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OPEP não mexe na produção, mesmo que o petróleo chegue aos 20 euros

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GF Ouro
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Set 27, 2006
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Enquanto a cotação do petróleo se mantém em mínimos de cinco anos, a Organização dos Países Exportadores e Produtores de Petróleo (OPEP) garante que não vai reduzir a produção mesmo que o preço do barril chegue aos 20 dólares. Uma decisão que alguns analistas lêem como uma estratégia para acabar, a prazo, com a concorrência dos produtores norte-americanos de petróleo de xisto, mas que, no entanto, ameaça pôr em causa a unidade da OPEP.

“Não é do interesse dos produtores da OPEP reduzir a sua produção, seja qual for o preço (…) chegue ele aos 20, 40, 50 ou 60 dólares, não é pertinente reduzir a oferta”, disse o ministro saudita do petróleo, numa entrevista à publicação especializada Middle East Economic Survey (MEES).
O barril de brent estava esta terça-feira a valorizar cerca de 0,3%, mantendo-se na casa dos 60 dólares e acumulando uma desvalorização de quase 50% desde o Verão, que tem tido efeito no preço final dos combustíveis.
O mundo pode não voltar a ter um barril de crude a 100 dólares, disse ainda à MEES Ali al-Nouaïmi, citado pela AFP. O ministro do petróleo da Arábia Saudita é tido como o homem mais influente da OPEP, mas na verdade já há quem questione até que ponto conseguirá a organização manter a sua capacidade de influência e de garante de união entre os produtores com as cotações em derrapagem acelerada.
“Trata-se de um ponto de viragem na forma como as pessoas vêem a OPEP e percebem que afinal o chamado cartel não está realmente a conduzir os preços”, disse à Bloomberg Jeff Colgan, professor do Watson Institute for International Studies da Brown University. Para este especialista “a história verdadeira” vai ser “a capacidade de sofrimento dos produtores norte-americanos”, ou, por outras palavras, até que ponto poderão aguentar uma descida de preços. É que segundo alguns analistas, para a maioria dos produtores norte-americanos, o preço de extracção só será rentável se a cotação não cair abaixo dos 60, 50 dólares. Mas, se os membros da OPEP continuarem a produzir ao mesmo ritmo, quando os níveis de procura estão em valores historicamente baixos, ninguém garante que não se passe esta fasquia. E há quem admita até a possibilidade de as cotações chegarem aos 30 dólares.
Com esta estratégia de destruição de preços, a Arábia Saudita estaria assim a condenar à falência algumas empresas norte-americanas. Mas, pelo caminho, corre também o risco de fazer vítimas, entre os seus supostos aliados. Em Novembro, depois de a maioria dos países da OPEP (liderados pela Venezuela) terem defendido um corte na produção e de a decisão (que tem de ser votada por unanimidade) ter esbarrado na oposição da Arábia Saudita, Qatar, Kuwait e Emirados Árabes, que preferem deixar os preços estabilizarem sozinhos, ficou evidente a diferença de forças no seio da organização. E os preços acentuaram a descida.
As fricções na OPEP já vêm desde Janeiro 2012, quando alguns dos membros da organização começaram a furar os tectos de produção de 30 milhões de barris diários, lembra a Bloomberg. E depois da decisão de Novembro, ainda há menores estímulos para que os “infractores” cumpram as metas. “A OPEP está a passar por dificuldades para manter o cartel”, disse à Bloomberg um responsável pela estratégia de investimento da gestora de fundos BlackRock. Neste momento, todos os países “têm incentivos para aumentar a produção se quiserem manter receitas”, acrescentou.
A Bloomberg diz ainda que os actuais preços são muito inferiores àqueles que os membros da OPEP - com excepção do Kuwait e do Qatar - precisam para equilibrar os seus orçamentos. Também uma análise efectuada por dois altos responsáveis do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard (economista-chefe) e Rabah Arezki (do departamento de matérias-primas), destaca o fosso entre os actuais níveis de preços e aqueles necessários para garantir o equilíbrio orçamental dos países produtores.
Segundo a análise, publicada no blog do FMI na segunda-feira, no caso do Kuwait, este preço de equilíbrio está nos 54 euros, mas sobe para os 106 dólares no caso da Arábia Saudita e mesmo para os 184 dólares no caso da Líbia. Ainda assim, a Arábia Saudita continua a recusar a ideia de reduzir a produção. O país tem reservas suficientes para ganhar uma guerra de preços, mas vai pagar um custo elevado, tal como os outros membros da organização, defende o Citigroup.
Na análise do FMI, Blanchard e Arezki salientam que a descida de preços tende a beneficiar os países importadores de petróleo, mas no caso dos exportadores, o efeito imediato desta descida de receitas “é um provável défice orçamental”.
Porém, no cômputo geral, os especialistas admitem que a descida das cotações se traduza em benefícios para a economia global, cujo crescimento em 2015 poderá ser superior em 0,7% se os preços do petróleo se mantiverem em baixa. A estimativa do FMI para o crescimento da economia mundial em 2015 é de 3,8%.



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