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Filhos do mato

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Fev 29, 2008
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Filhos do mato

No interior desse mundo sem fim viviam duas crianças, numa plantação de café correndo livres como animais selvagens. Jogados à sorte, eles viviam como bichos no mato.

Eles corriam no meio do cafezal esquecidos pela civilização, que parecia não saber da existência deles, que nem eram registrados. Corriam descalços, sujos na cor da terra, sem nomes, nativos da mata, numa terra sem escola, aprendiam com o que viam. Eram filhos da mata vivendo naquela região de roça em meio a muitos pés de café, recheados de grãos vermelhos e tal como os pássaros saboreavam os grãos maduros e doces.

As mães trabalhavam o dia todo na roça, abandonando-os à sorte no campo, onde o perigo aparente espreitava em todo lugar e eles dentro das suas limitações, tudo faziam para criar novas brincadeiras, uma delas era o aviãozinho de sapé, assim viviam lançando folhas de sapé no ar, numa altura surpreendente. Em um barranco cavaram um grande buraco, chamando de a toca do urso. Eles passavam horas dentro da toca e para acalmar a fome comiam raízes de sapé, que parecem miniaturas de cana, comiam saboreando o doce das raízes.

O abandono os transformou em uma figura animal, os cabelos nunca foram penteados, as unhas nunca foram cortadas, a pele grossa de sujeira assumiu a cor da terra vivendo num mundo particular, retirado e afastado da civilização, onde nunca tinham contato com ninguém e isto os levou a quase não falar, usando poucas palavras e mais gestos, comunicando se por sinais. Sem registros, eles viviam de nomes dados pelo mundo. Ela era chamada de Fia e ele de Casu, mas nem sabem quem colocou esses nomes.

Fia e Casu passam o tempo todo juntos com uma cadela chamada Lua que está sempre ao lado deles correndo no meio dos pés de café, correndo até sumir na trilha, porém um dia caminhando próximo à estrada, se encontraram com um grande cachorro, que foi atraído pelo cheiro do cio da cadela e começou a cortejá-la.

Eles ficaram assustados e com medo do cachorro olhando o que ia acontecer, pois a cadela tentava fugir, mas o cachorro insistia em cruzar com ela. Fia perguntou:

- O que ele quer fazer com ela?

- Espera! Vamos ver.

De repente eles repararam que a cadela aceitou o cachorro, tornando-se receptiva a ele. Eles ficaram olhando e assistindo o cruzamento dos cachorros durante um bom tempo, não entendendo a cena dos cachorros presos pelo sexo.

Depois de os cachorros se separarem, eles correram de volta para a mata com a cadela correndo junto, mas já não era a mesma.

O tempo passou e num dia de chuva, eles entraram na gruta do urso para se proteger e ficaram olhando a tempestade forte e observando a enxurrada que corria em frente à gruta carregando muita terra. Lua estava quietinha no canto, alguma coisa estava acontecendo, então perceberam que ela estava dando a luz e eles ficaram olhando os cachorrinhos nascerem, numa felicidade incrível e dividindo os cachorrinhos que nasciam falando:

- Eu sou o pai e você é a mãe deles.

- Nós só temos mães.

- Então você é a dona de todos eles.

- Eu não quero ser dona deles sozinha, quero que eles sejam meus e seus. Eles são todos nossos e vamos cuidar deles juntos, mas quero que eles tenham nomes e nós vamos dar nome para eles. Nós vamos ser pai e mãe deles.

Cuidaram dos cachorrinhos e agora correm com eles no mato, felizes como bichos no mato. Uma família de bichos do mato que vivem felizes no mato.
 
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