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Palavras Loucas

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Fev 29, 2008
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Hoje, não é dia para vos falar, não saberei dizer-vos nada, sou apenas um reflexo de umas mãos que sem saber o que escrevem necessitam de escrever.
Saberei eu ler ao menos estas palavras, que têm por finalidade serem amargas?
Serei eu, enquanto louco, capaz de escrever?
Acto tresloucado aquele que me leva a escrever aos outros sem saber o que dizer. Que dirão os meus amigos? Que dirão aqueles que já me conhecem os olhos?
Louco é este amigo! Louco, será que ele pensa escrever? Louco este amigo, e ninguém terá coragem para lhe dizer que pare?
É a minha vergonha de escrever sem nada dizer, sim! A minha vergonha. Que valor terão as palavras quando são vazias de mensagens, e sem destinatário?
É como meter uma carta no correio sem direcção ou remetente, e o pobre do carteiro sem saber ler, apenas distingue um envelope em branco. E sem pensar, atira para um qualquer caixote onde todos os loucos param.
Continuas a escrever feito louco! E todas as palavras escorrem por ti numa correria de loucos a ver qual delas chega primeiro. E para quê? se todas juntas nunca serão lidas, e mesmo lidas, será que alguém quererá saber se um louco pode escrever?
Louco..., louco de amor!
Louco de procurar a palavra certa para poder começar a escrever o amor que só um coração louco pode saber escrever.
Há milhares de dias eram ainda invernos rigorosos quando o gelo me entropecia as mãos pelas ruas que me levavam ao saber, mas só encontrava loucos de pouco saber.
E assim, sentado, sem sentido e ouvindo a melodia que queria compor para estas palavras, me sinto apenas mais louco por ler tanta gente que, sem serem loucos escrevem como loucos.
Eu choro raiva, e a loucura sai amarrada em cada palavra, capaz de ferir de morte cada verbo ou advérbio, sílaba ou uma qualquer pontuação. E, de uma assentada, arremesso tudo que tenho nas mãos, arrasando de vez com todas as figuras de estilo.
Que figura faço eu, agora que destruí toda a gramática que me tirava a loucura! Que direi agora, a mim mesmo, quando ao deitar me aparecer aquelas palavras difíceis que nunca me deixam dormir? Como poderei explicar-lhes que terão o seu dia, num escrito qualquer.
Louco. És um louco de nada saberes escrever, e mais louco és por não teres olhos para veres que elas são formosas demais para ti. Tu jamais terás direito a tanta formosura, elas estão apenas disponíveis para gente que sabe dar côr, sabe contar e descontar todas as lendas que este mundo já viveu.
Louco. És um louco. Podias ter gostado apenas, agora amá-las, ajoelhar-te, implorar-lhes para serem tuas? Já não és nada, nem homem, és a vergonha de quem nunca mereceu mais nada do que o nada que és.
Louco! Como não vês? Como não te bastasse ser louco, apenas és também cego.
Meu Deus, como posso ser assim! Porque tenho que correr e chorar apenas porque uma vírgula correu daqui para acolá, quando os sábios da minha terra falavam com um cajado na mão e eu, pequeno, sempre os escutava sem interrogações?
Louco, todos os dias a sonhar, todos os dias a lamber as feridas das pontuações, vírgulas e travessões que troçam com quem sempre as reclama.
Sei que serei sempre louco, mesmo sabendo que escrevo para ninguém, mas é desta loucura que me ouço, é desta loucura que me faço diferente, sempre que pela frente vos enfrento, e mesmo sem nada saber dizer, toco-vos na esperança de um dia um texto louco me sair com o vosso nome.
Quando o lerdes, sabereis que, mesmo louco, são estas as palavras que amo, e me fazem acreditar que um dia serão elas que farão todos os loucos parecerem-se com elas.
 
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