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Irlandês inventa um pseudónimo para escrever policiais

kokas

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John Banville usa sempre um chapéu quando assume Benjamin Black


O nome Benjamin Black pouco diz aos leitores mas é o alter-ego de John Banville para os policiais que se passam na Irlanda dos anos 50.






O que leva um escritor como Banville a enveredar pelo pseudónimo para escrever romances policiais seria um bom tema para uma entrevista. A resposta é simples e resume-se a um nome: Simenon. O Georges Simenon que Banville leu pela primeira vez em 2004 e o fez não mais resistir ao apelo do livro policial. Banville confessa que a reação à escrita do belga/francês foi tão forte que fez nascer o pseudónimo Benjamin Black: "Os seus livros eram tão bons que queria tentar escrever alguma coisa assim, mesmo que Simenon fosse um génio. Ele sim, devia ter ganhado o Nobel".Fica bem a John Banville dizer isto, até porque uma coisa é aceitar dar a entrevista a propósito desta aventura policial e outra reagir bem às perguntas que lhe são feitas. Vê-se bem que Banville gosta de Black menos do que se pensaria. Até se torna irónico: "Se olhar pelo lado de ganhar dinheiro, não posso dizer que não é bom autor!" Mas vamos ao que interessa, que é perceber como surge A Loura de Olhos Negros assinada pelo já referido alter-ego? Recentemente, os herdeiros do escritor policial norte-americano Raymond Chandler convidaram-no a fazer uma sequela dos livros protagonizados pelo detetive Philip Marlowe, um dos mais famosos expoentes deste género: "Eu leio Chandler desde que era adolescente e como o admiro muito fiquei entusiasmado com a possibilidade de fazer o meu Marlowe ao seu jeito". Quando se lhe pergunta se ficará apenas por este volume, Banville/Black nega interesse em continuar: "Creio que não o farei de novo, mas nunca se sabe pois adorei escrever este." Aliás, não faltam referências irlandesas no livro, que são justificadas assim: "A mãe de Raymond era irlandesa e ele próprio viveu cá após o divórcio dos pais, a 40 km de onde eu nasci."A sequela de Philip Marlowe corre solta e vê-se que Banville/Black não teve dificuldade em continuar o género. Até minimiza o pai Chandler: "É fácil porque é tudo muito infantil." Não é que Banville não goste do trabalho que Black faz: "Aprecio e tenho orgulho nos livros de Benjamin Black. Ele é honesto no seu trabalho e não tem pretensão de ser literatura." Pega-se no que disse em tempos, sobre os escritores irlandeses serem "melhores quando são ambíguos", e questiona-se se esse é o truque dos policiais do seu outro eu: "Benjamin Black não é ambíguo, nem acredita nisso, porque é direto. Ele é um artesão e só os artistas é que são ambíguos." Vê-se que Banville não aprecia que se considere Black um escritor: "Talvez os leitores o achem, mas pouco tem a ver comigo enquanto escritor. Ele não passa de um empregado a tempo parcial". Para reforçar a ideia, Banville dá como exemplo o modo como ambos produzem: "Black escreve diretamente no computador enquanto Banville prefere muito mais uma maravilhosa máquina de escrever e só depois passa a limpo. É uma questão de velocidade, pois a Black a velocidade não importa, mas eu preciso de calma para pensar e gosto da resistência do papel à caneta." Será que os leitores os confundem? "São situações diferentes. Repito, um é artesão e outro um artista - mesmo que não saiba bem o que é ser artista", conclui.




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