Os Bancos e a Arte de Fabricar Dinheiro!
Cliente: Para que existem os bancos?
Banqueiro: Bem, para ganhar dinheiro, naturalmente!
Cliente: Para que os clientes ganhem, claro.
Banqueiro: Não, para que os bancos ganhem.
Cliente: E por que é que a publicidade bancária não menciona esse facto?
Banqueiro: Não seria de bom gosto, mas isso está subentendido quando se faz referência a reservas e coisas do tipo. Esse é o dinheiro que se ganha.
Cliente: Evidentemente, ganha-se esse dinheiro dos clientes…
Banqueiro: Presumo que sim…
Cliente: Bom, e quando se fala em activos, alude-se também a dinheiro que o banco ganhou?
Banqueiro: Não exactamente. Esse é o dinheiro que se usa para ganhar dinheiro.
Cliente: Ah, ok! Suponho então que guardem o dinheiro num cofre….
Banqueiro: De modo nenhum! Nós emprestamo-lo aos nossos clientes!
Cliente: Então os senhores não têm o dinheiro?
Banqueiro: Não.
Cliente: Então, como podem chamá-lo activo?
Banqueiro: Porque realmente seria assim se pudéssemos recuperá-lo.
Cliente: Mas certamente têm algum dinheiro guardado em algum lugar?
Banqueiro: Claro que sim! Normalmente temos uma quantidade igual ao activo, a que chamamos de passivo.
Cliente: Mas se o têm… como podem chamá-lo de passivo?
Banqueiro: Porque não é nosso.
Cliente: Então, por que o têm?
Banqueiro: Porque os clientes nos emprestaram.
Cliente: Mas, como? Quer dizer que são os clientes que emprestam dinheiro aos bancos?
Banqueiro: Exacto. Depositam dinheiro nas nossas contas… e realmente o emprestam ao banco.
Cliente: E que fazem os bancos com o dinheiro?
Banqueiro: Emprestam-no de novo aos clientes.
Cliente: Não disse o senhor que o dinheiro que vocês emprestam corresponde aos seus activos?
Banqueiro: Sim.
Cliente: Mas então quer dizer que o passivo que vocês recebem dos clientes e o activo que vocês emprestam… são a mesma coisa!
Banqueiro: Bem…Eu não seria tão categórico!
Cliente: Eu deposito 5.000 euros na minha conta e o banco deve-me esse dinheiro (que é o passivo), mas eis que o emprestam a outra pessoa (o activo) e ele tem que devolvê-lo. Mas não são os mesmos 5.000 euros?
Banqueiro: Com certeza!
Cliente: Então, se ambas as operações se anulam… os bancos não têm nenhum dinheiro!
Banqueiro: Isso é só em teoria….
Cliente: Esqueça a teoria. Se não têm dinheiro… de onde tiram as suas reservas?
Banqueiro: Já lhe disse… é simplesmente dinheiro que ganhamos…
Cliente: Como?
Banqueiro: Se o senhor nos traz 5.000 euros, só utilizará em princípio, 10% dessa quantia. Os pagamentos grandes são feitos com talão. Nós guardamos 500 euros para quando o senhor precisar de dinheiro propriamente dito.
Cliente: E o resto?
Banqueiro: Bem a partir de cada um daqueles 500 euros restantes lucramos 5.000 euros.
Cliente: Vocês lucram 45.000 euros com base nos meus 5.000 euros iniciais?
Banqueiro: Claro, pois da mesma forma que o senhor só utiliza 500 euros dos seus 5.000 euros, com os outros acontece o mesmo.
Cliente: E cobram juros?
Banqueiro: Claro, ao redor de 19% a 20%, que seria o lucro.
Cliente: Mas são 20% sobre 45.000 euros a partir de 500 euros!
Banqueiro: Algo assim!
Cliente: E porque não é meu esse lucro? Afinal, não se trata do meu dinheiro?
Banqueiro: É a aplicação das teorias bancárias…
Cliente: Mas tenho que cobrar-lhe juros, pois se trata do meu dinheiro!
Banqueiro: Isso o senhor já faz. Dependerá do tipo de conta, desde 0,5% até 6% ou 8% para depósitos a prazo, dependendo da taxa.
Cliente: Mas que negócio estou fazendo!
Banqueiro: Claro que esse juro o senhor recebe no caso de não retirar o seu dinheiro.
Cliente: Mas é claro que vou retirá-lo! Se pensasse nunca mais sacá-lo, eu teria enterrado no jardim.
Banqueiro: Não vamos gostar se o sacar de novo…
Cliente: Por que não? Se o mantenho no banco, o senhor disse-me que é passivo (dinheiro que vocês devem)… Penso eu que os senhores ficarão contentes por ver que reduzo as suas dívidas.
Banqueiro: Não! Isso não nos interessa… Se o senhor retirar o seu dinheiro não poderemos empresta-lo a ninguém!
Cliente: Mas se quero sacá-lo, terão que dá-lo amim!
Banqueiro: Certamente.
Cliente: Então… suponha que já emprestaram o meu dinheiro a outro cliente.
Banqueiro: Nesse caso lhe daremos o dinheiro de outra pessoa.
Cliente: Mas e se essa pessoa também o quiser?
Banqueiro: O senhor está sendo propositadamente obtuso!
Cliente: Pois eu acho que estou sendo é agudo. O que aconteceria se todo mundo quisesse o seu dinheiro ao mesmo tempo?
Banqueiro: A teoria bancária diz que isso não acontecerá nunca.
Cliente: Claro. Enfim, acho que já falámos bastante.
Banqueiro: Bem prezado cliente, agora o senhor não tem mais que depositar uma quantia para abrir a sua conta.
Cliente: Ah, sim, agradeço. Mas pensando bem, vou abrir uma conta…não seria melhor negócio que eu abrisse um banco?
