Portal Chamar Táxi

Notícias "Morreram três adultos, mas a sociedade só fala em rótulos": Dino D'Santiago desabafa sobre triplo homicídio em Lisboa

Roter.Teufel

Sub-Administrador
Team GForum
Entrou
Out 5, 2021
Mensagens
54,895
Gostos Recebidos
1,532
"Morreram três adultos, mas a sociedade só fala em rótulos": Dino D'Santiago desabafa sobre triplo homicídio em Lisboa


Dino D'Santiago, conhecido músico luso-cabo-verdiano, marcou presença, na manhã de sábado, no enterro de Carlos Pina, barbeiro morto no triplo homicídio de quarta-feira em Lisboa.

"'Lisboa já não é a cidade em que crescemos'. Este foi o sussurro amargo que ouvi mal pisei o cemitério do Alto de São João. Viemos todos dar o último adeus ao Pina, um homem de sonhos, pai de seis filhos, entre eles o nosso Gonçalo", escreveu no Instagram.

O cantor relatou que estava em Cabo Verde, quando "a notícia desabou como uma tempestade". "Uma tragédia pintada a sangue nas ruas da nossa cidade. O horror encontrou três almas inocentes e apagou-lhes o brilho para sempre", descreveu.

"Oiço falar de falsos ajustes de contas, murmúrios de ódio que se espalham como erva daninha. Alguns tiram partido, alastrando a desunião entre os povos, como se o caos lhes desse alimento. Mas o que aconteceu não é apenas uma tragédia de sangue. É o fruto envenenado da nossa indiferença, o reflexo dos vales do silêncio onde temos escolhido viver, confortáveis na nossa cegueira. Morreram três adultos e um filho que ainda repousava no ventre da sua mãe, mas a sociedade só soube falar em rótulos: "um barbeiro africano", "uma grávida brasileira", "um taxista". E para que a discriminação fosse ainda mais grotesca, o assassino foi logo identificado como "um cigano". Como se a tragédia pudesse ser explicada, como se as mortes pudessem ser justificadas com esses estereótipos. Um rótulo para cada vida, uma desculpa para a nossa indiferença."

Para o artista, o triplo homicídio "é espelho" de um mundo onde "o ódio se replica".

"Vivemos numa era de redes onde a palavra "social" perdeu todo o sentido. Ignoramos a verdade que grita diante de nós: que isto foi o resultado de uma mente doente, negligenciada durante anos. Um homem que caminhava perdido pelas ruas da cidade, enquanto todos nós desviávamos o olhar. O que se passou em Lisboa é um espelho do que acontece pelo mundo fora, onde o ódio se replica, seja pelo poder, preconceito, machismo, xenofobia, ou por qualquer outro veneno que nos corrompe. Cada tiro disparado, cada vida ceifada, é o sintoma de uma doença mais profunda - nós, humanos, transformámo-nos no vírus mais letal deste planeta", rematou.

Correio da Manhã
 
Topo