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Mariza

edu_fmc

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Mariza - Não é Desgraça Ser Pobre

Não é desgraça ser pobre,
não é desgraça ser louca:
desgraça é trazer o fado
no coração e na boca.

Ao nascer trouxe uma estrela;
nela o destino mercado.
Não foi desgraça trazé-la:
desgraça é cantar o fado.

A moedinha de prata
vale mais do que a de cobre
Se a pobreza não nos mata
não é desgraça ser pobre

Desgraça é andar a gente
de tanto cantar, já rouca,
e o fado, teimosamente,
no coração e na boca.
 

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Mariza - O Deserto

Deserto
Império do Sol
Tão perto
Império do Sol
Prova dos nove
Da solidão
Cega miragem
Largo clarão
Livre prisão
Sem a menor aragem
Sem a menor aragem

Que grande mar
De ondas paradas
Que grande areal
De formas veladas
Vitória do espaço
Imensidão
Ponto de fuga
Ampliação
Livre prisão
Anfitrião selvagem
Anfitrião selvagem

No deserto
Ouço o fundo da alma
E, se a areia está calma,
O bater do coração
É que tanto deserto
Tão de repente
Faz-me pensar
Que o deserto sou eu
Se não me vieres buscar
 

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Mariza - O fado do Encontro

Fado do Encontro ou luas 3

Vou andando
Cantando
Tenho o sol à minha frente
Tão quente, brilhante
Sinto o fogo à flor da pele
Tão quente, beijando
Como se fosses tu

Ao longe,
Distante,
Fica o mar no horizonte
É nele, por certo
Onde a tua alma se esconde
Carente, esperando
Esse mar és tu

Pode a noite ter outra cor
Pode o vento ser mais frio
Pode a lua subir no céu
Eu já vou descendo o rio...

Na foz
Revolta
Fecho os olhos penso em ti
Tão perto
Que desperto
Há uma alma à minha frente tão quente,
Beijando
Por certo que és tu

Pode a lua subir no céu
E as nuvens a noite toldar
Pode o escuro ser como breu
Acabei por t'encontrar

Vou andando
Cantando
Tive o sol à minha frente
Tão quente brilhando
Que a saudade me deixou
Pra sempre, por certo
O meu Amor és tu
 

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Mariza - Ó Gente da Minha Terra

É meu e vosso este fado
Destino que nos amarra
Por mais que seja negado
Às cordas de uma guitarra

Sempre que se ouve o gemido
De uma guitarra a cantar
Fica-se logo perdido
Com vontade de chorar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

E pareceria ternura
Se eu me deixasse embalar
Era maior a amargura
Menos triste o meu cantar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

(SOLO)


Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi
 

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Mariza - O Silêncio da Guitarra

O silêncio da guitarra
Que à minha alma se agarra
Como se fora de fogo
Em meu peito se demora
Qu´a alegria também chora
E apaga tanto desgosto

Este silêncio do Tejo
Sem ter boca para um beijo
Nem olhos para chorar
Gaivota presa no vento
Um barco de sofrimento
Que teima sempre em voltar

Lisboa, cais de saudade
Onde uma guitarra há-de
Tocar-nos um triste fado
Quando a alma se agiganta
A tristeza também canta
Num pranto quase parado
 

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Mariza - Oiça Lá Ó Senhor Vinho

Oiça lá ó senhor vinho,
vai responder-me, mas com franqueza:
porque é que tira toda a firmeza
a quem encontra no seu caminho?

Lá por beber um copinho a mais
até pessoas pacatas,
amigo vinho, em desalinho
vossa mercê faz andar de gatas!

É mau procedimento
e há intenção naquilo que faz.
Entra-se em desequilíbrio,
não há equilíbrio que seja capaz.

As leis da Física falham
e a vertical de qualquer lugar
oscila sem se deter
e deixa de ser perpendicular.

"Eu já fui", responde o vinho,
"A folha solta brincara ao vento,
fui raio de sol no firmamento
que trouxe a uva, doce carinho.

Ainda guardo o calor do sol
e assim eu até dou vida,
aumento o valor seja de quem for
na boa conta, peso e medida.

E só faço mal a quem
me julga ninguém
e faz pouco de mim.
Quem me trata como água
é ofensa, pago-a!
Eu cá sou assim."

Vossa mercê tem razão
e é ingratidão
falar mal do vinho.
E a provar o que digo
vamos, meu amigo,
a mais um copinho!
 

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Mariza - Oxalá

Oxalá
Não te entristeça meu fado
Meu astro signo real
Nasceste ao mar acostado
No extremo ocidental

O céu iluminaste
Com tua luz dourada
Espada que outrora ergueste
E que hoje é quase nada
Mística luz dourada

Oxalá
Não te entristeça meu fado
Meu astro signo real
Nasceste ao mar acostado
No extremo ocidental

Devolve o meu anseio
Canto-te a flor da voz
O teu destino inteiro
E oxalá...

Não te entristeça meu fado
Meu astro signo real
Dormindo ao mar acostado
Acorda Portugal
 

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Mariza - Perdigão

Perdigão que o pensamento
Subiu em alto lugar
Perde a pena de voar
Ganha a pena do tormento.

Não tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha:
Não há mal que lhe não venha
Perdigão perdeu a pena

Quis voar a uma alta torre
Mas achou-se desasado
E vendo-se depenado,
De puro penado morre.

Se a queixumes se socorre
Lança no fogo mais lenha:
Não há mal que lhe não venha
Perdigão perdeu a pena.
 

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Mariza - Poetas

Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!
 

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Mariza - Por ti

Fecho os meus olhos e canto
E canto só para ti
Derramo a voz e o pranto
Que te canta como eu canto
É por ti e só por ti
Derramo a voz e o pranto
Que te canta como eu canto
É por ti e só por ti

Dou à guitarra e ao xaile
Caminhos de Santiago
Cega-me o pó neste vale
Que o vento só por meu mal
Acende fogos que apago
Cega-me o pó neste vale
Que o vento só por meu mal
Acende fogos que apago

Há tanta melodia, tanta
Que o vento traz nos sentidos
Sinfonias que me encantam
Parece às vezes que cantam
Fados de amores proibidos
Sinfonias que me encantam
Parece às vezes que cantam
Fados de amores proibidos

Eu trago a estrada da vida
Guardada na minha mão
Que pensa perder-se na ida
Com medo de não ter partida
Dentro do meu coração
Que pensa perder-se na ida
Com medo de não ter partida
Dentro do meu coração
 

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Mariza - Primavera

Todo o amor que nos prendera
Como se fora de cera
Se quebrava e desfazia
Ai funesta primavera
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia

E condenaram-me a tanto
Viver comigo meu pranto
Viver, viver e sem ti
Vivendo sem no entanto
Eu me esquecer desse encanto
Que nesse dia perdi

Pão duro da solidão
É somente o que nos dão
O que nos dão a comer
Que importa que o coração
Diga que sim ou que não
Se continua a viver

Todo o amor que nos prendera
Se quebrara e desfizera
Em pavor se convertia
Ninguém fale em primavera
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia
 

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Mariza - Quando Me Sinto Só

Quando me sinto só,
Como tu me deixaste,
Mais só que um vagabundo
Num banco de jardim
É quando tenho dó,
De mim e por contraste
Eu tenho ódio ao mundo
Que nos separa assim.

Quando me sinto só
Sabe-me a boca a fado
Lamento de quem chora
A sua triste mágoa
Rastejando no pó
Meu coração cansado
Lembra uma velha nora
Morrendo à sede de água.

P'ra que não façam pouco
Procuro não gritar
A quem pergunta minto
Não quero que tenham dó
Num egoísmo louco
Eu chego a desejar
Que sintas o que sinto
Quando me sinto só.
 

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Mariza - Que Deus Me Perdoe

Se a minha alma fechada
Se pudesse mostrar,
E o que eu sofro calada
Se pudesse contar,
Toda a gente veria
Quanto sou desgraçada
Quanto finjo alegria
Quanto choro a cantar...
Que Deus me perdoe
Se é crime ou pecado
Mas eu sou assim
E fugindo ao fado,
Fugia de mim.
Cantando dou brado
E nada me dói
Se é pois um pecado
Ter amor ao fado
Que Deus me perdoe.
Quanto canto não penso
No que a vida é de má,
Nem sequer me pertenço,
Nem o mal se me dá.
Chego a querer a verdade
E a sonhar - sonho imenso -
Que tudo é felicidade
E tristeza não há.
 

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Mariza - Quisera Lavar O Pensamento

Sou feita de temor e ansiedade
Em tudo vejo aquilo que não presta
Uma saudade atrás doutra saudade
Porque a saudade é tudo que me resta

E quando me convenço que estou morta
Ela me faz viver mais outro dia
Corre-me o sangue ainda gota a gota
Para tornar maior esta agonia

Como a água do mar lava as areias
Eu quisera lavar o pensamento
Escorrer de mim o sangue dessas veias
E vazia partir atrás do vento
 

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Mariza - Recurso

Apenas quando as lágrimas me dão
Um sentido mais fundo ao teu segredo
É que eu me sinto puro e me concedo
A graça de escutar o coração

Logo a seguir (porquê?), vem a suspeita
De que em nós os dois tudo é premeditado.
E as lágrimas então seguem o fado
De tudo quanto o nosso amor rejeita.

Não mais queremos saber do coração
Nem nos importa o que ele nos concede,
Regressando, febris, àquela sede
Onde só vale o que os sentidos dão.
 

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Mariza - Recusa

Se ser fadista, é ser lua,
É perder o sol de vista,
Ser estátua que se insinua,
Então, eu não sou fadista

Se ser fadista é ser triste,
É ser lágrima prevista,
Se por mágoa o fado existe,
Então, eu não sou fadista

Se ser fadista é no fundo,
Uma palavra trocista,
Roçando as bocas do mundo,
Então eu não sou fadista

Mas se é partir à conquista
De tanto verso ignorado
Então eu não sou fadista
Eu sou mesmo o próprio fado.
 

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Mariza - Retrato

No teu rosto começa a madrugada.
Luz abrindo
De rosa em rosa,
Transparente e molhada.

Melodia
Distante mas segura;
Irrompendo da terra,
Quente, redonda, madura.

Mar imenso,
Praia deserta, horizontal e calma.
Sabor agreste.
Rosto da minha alma.
 

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Mariza - Rosa Branca

De Rosa ao peito na roda
Eu bailei com quem calhou
Tantas voltas dei bailando
Que a rosa se desfolhou

Quem tem, quem tem
Amor a seu jeito
Colha a rosa branca
Ponha a rosa ao peito

Ó roseira, roseirinha
Roseira do meu jardim
Se de rosas gostas tanto
Porque não gostas de mim?
 

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Mariza - Saudade

Ai, se de saudade morrerei ou não
Meus olhos dirão de minha verdade
Por eles me atrevo a lançar nas águas
Que mostrem as mágoas
Que nesta alma levo
Se me levam águas, nos olhos as levo

As águas que em vão me fazem chorar
Se elas são do mar, estas de amor são
Por elas relevo todas as minhas mágoas
Que se força de águas
Me leva e eu as levo
Se me levam águas, nos olhos as levo

Todas me entristecem, todas são salgadas
Porém as choradas doces me parecem
Correi doces águas, que se a vós me elevo
Não dóem as mágoas
Que no peito levo
Se me levam águas, nos olhos as levo.
 

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Mariza - Sina

Reza-te a sina nas linhas traçadas na palma da mão
Que duas linhas se encontram cruzadas no teu coração
Sinal de amargura, de dor e tortura, de esperança
perdida
Indício marcado de amor destroçado na linha da vida

E mais te reza na linha do amor que terás de sofrer
O desencanto do leve frescor de uma outra mulher
Já que a má sorte assim o quis e tua sina que diz
Que até morrer terás de ser sempre infeliz

Não podes fugir ao negro fado mortal, ao teu destino
fatal
Que uma má estrela domina
Tu podes mentir às leis do teu coração
Mas nem quer queiras, quer não, tens de cumprir a tua
sina

Cruzando a espada da linha da vida traçada na mão
Eis uma cruz, a feição mal contida que foi uma ilusão
Amor que, em segredo, agiu quase a medo pra teu
sofrimento
E foi essa a imagem que é dada a miragem do meu
pensamento

E vais ainda tão rés ao destino que tens de amargar
E a tua estrela de brilho divino deixou de brilhar
É a estrela de Deus que marcou, mas que bem pouco
brilhou
E cuja luz, aos pés da cruz, já se apagou.
 
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