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GF Platina
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Quando em Abril de 2005, o jogador de futebol argentino Leandro Desábato, do Quilmes, chamou Grafite, do São Paulo, de "macaco", a questão do racismo voltou à tona. Na Argentina, o tema é particularmente polémico, sobretudo porque o tráfico de negros teve um fim terrível: a maior parte dos africanos simplesmente desapareceu. O comércio negreiro durou entre os séculos XV e XIX (a abolição foi em 1853). No censo de 1778, a população negra chegava a 54% em algumas regiões argentinas. Em 1887, caiu para 1,8%.
"A dizimação está ligada às guerras dos espanhóis contra ingleses, no fim do século XVIII. Nelas, morreram uma boa parte dos negros, engajados como soldados", afirma o historiador Álvaro de Souza Gomes Neto, especialista em escravidão. Mais tarde, no processo de independência (que aconteceu em 1816), foram formadas companhias apenas de negros, os "Batalhões de Libertos". Com a promessa de liberdade, eles ocuparam as posições mais perigosas. Morreram quase todos.
Outro motivo para o seu desaparecimento foi epidemia de febre-amarela, em 1871. Os negros libertos, vivendo em condições de extrema miséria em guetos, foram os mais afectados. Os soldados argentinos impediam a saída deles dos bairros em que moravam, com medo de a epidemia se alastrar entre os brancos. Assim, eles morriam sem atendimento médico.
Descendentes foram branqueados legalmente
Além da dizimação na prática, a Argentina organizou uma teoria, registando todos os descendentes de escravos como brancos. O processo ficou conhecido como "Política de Branqueamento" e foi praticado no início do século XIX. Para o governo argentino, o desenvolvimento e o progresso do país estavam atrelados à cor da pele da população. Muitas mulheres negras, com a ausência de homens da mesma etnia, casaram-se e tiveram filhos com brancos, inclusive com imigrantes europeus, que começaram a desembarcar no país antes da metade do século XIX. Os seus filhos, embora tivessem traços negros comprovados, eram registados como brancos.
"As estatísticas assim, acabaram registando um sumiço repentino de toda a população negra da Argentina", diz o historiador Álvaro de Souza Gomes Neto. "Todo argentino que não seja descendente de indígenas tem um traço de sangue negro, mesmo que em pequena proporção".
Trabalho e Racismo
O sistema económico argentino começou a substituir a mão-de-obra escrava já por volta de 1840. "Em Buenos Aires, a força de trabalho foi basicamente de imigrantes russos, italianos, espanhóis e judeus novos", afirma o professor Álvaro Neto. No nordeste do país, a força de trabalho era na maior parte, indígena. Até os anos 1930, a moda entre os negros era vestir-se, agir e falar como branco. Desde o século XVIII, identificar alguém com traços negros colocava a pessoa numa condição social extremamente baixa. Há processos e buscas de retractações de pessoas registadas assim. Chamar alguém de "macaco", por exemplo, não era crime.
O século XX presenciou uma nova leva de imigrantes africanos na Argentina
"Temos aqui no pais uma comunidade organizada de cabo-verdianos que chegaram principalmente entre as duas guerras mundiais em busca de melhores possibilidades de trabalho" afirma a filósofa argentina Dina Picotti. Segundo ela, a imigração africana vem crescendo novamente nos últimos dez anos.
Fonte: Aventuras na História.
"A dizimação está ligada às guerras dos espanhóis contra ingleses, no fim do século XVIII. Nelas, morreram uma boa parte dos negros, engajados como soldados", afirma o historiador Álvaro de Souza Gomes Neto, especialista em escravidão. Mais tarde, no processo de independência (que aconteceu em 1816), foram formadas companhias apenas de negros, os "Batalhões de Libertos". Com a promessa de liberdade, eles ocuparam as posições mais perigosas. Morreram quase todos.
Outro motivo para o seu desaparecimento foi epidemia de febre-amarela, em 1871. Os negros libertos, vivendo em condições de extrema miséria em guetos, foram os mais afectados. Os soldados argentinos impediam a saída deles dos bairros em que moravam, com medo de a epidemia se alastrar entre os brancos. Assim, eles morriam sem atendimento médico.
Descendentes foram branqueados legalmente
Além da dizimação na prática, a Argentina organizou uma teoria, registando todos os descendentes de escravos como brancos. O processo ficou conhecido como "Política de Branqueamento" e foi praticado no início do século XIX. Para o governo argentino, o desenvolvimento e o progresso do país estavam atrelados à cor da pele da população. Muitas mulheres negras, com a ausência de homens da mesma etnia, casaram-se e tiveram filhos com brancos, inclusive com imigrantes europeus, que começaram a desembarcar no país antes da metade do século XIX. Os seus filhos, embora tivessem traços negros comprovados, eram registados como brancos.
"As estatísticas assim, acabaram registando um sumiço repentino de toda a população negra da Argentina", diz o historiador Álvaro de Souza Gomes Neto. "Todo argentino que não seja descendente de indígenas tem um traço de sangue negro, mesmo que em pequena proporção".
Trabalho e Racismo
O sistema económico argentino começou a substituir a mão-de-obra escrava já por volta de 1840. "Em Buenos Aires, a força de trabalho foi basicamente de imigrantes russos, italianos, espanhóis e judeus novos", afirma o professor Álvaro Neto. No nordeste do país, a força de trabalho era na maior parte, indígena. Até os anos 1930, a moda entre os negros era vestir-se, agir e falar como branco. Desde o século XVIII, identificar alguém com traços negros colocava a pessoa numa condição social extremamente baixa. Há processos e buscas de retractações de pessoas registadas assim. Chamar alguém de "macaco", por exemplo, não era crime.
O século XX presenciou uma nova leva de imigrantes africanos na Argentina
"Temos aqui no pais uma comunidade organizada de cabo-verdianos que chegaram principalmente entre as duas guerras mundiais em busca de melhores possibilidades de trabalho" afirma a filósofa argentina Dina Picotti. Segundo ela, a imigração africana vem crescendo novamente nos últimos dez anos.
Fonte: Aventuras na História.