helldanger1
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por:Carlos Castanha
Quando uma mancha é devidamente preparada por gente competente, o número de portas e a sua localização são assunto encerrado e se o organizador colocou a porta aqui e não ali, ele lá terá as suas razões. Do mesmo modo, ele por certo que calculou o número mínimo de portas necessário para fechar a mancha, e se poderá, à última hora, arranjar um posto para um caçador que não era esperado, o contrário é sempre um problema. Ainda se consegue tapar um buraco com um postor, guarda ou matilheiro, mas se falta muita gente está tudo mais complicado. Pensa-se em eliminar uma ou outra porta que se considera de menos crença, por estar perto da solta, por ter vento menos bom ou um posto de travessa que talvez seja dispensável, e o mais certo é ficar um buraco no cerco da mancha.
Pois podem ter a certeza que é por lá que vai passar o grande ou aquela vara que se esgueirou por onde adivinhou não estar ninguém.
Além disto há sempre a tendência para, no fim do sorteio, querer trocar a porta com aquela que ficou vazia e que parece sempre ser melhor do que a que nos tocou. Como aparte pessoal, direi que, por experiência própria já antiga, nunca mais troquei a minha porta com outra qualquer. Creio que já nos aconteceu a todos. E o resultado é sempre o mesmo...
Pois nesta montaria uma vez mais se cumpriu a tradição. O mau tempo e o frio a desencorajarem os menos afoitos ou menos viciados e após o sorteio a ficarem em cima da mesa duas ou três portas. E começou a dança:
Esta é melhor, a minha tem mau vento, fico com os cães às costas, etc... etc...
Como de costume um voluntário para ir tapar um buraco foi de imediato mobilizado, e um artista espontâneo quis trocar a porta com uma das sobras.
Pois é este iluminado o personagem central desta história.
A porta que lhe saíra no sorteio era uma das tais com a solta dos cães por detrás, no começo de uma linha de água que descia para um barranco sujo, e dando costas à Contenda, o que, nem mesmo por ser uma das fugas prováveis, o convenceu a ficar com o posto. Como uma das portas livres era no fecho da ribeira da Safareja, com ela se embeiçou e a trocou pela a sua. Bem que lhe disseram para não trocar mas estava dito e feito.
A ribeira que durante a maior parte do ano não passa de uma linha de silvados e loendros resistindo teimosamente apenas com a humidade, estava transformada com as chuvas contínuas do Inverno num forte caudal espumante, qual torrente gelada de montanha. Não era nem muito larga nem muito funda. Sítios havia com um escasso metro de largura ou uns dois palmos de fundo, mas, por via das dúvidas, tinha sido improvisada uma ponte na passagem da armada.
Nada mais desconfortável do que passar uma manhã de caça com os pés todos enregelados dum passo mal medido ou duma bota metida num fundo inesperado.
Na ida para o posto toda a armada atravessou a ponte seguindo a distribuição das portas na habitual bicha de pirilau com toda a compostura e silêncio que se impunham para a colocação de um fecho de mancha. O dia pouco ou nada melhorou com o passar da manhã, e os muitos tiros que se ouviram mesmo assim não foram nada do esperado. Embora aquela armada fosse das mais querençosas e com expectativa de melhor resultado, o nosso amigo passou a manhã a ver navios, e de nada lhe serviu ter trocado de porta. Nem pêlo por ali se dignou a aparecer e nem mesmo o saldo final das capturas da armada se salvou.
Com o frio e humidade grossa que se sentiu todo o dia, a bicharada resolveu emigrar para zonas mais altas e solarengas, dum sol envergonhado e descorado que de vez em quando fazia a sua aparição momentânea. No regresso para a concentração o nosso herói e mais dois companheiros decidiram cortar caminho por um aceiro em frente dos seus postos, em vez de calcorrear de novo todo o caminho percorrido de manhã. Na verdade atravessando a Safareja ali perto, era muito menos caminho do que dar a volta até à ponte. Ela apenas tinha no local uma largura que facilmente era vencida com um salto e parecia não apresentar qualquer dificuldade.
Quando uma mancha é devidamente preparada por gente competente, o número de portas e a sua localização são assunto encerrado e se o organizador colocou a porta aqui e não ali, ele lá terá as suas razões. Do mesmo modo, ele por certo que calculou o número mínimo de portas necessário para fechar a mancha, e se poderá, à última hora, arranjar um posto para um caçador que não era esperado, o contrário é sempre um problema. Ainda se consegue tapar um buraco com um postor, guarda ou matilheiro, mas se falta muita gente está tudo mais complicado. Pensa-se em eliminar uma ou outra porta que se considera de menos crença, por estar perto da solta, por ter vento menos bom ou um posto de travessa que talvez seja dispensável, e o mais certo é ficar um buraco no cerco da mancha.
Pois podem ter a certeza que é por lá que vai passar o grande ou aquela vara que se esgueirou por onde adivinhou não estar ninguém.
Além disto há sempre a tendência para, no fim do sorteio, querer trocar a porta com aquela que ficou vazia e que parece sempre ser melhor do que a que nos tocou. Como aparte pessoal, direi que, por experiência própria já antiga, nunca mais troquei a minha porta com outra qualquer. Creio que já nos aconteceu a todos. E o resultado é sempre o mesmo...
Pois nesta montaria uma vez mais se cumpriu a tradição. O mau tempo e o frio a desencorajarem os menos afoitos ou menos viciados e após o sorteio a ficarem em cima da mesa duas ou três portas. E começou a dança:
Esta é melhor, a minha tem mau vento, fico com os cães às costas, etc... etc...
Como de costume um voluntário para ir tapar um buraco foi de imediato mobilizado, e um artista espontâneo quis trocar a porta com uma das sobras.
Pois é este iluminado o personagem central desta história.
A porta que lhe saíra no sorteio era uma das tais com a solta dos cães por detrás, no começo de uma linha de água que descia para um barranco sujo, e dando costas à Contenda, o que, nem mesmo por ser uma das fugas prováveis, o convenceu a ficar com o posto. Como uma das portas livres era no fecho da ribeira da Safareja, com ela se embeiçou e a trocou pela a sua. Bem que lhe disseram para não trocar mas estava dito e feito.
A ribeira que durante a maior parte do ano não passa de uma linha de silvados e loendros resistindo teimosamente apenas com a humidade, estava transformada com as chuvas contínuas do Inverno num forte caudal espumante, qual torrente gelada de montanha. Não era nem muito larga nem muito funda. Sítios havia com um escasso metro de largura ou uns dois palmos de fundo, mas, por via das dúvidas, tinha sido improvisada uma ponte na passagem da armada.
Nada mais desconfortável do que passar uma manhã de caça com os pés todos enregelados dum passo mal medido ou duma bota metida num fundo inesperado.
Na ida para o posto toda a armada atravessou a ponte seguindo a distribuição das portas na habitual bicha de pirilau com toda a compostura e silêncio que se impunham para a colocação de um fecho de mancha. O dia pouco ou nada melhorou com o passar da manhã, e os muitos tiros que se ouviram mesmo assim não foram nada do esperado. Embora aquela armada fosse das mais querençosas e com expectativa de melhor resultado, o nosso amigo passou a manhã a ver navios, e de nada lhe serviu ter trocado de porta. Nem pêlo por ali se dignou a aparecer e nem mesmo o saldo final das capturas da armada se salvou.
Com o frio e humidade grossa que se sentiu todo o dia, a bicharada resolveu emigrar para zonas mais altas e solarengas, dum sol envergonhado e descorado que de vez em quando fazia a sua aparição momentânea. No regresso para a concentração o nosso herói e mais dois companheiros decidiram cortar caminho por um aceiro em frente dos seus postos, em vez de calcorrear de novo todo o caminho percorrido de manhã. Na verdade atravessando a Safareja ali perto, era muito menos caminho do que dar a volta até à ponte. Ela apenas tinha no local uma largura que facilmente era vencida com um salto e parecia não apresentar qualquer dificuldade.