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Funcionários de fábrica que pegou fogo temem perder o emprego: 'Estamos com medo'
Unidade na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio, emprega atualmente 650 trabalhadores
Rio - Cerca de 650 funcionários foram afetados por um incêndio de grandes proporções que atingiu a fábrica de óleo da Moove, antiga Cosan, na Ilha do Governador, no último sábado (8). Com parte da unidade completamente destruída, muitos trabalhadores temem pela perda de seus empregos e enfrentam um cenário de incerteza. As chamas atingiram a parte produtiva da fábrica, e ninguém ficou ferido. Ainda não é possível mensurar os danos ambientais causados.
Ao DIA, uma funcionária que trabalha na empresa há seis anos revelou sua apreensão quanto ao futuro da unidade. Para ela, a reconstrução será demorada, e dificilmente todos os empregos serão preservados. "Ninguém fala nada. O que sabemos por alto é que a ordem é para mandar algumas pessoas embora, pois para se reerguer vai levar alguns anos. Estamos com muito medo, pois muitas pessoas dependem dali para levar o sustento para suas casas. Eu acredito que muitos serão desligados da empresa", lamentou a funcionária, que preferiu não se identificar por medo de retaliações.
Outro trabalhador, que também pediu anonimato, compartilhou a sua angústia. "Uma parte da fábrica ficou destruída. Como vão refazer tudo? Ainda não sabemos nem se ainda temos trabalho. Tenho uma família para sustentar, isso nos preocupa", desabafou.
Problemas com alarme de incêndio
Apesar da Moove ter informado que a fábrica estava inoperante no momento do incêndio, no sábado (8) havia trabalhadores no local. Funcionários relataram que o alarme de incêndio não tocou e que foram avisados sobre a situação pelos seguranças. "Como era hora do almoço, algumas pessoas estavam no vestiário e foram avisadas pelos seguranças. A ordem era evacuar a fábrica", contou um servidor.
De acordo com outros funcionários, reuniões diárias sobre segurança eram realizadas, e testes de alarme ocorriam mensalmente na unidade. "Inclusive, este ano teve simulado de incêndio lá. Eles sempre falavam que seguiam todos os protocolos de segurança e que não havia risco de explosão. Por isso, não recebemos os 40% referentes à insalubridade e periculosidade", afirmou uma funcionária em entrevista ao DIA.
Depois de 24 horas do ocorrido, ela recebeu uma mensagem informando que sua equipe deveria comparecer na fábrica nesta segunda-feira (10). "Trabalho normal amanhã, mas aquilo lá está um cenário de furacão", lamentou.
Equipes da Defesa Civil seguem mobilizados neste domingo (9) para garantir a segurança e minimizar os impactos do incêndio. Após quase 18 horas ininterruptas de trabalho, o Corpo de Bombeiros iniciou, na manhã de hoje, a fase de rescaldo, processo de resfriamento para evitar reignição de novos focos de incêndios, extintos pela madrugada.
Já a Polícia Civil, por meio da 37ª DP (Ilha do Governador), acompanha a ocorrência. Uma perícia será realizada no local para apurar as causas do incêndio e esclarecer as circunstâncias do ocorrido.
Monitoramento ambiental
Equipes do setor de Emergências do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) realizam, também neste domingo (9), o monitoramento do espelho d’água na área do entorno da planta da empresa, onde ocorreu o incêndio. Foram identificados resíduos oleosos provenientes da planta, em decorrência do carregamento do material atingido para a água. Os técnicos estão atuando na contenção e recolhimento deste resíduo, mantendo o cerco instalado, para que não haja a dispersão para outras áreas.
Quanto aos efeitos na atmosfera, o Inea possui uma estação automática de qualidade do ar na Ilha do Governador e garantiu que vai continuar monitorando a situação no local. "De acordo com os resultados apurados, aplicaremos as sanções cabíveis".
Ao ser questionado sobre as possíveis sanções aplicadas à empresa, o Inea disse que ainda é cedo para avaliar. "O órgão ainda avaliará a extensão dos impactos ambientais decorrentes, após finalizada as ações na área", informou.
O que diz a Moove
Em nota enviada neste domingo (9), a Moove disse que o incêndio foi totalmente controlado pelos bombeiros militares durante a madrugada. Informou ainda que o incêndio ficou restrito à parte produtiva da fábrica, sem atingir a área dos tanques de armazenamento ou a comunidade do entorno.
A empresa reforçou que a fábrica estava inoperante no sábado e todos os protocolos de segurança necessários foram aplicados para preservação da comunidade, meio ambiente e da operação. "A Moove dá início agora ao processo de análise da extensão dos danos causados pelo incêndio, bem como à investigação de suas causas. No contexto desse incidente, a Moove reforça seu compromisso com a segurança operacional e a preservação de seu entorno. O Sistema Integrado de Gestão das Operações da Moove é elaborado de acordo com as normas vigentes e segue protocolos em total conformidade com legislações federais, estaduais e municipais", disse.
A Moove produz, vende, distribui e oferece soluções em lubrificação para os segmentos automotivo e industrial, por meio de serviços e produtos, em mais de 10 países da América do Sul (Argentina, Brasil, Bolívia, Uruguai e Paraguai), da América do Norte (Estados Unidos da América) e da Europa (Espanha, França, Portugal e Reino Unido).
O Inea informou que a empresa conta com licença de operação ativa com validade até 28 de outubro de 2029.
Moradores e instituição temiam possível explosão
O Movimento Baía Viva, uma organização não governamental, tem um inquérito de 2018 parado no Ministério Público do Rio (MPRJ) no qual faz um alerta sobre os riscos de desastres na fábrica da Moove. Em 2019, o DIA publicou uma matéria sobre o risco de tragédia na Ilha. Na época, o Movimento disse que a Ilha concentrava 33 pontos críticos das 92 áreas de riscos tecnológicos na cidade.
A situação é agravada, segundo eles, por instalações de elevado risco de acidentes, incêndios ou explosões devido a estocagem no solo urbano e em ilhas do seu entorno de material explosivo, inflamável ou tóxico e de depósitos de material bélico.
Na ocasião, o MP informou à reportagem que foi instaurado um inquérito civil para apurar "eventual omissão do poder público com relação ao tratamento de risco ambiental decorrente de eventual desastre tecnológico na Ilha do Governador". O MPE pediu informações de órgãos públicos municipais e estaduais, estando a investigação pendente da prestação de informações pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), pela Secretaria Municipal de Urbanismo e pelo Baía Viva.
Neste sábado (8), o Movimento Baía Viva disse que, neste mesmo processo mencionado, o Inea afirmou que as instalações da empresa eram seguras.
O Dia

Unidade na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio, emprega atualmente 650 trabalhadores
Rio - Cerca de 650 funcionários foram afetados por um incêndio de grandes proporções que atingiu a fábrica de óleo da Moove, antiga Cosan, na Ilha do Governador, no último sábado (8). Com parte da unidade completamente destruída, muitos trabalhadores temem pela perda de seus empregos e enfrentam um cenário de incerteza. As chamas atingiram a parte produtiva da fábrica, e ninguém ficou ferido. Ainda não é possível mensurar os danos ambientais causados.
Ao DIA, uma funcionária que trabalha na empresa há seis anos revelou sua apreensão quanto ao futuro da unidade. Para ela, a reconstrução será demorada, e dificilmente todos os empregos serão preservados. "Ninguém fala nada. O que sabemos por alto é que a ordem é para mandar algumas pessoas embora, pois para se reerguer vai levar alguns anos. Estamos com muito medo, pois muitas pessoas dependem dali para levar o sustento para suas casas. Eu acredito que muitos serão desligados da empresa", lamentou a funcionária, que preferiu não se identificar por medo de retaliações.
Outro trabalhador, que também pediu anonimato, compartilhou a sua angústia. "Uma parte da fábrica ficou destruída. Como vão refazer tudo? Ainda não sabemos nem se ainda temos trabalho. Tenho uma família para sustentar, isso nos preocupa", desabafou.
Problemas com alarme de incêndio
Apesar da Moove ter informado que a fábrica estava inoperante no momento do incêndio, no sábado (8) havia trabalhadores no local. Funcionários relataram que o alarme de incêndio não tocou e que foram avisados sobre a situação pelos seguranças. "Como era hora do almoço, algumas pessoas estavam no vestiário e foram avisadas pelos seguranças. A ordem era evacuar a fábrica", contou um servidor.
De acordo com outros funcionários, reuniões diárias sobre segurança eram realizadas, e testes de alarme ocorriam mensalmente na unidade. "Inclusive, este ano teve simulado de incêndio lá. Eles sempre falavam que seguiam todos os protocolos de segurança e que não havia risco de explosão. Por isso, não recebemos os 40% referentes à insalubridade e periculosidade", afirmou uma funcionária em entrevista ao DIA.
Depois de 24 horas do ocorrido, ela recebeu uma mensagem informando que sua equipe deveria comparecer na fábrica nesta segunda-feira (10). "Trabalho normal amanhã, mas aquilo lá está um cenário de furacão", lamentou.
Equipes da Defesa Civil seguem mobilizados neste domingo (9) para garantir a segurança e minimizar os impactos do incêndio. Após quase 18 horas ininterruptas de trabalho, o Corpo de Bombeiros iniciou, na manhã de hoje, a fase de rescaldo, processo de resfriamento para evitar reignição de novos focos de incêndios, extintos pela madrugada.
Já a Polícia Civil, por meio da 37ª DP (Ilha do Governador), acompanha a ocorrência. Uma perícia será realizada no local para apurar as causas do incêndio e esclarecer as circunstâncias do ocorrido.
Monitoramento ambiental
Equipes do setor de Emergências do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) realizam, também neste domingo (9), o monitoramento do espelho d’água na área do entorno da planta da empresa, onde ocorreu o incêndio. Foram identificados resíduos oleosos provenientes da planta, em decorrência do carregamento do material atingido para a água. Os técnicos estão atuando na contenção e recolhimento deste resíduo, mantendo o cerco instalado, para que não haja a dispersão para outras áreas.
Quanto aos efeitos na atmosfera, o Inea possui uma estação automática de qualidade do ar na Ilha do Governador e garantiu que vai continuar monitorando a situação no local. "De acordo com os resultados apurados, aplicaremos as sanções cabíveis".
Ao ser questionado sobre as possíveis sanções aplicadas à empresa, o Inea disse que ainda é cedo para avaliar. "O órgão ainda avaliará a extensão dos impactos ambientais decorrentes, após finalizada as ações na área", informou.
O que diz a Moove
Em nota enviada neste domingo (9), a Moove disse que o incêndio foi totalmente controlado pelos bombeiros militares durante a madrugada. Informou ainda que o incêndio ficou restrito à parte produtiva da fábrica, sem atingir a área dos tanques de armazenamento ou a comunidade do entorno.
A empresa reforçou que a fábrica estava inoperante no sábado e todos os protocolos de segurança necessários foram aplicados para preservação da comunidade, meio ambiente e da operação. "A Moove dá início agora ao processo de análise da extensão dos danos causados pelo incêndio, bem como à investigação de suas causas. No contexto desse incidente, a Moove reforça seu compromisso com a segurança operacional e a preservação de seu entorno. O Sistema Integrado de Gestão das Operações da Moove é elaborado de acordo com as normas vigentes e segue protocolos em total conformidade com legislações federais, estaduais e municipais", disse.
A Moove produz, vende, distribui e oferece soluções em lubrificação para os segmentos automotivo e industrial, por meio de serviços e produtos, em mais de 10 países da América do Sul (Argentina, Brasil, Bolívia, Uruguai e Paraguai), da América do Norte (Estados Unidos da América) e da Europa (Espanha, França, Portugal e Reino Unido).
O Inea informou que a empresa conta com licença de operação ativa com validade até 28 de outubro de 2029.
Moradores e instituição temiam possível explosão
O Movimento Baía Viva, uma organização não governamental, tem um inquérito de 2018 parado no Ministério Público do Rio (MPRJ) no qual faz um alerta sobre os riscos de desastres na fábrica da Moove. Em 2019, o DIA publicou uma matéria sobre o risco de tragédia na Ilha. Na época, o Movimento disse que a Ilha concentrava 33 pontos críticos das 92 áreas de riscos tecnológicos na cidade.
A situação é agravada, segundo eles, por instalações de elevado risco de acidentes, incêndios ou explosões devido a estocagem no solo urbano e em ilhas do seu entorno de material explosivo, inflamável ou tóxico e de depósitos de material bélico.
Na ocasião, o MP informou à reportagem que foi instaurado um inquérito civil para apurar "eventual omissão do poder público com relação ao tratamento de risco ambiental decorrente de eventual desastre tecnológico na Ilha do Governador". O MPE pediu informações de órgãos públicos municipais e estaduais, estando a investigação pendente da prestação de informações pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), pela Secretaria Municipal de Urbanismo e pelo Baía Viva.
Neste sábado (8), o Movimento Baía Viva disse que, neste mesmo processo mencionado, o Inea afirmou que as instalações da empresa eram seguras.
O Dia