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I - A ciência que investiga o mundo secreto dos bebés

billshcot

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Nov 10, 2010
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Estou segurando meu bebê, que não para quieto no colo, enquanto dois cientistas tentam gentilmente remover um capacete futurista da cabeça dele. O acessório, que parece uma touca de natação coberta por um emaranhado de cabos, é parte de uma das ferramentas mais avançadas em pesquisa sobre a infância - promete revelar mistérios da mente dos bebês e mudar nosso entendimento sobre a fase inicial do desenvolvimento humano.
Mas, neste momento, meu filho de 11 meses aparentemente não quer ser estudado.
"Me desculpa, bebê", diz Maheen Siddiqui, estudante de doutorado do Babylab, um dos principais centros mundiais de pesquisa da infância, na Universidade de Birkbeck, em Londres.
A pesquisadora está utilizando uma técnica pioneira, chamada espectroscopia funcional em infravermelho próximo (NIRS, na sigla em inglês), para investigar o que acontece dentro das células cerebrais dos bebês enquanto eles olham para rostos, desenhos ou objetos.

Ela observa, em especial, uma enzima da mitocôndria (as minúsculas "usinas" presentes em nossas células que geram a energia de que precisamos para viver).
O equipamento que ela usa emite radiação infravermelha no cérebro, luz com um comprimento de onda específico que passa pelos ossos e tecidos e é absorvida pelo sangue. O aparato foi desenvolvido especialmente para ser confortável para os bebês.
Infelizmente, o meu prefere brincar com a touca do que deixá-la na cabeça. Siddiqui retira a peça com cuidado. Enquanto isso, Laurel Fish, uma assistente de pesquisa, sopra bolhas de sabão no laboratório. Meu filho se anima. E eu começo a entender alguns desafios práticos de se estudar as primeiras semanas e meses de vida de uma criança.


Como os bebês assimilam o que se passa no mundo? Pais de primeira viagem, meu marido e eu nos fazíamos sempre essa pergunta. Desde que ele nasceu, parecia um pequeno alienígena: misterioso e fascinante.
Obviamente, nosso bebê não fazia ideia do que eram roupas. Então, será que ele achava que mudávamos de cor o tempo todo? E como não tinha senso de perspectiva, será que ele pensava que diminuíamos de tamanho ao atravessar de um extremo da sala para o outro?
Há um longo histórico de cientistas que se dedicaram a explorar o mundo secreto dos bebês. Charles Darwin, por exemplo, publicou um diário com observações detalhadas sobre seu filho ("Durante a primeira semana, bocejou e alongou com uma pessoa velha - em especial os membros superiores. Soluçou, espirrou, sugou...").
Sua prole contribuiu, assim, para o desenvolvimento de sua teoria sobre a evolução.
Mas o passado também está repleto de mal-entendidos extraordinários, talvez porque os bebês não consigam nos dizer o que pensam e sentem. Nos séculos 19 e 20, muitos cientistas ainda acreditavam que nenéns não sentiam dor.

Pesquisadores dos tempos modernos, por outro lado, descrevem os bebês como atentos, sensíveis e inteligentes. Em nossos primeiros anos de vida, mais de um milhão de novas conexões neurais são formadas a cada segundo. E grande parte do funcionamento deste cérebro tão ocupado é desconhecido.
Nas duas últimas décadas, no entanto, os avanços tecnológicos ajudaram os cientistas a fazerem novas descobertas.
"Essa é a mistura perfeita entre filosofia e ciência. Você está, na verdade, se perguntando sobre questões como a origem do conhecimento, o início do pensamento e como a aprendizagem se desenvolve", diz Natasha Kirkham, especialista em desenvolvimento infantil e pesquisadora do Babylab.
No início dos anos 2000, grande parte da pesquisa da infância envolvia monitorar os movimentos dos bebês e analisar os resultados quadro a quadro em laboratório.
"Mas, agora, é incrível o que podemos fazer. A tecnologia neurocientífica avançou a passos largos", comemora Kirkham.
"Há tantas coisas que você pode fazer com um bebê. E tanto a aprender sobre o que estão pensando sem que eles tenham que te dizer."
Exceto, é claro, quando eles não querem cooperar.

Após rejeitar o capacete futurista, meu filho agora está vendo uma mulher recitar versos infantis na televisão à sua frente - e nitidamente mais satisfeito com essa parte do experimento. Apesar da calma exterior, seu cérebro está agora tremendamente ocupado, especialmente a área localizada logo atrás da orelha. Essa região, conhecida como sulco temporal superior (STS), faz parte do nosso "cérebro social". É onde processamos os encontros com outras pessoas.
Nos adultos, o "cérebro social" já foi bastante pesquisado. Mas em bebês, costumava ser completamente inacessível, uma vez que eles simplesmente não ficam parados tempo suficiente enquanto estão acordados para serem examinados por aparelhos convencionais, como de ressonância magnética.
É aqui que entra a espectroscopia em infravermelho. Siddiqui utiliza um novo protótipo que consegue medir a atividade a nível celular, dentro da mitocôndria. Existem algumas evidências de que as diferenças na função mitocondrial podem estar ligadas ao autismo. Até agora, as pesquisas são baseadas na análise pós-morte de tecido cerebral.
Ela espera conseguir finalmente testar a hipótese em bebés vivos.

 
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