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Avaliação do Risco de Incêndio Florestal

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Avaliação do Risco de Incêndio Florestal

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Alexandra Fonseca Marques

A previsão da distribuição espacial do risco de incêndio numa área florestal, no curto ou médio prazo, permite operacionalizar o planeamento florestal e a gestão dos recursos disponíveis para a prevenção e combate aos incêndios.

Tendo em conta o elevado número de incêndios florestais no nosso País, e as severas consequências económicas e ecológicas que lhes estão associadas, torna-se essencial a aplicação de metodologias de avaliação de risco de incêndio, na gestão dos recursos disponíveis para a prevenção e combate.

De facto, no contexto da prevenção, a avaliação da distribuição espacial do risco de incêndio numa área florestal, e a sua evolução ao longo do tempo, fornece informações importantes para a localização e densidade de torres de vigia, o dimensionamento dos pontos de água, a arquitectura da rede viária da mata, e até mesmo a escolha das espécies mais adequadas no planeamento de novas arborizações. No combate, o mapeamento do risco de incêndio permite definir a disposição táctica das forças no terreno, concentrando-as nas áreas de maior risco. Estas metodologias poderão ainda estar na base dos sistemas de atribuição de prémios e compensações resultantes de seguros florestais.

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Estas distintas aplicações podem conduzir a diferentes abordagens do conceito de risco de incêndio, e consequentemente a diferentes metodologias de avaliação.

Em sentido lato, entende-se como risco de incêndio o risco de ignição do fogo, ou seja, a existência de causas humanas (acidentais ou voluntárias) ou naturais que provoquem o fenómeno de ignição (Macedo e Sardinha, 1987, cit. in LOURENÇO, 1996).

Numa abordagem integrada, assente na Teoria do Risco, a estimativa do risco de incêndio engloba, para além da probabilidade condicional de ocorrência do fogo no tempo, a quantificação das consequências esperadas, que se traduzem em prejuízos económicos e danos ambientais. De acordo com esta teoria, a análise do risco de incêndio inclui metodologias de identificação do risco (Risk assessment), de avaliação do risco (Risk evaluation), e de gestão do risco (Risk management alternatives) (SOCIETY FOR RISK ANALYSIS, 2002).

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A probabilidade de ocorrência do fogo pode ser analisada como o resultado da conjugação dos factores de risco que conduzem a uma maior ou menor possibilidade de ocorrência do fogo. Assim, a previsão do risco de incêndio traduz-se na zonagem de uma determinada região, agrupando as manchas florestais em classes de acordo com os valores dos índices de risco de incêndio (genericamente, Classe I – Baixo a Classe V - Elevado), ou com a sensibilidade da mancha florestal ao fogo (Classe I - Extremamente sensível a Classe IV - Pouco sensível), como consta no Artigo 2º do Decreto Regulamentar n.º 55/81. Ressalta-se que estas duas abordagens deverão ser complementares, pois os valores mais elevados de risco de incêndio deverão ocorrer nas zonas de maior sensibilidade ao fogo. A zonagem de risco de incêndio do DR 55/81 está em processo de actualização, com base em 10 anos de cartografia de áreas ardidas, efectuada no DEF/ISA (Prof. J.M. Cardoso Pereira, com. pessoal).

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Os factores de risco, que estão na base dos critérios de classificação das zonas são: (1) o tipo de ocupação do solo (na ocupação florestal interessa caracterizar a densidade e distribuição das espécies florestais e o grau de combustibilidade e inflamabilidade da vegetação arbustiva e sub-arbustiva); (2) as variáveis meteorológicas, como a temperatura, a humidade relativa do ar, a precipitação (o regime e a quantidade total) e a velocidade do vento; (3) a morfologia do terreno, nomeadamente a exposição e declive; (4) os factores sociais, como o Índice Demográfico de Utilização (MATA REIS, 1998). Estes últimos são particularmente relevantes, pois, segundo a Direcção Geral das Florestas, as actividades humanas são responsáveis pela esmagadora maioria das ocorrências de fogos.

A zonagem pode realizar-se a diferentes escalas espaciais (local, regional ou nacional) e temporais (curto prazo ou médio/longo prazo). As previsões a médio/longo prazo apresentam normalmente âmbito nacional e pretendem explicar a variabilidade espacial apresentada por factores de risco, como o clima e o tipo de ocupação do solo, identificando regiões onde a probabilidade de incêndio é mais elevada e onde se devem localizar preferencialmente as acções de prevenção. A zonagem a curto prazo (usualmente diária), destina-se a monitorizar as variáveis meteorológicas durante o período de fogos, de modo a permitir uma resposta rápida dos meios de combate nos locais onde se registam condições propícias à sua ocorrência.

Para a avaliação do risco de incêndio, recorre-se normalmente a Índices Meteorológicos de Risco de Incêndio, dado que as condições meteorológicas condicionam não só as causas de ignição como o teor de humidade dos tecidos vegetais, que condiciona a inflamabilidade dos combustíveis (GONÇALVES, sd). Estes índices são diários, mas o cálculo dos seus valores médios anuais permite estimar o risco de incêndio no médio prazo.

De entre os vários índices descritos na bibliografia destaca-se o Índice de Nesterov Modificado (ou Índice Português: IP), utilizado pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica entre 1988 e 1998 (LOURENÇO, 1996) e o índice canadiano (Canadian Fire Weather Índex, também conhecido por FWI), adaptado para Portugal e utilizado pelo Instituto a partir de 1998, pois são os que aparentemente possuem maior capacidade preditiva do risco de incêndio para fogos de Verão (VIEGAS, et al. 1999).

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Ambos os índices requerem observações diárias das variáveis meteorológicas bem como valores comulativos do índice nos dias anteriores. Para o IP os registos diários são referentes à temperatura do ar e da temperatura do ponto de orvalho às 12h desse dia, enquanto que o FWI, de estrutura mais complexa, recorre aos valores da velocidade do vento, temperatura, humidade relativa do ar e precipitação.

Os índices meteorológicos são particularmente úteis na identificação do padrão de distribuição temporal dos fogos florestais, ou seja, a concentração do número de ocorrências durante o período seco e quente, que corresponde aos meses de Verão. Contudo, mostra-se insuficiente para explicar a sua distribuição espacial, pois quando se analisam os valores dos índices para uma determinada data, os valores mais baixos e elevados não correspondem necessariamente ao maior ou menor número real de fogos ocorridos naquela data no continente (MATA REIS, 1998). De facto, verifica-se que nas zonas mais quentes e secas do Interior e Sul do País, são onde se registam menores áreas ardidas. Esta distribuição espacial está relacionada com a relevância de outros factores de risco regionais favorecem a ignição e propagação dos incêndios tais como, os elevados declives das regiões montanhosas, e a elevada carga de combustível e a homogeneidade da paisagem, resultantes do abandono das áreas agrícolas devido às profundas transformações socio-culturais verificadas na da região Norte Litoral do País.

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A integração dos vários factores de risco pode ser conseguida através da produção de Cartografia de Risco de Incêndio com recurso a Sistemas de Informação Geográfica. A título de exemplo, refere-se a metodologia aplicada pelo CNIG para a elaboração das Cartas de Risco de Incêndio ao nível municipal. Esta baseia-se na discretização do território municipal em quadrículas, às quais se associa a informação relevante ao cálculo do índice de risco de incêndio. Este índice é estimado através de um modelo aditivo ponderado, baseado na sobreposição de diversas cartas temáticas, correspondentes às variáveis do modelo, nomeadamente, o declive e a exposição do terreno, o uso e a ocupação do solo, a visibilidade dos posto de vigia, a rede viária, a rede hidrológica e a densidade populacional. Os valores do índice de risco de incêndio fora agrupados em 5 classes de Baixo a Alto Risco (CNIG. 2002).

A previsão das consequências esperadas devido à ocorrência do fogo poderá basear-se na quantificação das perdas em madeira em florestas destinadas à produção com recurso, por exemplo, a ferramentas de análise financeira afim de estimar os prejuízos de acordo com as espécies florestais em causa e a idade dos povoamentos. Nas florestas de protecção (por exemplo localizadas em zonas de elevado declive) ou em Áreas Protegidas, a quantificação dos danos associados ao incêndio terá que utilizar metodologias mais complexas, pois trata-se de bens e serviços não transaccionados no mercado.

Bibliografia

CNIG (2002). http://scrif.cnig.pt/cartografiacrif/producao.htm

GONÇALVES, M. J. Z. sd. Índice Meteorológico de Risco de Incêndio, utilizado em Portugal e elaborado pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica.

LOURENÇO, L. (1996). Risco de Incêndio. In: Encontro Pedagógico sobre Fogos Florestais. Pág(s). 52-61.

MATA REIS, R. M. (1998). Determinação do Risco de Incêndio à escala Nacional. Integração de informação proveniente de um índice meteorológico e do risco regional. Instituto de Meteorologia. Departamento de Vigilância Meteorológica. Centro de Análise e Previsão do Tempo.

SOCIETY FOR RISK ANALYSIS. SRA / Society for Risk Analysis / Welcome!

VIEGAS, D. X., BOVIO, G., FERREIRA, A., NOSENZO, A., SOL, B. (1999). Comparative Study of Various Methods of Fire Danger Evaluation in Southern Europe. In: International Journal of Wildland Fire 9(4): 235-246.

Alexandra F. Marques, GEGREN (ISA)
 
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