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Paulo Bento, esta terça-feira convidado para abordar, em aula aberta no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, o tema Liderar Pessoas, Transformar Equipas, a primeira de uma pós-graduação em Treino de liderança, escusou-se, perante os jornalistas, a falar sobre o seu futuro na Selecção Nacional.
«Sobre isso não falo, o que tinha para dizer disse-o ali dentro», retorquiu, rosto fechado, ele que também driblou o tema 'derby'.
Dentro do auditório do ISPA, o seleccionador nacional foi mais expansivo, foi, aliás, suficientemente claro e, aproveitando o embalo de uma pergunta saída de uma plateia repleta por cerca de duas centenas de pessoas e para quem o quis ouvir, deixou um recado ao futuro presidente da Federação Portuguesa de Futebol.
«Para mim não há outro objectivo que não seja o Euro-2012. Nada me fará demover dele objectivo e de preparar a equipa da melhor maneira possível para fazer um grande campeonato. Agora não fujo à regra, não sou diferente das outras pessoas e pretendo resolver a minha situação de forma clara, aberta e honesta independentemente do que acontecer no Europeu», declarou Bento sobre o seu futuro, incerto quanto baste a avaliar pelas declarações eleitorais.
A idade e o eterno dilema
Sobre os casos Bosingwa e Ricardo Carvalho também nem uma palavra fora da sal de aula, mas lá dentro Paulo Bento, que sublinhou serem a «seriedade e frontalidade» dois princípios fundamentais dos quais não abdica — «é a única maneira de haver respeito entre os elementos de uma estrutura» —, nem mesmo por um triunfo, não se escusou a falar do defesa-central do Real Madrid, duvidando que o caso Ricardo Carvalho pudesse ser mais fácil de evitar se se tivesse passado num clube.
«Porque são situações difíceis de prever e de prevenir», justificou o seleccionador, que na hora e meia mais descontos em que respondeu às perguntas colocadas pelos alunos da pós-graduação em Treino de Liderança e Desenvolvimento de Equipas, desvalorizou também o facto de se assumir como o treinador mais novo do Euro-2012.
«É um detalhe, apenas. A ambição e a competência não se medem pela idade. Não acredito que o senhor Trapattoni tenha menos ambição que eu. E tem um currículo bem mais rico que o meu. O que me agrada é que o meu País vai estar numa fase final de uma grande competição», sustentou, opinando também sobre o eterno dilema: Ronaldo ou Messi?
— Estamos a falar de dois talentos, cada um com a sua forma de estar e de jogar. Vão continuar a ser os melhores do Mundo durante muitos anos. Estão em clubes rivais do mesmo país o que não aconteceu com outros no passado. Esse rótulo de melhor nada me diz e só voto porque sou obrigado. Não traz nada de novo ao futebol. E quem gosta de futebol, seja do Real Madrid ou do Barcelona, seja português ou argentino, deve deles desfrutar durante muitos anos. Puxando a brasa à nossa sardinha, devemos desfrutar e muito do Ronaldo, apoiando-o e incentivando-o.
Promessa de uma Selecção competitiva
Paulo Bento, que arrebatou a plateia com as suas ideias, falou também das perspectivas para a fase final do Europeu, prometendo, apenas, uma equipa muito competitiva.
«Temos uma equipa com muita qualidade, jogadores muito bons tecnicamente, mas há outras selecções que também têm tudo isso e que têm até um historial mais rico. Não penso que sejamos favoritos, mas devemos ser competitivos. É essa a nossa obrigação, tal como o fizemos nos últimos 13 jogos em que, independentemente de termos jogado bem ou mal, tivemos atitude competitiva», observou o seleccionador nacional.
De olhos bem abertos
A aula de Paulo Bento teve também momentos de humor. O tema era, porém, sério, a gestão de conflitos entre treinador e jogadores, o seleccionador defendeu que essas são situações que devem ser tratadas olhos nos olhos
«Por vezes ouve dizer-se que um treinador deve fechar os olhos. Mas fechar os olhos porquê? Um treinador deve, sim, ter os olhos em abertos. Posso orgulhar-me de, nos anos que levo como treinador, não baixar a cabeça perante nenhum jogador que treinei», assegurou Paulo Bento lembrando que, no entanto, há situações que justificam uma abordagem mais flexível.
«Ficou sempre a ideia de que eu proibia o treino com calças de fato de treino. Mas eu só permito que se usem calças de fato de treino durante algum tempo. Mas se me vierem pedir um dia para que o treino seja todo feito dessa forma eu posso autorizar. Dou outro exemplo: o álcool não é permitido, mas se um jogador me vier perguntar se numa determinada refeição se pode beber um copinho eu até digo que sim desde que não seja de litro... Mas há ocasiões em que, de facto, um treinador tem de ser inflexível, sobretudo quando o objectivo é a nossa equipa. O que é importante é que tenha a capacidade para, desde o início do processo, definir regras para todos saibam com o que podem contar», defendeu Paulo Bento.
O bom exemplo de Carlos Martins
A delicada situação por que passa Carlos Martins veio também à baila quando o tema foi a gestão de cargas emocionais. Bento explicou que a abordagem da situação depende do jogador. Há uns que podem ser abordados de forma mais agressiva, porque só picados se pode deles retirar maior rendimento. Outros há que exigem maior cuidado.
Por isso o conhecimento da equipa é fundamental, garantindo o seleccionador pôr sempre o Homem primeiro e só depois o profissional.
«A situação do Carlos Martins é um daqueles em que se sobrepõe a parte humana. Ele teve liberdade para fazer o que bem entendesse. Sabia qual era a minha ideia para o jogo da segunda mão do play-off, sabia claramente o que eu pretendia. A partir de aí ficou à vontade. Se quisesse continuar óptimo, se quisesse ir para junto da família óptimo também, porque isso era de toda a legitimidade. Optou por ficar connosco o que muito nos agradou. Foi um bom exemplo do que é ser uma equipa», disse Paulo Bento.
Assim se ganha uma equipa, assim se mostra como é ser líder. A aula terminou e o seleccionador foi presenteado com estrondosa salva de palmas.
" A bola"