O Lugar mais Remoto do Mundo: Tristão da Cunha
Quem habita um vulcão perdido nos mares do sul a milhares de quilómetros de qualquer lugar civilizado pode ser um ermita, ou um dos habitantes de duas centenas da possessão inglesa que parece ter sido esquecida no tempo, o que não é verdade! Pois uma vez por ano atraca na ilha um navio-correio vindo da Inglaterra trazendo mantimentos, alguns visitantes e as cartas de parentes com as notícias das terras da Rainha. Tristão da Cunha, uma ilha vulcânica que emerge íngreme e inospitamente do mar, é um minúsculo pedaço de terra de apenas 100 Km2, no meio do Atlântico Sul – o lugar mais remoto do planeta. A primeira povoação se deu quando uma guarnição militar britânica foi estabelecida em 1816, com a missão de impedir que os franceses usassem o local como base para alguma possível operação de libertação de Napoleão, exilado na ilha de santa Helena, distante a quase 2.000 km ao norte. O aumento populacional subsequente, aconteceu por gente que se deixou ficar e por alguns náufragos ocasionais que deram à costa. No recenseamento de 1993 havia um total de 301 habitantes. Neste mesmo ano, uma equipe da Universidade de Toronto foi a Tristão dar continuidade a estudos médicos iniciados em 1961, ano em que a população inteira foi evacuada para a Inglaterra devido à erupção do enorme vulcão que constitui fisicamente a própria ilha. A população da ilha é composta tão somente de sete famílias:
- Glass: descendentes do primeiro militar aquartelado na ilha em 1814, o escocês Willian Glass;
- Swain: descendentes do colono inglês Thomas Swain, estabelecido em Tristão em 1821;
- Rogers: descendentes do colono Americano chegado em 1836;
- Green: descendentes de Peter Green um náufrago holandês originário Katwijk na Holanda chegado em Setembro de 1836;
- Hagan: descendentes de Andrew Hagan, um caçador de baleias Americano, chegado a Tristão em fevereiro de 1849;
- Repetto: descendentes de Andrea Repetto, um marinheiro italiano de Camogli (perto de Gênova), naufragado nas proximidades de Tristão em março de 1893;
- Lavarello: descendentes de outro marinheiro italiano, Gaetano Lavarello, também originário de Camogli, náufrago chegado a Tristão da Cunha em março de 1893.
Uma história curiosa: quase todos os habitantes de Tristão da Cunha têm asma. Na primeira visita, os pesquisadores constataram a altíssima incidência de asma entre os tristanenses: cerca da metade dos habitantes tem asma. Ao elaborarem a genealogia das famílias locais, não foi difícil descobrir que todos os moradores eram descendentes de 15 colonos originais. Assim, as suas linhagens estavam intimamente relacionadas. Supostamente a asma fora introduzida na ilha por duas mulheres em 1827. A dádiva de Tristão da Cunha ser o local mais isolado da terra habitado por humanos fez a alegria dos caçadores de genes: a ilha toda é essencialmente uma grande família estendida e por isto, os genes causadores de qualquer enfermidade observada num grupo de tristanenses, podem ser encontrados em todos os demais habitantes. As pesquisas genéticas relatadas por James D. Watson, um dos descobridores do DNA, prosseguem até hoje em outros povos isolados e geneticamente “puros”, tais como na Islândia.