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Novos 'chefs' substituem lições de culinária das mães

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Cozinheiros ganham estatuto privilegiado na publicidade graças a popularidade invulgar


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Jovens, bons comunicadores, visual cuidado e mão para a gastronomia. Assim são os novos donos da cozinha, aos quais nem a publicidade permanece imune. Com o seu charme conseguem até o que muitas mães não conseguiram: ensinar os filhos a cozinhar.

Quantos não entraram na maioridade sem saber cozinhar o simples arroz solto ou o inevitável refogado? Eis que, seja em programas de televisão, em livros ou em revistas e jornais, surgem em catadupa cozinheiros dispostos a realizar um trabalho que muitas famílias não fizeram.

De forma atractiva, pontuada com simplicidade, estes jovens gastrónomos, que chegaram aos tachos pelos mais diversos caminhos, confeccionam uma espécie de "nouvelle cuisine", muitas vezes alvo de críticas pela velha guarda - "chefs" defensores dos alimentos, sabores e confecção tradicionais.

Mas no fim, porém, graças ao potencial publicitário em que se transformaram, de novos a antigos - arrastados pelo sucesso dos primeiros -, todos acabam por colher os frutos deste fenómeno do paladar, que percorre grande parte do mundo ocidental, ao qual Portugal não escapou e que muitos relacionam com o aparecimento de um jovem cozinheiro simpático, louro, de olhos azuis, em Inglaterra, há cerca de 15 anos - de seu nome Jamie Oliver.

Revolução do requinte acessível

De uma certa forma, esta onda deve-se a uma reconciliação de recentes gerações com a cozinha. Segundo Paula Mascarenhas, socióloga da alimentação, a mulher moderna - que havia estabelecido um corte com esse espaço, outrora sinónimo de opressão feminina - e homens, entre os 20 e 30 anos, com médias a elevadas habilitações - no passado vítimas de um machismo que os afastava do prazer da mistura dos sabores -, são hoje a clientela destes cozinheiros.

"Assistimos a um corte na transmissão destes conhecimentos da geração mais jovem com a anterior; hoje essa geração aprende com este fenómeno, que ganhou força em meados dos anos 90 (do século XX) mas que é anterior, com o aparecimento da fast-food", explica a docente da Universidade do Minho.

E isto é gastronomia? "Não deixa de ser cozinha. Mas, atenção, a 'nouvelle cuisine' aposta mais no visual, não é a alimentação do quotidiano. Tal como se assiste a uma enorme medicalização da comida, com o que faz mal e não faz. Já para não falar da revolução de alimentos outrora inacessíveis à maioria, como o salmão", acrescenta, desvendado o sucesso de tal onda culinária.

Publicidade rendida a fenómeno

Rosto da agência de publicidade Usina, Manuel Oliveira acrescenta ingredientes para o êxito: "excelentes comunicadores e visual eficaz". "Têm uma apetecível imagem para veicular mensagens de determinadas marcas, mais na área alimentar. Como excelentes comunicadores até podem sair desse universo e fazer muitas outras coisas", frisou o criador.

"Não estamos perante alguém que comunique de forma formal, como no passado. E não é culinária pura. Sejamos honestos: isto é comunicação. Atingem este patamar pela sua enorme interacção com o público", explica, por outro lado, Rogério Santos, docente de Comunicação na Universidade Católica Portuguesa.

Opinião partilhada por Frederico Ferreira de Almeida, produtor televisivo - "é uma fórmula vencedora". "Dificilmente hoje teriam sucesso figuras que no passado ocuparam tal espaço. Há aqui uma linguagem urbana adulta e juvenil, para a classe média e média alta", conclui o director da Fremantle Portugal.

JN
 
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