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Entre barricadas e manifestações nas ruas também se casa em Maputo
Manifestações pró-Venâncio Mondlane multiplicam-se na capital pelo terceiro dia consecutivo.
À hora que as barricadas voltavam a tomar conta do centro do Maputo, Hermínio e Mariana juntaram-se na conservatória para cumprir o sonho de casar, saindo pouco depois à rua, com os poucos convidados, tentando escapar às manifestações.
"Lutamos até à última, muito sacrifício, muita entrega, muita paciência, mas estamos juntos nisso", explicava Hermínio Cossa, à saída do "Palácio dos Casamentos", num centro de Maputo deserto de viaturas, já casado com Mariana.
Passavam poucos minutos das 08h00 (menos duas horas em Lisboa) e lá fora, as barricadas montadas por manifestantes pró-Venâncio Mondlane começavam a multiplicar-se, pelo terceiro dia consecutivo, travando qualquer tentativa de circulação na cidade de Maputo.
Apesar dos receios, antes de partir para o local da cerimónia religiosa e do convivío, noutra ponta da cidade, Hermínio mostrava-se confiante: "Eu acredito que eles [manifestantes] vão perceber, sabem que o casamento não é feito em dois dias, dois meses, três meses. É uma cerimónia que foi preparada muito antes de iniciar esta situação toda que estamos a viver no país".
E mesmo com as ruas desertas, os convidados, alguns, não faltaram: "Acreditamos que o salão estará cheio".
Logo de seguida, o carro dos noivos fez-se à rua, em marcha lenta, procurando o melhor e mais seguro percurso, colado com cartazes de contestação, como todos os outros que circulam por Maputo.
"Hoje dizemos SIM ao amor e NÃO à injustiça", dizia um desses cartazes.
Receios à parte, para Mariana foi um sonho, o dia do casamento, apesar do cenário em Maputo: "Foi concretizado com muita força, com muita união. Estamos felizes por isso".
Pelas ruas de Maputo, novo dia de barricadas, com manifestantes por todas as avenidas centrais da cidade a impedirem qualquer viatura de circular, além da do novo casal Cossa, que chegou ao destino sem problemas, para continuar a festa.
Nas ruas, de novo com contentores do lixo, pedras, pneus e tudo que aparecesse a servir de barricada, a polícia tentava negociar com os manifestantes para deixarem canais de circulação para as viaturas das autoridades.
"Vamos abrir para os carros da polícia fazer patrulha", tentava negociar, com sucesso, o comandante da força policial na Avenida Joaquim Chissano, totalmente bloqueada.
Noutras zonas da cidade, centenas marchavam de forma espontânea, pedindo "justiça eleitoral", travados pela polícia junto à estátua de Eduardo Mondlane, mas acabando pacificamente por mudar o percurso após momentos de tensão e negociação com as autoridades.
No "Palácio dos Casamentos", a correria típica da sexta-feira, com mais de uma dezena de casamentos, habitualmente, só de manhã, foi antecipada e quem mantinha o casamento tentava fazer tudo antes das 08:00 -- hora marcada para o início da contestação de hoje -, mas com menos de metade do movimento.
Fotógrafo desde 1978, Zacarias Cavale, 64 anos, é um dos profissionais que se junta no "Palácio dos Casamentos" para garantir as fotos do momento aos noivos que ali chegam sem imagem contratada.
Há trinta anos a trabalhar no local, não se recorda de uma sexta-feira com tão pouco movimento: "Sim, sim. Tem havido poucos casamentos nas sextas. Estes meses de novembro e dezembro são de muito afluxo de casamentos. Hoje não por causa desse vuku vuku [confusão] que nós temos, a situação do país, então a coisa está complicada".
De máquina a tira colo, a tentar fazer as fotos do casal Cossa, Zacarias espera um dia melhor para fotografar casamentos no sábado, mas elogia a resistência dos poucos que mantiveram a cerimónia de hoje.
"As pessoas, quando fazem programas tentam honrar. Então, estão a tentar tudo por tudo, embora se saiba que a partir de agora, 08:00 e tal, os caminhos já estão fechados. Eu não sei, estes casamentos que estão a sair daqui, como é que hão de conseguir chegar em casa, porque vão ser barrados", confessa, para logo a seguir reconhecer: "Eles têm coragem, não resta dúvida. Já estava marcado, estão aqui a casar".
Sérgio Vicente, 41 anos, tem um estúdio em Maputo e é fotógrafo profissional há dois anos no "Palácio dos Casamentos". Relata que hoje, por ali, "não é uma sexta-feira normal".
"Hoje há cinco casamentos, nas sextas-feiras sempre o mínimo é cinco a dez, mas em termos de convidados não é o normal, porque são poucos (...) por causa da situação do país", explica.
A situação afeta também o negócio: "Claro que sim, estamos afetadas. Temos umas dívidas a pagar. Mas não estamos a trabalhar, porque não há movimento, estamos a tentar justificar a quem devemos".
Hoje é o terceiro e último dia de uma nova fase de novas manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, de contestação ao processo eleitoral em torno das eleições gerais de 09 de outubro em Moçambique, prevendo nomeadamente a paragem do trânsito das 08:00 às 16:00.
Venâncio Mondlane tem convocado estas manifestações, que degeneram em confrontos com a polícia - que tem recorrido a disparos de gás lacrimogéneo e tiros para dispersar -, como forma de contestar a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
Correio da Manhã

Manifestações pró-Venâncio Mondlane multiplicam-se na capital pelo terceiro dia consecutivo.
À hora que as barricadas voltavam a tomar conta do centro do Maputo, Hermínio e Mariana juntaram-se na conservatória para cumprir o sonho de casar, saindo pouco depois à rua, com os poucos convidados, tentando escapar às manifestações.
"Lutamos até à última, muito sacrifício, muita entrega, muita paciência, mas estamos juntos nisso", explicava Hermínio Cossa, à saída do "Palácio dos Casamentos", num centro de Maputo deserto de viaturas, já casado com Mariana.
Passavam poucos minutos das 08h00 (menos duas horas em Lisboa) e lá fora, as barricadas montadas por manifestantes pró-Venâncio Mondlane começavam a multiplicar-se, pelo terceiro dia consecutivo, travando qualquer tentativa de circulação na cidade de Maputo.
Apesar dos receios, antes de partir para o local da cerimónia religiosa e do convivío, noutra ponta da cidade, Hermínio mostrava-se confiante: "Eu acredito que eles [manifestantes] vão perceber, sabem que o casamento não é feito em dois dias, dois meses, três meses. É uma cerimónia que foi preparada muito antes de iniciar esta situação toda que estamos a viver no país".
E mesmo com as ruas desertas, os convidados, alguns, não faltaram: "Acreditamos que o salão estará cheio".
Logo de seguida, o carro dos noivos fez-se à rua, em marcha lenta, procurando o melhor e mais seguro percurso, colado com cartazes de contestação, como todos os outros que circulam por Maputo.
"Hoje dizemos SIM ao amor e NÃO à injustiça", dizia um desses cartazes.
Receios à parte, para Mariana foi um sonho, o dia do casamento, apesar do cenário em Maputo: "Foi concretizado com muita força, com muita união. Estamos felizes por isso".
Pelas ruas de Maputo, novo dia de barricadas, com manifestantes por todas as avenidas centrais da cidade a impedirem qualquer viatura de circular, além da do novo casal Cossa, que chegou ao destino sem problemas, para continuar a festa.
Nas ruas, de novo com contentores do lixo, pedras, pneus e tudo que aparecesse a servir de barricada, a polícia tentava negociar com os manifestantes para deixarem canais de circulação para as viaturas das autoridades.
"Vamos abrir para os carros da polícia fazer patrulha", tentava negociar, com sucesso, o comandante da força policial na Avenida Joaquim Chissano, totalmente bloqueada.
Noutras zonas da cidade, centenas marchavam de forma espontânea, pedindo "justiça eleitoral", travados pela polícia junto à estátua de Eduardo Mondlane, mas acabando pacificamente por mudar o percurso após momentos de tensão e negociação com as autoridades.
No "Palácio dos Casamentos", a correria típica da sexta-feira, com mais de uma dezena de casamentos, habitualmente, só de manhã, foi antecipada e quem mantinha o casamento tentava fazer tudo antes das 08:00 -- hora marcada para o início da contestação de hoje -, mas com menos de metade do movimento.
Fotógrafo desde 1978, Zacarias Cavale, 64 anos, é um dos profissionais que se junta no "Palácio dos Casamentos" para garantir as fotos do momento aos noivos que ali chegam sem imagem contratada.
Há trinta anos a trabalhar no local, não se recorda de uma sexta-feira com tão pouco movimento: "Sim, sim. Tem havido poucos casamentos nas sextas. Estes meses de novembro e dezembro são de muito afluxo de casamentos. Hoje não por causa desse vuku vuku [confusão] que nós temos, a situação do país, então a coisa está complicada".
De máquina a tira colo, a tentar fazer as fotos do casal Cossa, Zacarias espera um dia melhor para fotografar casamentos no sábado, mas elogia a resistência dos poucos que mantiveram a cerimónia de hoje.
"As pessoas, quando fazem programas tentam honrar. Então, estão a tentar tudo por tudo, embora se saiba que a partir de agora, 08:00 e tal, os caminhos já estão fechados. Eu não sei, estes casamentos que estão a sair daqui, como é que hão de conseguir chegar em casa, porque vão ser barrados", confessa, para logo a seguir reconhecer: "Eles têm coragem, não resta dúvida. Já estava marcado, estão aqui a casar".
Sérgio Vicente, 41 anos, tem um estúdio em Maputo e é fotógrafo profissional há dois anos no "Palácio dos Casamentos". Relata que hoje, por ali, "não é uma sexta-feira normal".
"Hoje há cinco casamentos, nas sextas-feiras sempre o mínimo é cinco a dez, mas em termos de convidados não é o normal, porque são poucos (...) por causa da situação do país", explica.
A situação afeta também o negócio: "Claro que sim, estamos afetadas. Temos umas dívidas a pagar. Mas não estamos a trabalhar, porque não há movimento, estamos a tentar justificar a quem devemos".
Hoje é o terceiro e último dia de uma nova fase de novas manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, de contestação ao processo eleitoral em torno das eleições gerais de 09 de outubro em Moçambique, prevendo nomeadamente a paragem do trânsito das 08:00 às 16:00.
Venâncio Mondlane tem convocado estas manifestações, que degeneram em confrontos com a polícia - que tem recorrido a disparos de gás lacrimogéneo e tiros para dispersar -, como forma de contestar a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
Correio da Manhã