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Torres de Vigia: 670 voluntários protegem país

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Torres de Vigia: 670 voluntários protegem país

Situados no cimo de estruturas de alvenaria, metálicas ou em modernas torres monotubulares, os 236 postos de vigia espalhados por todo o país são considerados fundamentais para a detecção e acompanhamento da evolução dos incêndios florestais.

O Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR «herdou» da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, em 2006, a gestão destas estruturas, que empregam actualmente 670 voluntários - 560 homens e 110 mulheres - com idades entre os 18 e os 70 anos.

«A grande maioria deles tem entre 20 e 30 anos, são estudantes ou jovens à procura de primeiro emprego, mas temos pessoas até aos 70 anos», afirmou à Agência Lusa o capitão João Fernandes, coordenador do SEPNA na Região Centro.

Neste caso, e desde que as pessoas tenham destreza física suficiente para subir as dezenas de metros de escadas que as levam aos seus postos de trabalho, a falta de juventude não é um factor impeditivo.

«Pelo contrário: alguns dos mais velhos são os nossos melhores vigias. Porque, por um lado, sentem-se úteis e, por outro, são mais preocupados com a floresta» já que «sempre tiveram com ela uma ligação muito forte e é dela que ainda hoje retiram algum rendimento», garantiu o major Silva Dias, oficial de ligação do Grupo Territorial de Viseu responsável pela coordenação dos meios de vigilância das várias entidades que estão no terreno.

A GNR faz «alguma selecção» dos candidatos, mas João Fernandes admite que não é muito exigente, até porque não existem muito interessados nesta tarefa.

«Não temos assim tantos voluntários: para um posto de vigia temos em média seis/sete pessoas a concorrer, num total nacional de mil pessoas. Mas para um posto de vigia que esteja, por exemplo, na Serra da Estrela ou num sítio de difícil acesso, não há muitos», exemplificou.

O distrito de Vila Real é aquele que tem mais postos de vigia (26), seguindo-lhe Viseu (21), Castelo Branco (20), Coimbra e Santarém (19). Os de Lisboa, Alentejo e Algarve são aqueles onde estas estruturas mais rareiam, uma vez que não têm tanta mancha florestal.

A cada voluntário é feito um contrato de trabalho, sendo-lhes pago um salário de cerca de 500 euros, mais suplemento de turno, fim-de-semana, noites e subsídio de alimentação.

Mesmo sem uma selecção muito apertada, João Fernandes considera que o trabalho dos vigias tem dado frutos, ainda que muitas vezes não constem das estatísticas.

Explicou que aos vigias são atribuídas apenas entre 10 a 15 por cento das detecções de fogos florestais, um percentagem que, no entanto, não corresponde à realidade.

«Muitos dos vigilantes socorrem-se do telemóvel em situações limite e ligam para o 117, ou porque o rádio naquele dia não está a funcionar bem, ou porque não se conseguem fazer ouvir na sala de detecção», contou, acrescentando que, «ao darem alerta pelo 117, automaticamente o sistema assume como uma chamada de um popular e não como de um posto de vigia».

Os dois responsáveis da GNR são unânimes quanto ao papel fundamental dos vigias, que não se limita à detecção e localização exacta do foco de incêndio, sendo também uma ajuda preciosa no acompanhamento da sua evolução.

«Vêem se o fumo está a ficar mais intenso, mais branco ou mais negro, mais para a direita ou mais para a esquerda. Como analisam à distância é mais fácil fazer uma avaliação. E todos estes dados são muito importantes para o comandante das operações no terreno», frisou João Fernandes.

Para comunicarem, além de um sistema de rádio exclusivamente ligado à EMEIF, os vigilantes têm um sistema electrónico, através de um PDA - «ainda numa fase de experimentação e que não está a funcionar muito bem por dificuldades da rede» - e um telemóvel.

Dos 236 postos de vigia existentes em Portugal, 219 são da GNR que substituiu recentemente mais de 60 estruturas metálicas por modernas torres monotubulares, consideradas mais seguras e confortáveis, orçadas entre 30 e 40 mil euros cada.

Em fase embrionária está um estudo para implementar a vídeo-vigilância nalguns locais, «para detecção automática dos incêndios, com menor risco de falso alarme», explicou João Fernandes.

No entanto, o coordenador do SEPNA na Região Centro está convencido de que durante muitos anos, mais novos ou mais velhos, terão de ser os vigilantes a avistar, ao longe, as colunas de fumo.


Diário Digital / Lusa
 

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Torres de vigia: Olhos atentos são segredo para vigiar fogos

Torres de vigia: Olhos atentos são segredo para vigiar fogos

Os olhos do jovem vigia Frederico ainda são traídos pelas luzes durante a noite, levando-o a crer que está a ver focos de incêndio, mas o experiente Vasco há muitos anos que não se deixa cair nesses equívocos.

Ambos integram o grupo de 670 pessoas que, em todo o país, optaram por passar o Verão no cimo de uma torre de vigia, da responsabilidade do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR, atentos ao vasto território que os rodeia.

Televisões e computadores portáteis são proibidos para ajudar a passar o tempo, porque a ordem é para estarem vigilantes a qualquer incidente.

Frederico Fernandes, de 26 anos, é um dos três voluntários responsáveis pela torre de vigia do Monte de Santa Luzia, em Viseu, a mais alta do distrito com 32 metros de altura, uma estrutura metálica que se torna instável em dias de vento.

Além de ser um posto de vigia de onde se avistam zonas do território que outros não conseguem alcançar - até às Serras do Caramulo, da Estrela e de S. Macário e mesmo do distrito de Coimbra, em dias sem névoa - tem também uma vista privilegiada da zona urbana de Viseu.

É aí que residem as principais dificuldades de Frederico, que decidiu ser vigia porque se encontrava desempregado, apesar do curso de Documentação e Arquivística.

«Sinto dificuldades principalmente à noite, em que é mais difícil identificar um foco de incêndio, sobretudo na zona urbana, porque existem muitas luzes», afirmou à Agência Lusa.

Enganos acontecem com frequência, sobretudo com aqueles que são vigias pelo primeiro ano. Há também quem se confunda com o fumo saído das chaminés das fábricas e com a poeira levantada pelo vento.

«Tivemos muitas situações dessas na Mealhada. Chegámos à conclusão que era sempre quando um restaurante ia assar os leitões. Depois já sabíamos: quando se via fumo àquela hora, era o leitão a ir para o forno», contou, divertido, o capitão João Fernandes, coordenador do SEPNA na Região Centro.

Vasco Costa, do alto dos 12 metros do seu moderno posto de vigia monotubular de Poisadas, Chãs de Tavares, Mangualde, já não se deixa cair nesses enganos.

«Isso comigo já não acontece. Só se tiver havido um fogo e, daí a um ou dois dias houver um remoinho que parece mesmo um incêndio. Mas quando pego nos binóculos vejo logo que não é», disse, confiante, o homem de 53 anos, que é vigia «há 20 e tal».

Vasco afirmou estar muito satisfeito com a nova torre de vigia (colocada a meia dúzia de metros da antiga), que tem uma porta anti-intrusão, telhado com isolamento térmico e 360 graus de janelas móveis, além da sempre necessária casa de banho para quem cumpre um horário de oito horas.

Apesar das diferenças das torres, os equipamentos e procedimentos para detectarem e comunicarem os incêndios à Equipa de Manutenção e Exploração da Informação Florestal (EMEIF) da GNR são os mesmos.

Há um primeiro posto de vigia que sinaliza a ocorrência, usando a mesa de ângulos com monóculo para tirar o azimute e a localizar. Depois, os elementos da EMEIF recebem a informação via rádio vão ter de fazer a «triangulação», ou seja, a validação, pedindo a confirmação a outros postos de vigia (habitualmente mais dois).

Os dados são remetidos ao Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS), que faz avançar os meios necessários para o terreno.

Durante a reportagem da Lusa, Vasco foi chamado a dar informações sobre uma coluna de fumo na zona de Oliveirinha para a qual um popular tinha dado o alerta, mas que estava a ser difícil de localizar. Segundos depois questionava-se se seria em Lapa do Lobo.

«A confusão foi que ocorreram dois incêndios ao mesmo tempo, coisas pequenas», justificou mais tarde Victor Pires, operador da EMEIF.

Marília Moita, do CDOS de Viseu, confirmou. Tudo ficou resolvido entre as 11:50 e as 12:25, com 38 bombeiros, nove viaturas e dois meios aéreos.

Mas como nem sempre assim acontece, a experiência já mostrou a Vasco Costa como agir: «já fugi algumas vezes daqui por causa do fogo. Se tivermos que morrer, que não seja cá em cima».


Diário Digital / Lusa
 
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