Treinar um cão rafeiro

[Satpa]

Treinar um cão rafeiro​

Treinar um cão rafeiro

A ideia de que os rafeiros são cães que não podem ser treinados, está a ser contraposta cada vez que um rafeiro participa numa prova de Agility ou é utilizado em missões de busca e salvamento. Ser rafeiro não indica ter capacidades diminuídas, é apenas sinónimo de personalidade única.

Um rafeiro é um cão surpresa, que tanto pode ser alto ou baixo, extrovertido ou tímido. A dificuldade em treinar um rafeiro não está nas suas capacidades, mas sim na imprevisibilidade do seu temperamento. Treinar um cão rafeiro não é o mesmo que treinar um cão de raça, uma vez que não existe um plano que se aplique a todos os rafeiros à partida. Assim, o treino de um cão rafeiro deve ser mais geral e ajustado conforme as respostas do animal.

Que rafeiro?

Ser rafeiro, é não ter uma raça definida. Mas existem vários tipos de cães sem raça definida:

* Cães que são muito semelhantes a uma determinada raça, mas que não estão registados;

* Cães fruto de cruzamentos entre duas raças;

* Cães com características de várias raças ou nenhuma em particular.


No primeiro caso, o treino aconselhado é o treino sugerido para a raça em questão. Os cães podem apresentar alguns desvios em relação ao carácter pretendido para a raça e alguns ajustes podem ter de ser feitos, de acordo com as respostas do cão.

No segundo caso, a situação pode ser facilmente contornada se o animal descender de dois cães classificados dentro do mesmo grupo, ou seja, se forem ambos retrievers, pastores, cães de companhia, etc. Apesar de o método de treino aconselhado poder variar para cada raça, dentro do mesmo grupo, geralmente as abordagens são semelhantes. Para cães que descendem de duas raças de diferentes grupos, torna-se importante estudar os métodos indicados para as duas raças em questão, tentar combiná-los e ver qual o que resulta melhor.

Os cães que aparentam características de raças diferentes, devem ter um plano mais geral de treino que deve ser definido de acordo com a resposta que o cão dá aos métodos anteriores. É um treino baseado na tentativa e erro.

Treino

Enquanto os donos de cães de raça sabem que aquela forma específica de treinar resulta com o cão que têm, essa garantia nunca pode ser dada para cães rafeiros. Existem várias formas de treinar o cão pensados para as características de cada raça.

Treino consistente com forte socialização – para as raças de grande porte e também para as que são teimosas. Os comandos são repetidos várias vezes ao dia, mas em pequenos períodos de tempo. O treino concentra-se sobretudo em estabelecer o dono como alpha na hierarquia do cão.

Treino “normal” – O que a maior parte dos donos pratica em casa para ensinar as regras de higiene e alguns comandos básicos. Funciona sobretudo com cães voluntariosos e obedientes. Incluem a repetição de comandos, mas as sessões de treino são mais flexíveis e não necessitam de ser tão intensivas.

Treino imaginativo – Para raças independentes que se aborrecem facilmente com o treino clássico de repetição de comandos. O dono deve aproveitar as características da raça para manter o interesse da mesma no treino. Em detrimento da repetição de comandos deve-se criar brincadeiras onde os incluir.

Temperamento

A forma correcta de treinar um cão deve basear-se na raça do animal, cujo estalão estabelece um tipo de comportamento específico. Nos rafeiros, não existe raça, mas existe temperamento. É o temperamento do seu cão que vai determinar que estilo de treino deve seguir. Só com o crescimento do animal é que pode optar por uma forma específica de treinar.

Tal como os cães de raça, existe sempre a base do treino, ou seja, os comandos essenciais, que devem ser ensinados em primeiro lugar. Senta, Deita, Junto (ao andar de trela), Fica, entre outros, são comandos essenciais para o treino do animal.

Geralmente o primeiro comando a ser ensinado é Senta. Comece por apostar no treino normal. Repita o comando várias vezes e recompense o cão sempre que ele se sentar. Mantenha as sessões de treino curtas. Se o cão aprender depressa e sentar-se sempre que o solicita, então é porque o treino está a ter sucesso. Mantenha esse treino com os outros comandos.

Se o cão aprende o comando, mas mostra-se teimoso em repeti-lo, aumente o número de sessões de treino e reduza a sua duração. Não se esqueça de recompensar o cão cada vez que cumpre o comando. Alguns cães são por natureza teimosos e esta característica é impossível de alterar. Tenha sobretudo paciência e mantenha o treino. Consistência é a chave, repita de forma calma os comandos sem alterações de voz e sem recorrer a castigos físicos.

Se o cão não se mostra minimamente interessado no treino e é facilmente levado por outras distracções, então está na hora de começar a pensar em situações de treino originais. Se o cão for activo e brincalhão, utilize o lançamento do disco, pau ou brinquedo para ensinar o cão a sentar. Só lance o objecto, depois de o cão se sentar. Pode com isto ensinar também o comando Busca. Se o cão for comilão, antes de pousar o prato da comida, obrigue o animal a sentar-se. Se o cão for distraído, coloque vários objectos escondidos e peça-lhe para os procurar. Com isto treine o comando Fica, Senta, Busca.

Com o crescimento do cão sem raça, o dono consegue aperceber-se quais as coisas que o motivam e quais as que o aborrecem. Para além disso, o dono deve perceber, quais os comportamentos mais evidenciados pelo cão que devem ser corrigidos. Cada grupo de cães tem comandos que podem ser importantes treinar e que só fazem sentido para aquela raça específica, por exemplo.

* Cães pequenos de companhia – Não se deve incentivar que o cão ladre e deve-se ensiná-lo a não saltar para as pessoas.
* Cães pastores – Deve-se controlar o instinto de pastorear os humanos.
* Cães de grande porte – Devem ser ensinados a não saltar ao cumprimentar as pessoas.
* Cães pouco sociáveis – Deve ser apresentado enquanto jovem a várias pessoas e animais.

Um rafeiro tanto pode ser amigável e barulhento, como pouco sociável e tímido. Procure aproveitar ao máximo aquilo que incentiva o seu cão e controlar os instintos menos desejáveis. Se os donos dos cães de raça têm a tarefa algo facilitada, pois já conhecem as características do cão e treino aconselhado, os donos dos rafeiros têm a oportunidade de educar um cão com uma personalidade surpresa, mas única.

O treino é uma óptima forma de passar o tempo com o seu cão e ainda melhorar a comunicação entre ambos. Mas lembre-se nenhum treino resulta, sem uma boa dose de brincadeira entre sessões. Não exija demasiado dos cães, sobretudo enquanto são pequenos, mas não seja também demasiado permissivo. Estabeleça limites e mantenha expectativas realistas.

Arca de Noé​