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Klaus Dodds diz que muros fronteiriços criam oportunidades para negócios ilegais na Europa
Número de muros na Europa multiplicou-se por 10 desde o final da Guerra Fria.
O número de muros fronteiriços na Europa multiplicou-se por 10 desde o final da Guerra Fria e representa hoje um mercado cheio de oportunidades de negócio, defende o professor de geopolítica da Universidade de Londres Klaus Dodds.
"As questões fronteiriças são sempre uma oportunidade de negócio", afirma em entrevista à Lusa o especialista e autor do livro "Guerras de Fronteira: os Conflitos que Definirão o Nosso Futuro", lançado em 2023.
Os negócios desta "indústria" da segurança -- que Klaus Dodds estima valer globalmente mais de 45 mil milhões de euros -- atraem "traficantes [de seres humanos], a indústria da segurança, os advogados, as seguradoras, contabilistas e, claro, aqueles que fazem muros e fronteiras físicas e digitais", descreve.
Para o especialista, apesar do que custam, estas barreiras não cumprem os objetivos para os quais estão a ser construídos, já que não conseguem transformar nenhuma fronteira numa passagem impermeável.
O que acontece, explica, é que os fluxos mudam.
O tráfico e as travessias irregulares reorganizam-se, "desaparecendo brevemente num ponto para reaparecer noutros locais ou noutras formas", explica, adiantando que, ao mesmo tempo, aquela passagem torna-se mais dispendiosa e um íman para o crime organizado.
Segundo um artigo publicado em janeiro sob a égide da Voxeurop, um portal de investigação é notícias multilíngue destinado ao público europeu, o maior 'boom' do negócio das barreiras fronteiriças na Europa aconteceu depois de o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, ter decidido isolar a fronteira da Hungria com a Sérvia em 2015, em plena "crise dos refugiados".
As estimativas sugerem que Orbán gastou mais de 2 mil milhões de euros para construir um muro.
A decisão de Orbán produziu um efeito dominó e outros países europeus seguiram-lhe o exemplo.
Calais, uma pequena cidade histórica em França e destino de migrantes que tentam chegar ao Reino Unido através do Canal da Mancha, está atualmente rodeada por 65 quilómetros de vedações equipadas com a mais recente tecnologia, incluindo drones de última geração, câmaras noturnas, e detetores de movimento e de CO2 para localizar os migrantes através da respiração.
A Grécia, porta de entrada para a Europa pelas rotas migratórias orientais, tem um orçamento atribuído de 819 milhões de euros em fundos europeus para reforçar ainda mais a sua fronteira até 2027.
Em Espanha, uma pequena empresa familiar transformou-se numa multinacional depois de, em 2006, o Governo a ter contratado para instalar um arame farpado nos muros fronteiriços de Ceuta e Melilla.
Segundo a própria empresa, as barreiras são retiradas quando os socialistas entram no Governo e repostas quando lideram os conservadores, sendo pagos pelo menos três milhões de euros de cada vez que o material volta ao local.
Além das empresas, a multiplicação de muros também significa mais negócio para os traficantes, que aumentam de imediato as suas taxas para transportar migrantes quando as condições são mais difíceis e perigosas.
Por outro lado, os muros, cada vez mais militarizados, permitem a transformação de migrantes em armas políticas por governos e ditaduras que vão da Turquia a Marrocos, e da Bielorrússia à Tunísia.
Estes regimes estão a condicionar o seu crescente controlo e influência do outro lado da fronteira em troca de dinheiro, apoio diplomático e outras concessões da União Europeia.
Correio da Manhã

Número de muros na Europa multiplicou-se por 10 desde o final da Guerra Fria.
O número de muros fronteiriços na Europa multiplicou-se por 10 desde o final da Guerra Fria e representa hoje um mercado cheio de oportunidades de negócio, defende o professor de geopolítica da Universidade de Londres Klaus Dodds.
"As questões fronteiriças são sempre uma oportunidade de negócio", afirma em entrevista à Lusa o especialista e autor do livro "Guerras de Fronteira: os Conflitos que Definirão o Nosso Futuro", lançado em 2023.
Os negócios desta "indústria" da segurança -- que Klaus Dodds estima valer globalmente mais de 45 mil milhões de euros -- atraem "traficantes [de seres humanos], a indústria da segurança, os advogados, as seguradoras, contabilistas e, claro, aqueles que fazem muros e fronteiras físicas e digitais", descreve.
Para o especialista, apesar do que custam, estas barreiras não cumprem os objetivos para os quais estão a ser construídos, já que não conseguem transformar nenhuma fronteira numa passagem impermeável.
O que acontece, explica, é que os fluxos mudam.
O tráfico e as travessias irregulares reorganizam-se, "desaparecendo brevemente num ponto para reaparecer noutros locais ou noutras formas", explica, adiantando que, ao mesmo tempo, aquela passagem torna-se mais dispendiosa e um íman para o crime organizado.
Segundo um artigo publicado em janeiro sob a égide da Voxeurop, um portal de investigação é notícias multilíngue destinado ao público europeu, o maior 'boom' do negócio das barreiras fronteiriças na Europa aconteceu depois de o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, ter decidido isolar a fronteira da Hungria com a Sérvia em 2015, em plena "crise dos refugiados".
As estimativas sugerem que Orbán gastou mais de 2 mil milhões de euros para construir um muro.
A decisão de Orbán produziu um efeito dominó e outros países europeus seguiram-lhe o exemplo.
Calais, uma pequena cidade histórica em França e destino de migrantes que tentam chegar ao Reino Unido através do Canal da Mancha, está atualmente rodeada por 65 quilómetros de vedações equipadas com a mais recente tecnologia, incluindo drones de última geração, câmaras noturnas, e detetores de movimento e de CO2 para localizar os migrantes através da respiração.
A Grécia, porta de entrada para a Europa pelas rotas migratórias orientais, tem um orçamento atribuído de 819 milhões de euros em fundos europeus para reforçar ainda mais a sua fronteira até 2027.
Em Espanha, uma pequena empresa familiar transformou-se numa multinacional depois de, em 2006, o Governo a ter contratado para instalar um arame farpado nos muros fronteiriços de Ceuta e Melilla.
Segundo a própria empresa, as barreiras são retiradas quando os socialistas entram no Governo e repostas quando lideram os conservadores, sendo pagos pelo menos três milhões de euros de cada vez que o material volta ao local.
Além das empresas, a multiplicação de muros também significa mais negócio para os traficantes, que aumentam de imediato as suas taxas para transportar migrantes quando as condições são mais difíceis e perigosas.
Por outro lado, os muros, cada vez mais militarizados, permitem a transformação de migrantes em armas políticas por governos e ditaduras que vão da Turquia a Marrocos, e da Bielorrússia à Tunísia.
Estes regimes estão a condicionar o seu crescente controlo e influência do outro lado da fronteira em troca de dinheiro, apoio diplomático e outras concessões da União Europeia.
Correio da Manhã