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Visita ao Moinho de Maré de Corroios
Cristina Pereira
Venha fazer uma visita ao Moinho de Maré de Corroios, uma raridade europeia onde desde 1403, altura em que D. Nuno Álvares Pereira o mandou construir, se faz farinha, mantendo ainda hoje o seu processo de fabrico.
Finalmente chegou o fim de semana. Está um dia soalheiro e você debate-se com a questão "O que fazer com tanto tempo livre?" agora que já fez todas as compras para a casa, já percorreu todos os centros comerciais e já viu todos os filmes em cartaz. Porque não aproveitar a nossa sugestão e ir com a família e alguns amigos passear até ao Moinho de Maré de Corroios e zona envolvente de sapal. Corroios fica na margem sul do Tejo, a menos de 10km de Lisboa e, com o novo comboio na ponte 25 de Abril, poderá lá chegar em menos de 30m (se for de carro apenas tem de seguir as placas que indicam sucessivamente Almada, Corroios e Ecomuseu).
O Moinho de Maré de Corroios é dos únicos em pleno funcionamento em todo o País e mesmo a nível europeu é considerado uma raridade. Foi mandado construir, em 1403, por D. Nuno Álvares Pereira, proprietário de grande parte das terras da região. O aproveitamento das águas das marés e a construção deste tipo de moinhos iniciou-se em Portugal no século XIII, quando principiou a sua difusão pelos estuários dos principais rios portugueses. Em 1404, D. Nuno Álvares Pereira doou o moinho ao Convento do Carmo, que promoveu a construção de novos moinhos na área. Com o terromoto de 1755, estes sofreram grandes estragos, tendo sido objecto de diversas alterações na sua arquitectura e equipamento durante a reconstrução. Abandonado durante vários anos, o Moinho de Maré de Corroios tornou-se propriedade da Câmara Municipal do Seixal na década de 80, que tratou da recuperação do edifício e da reabilitação dos sistemas de moagem. Em 1984 foi reconhecido como Imóvel de Interesse Público.
A produção de farinha no moinho mantém-se ainda hoje com o objectivo de mostrar aos visitantes e principalmente ao público juvenil como esta era fabricada. O processo, à excepção de pequenas alterações, é feito à semelhança de antigamente. Assim, quando a maré sobe, o moleiro abre a comporta por onde a água entra, ficando esta represada numa caldeira. Quando a maré desce, os rodízios colocados no exterior ficam a descoberto. No interior do moinho o moleiro abre os pejadouros, provocando dentro dos canais, a queda da água sobre os rodizíos, o que os coloca em movimento. Este movimento é transmitido às mós, através dum sistema de engrenagens e aquelas começam a moer o cereal, transformando-o em farinha. Se levar consigo crianças com excesso de energia pode sempre deixá-las ajudar o moleiro na sua tarefa de picar a mó.
Mas se pensa que já viu tudo volte para o exterior e desfrute da paisagem. A zona de sapal envolvente ao moinho está classificada como Reserva Ecológica Nacional devido à importância que tem na manutenção de diferentes comunidades vegetais e animais.
Com a vinda de grandes indústrias para o concelho do Seixal na década de 60 a poluição aumentou e grande parte das comunidades naturais do sapal desapareceu. No final dos anos 80 devido à criação de estações de tratamento de águas residuais, ao fecho de algumas fábricas poluidoras, à proibição de alguns tipos de pesca e a uma maior consciência ambiental verificou-se o regresso de muitas espécies à zona do estuário e também ao sapal de Corroios.
Os sapais são locais de águas baixas, paradas, salobras e muito produtivas. As plantas, sempre de estrato herbáceo ou subarbustivo apresentam uma estratificação horizontal, sendo as morraças as que estão em contacto directo com as águas salgadas; logo a seguir encontramos as gramatas. Na proximidade das margens, onde a salinidade diminui surgem espécies como o malmequer-do-mar, a campana-da-praia, a língua-de-galinha, o valverde-dos-sapais ou o junco marítimo.
O sapal representa para muitas espécies de animais a sua primeira casa. Devido à sua riqueza nutritiva, às suas águas turvas que constituem ponto de abrigo aqui passam os primeiros tempos peixes como o charroco, moluscos como o choco ou a lamejinha, crustáceos como o caranguejo-verde, a camarinha ou as pulgas-do-mar. Todos estes servem de alimento às inúmeras aves aquáticas migradoras que aqui ocorrem durante o inverno, às estivais e às que residem e nidificam nesta região.
Exemplos disso são os alfaiates, ave migratória invernante, que ocorre com grande frequência nos meses de Novembro e Dezembro. Mais difíceis de observar devido ao seu comportamento pouco sociável e tendência para permanecer no interior do sapal são os maçaricos-de-bico-direito e os pilritos. As garças, os patos-reais, as galinhas-de-água são outras das aves facilmente observáveis. No caso destas duas últimas pode até ver as suas crias, uma vez que este se tornou um local de nidificação.
Descanse agora a sua vista pela Mata Real do Alfeite, onde o pinheiro manso é a espécie por excelência. Se ainda tiver coragem para ir até lá vai descobrir os sobreiros, as azinheiras, as alfarrobeiras, os zambujeiros e os medronheiros.
Se depois disto tudo já estiver com fome (o que é mais que natural) pode decidir jantar num dos muitos restaurantes da zona e pensar no que irá visitar no próximo fim de semana.
Agradecimentos: Gostaríamos de agradecer a disponibilidade e as informações prestadas pelos técnicos da Câmara Municipal do Seixal.
Fonte: Naturlink