"Paulo Bento fica no Sporting até 2009"
Miguel Ribeiro Teles, vice-presidente do Sporting e da SAD, assegura que a saída de Bento nunca foi equacionada, apesar de reconhecer o falhanço na Liga. O dirigente leonino diz ainda que Moutinho e Miguel Veloso só deixarão Alvalade se aparecer um clube que pague o valor das cláusulas de rescisão: entre 25 a 30 milhões.
Correio Sport – Como explica o falhanço na Liga deste ano?
Miguel Ribeiro Teles – Temos reconhecido ao longo do tempo que a Liga deste ano tem sido um fracasso. As razões que identificámos têm fundamentalmente a ver com a irregularidade exibicional da equipa.
– As saídas de Ricardo...
– ... Caneira e Tello implicaram alguna perda de identidade do grupo. Criar uma nova demora tempo. As lesões de jogadores contratados com o objectivo de trazer maturidade à equipa também não permitiram que o grupo se consolidasse mais cedo.
– A saída de Paulo Bento chegou a ser equacionada?
– Não.
– Paulo Bento alguma vez pediu para sair?
– Não.
– O treinador vai continuar na próxima época?
– Paulo Bento fica até 2009. O presidente da SAD [Soares Franco] tem repetido várias vezes que o treinador irá cumprir o contrato até ao fim do nosso mandato.
– Qual é a explicação para os penáltis falhados, que levaram à perda da Taça da Liga?
– A questão dos penáltis deve ser resolvida por Paulo Bento. Não me vou pronunciar sobre isso. O que eu posso dizer é que gostava que o Sporting não tivesse falhado tantos penáltis como falhou neste ano mas não me compete resolver esse problema. Foi uma grande desilusão, mas perder a Taça da Liga transformou–se numa catástrofe, tal como seria desvalorizada se a tivéssemos ganho. Parece que o FC Porto e o Benfica nem sequer competiram.
– Não o incomoda que haja sócios a considerar que o clube está a ser mal gerido e que estejam a pedir a realização de uma assembleia geral?
– Desde que o dr. Soares Franco foi eleito que as derrotas da equipa têm sido empoladas e os sucesos desvalorizados. Eu, enquanto sportinguista e sócio, nunca contestei, nem contestaria, uma direcção da forma como esta tem sido contestada. Sobretudo com os resultados que tem obtido. As direcções são eleitas para cumprir os mandatos até ao fim, Como sportinguista, custa-me ver dezenas de sportinguistas deitar abaixo o clube nos jornais sempre que a equipa perde. Como se ao longo dos anos não tivesse havido períodos desportivamente bem piores.
– Se Paulo Bento sair pode haver uma convulsão na SAD, como aconteceu com José Peseiro e Dias da Cunha?
– Não tenho nenhuma razão para crer que o Paulo Bento saia. Em circunstâncias normais, somos eleitos para cumprir o nosso mandato. Quando fomos eleitos, Paulo Bento era um técnico absolutamente incontestado, mesmo alguns dos agora sócios mais contestatários não se coibiam de elogiar Paulo Bento, o que é fácil nos momentos em que se ganha. É preciso ser–se corajoso nos momentos em que não se ganha tanto como se pretendia e, portanto, não vejo nenhuma circunstância que possa levar Paulo Bento a sair antes do final do nosso mandato.
– Luís Duque disse a um jornal diário que há falta de profissionalismo nos dirigentes do Sporting e que a responsabilidade acaba por cair sempre em cima de Paulo Bento...
– Não acredito que Luís Duque tenha dito isso.
– É verdade que o Sporting apenas pode investir 20 por cento dos encaixes financeiros que fizer com as vendas de jogadores?
– Isso não está definido. O Sporting tem trabalhado para conseguir uma exploração equilibrada, o que já conseguiu, se considerarmos que a venda de jogadores é uma actividade corrente de uma sociedade desportiva. O próximo passo é conseguirmos esse mesmo equilíbrio sem necessitar de vender jogadores. Não existe uma verba pré-designada de investimento em função daquilo que forem as mais-valias.
– No ano passado o Sporting investiu cerca de sete milhões de euros. Essa verba vai ser reforçada na próxima época?
– Se continuarmos no caminho do equilíbrio, mais próximo estaremos de isso acontecer.
– Se o Sporting assegurar a presença na Liga dos Campeões o reforço da verba para novas aquisições está garantido?
– Teremos uma maior capacidade de investimento.
– Admite que chegue aos dez milhões de euros?
– Não é um número com que eu me queira vincular nesta altura.
– É inevitável a saída de João Moutinho, Miguel Veloso ou Pereirinha no final da época?
– Inevitável não é, mas as pessoas têm de se convencer cada vez mais de que a vontade muitas vezes não passa pela intenção do clube em vender e sim do jogador em conseguir condições salariais melhores do que as que aufere no Sporting. Com a espiral inflacionária que se verifica, há salários que nem o Sporting ou qualquer outro clube português consegue acompanhar.
– Moutinho e Veloso só saem pelo valor das cláusulas de rescisão, entre 25 e 30 milhões de euros?
– Posso garantir que o Sporting tem vontade de os manter. Não garanto que não haja o exercício da cláusula de rescisão por parte de algum clube.
– Moutinho e Miguel Veloso já lhe disseram que querem sair?
– Não.
– A actual SAD é acusada de estar longe da equipa...
– Os elementos da SAD não necessitam de protagonismo nem de fotografias nos jornais. Se fizer essa pergunta aos técnicos ou aos jogadores, julgo que eles podem dizer que a SAD tem uma presença permanente e constante junto da equipa.
– Pedro Barbosa é ouvido nas contratações?
– Com a saída de Carlos Freitas, as negociações contratuais e aquisições passaram a estar entregues a Pedro Barbosa e Rita Figueira. Mas, desde a saída de Carlos Freitas, o Sporting viu--se na necessidade de reforçar o gabinete de ‘scouting’ [olheiros], aumentando as observações, uma vez que havia que suprir a falta de uma pessoa com o conhecimento de mercado como Carlos Freitas.
– A SAD vai preencher o lugar de Carlos Freitas?
– Ainda não está definido.
– Carlos Freitas foi o responsável por todas as contratações enquanto esteve no Sporting?
– Todos os membros do conselho de administração se responsabilizam por todos os actos e contratações. Não invalida que Carlos Freitas fosse o nosso homem do mercado. Sempre fomos solidários com todas as decisões que Carlos Freitas tomou.
– O técnico definia o perfil e Carlos Freitas escolhia os jogadores?
– Ele ouvia a equipa técnica depois de encontrar os jogadores. A equipa técnica foi sempre ouvida, e isso tem sido reconhecido.
– Incomoda-o que Carlos Freitas esteja a trabalhar na próxima época na SAD do Sp. Braga?
– Não. Carlos Freitas é um profissional que faz do futebol a sua vida.
– Tem havido uma aposta forte na formação em jogadores estrangeiros. Porquê?
– Dentro do seu modelo organizativo, o Sporting procurou olhar com especial atenção para o recrutamento internacional. E detectou vários factores, como a melhoria de projectos de formação de Benfica e FC Porto (e até dos clubes médios), que levaram a uma dificuldade maior no recrutamento nacional. Quando o Barcelona vai buscar o Giovanni ou o Bojan, ou o Arsenal contrata Fabregas, isso é um grande acto de gestão. Quando o Sporting vai buscar o Rabiu [nigeriano], se calhar estamos a exagerar no recrutamento internacional... Tem de haver coerência no discurso. O que é verdade para Barcelona e Arsenal tem de ser também para o Sporting. Somos extremamente criteriosos e só vêm jogadores estrangeiros que forem claramente superiores aos que temos por cá. Até um Benfica–Sporting de juniores em que tínhamos três ou quatro estrangeiros não havia qualquer problema. Todos os grandes clubes recrutam jogadores no mercado internacional e o Sporting não quis ficar de fora.
– Porque é que a SAD aposta mais em jogadores estrangeiros?
– Considero que o jogador português com nível para jogar no Sporting está um pouco inflacionado.
– É apontado como futuro presidente do Sporting...
– Não tenho essa ambição nem essa vontade. Não vejo que seja necessário ou que tenha o perfil para ser presidente do Sporting.
– Pinto da Costa vai ser julgado por corrupção desportiva. Ficou surpreendido?
– A posição do presidente do Sporting desde que tomou posse tem sido a de não se pronunciar sobre os processos que estão entregues à justiça. Não é uma função que compita ao Sporting.
– A justiça desportiva está a actuar como devia no caso ‘Apito Dourado’?
– Estamos à espera dos resultados.
– Os árbitros implicados no ‘Apito Dourado’ devem continuar a apitar jogos?
– Se se considerar como implicados aqueles que foram acusados, então deviam parar de dirigir partidas.
– Grimi sai se o Milan não aceitar baixar dos 3,5 milhões de euros?
– O segredo é a alma do negócio.
– Ariedo Braida, director do AC Milan, disse que há outro clube grande português interessado em Grimi.
– Não quero acreditar, mas sempre temos a opção.
– Stojkovic foi contratado para ser titular e tem sido suplente...
– São questões de natureza técnica.
– Admite a sua saída no final da época?
– Não respondo a isso.
– O caso do jogador escocêsWebster pode ter alguma implicação no Sporting,nomeadamentecom Liedson?
– Há uma circunstância diferente no caso Webster que não se aplica em Liedson, que é a existência da cláusula de rescisão. Webster não tinha [no Hearts] e portanto esse facto não pôde ser levado em conta pelo Tribunal do Desporto que o libertou [para o Wigan]. Como o contrato do Liedson com o Sporting tem cláusula de rescisão as circunstâncias são diferentes.
PERFIL
Miguel Ribeiro Teles é advogado e nasceu em Lisboa, no dia 4 de Outubro de 1956 (51 anos). Tem três filhos: Duarte, de 23 anos, Joana (20) e Pedro (15), todos sócios do Sporting, que não falham um jogo em Alvalade. Sócio número 5688, foi inscrito pelo pai. Tinha 14 anos. O primeiro jogo a que assistiu ao vivo foi o Sporting-Manchester United (5-0) que projectou os leões para a conquista da Taça das Taças em 1964. A pior recordação que tem foi a goleada sofrida frente aoBenfica por 3-6 (1993/94) e a mais amarga foi a da derrota com o G. Rangers (1971/72), numa eliminatória em que Damas defendeu quatro grandes penalidades. Teles foi dos primeiros a abraçar o guarda-redes, mas isso de nada valeu quando o árbitro informou que se tinha enganado ao avançar para os penáltis: na Escócia, o Rangers venceu, por 3-2 e perdeu em Alvalade, por 4-3 (o facto de terem marcado mais um golo fora foi decisivo). Como dirigente, entrou no clube em 1999, a convite de Luís Duque e José Roquette. Entre 2001 e 2003 foi presidente da SAD. Saiu ainda em 2003 e voltou em 2006, pela mão de Soares Franco.
Octávio Lopes