Portal Chamar Táxi

Fernando Pessoa, Fátima e a religião

somaisum

GF Ouro
Entrou
Jun 8, 2007
Mensagens
7,833
Gostos Recebidos
0
Texto inédito do poeta sobre lugar de culto foi revelado

235


«Fatima é o nome de uma taberna de Lisboa onde às vezes¿ eu bebia aguardente. Um momento¿ Não é nada d'isso¿ Fui levado pela emoção mais que pelo pensamento, e é com o pensamento que desejo escrever». São estas as primeiras palavras do texto inédito de Fernando Pessoa que foi revelado esta quarta-feira, refere a Lusa. Uma crítica ao lugar que o poeta considerava como ponto de construção do nacionalismo católico e monárquico que ele repudiava. «É um texto irónico, a roçar a sátira anticlerical, em que Pessoa parece regressar ao seu radicalismo de juventude. A intenção não é propriamente anti-religiosa, mas anti-católica - uma nuance que se deve sublinhar», explicou o historiador José Barreto, responsável pela descoberta.
Com data de 1935, já num Estado Novo que elevou a religião católica, o texto de cinco páginas manuscritas é apenas «o preâmbulo de um artigo maior que teria um carácter de estudo de caso, permitindo caracterizar aquilo a que Pessoa chama esta religiosidade portuguesa, o catolicismo típico deste bom e mau povo».
«Fatima é o nome de um logar da provincia, não sei onde ao certo, perto de um outro logar do qual tenho a mesma ignorancia geographica mas que se chama Cova de qualquer santa. Nesse logar - esse ou o outro - ou perto de qualquer d'elles, ou de ambos, viram um dia umas crianças apparecer Nossa Senhora (¿). Assim diz a voz do povo da provincia e a A Voz (jornal católico e monárquico) sem povo de Lisboa. Deve portanto ser verdade, visto que é sabido que a voz das aldeias e A Voz da cidade de ha muito substituíram aquellas velharias democraticas que se chamam, ou chamavam, a demonstração scientifica e o pensamento raciocinado», pode ler-se no texto.
A ironia de Pessoa retrata a sua visão da religião dos portugueses com «o olhar cínico de quem achava que ela era socialmente útil: o povo precisava de religião e não podia dispensá-la ou deixaria de ser povo», comentou José Barreto, acrescentando que «o aproveitamento político de Fátima pelos reaccionários é o alvo preferencial de Pessoa, não tanto a devoção dos crentes».
«O facto é que ha em Portugal um logar que pode concorrer e vantajosamente com Lourdes. Ha curas maravilhosas, a preços mais em conta. O negócio da religião a retalho, no que diz respeito à Loja de Fatima, tem tomado grande incremento, com manifesto gaudio mystico da parte dos hoteis, estalagens e outro commercio d'esses jeitos - o que, aliás, está plenamente de accordo com o Evangelho, embora os católicos não usem lê-lo - não vão eles lembrar-se de o seguir!», escreveu Pessoa.



Fonte: diario.iol.pt
 

Mr.T @

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Fev 4, 2008
Mensagens
3,493
Gostos Recebidos
0
Texto inédito de Fernando Pessoa sobre Fátima vai ser divulgado 4.ª feira pelo histor

O historiador José Barreto vai revelar quarta-feira, em Lisboa, um texto inédito de Fernando Pessoa a propósito de Fátima, assunto sobre o qual o poeta fez várias referências desde 1920 até à sua morte
«Trata-se de um texto inédito de cinco páginas manuscritas em que Pessoa reflecte sobre o fenómeno de Fátima», disse à Lusa José Barreto.

«Pessoa e Fátima. A prosa política e religiosa», será o título da palestra que o historiador apresentará na Casa Fernando Pessoa, quarta-feira às 18h30, no âmbito de um ciclo dedicado ao 120.º aniversário do seu nascimento.

No ano da sua morte, em 1935, Fernando Pessoa «tinha três projectos editoriais ligados a Fátima», afirmou o investigador.

Segundo José Barreto, o poeta «não tinha uma referência especialíssima com Fátima e era, aliás, anti-católico, mas acompanhou o fenómeno desde a sua génese à oficialização do culto e à construção da igreja».

Apesar de anti-católico, «em prol da liberdade, Pessoa defendeu a Igreja Católica contra o radicalismo republicano, em especial do Partido Democrático», explicou o investigador do Instituto de Ciências Sociais.

Esta não é a primeira vez que José Barreto aborda a figura de Fernando Pessoa, sobre a qual tem estado a investigar. Publicou, aliás,

Já publicou na imprensa um artigo sobre esta temática religiosa, mas é a primeira vez que traz a lume o texto inédito intitulado Fátima.

A sua área de investigação tem sido, desde a década de 1990, a história social e política do século XX em Portugal, com destaque para a política católica, as relações Estado-Igreja e Fátima, bem como a história do pensamento político e dos intelectuais portugueses.



Lusa / SOL
 
Topo