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GF Ouro
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São ainda poucos os homens que apresentam queixa por violência conjugal (cerca de 10% das denúncias). A vergonha social fala mais alto do que os abusos no momento de se assumirem como vítimas das mulheres.
Embora as razões económicas não sejam tão determinantes na manutenção de uma relação abusiva como acontece com as mulheres, a verdade é que os homens também sofrem a pressão dos mesmos factores e acabam por suportar o insuportável. Com uma agravante: socialmente é, para um homem, mais difícil assumir a vitimização, como explicou ao JN uma psicóloga da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), a que recorre um número crescente de homens por crime de violência conjugal (cerca de 10% do total das vítimas).
Não há perfil único da vítima de violência conjugal - tal como não existe um retrato padronizado do agressor -, mas há algumas características que indiciam uma maior vulnerabilidade para aceitar maus-tratos, como baixa auto-estima, fraca confiança e elevada dificuldade em defender os próprios direitos.
O medo de perder os filhos - usados frequentemente na chantagem emocional que caracteriza as relações tóxicas -, a pressão familiar e social, a dependência emocional e financeira, bem como as crenças morais e religiosas sobre o casamento são alguns dos factores que favorecem a perpetuação das agressões.
A violência conjugal configura um ciclo de três fases: começa por um período de tensão (discussões), a que se segue o ataque violento (psicológico ou físico) e depois passa para a chamada "lua de mel", em que o agressor pede desculpa e promete nunca mais repetir os maus-tratos. Este ciclo tende a repetir-se, com a lua de mel a tornar-se cada vez curta e as agressões mais frequentes.
A violência doméstica é um dos crimes que, no ano passado, registou uma subida mais significativa: 6%, de acordo com o relatório de segurança internade 2007. No total, foram reportados à Polícia de Segurança Pública (PSP) e Guarda Nacional Republicana (GNR) cerca de 22 mil ocorrências de violência doméstica.
As mulheres continuam a ser a esmagadora maioria das vítimas. Os homens representam cerca de 15% das pessoas maltratadas no seio familiar. Ou seja, este número inclui não apenas os que sofreram violência conjugal (perpetrada pela actual ou ex esposa, companheira ou namorada), mas todos aqueles que foram alvo de maus-tratos por familiares. Nesta categoria inclui-se um número crescente de idosos que denunciam situações de violência física e psicológica por parte dos cuidadores (filhos, netos ou outros parentes).
Estes dados correspondem à percentagem de casos denunciados à APAV: menos de 10% do total de vítimas de violência conjugal, de acordo com os dados dados de 2007.
É UM MASSACRE DIÁRIO, VIVO EM PÂNICO
"Tenho medo dela. Nunca sei o que ela vai fazer. Já me fez emboscadas de carro, escândalos em locais públicos e no meu trabalho. Até ameaças de morte já me fez".
Filipe vive em pânico por causa da perseguição que a ex-mulher, de quem está separado há quatro anos, continua a mover-lhe.
Ao longo dos mais de 30 anos que foram casados, os insultos foram constantes. Filipe habituou-se ao "génio muito violento" de Ana. "Acomodei-me, deixei andar, em nome de um conceito familiar que me é caro. Não queria que os meus filhos vissem os pais separados", conta o empresário. Mas a verdade é que eles cresceram a ver as cenas de violência familiar.
Os episódios de coacção psicológica eram diários, segundo relata Filipe. Insultos, ameaças, chantagem e "muitos vexames públicos", em restaurantes, festas e casas de espectáculos que o casal frequentava. De vez em quando, sucediam ataques físicos. "Atirava-me com o que tivesse à mão, garrafas, pratos ou outros objectos. Partia tudo lá em casa". As agressões só não aconteciam porque Filipe afastava-se para não haver confrontos físicos. "Parecia louca. Num momento, estava partir tudo. Minutos depois, estava a convidar para tomar um café como se nada tivesse acontecido", recorda.
O casamento acabou por iniciativa de Ana, que abandonou o lar, sem explicações, segundo Filipe. Em três meses, o divórcio estava assinado porque ele concordou com a divisão que ela fez dos bens do casal. Parecia que Filipe teria, finalmente, paz. Puro engano.
Logo que o empresário restabeleceu a sua vida social e começou a sair com outras mulheres, cerca de seis meses depois do divórcio, Ana montou aquilo que ele diz ser uma "perseguição diária". Telefona-lhe todos os dias e, se ele não atender, corre os locais onde ele costuma estar, incluindo o local de trabalho, onde já chegou ao ponto de provocar danos.
E, caso saiba que ele tem companhia feminina, não se inibe de aparecer e insultar quem o acompanha. "Já perdi amizades por causa dos escândalos dela", lamenta Filipe que, actualmente, já evita conviver por receio do que ela possa aprontar.
"Ela vigia todos os dias a minha porta para saber se estou em casa. É um massacre diário."
SINTO-ME DISCRIMINADO PELAS AUTORIDADES
Mário e a companheira viveram juntos 12 anos e têm um filho de sete. Estão separados há um ano, mas não significou o fim dos abusos psicológicos, físicos e financeiros de que ele se queixa.
Os personagens desta história têm formação superior e são ambos profissionais de saúde. No entanto, estão envolvidos numa guerra que já conta com diversas queixas-crime por agressão mútua e uma luta judicial pela guarda do filho, que já chegou a ser conduzido ao pai pela Polícia e assiste frequente aos maus-tratos de que o pai sofre.
Mário apresentou várias queixas por violência doméstica e denuncia a falta de sensibilidade dos agentes policiais para os casos em que o homem é a vítima. "Salvo algumas excepções, fui sempre tratado com grande desdém nas esquadras. Sinto-me discriminado pelas autoridades", critica.
Além de abusos psicológicos repetidos, Mário relata diversas agressões físicas perpetradas pela ex-companheira, como um pontapé que lhe deixou uma lesão permanente nos testículos, e pelo seu irmão.
Retrospectivando a sua relação, Mário reconhece que os sinais de alerta sucedem desde o início da relação. Mário conta que "ela sempre teve um comportamento ausente e desleixado, mas desculpava-a porque sabia que ela tinha sofrido abusos na infância".
Os problemas agudizaram-se com o nascimento do filho. Foi ele quem alterou os horários de trabalho para poder acompanhar a criança. "Sempre fui eu quem cuidou dele, levava-o ao colégio, ao futebol. Andávamos sempre os dois sozinhos."
A situação deteriora-se significativamente em 2007. Em Maio, ele alega que ela o atropelou, quando a encontrou na companhia de outro homem. Ainda assim, continuaram a viver juntos.
"Queria que organizássemos a nossa vida, salvaguardando os interesses do nosso filho", explica Mário. Foi pelo filho, garante, que, durante anos, não se queixou - "não queria que ele, um dia, dissesse que o meti a mãe na cadeia" - até que a separação se tornou inevitável.
Por resolver, ficou a relação, que continua pontuada de violência, e a guarda do filho, de que ainda não há decisão definitiva do Tribunal de Família.
@ JN
Embora as razões económicas não sejam tão determinantes na manutenção de uma relação abusiva como acontece com as mulheres, a verdade é que os homens também sofrem a pressão dos mesmos factores e acabam por suportar o insuportável. Com uma agravante: socialmente é, para um homem, mais difícil assumir a vitimização, como explicou ao JN uma psicóloga da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), a que recorre um número crescente de homens por crime de violência conjugal (cerca de 10% do total das vítimas).
Não há perfil único da vítima de violência conjugal - tal como não existe um retrato padronizado do agressor -, mas há algumas características que indiciam uma maior vulnerabilidade para aceitar maus-tratos, como baixa auto-estima, fraca confiança e elevada dificuldade em defender os próprios direitos.
O medo de perder os filhos - usados frequentemente na chantagem emocional que caracteriza as relações tóxicas -, a pressão familiar e social, a dependência emocional e financeira, bem como as crenças morais e religiosas sobre o casamento são alguns dos factores que favorecem a perpetuação das agressões.
A violência conjugal configura um ciclo de três fases: começa por um período de tensão (discussões), a que se segue o ataque violento (psicológico ou físico) e depois passa para a chamada "lua de mel", em que o agressor pede desculpa e promete nunca mais repetir os maus-tratos. Este ciclo tende a repetir-se, com a lua de mel a tornar-se cada vez curta e as agressões mais frequentes.
A violência doméstica é um dos crimes que, no ano passado, registou uma subida mais significativa: 6%, de acordo com o relatório de segurança internade 2007. No total, foram reportados à Polícia de Segurança Pública (PSP) e Guarda Nacional Republicana (GNR) cerca de 22 mil ocorrências de violência doméstica.
As mulheres continuam a ser a esmagadora maioria das vítimas. Os homens representam cerca de 15% das pessoas maltratadas no seio familiar. Ou seja, este número inclui não apenas os que sofreram violência conjugal (perpetrada pela actual ou ex esposa, companheira ou namorada), mas todos aqueles que foram alvo de maus-tratos por familiares. Nesta categoria inclui-se um número crescente de idosos que denunciam situações de violência física e psicológica por parte dos cuidadores (filhos, netos ou outros parentes).
Estes dados correspondem à percentagem de casos denunciados à APAV: menos de 10% do total de vítimas de violência conjugal, de acordo com os dados dados de 2007.
É UM MASSACRE DIÁRIO, VIVO EM PÂNICO
"Tenho medo dela. Nunca sei o que ela vai fazer. Já me fez emboscadas de carro, escândalos em locais públicos e no meu trabalho. Até ameaças de morte já me fez".
Filipe vive em pânico por causa da perseguição que a ex-mulher, de quem está separado há quatro anos, continua a mover-lhe.
Ao longo dos mais de 30 anos que foram casados, os insultos foram constantes. Filipe habituou-se ao "génio muito violento" de Ana. "Acomodei-me, deixei andar, em nome de um conceito familiar que me é caro. Não queria que os meus filhos vissem os pais separados", conta o empresário. Mas a verdade é que eles cresceram a ver as cenas de violência familiar.
Os episódios de coacção psicológica eram diários, segundo relata Filipe. Insultos, ameaças, chantagem e "muitos vexames públicos", em restaurantes, festas e casas de espectáculos que o casal frequentava. De vez em quando, sucediam ataques físicos. "Atirava-me com o que tivesse à mão, garrafas, pratos ou outros objectos. Partia tudo lá em casa". As agressões só não aconteciam porque Filipe afastava-se para não haver confrontos físicos. "Parecia louca. Num momento, estava partir tudo. Minutos depois, estava a convidar para tomar um café como se nada tivesse acontecido", recorda.
O casamento acabou por iniciativa de Ana, que abandonou o lar, sem explicações, segundo Filipe. Em três meses, o divórcio estava assinado porque ele concordou com a divisão que ela fez dos bens do casal. Parecia que Filipe teria, finalmente, paz. Puro engano.
Logo que o empresário restabeleceu a sua vida social e começou a sair com outras mulheres, cerca de seis meses depois do divórcio, Ana montou aquilo que ele diz ser uma "perseguição diária". Telefona-lhe todos os dias e, se ele não atender, corre os locais onde ele costuma estar, incluindo o local de trabalho, onde já chegou ao ponto de provocar danos.
E, caso saiba que ele tem companhia feminina, não se inibe de aparecer e insultar quem o acompanha. "Já perdi amizades por causa dos escândalos dela", lamenta Filipe que, actualmente, já evita conviver por receio do que ela possa aprontar.
"Ela vigia todos os dias a minha porta para saber se estou em casa. É um massacre diário."
SINTO-ME DISCRIMINADO PELAS AUTORIDADES
Mário e a companheira viveram juntos 12 anos e têm um filho de sete. Estão separados há um ano, mas não significou o fim dos abusos psicológicos, físicos e financeiros de que ele se queixa.
Os personagens desta história têm formação superior e são ambos profissionais de saúde. No entanto, estão envolvidos numa guerra que já conta com diversas queixas-crime por agressão mútua e uma luta judicial pela guarda do filho, que já chegou a ser conduzido ao pai pela Polícia e assiste frequente aos maus-tratos de que o pai sofre.
Mário apresentou várias queixas por violência doméstica e denuncia a falta de sensibilidade dos agentes policiais para os casos em que o homem é a vítima. "Salvo algumas excepções, fui sempre tratado com grande desdém nas esquadras. Sinto-me discriminado pelas autoridades", critica.
Além de abusos psicológicos repetidos, Mário relata diversas agressões físicas perpetradas pela ex-companheira, como um pontapé que lhe deixou uma lesão permanente nos testículos, e pelo seu irmão.
Retrospectivando a sua relação, Mário reconhece que os sinais de alerta sucedem desde o início da relação. Mário conta que "ela sempre teve um comportamento ausente e desleixado, mas desculpava-a porque sabia que ela tinha sofrido abusos na infância".
Os problemas agudizaram-se com o nascimento do filho. Foi ele quem alterou os horários de trabalho para poder acompanhar a criança. "Sempre fui eu quem cuidou dele, levava-o ao colégio, ao futebol. Andávamos sempre os dois sozinhos."
A situação deteriora-se significativamente em 2007. Em Maio, ele alega que ela o atropelou, quando a encontrou na companhia de outro homem. Ainda assim, continuaram a viver juntos.
"Queria que organizássemos a nossa vida, salvaguardando os interesses do nosso filho", explica Mário. Foi pelo filho, garante, que, durante anos, não se queixou - "não queria que ele, um dia, dissesse que o meti a mãe na cadeia" - até que a separação se tornou inevitável.
Por resolver, ficou a relação, que continua pontuada de violência, e a guarda do filho, de que ainda não há decisão definitiva do Tribunal de Família.
@ JN