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CRISTINA FERREIRA
07/11/2014 - 07:41
Os pagamentos eram feitos através de um veículo chamado Espírito Santo Enterprise que movimentou centenas de milhões de euros e estarão já na mira das autoridades judiciais.
Durante vários anos, o Grupo Espírito Santo (GES) terá usado um veículo com o nome de Espírito Santo Enterprise para proceder a “pagamentos-extra” que terão totalizado centenas de milhões de euros. A existência de um possível “saco azul”, pesquisada pelo PÚBLICO, poderá não ter escapado às autoridades nacionais que investigam o caso GES/BES e é susceptível de abrir outra frente de averiguações que pode eventualmente culminar em novas revelações sensíveis sobre o perímetro de abrangência familiar.
Ao longo da última década, a Espírito Santo Enterprise, com sede num paraíso fiscal, pode ter recebido centenas de milhões de euros destinados a gastos não documentados e a distribuições a terceiros, apurou o PÚBLICO. A confirmar-se, a suspeita possibilitará a clarificação das relações entre elementos do núcleo duro do GES e entidades fora da esfera familiar. A Espírito Santo Enterprise recebia fundos via sociedades suíças (veículos Eurofin) e as verbas movimentadas poderão estar perto dos 300 milhões de euros.
A pista do “mealheiro” criado para eventuais despesas excepcionais sem registo contabilístico e que são susceptíveis de ter sido usadas para fazer pagamentos sem ter que se revelar o destinatário estará já no radar do Ministério Público que tem em mãos vários inquéritos ao GES/BES e a alguns gestores. O PÚBLICO sabe que, depois de um retiro silencioso no Brasil, o ex-contabilista do GES, Machado da Cruz, tem estado em Lisboa e já prestou esclarecimentos às autoridades, admitindo-se que este tema possa ter sido abordado dadas as relações fortes entre a Espírito Santo Enterprise e os veículos Eurofin. Alexandre Cadosch, à frente do Eurofin Securities , terá detectado, a dada a altura, movimentos estranhos com origem no grupo e destino à Espírito Santo Enterprise.
De acordo com o que Ricardo Salgado afirmou, numa reunião do Conselho Superior do GES, e cujas transcrições foram já tornadas públicas, o Eurofin Securiti dava “um jeitão ao grupo em várias áreas.” Os veículos Eurofin foram criados em 1999, mas deixaram de pertencer ao GES em 2009, ainda que permanecessem a operar no seu universo como um “pólo oculto”.
O ex-contabilista do GES e gestor de empresas do grupo em Miami e América Latina, nunca teve uma relação directa com a Espírito Santo Enterprise, mas foi até Março de 2014 administrador não-executivo da Eurofin Group sem mandato em relação ao BES e ao GES. Machado da Cruz assumiu ter manipulado as contas da Espírito Santo Internacional-ESI, a seguir à crise financeira de 2008, para ocultar perdas no valor de 1300 milhões de euros, decisão que afirma ter tomado com conhecimento de Salgado, de Manuel Fernando Moniz Galvão Espírito Santo Silva (Rioforte e ES Resources), de José Manuel Pinheiro Espírito Santo Silva (gestor do BES) e ainda de José Castella, controller financeiro do GES.
O Banco de Portugal (BdP) concluiu que, nos meses que antecederam o resgate ao BES, estes veículos sustentaram de forma ilícita as holdings da família Espírito Santo já falidas: a Eurofin Securities serviu para retirar verbas do BES para pagar dívidas do grupo. O governador do BdP, Carlos Costa, reconheceu que parte dos prejuízos do BES, de 3570 milhões de euros, os maiores de sempre da história empresarial portuguesa, estava “relacionada com a realização de operações de colocação de títulos, envolvendo o BES (Londres, Panamá e Luxemburgo), o GES e a Eurofin Securities” o que determinou um registo de perdas nas contas de 1249 milhões de euros. O supervisor considerou ter havido crime e pediu ao Ministério Público que investigasse.
A 28 de Agosto, já depois do colapso do segundo maior banco, Alexandre Cadosch deu uma entrevista à revista Les Temps onde esclarece que não é amigo de Salgado. "Eu acho que não tenho uma relação além de profissional com qualquer um dos líderes do GES”. E rejeitou responsabilidade no colapso do grupo português por existir uma "grande assimetria" com a Eurofin alvo de “uma análise interna para estabelecer a ligação com os nossos serviços.” “Nenhuma das subsidiárias do grupo Eurofin, que sempre actuou dentro da lei, colocou ou promoveu produtos de investimento para o GES ou clientes do BES.”
Salgado recusa prestar declarações
A polémica à volta do ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, tornou-se incontornável depois de, a 25 de Julho (uma semana antes do BES ser intervencionado), ter sido detido para ser ouvido pelo Tribunal Central de Instrução Criminal, de Lisboa, de onde saiu indiciado por crimes graves: burla, abuso de confiança, falsificação e branqueamento de capitais. Através dos seus porta-vozes, Ricardo Salgado tem recusado prestar declarações sobre as informações que vão surgindo sobre a