnologia. Os participantes da XV Astrofesta terão como apoio os apartamentos, ou outros locais para acampar, casas de banho, quiosques com comida e bebida, para além de poderem usufruir de diversas actividades de animação. O centro de São Marcos fica situado no concelho de Serpa e o acesso faz-se a partir do troço que liga Vila Nova de São Bento à estrada da Mina de São Domingos. 


Entrevista de João Matias Foto de José Serrano
 
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