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“80 por cento dos casos de cegueira são evitáveis”

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O Prémio António Champalimaud de Visão de 2009 é entregue esta sexta-feira no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. O galardão, no valor de um milhão de euros, foi atribuído pela Fundação Champalimaud à organização Helen Keller International.
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O prémio está directamente associado a grupos que se envolvem activamente na luta contra a cegueira e perturbações da visão e que têm reconhecido trabalho de campo, baseando-se nos resultados obtidos.

O galardão visa reconhecer as realizações científicas excepcionais que impliquem transformações na compreensão, diagnóstico, tratamento e/ou prevenção de doenças e distúrbios da visão.

A presidente daquele organismo, Kathy Spahn, é quem recebe o prémio e, em entrevista ao CM, diz-se reconhecida pela atribuição do prémio e fala do sucesso do programa que a organização desenvolve, desde há vários anos, na prevenção de milhares de casos de cegueira em todo o mundo apenas fomentando o consumo da vitamina A.

O que significa para si receber este prémio?
Este prémio é das melhores coisas que aconteceram na Helen Keller International, porque é o maior prémio científico que recebeu.

Que destino vai dar ao dinheiro do prémio (um milhão de euros)?
O dinheiro deste prémio destina-se a continuar com os projectos que temos vindo a desenvolver para prevenir a cegueira.

A verba destina-se a aplicar na investigação científica na área das doenças dos olhos?
Não exactamente. Oitenta por cento dos casos de cegueira no mundo são evitáveis ou tratáveis e por isso o conhecimento para tratar ou evitar os casos de cegueira já existe, o que importa é fazer chegar essa ajuda aos países que precisam. Para nós, não se trata de fazer ciência mas de como chegar essa ciência às populações que necessitam dela.

Como se previnem os casos de cegueira? Com melhor nutrição?
Uma melhor nutrição é a chave para eliminar a maioria dos casos de cegueira que existem. 80 por cento das crianças com menos de cinco anos precisam dessa assistência, sendo que 20 por cento desses casos são difíceis e os que mais precisam de ajuda. Por isso vamos desenvolver novos projectos para conseguir chegar a essas crianças. Muitas crianças entre os seis e os 11 meses não entram nos sistemas públicos de saúde antes de um ano de idade e é fundamental que as crianças tomem vitamina A por volta dos seis meses. Por isso entramos em campo e identificamos essas crianças o mais cedo possível e esta é uma das estratégias que seguimos para prevenir a cegueira.

Já tem uma ideia de como gastar o milhão de euros do prémio?
Queremos chegar a esses 20 por cento das crianças com menos de cinco anos que não tomam vitamina A e por outro lado queremos continuar o nosso projecto em Moçambique, tornando a vitamina A como parte integrante da dieta alimentar diária. Essas crianças não precisam tomar suplementos de vitamina A, basta-lhes apenas que comam alimentos em quantidade suficiente que providencia a quantidade necessária.

Pode explicar esse projecto?
Temos o Centro da Batata Doce que promove uma alimentação rica em vitamina A e que se encontra nos alimentos com cor, tais como cenouras, mangas, e uma nova variedade da batata doce. Mas em África a batata doce é branca e por isso o Centro da Batata Doce Internacional desenvolve uma nova variedade da batata doce, que é de cor alaranjada e rica em vitamina A. O Institute Helen Keller International ajuda a desenvolver uma maior plantação e consumo da batata doce.

E trabalham com as populações?
Sim, ensinamos as mães sobre a importância de dar aos filhos este alimento, não é preciso uma batata muito grande, pode ser pequena, mas tem duas vezes mais a quantidade de vitamina A que é necessário consumir diariamente. E isso é um grande feito, dá grandes resultados.

Essa batata doce é geneticamente modificada?
Não, é de cultura tradicional, mas as plantações têm de ser protegidas com raízes e vegetação.

Conseguem evitar casos de cegueira apenas comendo alimentos de cor alaranjada, como a batata doce?
Sim, é uma grande descoberta científica e o nosso programa tem sido desenvolvido na Indonésia desde a década de 70, desde que descobriram essa ligação entre a vitamina A e a sobrevivência das crianças.

Que descoberta? A relação entre a vitamina A e a morte?
Sim, foi descoberto que as crianças até aos cinco anos com deficiência de vitamina A têm mais possibilidade de morrer, porque a vitamina A é essencial para o funcionamento do sistema imunitário. Sem essa vitamina a criança adquire diarreia, rubéola e sarampo, pneumonia e pode morrer.

Há morte devido à carência da vitamina A?
De facto, 70 por cento das crianças que cegam devido à falta da vitamina A acabam por morrer no espaço de um ano e morrem porque têm um sistema imunitário muito debilitado devido à diarreia, rubéola, pneumonia.

É possível saber quantas crianças não cegaram em Moçambique devido à prevenção do vosso programa?
Em Moçambique não é possível quantificar. No mundo inteiro 127 milhões de crianças e 27 milhões de mulheres grávidas têm deficiência de vitamina A, se aumentarmos as hipóteses de sobrevivência de um terço estamos a falar em muitas centenas de milhar de crianças que salvamos as vidas, simplesmente porque lhes damos vitamina A.

Moçambique é o pior caso?
Moçambique é, tal como muitos outros países, muito pobre e precisa de cuidados básicos de saúde, como muitos outros países que também precisam.

Só desenvolvem projectos em África?
Na Ásia trabalhamos muito com os jardins em casa, incentivamos à plantação de vegetais e legumes, como ervilhas, feijões. Na Nigéria e em Burquina Fasso temos de desenvolver batata doce que resista às secas. Por isso é preciso ciências diferentes para levar para países diferentes.

Não fazem prevenção para melhorar a visão das crianças das grandes cidades, que estão muitas vezes muitas horas em frente a um ecrã?
Sim, também desenvolvemos programas para evitar astigmatismo das crianças. Começámos esse trabalho nos EUA, mas depois avançámos para a Ásia e a Indonésia. As crianças, por vezes, eram consideradas estúpidas, mas simplesmente não conseguiam ler o que estava escrito no quadro negro da escola e na maioria dos casos precisavam simplesmente de um par de óculos.

O vosso trabalho é então uma aposta na prevenção e não no tratamento?
A maioria do nosso trabalho é prevenir a cegueira mas não só. Nos casos em que as pessoas têm determinadas doenças que conduzem à cegueira fazemos cirurgias para evitar esse problema, mas não trabalhamos com cegos.

Qual a maioria das causas de cegueira que encontra?
As escolas e instituições para pessoas cegas que visito, 80 por cento dos casos são de pessoas que cegaram por deficiência da vitamina A, mas com os programas que desenvolvemos, com suplementos de vitamina A, esta deixará de ser uma causa da cegueira.

Como são financiados os vossos projectos?
Recebemos fundos dos governos dos Estados Unidos e do Canadá, mas também de outros países e, em menor escala, dos cidadãos.

Conhece a instituição Helen Keller em Portugal?
Não conheço, mas sei que em outros países as instituições trabalham com cegos. Nós não, nós trabalhamos para evitar a cegueira.

Já tinha estado em Portugal?
Não, é a minha primeira vez e gostei do clima quente, do sol.

C/M
 
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