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Serralves: Falar de políticas culturais é piada de mau gosto

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Serralves: Falar de políticas culturais é piada de mau gosto

O programador cultural João Fernandes, director do museu de Serralves, no Porto, classificou na sexta-feira como «uma piada de mau gosto» falar-se de políticas culturais em Portugal.

«Em relação às políticas culturais que até agora conheci, parece-me que falar de política cultural em Portugal é uma piada de mau gosto (...). Nunca me revi, até hoje, em qualquer tipo de política cultural assumida por qualquer tipo de poder», declarou.

João Fernandes falava no colóquio «Políticas culturais na Europa de hoje», no âmbito do programa «1001 Culturas - Esquerda e Cultura: o futuro já não é o que era», organizado pelo Bloco de Esquerda na Fábrica de Braço de Prata, em Lisboa.

Sobre a Europa, observou tratar-se de «uma palavra antiga que é reinventada por uma ficção política no nosso tempo», na qual também se revê «muito pouco».

O director de Serralves frisou, no entanto, que aquele museu «foi pago, na sua construção, em 75 por cento por fundos europeus», e que programas europeus têm subsidiado regularmente também a programação cultural daquele espaço, concebido pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira.

Sustentando que quando se fala hoje de cultura no contexto da globalização, «os princípios do império ou dos imperialismos foram substituídos pelos impérios sem princípios», o programador destacou como «a relação mais produtiva» nesse processo «o estabelecimento de relações entre cidades de vários dimensões, e não só entre as grandes metrópoles».

«É preciso desconstruir Estados, estruturas, instituições, de forma a criar possibilidades para a organização de redes, de associações, de formas de comunicação«, para transformar a Europa »no grande continente de acolhimento e de miscigenação cultural«, defendeu João Fernandes.

No mesmo debate, o ensaísta e programador cultural António Pinto Ribeiro sublinhou a existência de uma diferença »substancial« nas expectativas que os cidadãos europeus têm em relação à União Europeia, às suas instituições e em relação a si mesmos.

Pinto Ribeiro começou por constatar a »importância razoavelmente significativa que hoje os 'media' dão às relações das instâncias europeias de poder com a cultura«, acrescentando que tais entidades »tanto falam de cultura que acabam por esvaziar o próprio conceito de cultura e acabam, sobretudo, por esvaziar a política de cultura«.

Chamou igualmente a atenção para a existência na Europa de »um conjunto de instâncias intermediárias que natural e legitimamente fazem um 'lobbying' muito forte« que subtrai »substancialmente as receitas, os donativos que haveria da Comissão Europeia para as actividades culturais«.

Para o programador, há que ter em conta as diferenças entre as políticas culturais dos países do sul e do norte da Europa, ditadas não só pela discrepância do respectivo Produto Interno Bruto (PIB), do orçamento de que dispõem, mas também em termos de tradição de investimento nas práticas culturais.

Essas diferenças não se devem, contudo, ao facto de se tratar de políticas de esquerda ou de direita, até porque »existe alguma semelhança«, comentou.

A questão da mobilidade dos artistas e dos agentes culturais na Europa, uma questão que tem gerado alguma polémica, foi também abordada por António Pinto Ribeiro, que defende que »é mais que legítimo que os cidadãos de todo o mundo possam circular e na Europa é uma mais-valia que isso aconteça«.


Diário Digital / Lusa
 
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