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Torom-de-alta-floresta - Nova ave descoberta

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Tecnologia ajuda a descobrir uma nova espécie de ave na Amazônia

O Torom-de-alta-floresta estava escondido entre as populações de uma ave já conhecida, habitando uma região altamente influenciada pelo homem

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Agência Museu Goeldi – A Floresta Amazônica e sua grande biodiversidade dão outro exemplo que ainda há muito a desvendar. Um grupo de pesquisadores descobriu uma nova espécie endêmica de ave em uma região antropizada (região sob a influência humana) da Amazônia. Lincoln Carneiro, Luiz Gonzaga, Péricles Rêgo, Iracilda Sampaio, Horacio Schneider e Alexandre Aleixo descreveram o torom-de-alta-floresta (Hylopezeus whittakeri) no artigo “Systematic evision of the Spotted Antpitta (Grallariidae: Hylopezeus macularius), with description of a cryptic species from brazilian amazonia”.

A nova espécie, até recentemente, era considerada uma das três subespécie, ou populações, da ave torom-carijó (Hylopezeus macularius). Apenas alguns quesitos, como o canto e plumagem, diferenciavam as três subespécies do torom-carijó. Esta era encontrada em grande parte da Amazônia brasileira, principalmente no sul do Rio Amazonas, e também na porção amazônica de outros países como Venezuela, Colômbia e Bolívia.

Os pesquisadores investigaram o grau de diferenciação genética entre estas subespécies e a possibilidade de pelo menos uma delas se diferenciar tanto das demais a ponto de ser considerada uma espécie à parte. Depois de analisar morfologicamente, geneticamente e bioacusticamente (cantos e chamados) todas as populações conhecidas, chegou-se a conclusão de que uma nova espécie, ainda não formalmente descrita, estava "escondida" dentre as populações do torom-carijó.

Foi o avanço nas tecnologias de pesquisa que permitiu a um grupo de pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG e da Universidade Federal do Pará - UFPA identificar o torom-de-alta-floresta (Hylopezeus whittakeri). Eles verificaram mais de 100 gravações com 310 sons distintos em 51 localidades, analisando frequência, ritmo e duração das notas de cada indivíduo. A equipe também examinou 97 espécimes taxidermizados e depositados em coleções do Brasil e do exterior, além de sequenciar 28 indivíduos para o DNA mitocondrial.

Acredita-se que o surgimento desta nova espécie tenha ocorrido através de isolamento geográfico. Barreiras naturais como os grandes rios amazônicos podem ser a causa de isolamento de determinados pássaros. A nova espécie diagnosticada através de uma análise combinada de atributos morfológicos, vocais e genéticos é endêmica da região entre os rios Madeira e Xingu, um dos setores mais antropizados da Amazônia, cortada pelas rodovias Transamazônica e BR-163, ambas constituindo eixos de desenvolvimento e de deflorestamento. Uma análise de vulnerabilidade executada em conjunto com técnicos do Centro Nacional de Migração de Aves (CEMAVE) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO) revelou que, a princípio, a nova espécie não se encontra ameaçada, mas a situação pode mudar a curto prazo, principalmente com a consolidação dos novos conglomerados hidroelétricos nas bacias dos rios Madeira, Tapajós e Xingu.

Entenda o processo de descoberta do Torom-de-alta-floresta:

Para Alexandre Aleixo, curador da coleção ornitológica do Museu Goeldi, instituição vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI, a Amazônia ainda tem muito a ser explorada e faltam novas espécies a serem descobertas.

“A descoberta de uma nova espécie de ave num setor da Amazônia tão alterado como esse mostra o quanto ainda está por descobrir com relação a outros organismos menos estudados, como os invertebrados, por exemplo”. Em sua pesquisa Alexandre estuda os impactos do desmatamento sobre espécies ameaçadas de extinção.

A pesquisa com o Torom-carijó é um dos resultados obtidos pelo sub-projeto “Papel das Alterações Climáticas e de Paisagem na Evolução Passada e Futura de Espécies de Vertebrados e Plantas Superires de Especial Interesse para a Conservação na Amazônia”, que integra o projeto INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia.

Coordenado pelos pesquisadores Alexandre Aleixo e Ana Albernaz, esse sub-projeto tem como objetivo avaliar o grau suscetibilidade natural histórica de espécies do Arco do Desmatamento na Amazônia, principalmente aquelas ameaçadas de extinção, às alterações climáticas e de paisagem. O interesse dos cientistas é projetar possíveis extinções e alterações futuras na biota amazônica em diferentes cenários influenciados pelo aquecimento global e usos da terra.


Texto: Fernando Cabezas e Joice Santos
Agência Museu Goeldi
 
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