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Exposição de artesanato tradicional termina domingo

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Exposição de artesanato tradicional termina domingo

Os pastores e as ceifeiras podem já não abundar nos campos do Alentejo, mas fazem parte da «família» de um advogado alentejano, António Póvoa Velez, que colecciona peças de artesanato dessas tradicionais figuras do imaginário da região.

«Somos cerca de 300 numa família já bastante completa», afiança à agência Lusa, tratando os pastores e as ceifeiras, que lhe «povoam» a casa e o escritório, de artesãos de todo o país, como se de pessoas de carne e osso se tratassem. E é, precisamente, «com vida» e «alma própria» que o coleccionador vê os seus bonecos, expostos publicamente pela primeira vez, na Capela de S. António, em Portel, numa mostra que reúne meia centena de peças.

A exposição, que termina domingo, retrata as origens do Alentejo, das suas gentes e tradições, que António Póvoa Velez garante valorizar, não fosse ele um filho da terra, nascido em Benavila (Avis) e residente em Évora.«Na minha aldeia, onde cresci, tive contacto com este mundo rural, mas ficou depois um pouco esquecido porque viajei e vivi em muitos lados antes de regressar às origens», conta. A necessidade de comunicar a sua ligação «às coisas da terra e a um mundo rural que já quase desapareceu» motivou-o para a colecção, há 12 anos, primeiro só de pastores alentejanos e, desde há uns cinco anos, recheada também de ceifeiras e de algumas alfaias agrícolas.

«O primeiro boneco, de um artesão de Évora, é que me disse: Tens que fazer uma colecção de pastores alentejanos. E pronto, passados dois passos, já tinha a colecção toda na cabeça e fui comprando pastores e, mais tarde, também as ceifeiras, que fazem parte do mesmo mundo», relata. Feitas dos mais variados materiais, barro, madeira, raízes de árvore, grés, tecido, ovos de avestruz, ferro, pintura, prata ou serapilheira, as peças são todas diferentes.

«Coloridos ou não, feios ou bonitos, perfeitos ou imperfeitos, gordos ou magros, altos ou baixos, somos assim... Autênticos, genuínos... Alentejanos», pode ler-se no texto da exposição, em que os bonecos, pela imaginação do seu proprietário, se «apresentam» ao público. Sem querer almejar, ou sequer ouvir falar - «Espero que não me faça essa pergunta!» -, em recordes do Guiness, por os considerar «disparatados», o coleccionador adquire os pastores e ceifeiras apenas pelo «prazer» de os ter.

«Dá-me imenso prazer, quando estou em casa, não fazer nada e simplesmente olhar para os bonecos. Mesmo que fosse só para mim, e não deve ser assim porque os quero partilhar com as pessoas, a colecção tinha valido a pena», atesta. Onde sabe que existe um artesão, de norte a sul, lá está António Póvoa Velez a bater-lhes à porta ou a visitá-los nas feiras, com um pedido que, inicialmente, os surpreende, mas a que depois condescendem, entusiasmados pelo desafio.

«Onde sei que há um artesão, lá vou eu, pedir-lhes que me façam um boneco. Cada um, mal estão prontas, acha sempre que as suas peças são as melhores», descreve. Dos cerca de 300 bonecos, sabe de cor a história de cada um. Quem foi o seu autor e de onde era ou quanto tempo demoraram a ser criados. «Conheço-os todos e vejo nas suas caras toda a sua história e as pessoas que os fizeram», assegura.

Quando o artesão, por ser de outra região que não o Alentejo, não tem a mínima ideia dos traços característicos do pastor alentejano e das ceifeiras, o coleccionador não desarma e insiste na encomenda, enviando-lhes uma fotografia representativa das ditas figuras. «Eu prefiro que sejam sempre as pessoas a fazer da ideia delas, mas, quando não sabem, eu mando a foto. E o engraçado é que cada boneco sai completamente diferente um do outro», diz.

Apontando para vários bonecos, uns ao lado dos outros, António mostra as distinções, ou nas alcofas e chapéus das ceifeiras, ou no azeiteiro (corno), no cachimbo e na samarra dos pastores. Mas, como confessa o advogado, que até libertou uma estante no escritório, antes «habitada» por Diários da República e códigos jurídicos, para acolher alguns pastores, os bonecos de artesãos do Alentejo são os mais acarinhados.

«Têm uma alma diferente, não há volta a dar...», garante, prometendo que, na próxima exposição, há-de levar outras peças: «Os que ficaram lá encaixotados não acharam piada nenhuma e, para não ficarem amuados, da próxima vêm eles».
 
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