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Deveria a popularidade do general Sharif meter medo ao primeiro-ministro Sharif?

kokas

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"Há Deus no céu e Raheel Sharif na terra", diz o presidente de uma associação de comerciantes de Carachi, feliz por o general ter posto na ordem jihadistas e gangues.

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Dos dois Sharif que ocupam cargos de topo no Paquistão, o primeiro--ministro Nawaz e o general Raheel, não há grande dúvida de qual goza hoje de maior carinho da imprensa: é que depois de a edição paquistanesa da Newsweek ter considerado o chefe máximo militar como "a figura do ano" de 2014, nunca mais cessou o entusiasmo dos jornalistas pelo homem que se propôs acabar com o terrorismo no país.
E na semana passada, a visita de Raheel Sharif aos Estados Unidos foi acompanhada ao pormenor, com os encontros com figuras como o vice-presidente Joe Biden ou o secretário de Estado John Kerry a merecer honras de primeira página no Dawn. Aliás, o grande jornal em língua inglesa de Carachi seguiu também a ida do general ao Brasil, onde recebeu a Ordem de Mérito, "o primeiro asiático com essa condecoração", assim como a paragem na Costa do Marfim para confraternizar com os capacetes azuis paquistaneses baseados no país africano.Mas não se pense que a popularidade do homem que em 2013 assumiu o comando das Forças Armadas se limita a um fenómeno mediático. Há também cartazes a venerá-lo pelo país por enfrentar os talibãs paquistaneses. E em Carachi, a capital económica, é um herói, porque pacificou uma cidade por tradição vítima da violência jihadista, dos conflitos étnicos entre sindhis e também dos gangues.O pacificador de Carachi"Há Deus no céu e Raheel Sharif na terra", declarou ao Wall Street Journal Muhammad Atiq Mir, presidente de uma associação de comerciantes daquela que foi a primeira capital do Paquistão, antes da construção de Islamabad. O jornal americano foi um dos media internacionais que enviou um repórter descobrir os motivos da popularidade do militar de 59 anos, nascido em Queta, no Baluchistão, mas com raízes numa família rajput do Penjabe. E por entre os elogios ao general Sharif encontrou números que ajudam a explicar o endeusamento: "o número de civis e soldados mortos por ataques terroristas está a caminho de ser o mais baixo desde 2006."A violência não desapareceu da noite para o dia no Paquistão, país de 190 milhões de habitantes nascido em 1947 da partição da Índia no momento da saída dos colonizadores britânicos. O Portal sobre Terrorismo na Ásia do Sul fala de mais de mil mortos entre civis, polícias e militares desde janeiro em resultado de ataques terroristas dos talibãs paquistaneses e outros grupos jihadistas. Tão importante como esta redução do número de vítimas é a determinação das Forças Armadas em combater os extremistas e isso é atribuído ao general Sharif. Formado pela Academia Militar do Paquistão, seguiu cursos também na Alemanha, no Canadá e no Reino Unido (Royal College of Defense Studies), onde aprendeu novas doutrinas militares e treinos, que começou por aplicar no país quando era inspetor-geral das Forças Armadas.
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Prioridade aos jihadistas

Além de dar treino inovador aos militares envolvidos no combate aos jihadistas (ativos sobretudo na zona fronteiriça com o Afeganistão, onde alvejaram a hoje Nobel da Paz Malala Yousafzai só por defender a educação das raparigas), Raheel Sharif convenceu também os colegas de que a rebelião islamita era já maior ameaça do que a Índia. E ninguém pode dizer que o general não conhece a longa história de conflito com o vizinho de maioria hindu, pois um tio morreu na guerra de 1965 por causa de Caxemira e o irmão mais velho caiu na de 1971, que culminaria no nascimento do Bangladesh, ex-Paquistão oriental.Para os Estados Unidos, tradicionais aliados do Paquistão, Raheel Sharif é bem-vindo porque contraria o habitual jogo duplo de Islamabad, por um lado ameaçado pelos grupos jihadistas, por outro lado tentando usá-los contra a Índia ou para ter influência no Afeganistão. Já em Nova Deli, o entusiasmo pelo novo herói paquistanês é escasso, com um artigo no The Hindustan Times a dizer que tem tanta sede de protagonismo que tudo fez para ser convidado da América."Obrigado por salvar Carachi, Raheel Sharif", pode ler-se num cartaz gigante em Carachi. E nas redes sociais multiplicam-se as laudatórias. Entretanto, o ex-presidente Pervez Musharraf, o último ditador militar do Paquistão, veio já defender que o general deveria manter-se em funções depois de novembro de 2016.O primeiro-ministro Nawaz Sharif não se mostra preocupado com a notoriedade do homónimo. Foi mesmo ele quem o escolheu, deixando para trás outros militares mais veteranos. Mas o ex-presidente Asif Zardari alertou já que "as Forças Armadas estão a ir além das suas funções", o que significa que o viúvo da antiga primeira-ministra Benazir Bhutto não esquece que muitos dos problemas do Paquistão vem da morte logo em 1948 do fundador Muhammad Ali Jinnah, um advogado defensor da democracia no país criado para os muçulmanos da Índia, o que facilitou a emergência de sucessivos regimes militares.O general Sharif, com dois filhos e uma filha, desmente mais ambições do que servir o país como militar. Se se reformar dentro de um ano, deixará de certeza o trabalho de derrotar os jihadistas a meio, mas terá mais tempo para as suas ocupações preferidas: ler, nadar e calçar.


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