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Fundação GlaxoSmithKline distingue projectos que olham para o HIV como doença crónica

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Fev 4, 2008
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Em 27 anos de história da sida, o vírus ganhou terreno entre a população mundial, com mais de 30 milhões de infectados em todo o mundo. Dentro deste grupo, três milhões são crianças. Desde 1981 morreram cerca de 25 milhões da doença, dizem as estatísticas da Organização Mundial de Saúde.

Mas a ciência tem galopado também a passos largos no sentido de, na impossibilidade da cura, cada vez mais distante, tentar transformar a doença numa enfermidade crónica, da qual se pode padecer toda a vida sem ter que morrer às suas mãos, pelo menos no caso dos países industrializados onde é mais facilitado o acesso às terapias disponíveis. E tem-se trabalhado também para que a vida dos doentes, cada vez mais longa, seja passada com o máximo de qualidade possível.

Foi nesse sentido - de premiar a visão da sida enquanto doença crónica e de reconhecer quem trabalha para o bem-estar dos doentes - que a sexta edição dos prémios da Fundação GlaxoSmithKline das Ciências da Saúde atribuiu ontem seis bolsas de investigação, no valor de 10 mil euros cada, numa cerimónia no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Na presença da ministra da Saúde, Ana Jorge, o conselho de curadores da Fundação (entre eles o especialista em saúde pública Jorge Torgal, o especialista em bioética Daniel Serrão, que preside ao grupo, e o ex-responsável da Comissão Nacional da Luta contra a Sida, Meliço Silvestre) contou por que razão foram escolhidos estes seis trabalhos, entre mais de 30 candidaturas.

“Estamos a falar de doentes onde, mesmo na eficácia das terapias antiretrovirais, a deficiência imunológica vai persistir pela vida. Há que encontrar a maior qualidade de vida possível para esses doentes. Uma vez que estamos cada vez mais distantes de uma vacina. Já tenho defendido que isso é impossível”, disse Daniel Serrão, sobre uma doença que paralisa a resposta do doente a uma possível vacina: “Jogam com armas que se anulam, a doença e a vacina. Acredito mais em trabalhos recentes com base em células estaminais para restaurar o sistema imunológico do indivíduo. Mas ainda não foram feitos ensaios em seres humanos”, explica o médico.

Parca em palavras, Ana Jorge frisou ontem que o papel do Estado, nesta área se joga no caminho da prevenção. Para Daniel Serrão essa é uma responsabilidade do Estado, que pouco mais pode fazer com o investimento disponível: “Não é com os orçamentos actuais do Estado que existem condições para fomentar a investigação, nomeadamente nesta área”, frisa, acrescentando que cabe aos privados, como a Fundação GlaxoSmithKline, jogar um papel essencial.

Cuidar da saúde mental dos doentes com HIV

Miguel Bragança, psiquiatra do Hospital de São João do Porto, já estudou 90 dos 150 doentes com HIV que pretende estudar. Está a construir um perfil destes pacientes, todos com menos de 50 anos (para que a idade não distorça os resultados) para ver se existe um perfil padrão em relação à degradação das capacidades cognitivas das pessoas afectadas pela doença. Será que o modo como o doente é contaminado tem importância? Será que o meio tem um papel importante? Miguel procura resposta a estas e outras questões sobre as quais muitas equipas internacionais se têm debruçado, mas que não é um tema que tenha merecido atenção em Portugal.

“Sabemos que uma das características da doença é a destruição do sistema cognitivo central, até à demência. Mas como hoje lidamos com uma doença crónica, os doentes duram muitos anos, é importante aprofundar estas questões para que se possa aumentar o bem-estar social destes pacientes e arranjar estratégias para a reabilitação”, explica o investigador.

A nutrição esquecida

Para evitar problemas como os cardiovasculares, que são uma constante entre os doentes com sida, Sílvia Pinhão, investigadora da Universidade do Porto, estuda se “pequenos reparos” na alimentação dos pacientes podem evitar ou retardar o desenvolvimento destes problemas.

“A nutrição é esquecida no acompanhamento dos doentes. Há pouca literatura mas várias indicações de que este tipo de acompanhamento é eficaz, funciona”, refere a investigadora.

O aconselhamento alimentar ou a elaboração de planos individuais de nutrição são alguns exemplos que Sílvia está a estudar no sentido de averiguar se são eficazes para retardar as doenças cardiovasculares neste grupo.

Um lado negro das terapias modernas contra a sida

As modernas terapêuticas antiretrovirais, uma bênção que permitiu que se transformasse a sida numa doença crónica e que a longevidade dos doentes aumentasse consideravelmente, trouxe também um reverso da moeda não tão cor-de-rosa. Problemas associados às novas terapias como a lipodistrofia, vieram aumentar as já de si comuns complicações cardiovasculares e endocrinológicas dos doentes com sida.

Paula Freitas, endocrinologista do Hospital de São João, no Porto, explica do que se fala, quando a lipodistrofia entra em cena: “Uma das características muito comuns entre os doentes com sida é a perda de gordura na cara e membros superiores e inferiores e a acumulação de gordura excessiva a nível abdominal, o que, para além de ser estigmatizante em termos sociais, toda a gente sabe que aquela pessoa tem sida, provoca alterações no metabolismo da gordura, faz aumentar o colesterol e as doenças metabólicas e cardiovasculares”.

Sabe-se pouco sobre a lipodistrofia. Discute-se, no seio da ciência, se provém das terapias, se da doença, se dos dois factores em conjugação. E nem todos os pacientes com sida desenvolvem lipodistrofia. É aqui que o trabalho de Paula Freitas surge: “O que queremos averiguar é se os doentes que têm lipodistrofia têm maior risco de doença metabólica e cardiovascular do que os outros”, explica a investigadora.

No caminho das particularidades do HIV2

Em 1986 um novo tipo de HIV, o HIV2, foi identificado num doente com sida, hospitalizado em Lisboa e oriundo da Guiné-Bissau, descoberta feita pela equipa do investigador francês Luc Montagnier e pela investigadora portuguesa Odete Ferreira.

A raridade deste tipo de vírus da sida, mais comum entre doentes oriundos da África central, e a predominância de casos entre a comunidade de pacientes portugueses, tem feito com que, ao longo dos anos, Portugal jogue um papel primordial no estudo das particularidades do HIV2.

Sara Lino, infecciologista do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, tem dedicado o seu tempo aos escassos 189 casos de co-infecção, pacientes com HIV1 e HIV2, registados em Portugal. Sara quer responder a duas questões: “Tento confirmar se de facto se trata de dupla infecção e se a evolução dessa infecção é diferente, através da evolução da carga viral dos pacientes”, descreve. O objectivo é conseguir uma terapêutica adequada para estes doentes com dupla infecção, uma vez que os doentes com HIV2 têm apenas ao seu dispor as terapias desenvolvidas para o HIV1. Portugal é o país da UE com maior número de casos de HIV2 notificados, 463 ao todo, apenas 3,3 por cento dos casos de sida em Portugal.

Terapias à medida

No que toca à resposta de cada doente com HIV a uma terapia, cada caso é um caso. Por isso Ana Horta, do Hospital Joaquim Urbano, no Porto, procura uma espécie de terapias à medida de cada doente para conseguir um ponto de equilíbrio na agressividade das terapias, essencial para que doentes imunodeprimidos, como estes, ou seja, sem defesas, fiquem expostos o mínimo possível às chamadas infecções oportunistas, como a tuberculose.

“São infecções oportunistas nem sempre aparentes mas que de repente se podem revelar de uma forma muito agressiva”, explica “O meu estudo vai analisar o antes e o depois dos doentes e da sua população de células de defesa”, acrescenta. No final esta investigação, que ainda não se iniciou, procura terapias mais eficazes, à medida de cada doente: “O estudo pode dar origem a terapias mais eficazes, aplicadas às características linfocitárias de cada um dos doentes”, explica Ana Horta.

Em busca do “timing” ideal para atacar o vírus

Perceber melhor a interacção entre o vírus e o seu alvo, o sistema imunitário, é o objectivo do trabalho desenvolvido por Alexandre Carvalho, médico do Hospital de São Marcos, em Braga.

É preciso acautelar não só que as terapias aplicadas aos doentes destroem o vírus mas que também estimulam a imunidade natural que ele ataca.

Identificar as condicionantes que estão implicadas na variação da contagem das células CD4, guardiãs da nossa defesa, e descobrir o melhor momento para aplicar a terapia, tendo como objectivo melhorar a sua eficácia, são alguns dos objectivos do estudo. No final, trata-se de descodificar a linguagem usada entre o vírus e o sistema imunitário para saber quando agir, ou seja, saber quando ocorre o melhor timing para desmanchar a acção destruidora do HIV.


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