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II - A ciência que investiga o mundo secreto dos bebés

billshcot

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Nov 10, 2010
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Era da informação​

O projeto de Siddiqui é uma das peças de um amplo quebra-cabeça científico que vem sendo cuidadosamente montado no Babylab. Pesquisadores estão reunindo ainda informações de exames de ressonância magnética de bebês dormindo, de rastreamento ocular, de eletroencefalogramas que medem a atividade elétrica no cérebro e até mesmo de monitoramento cardíaco.
Um objetivo comum é entender como acontece o desenvolvimento infantil padrão e, em seguida, investigar por que e como alguns bebês se desenvolvem de maneira diferente. Isso envolve estudar não só suas mentes, mas o ambiente a seu redor.
Kirkham, por exemplo, está interessada em saber como os bebês conseguem distinguir as informações importantes das insignificantes, especialmente em ambientes desorganizados.

Os bebês aprendem observando o mundo, tentando identificar padrões e prever o que vem adiante. Mas isso pode ser difícil se o ambiente em que estão inseridos for caótico ou se as pessoas a sua volta se comportarem de maneira imprevisível.
"Uma das piores coisas que acontece na vida de um bebê e que pode causar infinitos danos é não poder prever as reações de outras pessoas", afirma Kirkham.
"Esse tipo de ciclo de negligência-abuso, em que não se sabe o que vai acontecer quando alguém chega em casa (ou o que vão fazer), causa um dano enorme, porque não ser capaz de prever é assustador".
Há muitos fatores individuais envolvidos na pesquisa para que os cientistas do Babylab possam dar conselhos específicos sobre como criar filhos, mas as pesquisas que eles estão conduzindo permitem que os pais tomem algumas decisões mais conscientes.
E não apenas porque enfatizam a importância do cuidado e carinho constantes. Por exemplo, um estudo sobre o efeito das telas touchscreen (sensíveis ao toque) em bebês e crianças pequenas revelou que seu uso está associado a menos sono, mas também ao desenvolvimento precoce de coordenação motora fina.

Uma ferramenta que se mostrou particularmente completa para esse tipo de descoberta é a espectroscopia em infravermelho próximo. Irradiar essa luz através do crânio permite aos pesquisadores medir os níveis de oxigênio no sangue que circula no cérebro. Isso, por sua vez, fornece uma imagem da atividade cerebral, já que o sangue rico em oxigênio flui para as áreas ativas.
Quando Sarah Lloyd-Fox, pesquisadora do Babylab, começou há mais de 10 anos a trabalhar com a tecnologia, ela já era usada para estudar cérebros adultos.
Para aplicar em bebês, ela aperfeiçoou o método em parceria com pesquisadores da University College London (UCL). Atualmente, Lloyd-Fox desenvolve o "capacete" padrão - uma larga faixa preta com cabos acoplados - para outros laboratórios, além de conduzir sua própria pesquisa.

"Acho que sou uma das pioneiras", diz ela, enquanto nos sentamos na sala de espera do laboratório, um espaço que lembra uma creche: alegre e repleto de brinquedos.
Meu filho parece ter esquecido de vez o chapéu engraçado. Ele tenta subir no colo de Lloyd-Fox. Ela aponta para a área atrás da orelha dele, que provavelmente neste momento está sendo inundada de sangue rico em oxigênio - seu "cérebro social" está trabalhando intensamente.
As pesquisas dela geraram uma série de avanços. Um dos estudos mostrou, por exemplo, que recém-nascidos com até um dia de vida ativam seu "cérebro social" em resposta a imagens de uma mulher brincando de esconde-esconde.
Outro levantamento indicou que os cérebros de bebês de quatro a seis meses com alto risco de autismo respondem com menos intensidade aos estímulos sociais se comparados a um grupo de baixo risco. Ninguém tinha sido capaz de demonstrar isso em crianças tão pequenas antes.
De uma maneira geral, a tecnologia aumenta a probabilidade da descoberta precoce de toda uma série de diferenças neurológicas, ajudando as crianças a obterem o apoio adequado muito antes do aparecimento de qualquer sintoma externo.
"Do ponto de vista comportamental, você não vai ser capaz de identificar se o bebê tem autismo ou uma lesão cerebral quando é prematuro, possivelmente até ele completar dois ou três anos de vida", diz Lloyd-Fox.
"Mas você pode identificar se há uma resposta cerebral antes de o bebê ser capaz de reagir de maneira comportamental", completa.

Inspiração​

Como o equipamento de NIRS é portátil e mais barato do que um aparelho de ressonância magnética, ele também pode revolucionar as pesquisas infantis em países mais pobres.
Em 2012, uma clínica na Gâmbia entrou em contato com o Babylab - eles estavam interessados em usar a tecnologia para estudar bebês da região. Lloyd-Fox transportou então todo seu aparato por meio de estradas esburacadas até uma base rural do país africano, onde foi capaz de replicar suas descobertas.

procedimento não foi inédito apenas na Gâmbia, mas em toda a África: nunca tinha sido registrada uma imagem do cérebro infantil daquela maneira no continente. A colaboração agora se transformou em um estudo mais amplo sobre o desenvolvimento infantil na Gâmbia e no Reino Unido.
Um dos enfoques da pesquisa é o impacto da desnutrição, uma vez que 25% das crianças do país africano estão gravemente subnutridas.
"Uma das principais perguntas é: como a desnutrição afeta o cérebro?", diz a pesquisadora.
"Mesmo em pesquisas com adultos, eles não fizeram isso, então estamos de certa forma voando às cegas nesse campo. Na verdade, não sabemos exatamente que áreas do cérebro são afetadas em qualquer pessoa, não apenas em bebês."

Enquanto isso, em Londres, o Babylab está sendo ampliado. Nos próximos anos, vai inaugurar um laboratório para crianças pequenas com uma caverna de realidade virtual, que promete uma perspectiva completamente nova em relação a esse estágio crucial do desenvolvimento humano.
No fim da minha visita, meu filho adormece. Hoje foi mais um dia emocionante para ele, cheio de novidades.
Eu reflito sobre o que a experiência me ensinou como mãe. Foi reconfortante ouvir que os bebês realmente nos observam e respondem muito antes de conseguirem se expressar. Também foi gratificante saber que muito do que os pais fazem instintivamente - como o afago e os ruídos engraçados - tem sólido respaldo científico e proporciona o melhor ambiente para o cérebro deles se desenvolver.
E será que os recém-nascidos acham que realmente mudamos de cor e tamanho o tempo todo? Segundo Kirkham, especialista em desenvolvimento infantil, essa é uma pergunta brilhante. E ela responde que sim, é possível que meu filho tenha pensado que mudamos de cor. Mas, muito provavelmente, ele simplesmente ignorou as roupas e se concentrou no que realmente importava para ele: os rostos.
 
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