Todos contra a gestão do PS e um "momento geringonça"
Debate entre candidatos dos partidos com representação na Assembleia Municipal de Lisboa decorreu esta manhã
Muito separa os candidatos na Lisboa de 2017, e outro tanto os separa na Lisboa de 2021. O debate TSF/DN com os candidatos às autárquicas do próximo domingo na capital, que decorreu esta manhã nos Paços do Concelho, na Praça do Município, começou no ponto de chegada do próximo mandato. E esse será, para Fernando Medina, uma "cidade mais próspera", com uma "base económica sólida", mais investimento e mais emprego. O atual presidente da autarquia e candidato socialista antecipa uma "cidade com mais e melhor qualidade de vida" e, para isso, está identificada a área em que é preciso apostar: "o transporte público é a grande área de desafio, é o que nos separa mais claramente de outras grandes capitais europeias".
Teresa Leal Coelho tomou a palavra e foi direta às críticas ao adversário socialista. "Medina fala do progresso económico, mas não fala das pessoas", criticou a candidata social-democrata - "Há muita gente em Lisboa que vive em condições degradadas, dezenas de milhares de crianças que vivem em bairros degradados da cidade, sem que o executivo tenha tido alguma intervenção". Se esta é a cidade do presente, Leal Coelho diz que tem uma "visão ambiciosa" para o futuro. Resumida numa frase: "uma cidade que trata das pessoas".
Mas foi a terceira intervenção, do candidato bloquista Ricardo Robles, que levou Fernando Medina a contestar. Robles apresentou os "lisboetas de 2021": "a Ana, que pode chegar de metro ao pólo universitário da Ajuda, a D. Olinda, que estava ameaçada de despejo e conseguiu ficar a viver na Mouraria, o Joaquim e Marta que encontraram uma creche para por a sua criança, a Filipa que não passa metade do dia no trânsito". Daí ao presente foi um passo - Robles criticou as 60 creches prometidas por Medina que afinal foram 12 (e aqui Medina contestou), e apontou baterias ao plano de uma rede circular de metro em Lisboa, um projeto que serve "para enterrar dinheiro".
Já Inês Sousa Real, candidata do PAN, defendeu uma "cidade mais humanista", enquanto Assunção Cristas quis apontar "para lá disso" - a cidade tem que ser pensada até 2030, sob pena de não se ter nada feito em 2021."A cidade com que eu sonho é uma cidade onde nos movemos com facilidade, onde temos qualidade de vida", referiu a candidata centrista, sublinhando que a realidade atual é bastante distinta: "Lisboa está desleixada".
A fechar a primeira ronda, João Ferreira, da CDU, citou José Rodrigues Miguéis para dizer que o paraíso existe, está ao cimo da rua, mas está recolhido e ausente - uma metáfora para o que diz ser Lisboa nos dias de hoje. As responsabilidades foram distribuídas por PS e PSD. E, dirigindo-se aos restantes candidatos: "Andámos todos por cá. Era bom que não fizéssemos destes debates uma feira de promessas".
Creches aquecem debate
O número de creches em Lisboa pôs Fernando Medina e Ricardo Robles em confronto direto, com acusações mútuas de demagogia. O BE acusa o atual líder camarário de ter aberto apenas 12 creches das 60 prometidas. Medina contesta, aponta para 21, fala numa "taxa de cobertura com apoio público de 40%, acima dos indicadores internacionais".O grande obstáculo, acrescenta, é o apoio que a administração central paga às instituições de solidariedade social, uma questão que escapa à alçada da autarquia. Robles volta ao ataque: construir as creches prometidas custaria 30 milhões de euros, dois anos de taxa turística. Assunção Cristas também aborda o tema, para contestar que o problema não possa ser resolvido a nível municipal. E devolve a Medina uma afirmação que este fizera anteriormente: "Não faça essa cara, isso mostra desconhecimento".
Hospitais em Lisboa. Sim ou não?
João Ferreira, da CDU, lança a questão dos hospitais da Colina de Santana, que deverão encerrar quando for construído o novo hospital na zona oriental de Lisboa.
"Precisamos é do Hospital de Todos-os-Santos" e da "Saúde organizada de outra forma", contrapôs Assunção Cristas. "Mas sabe que esse hospital tem menos 40% das camas", interrompe o também vereador comunista. Inês Sousa Real, do PAN, também não quer todas as unidades hospitalares (de um conjunto que inclui o São José, santa Marta, Capuchos, Estefânia e Alfredo da Costa) a sair da capital: "É com preocupação que vemos a possibilidade de o hospital na zona oriental acabar com as especialidades em Lisboa. Não podemos concordar que se acabem com especialidades, nomeadamente o Hospital D. Estefânia ou as maternidades".
"As esquerdas a concertarem-se para Lisboa"
Outro tema que dividiu os candidatos foi a habitação em Lisboa, com a generalidade da oposição a acusar a gestão socialista de pouco ter feito, quer nos bairros municipais da cidade, quer na disponibilização de habitação a preços acessíveis. Teresa Leal Coelho prometeu pôr no mercado, a custos controlados, os "2000 fogos que a câmara tem dispersos pela cidade". João Ferreira dividiu as críticas dos socialistas aos anteriores executivos do PSD, com a candidata do PSD a sair em defesa do legado social-democrata: "O presidente que reabilitou Lisboa chama-se Pedro Santana Lopes".
Mas foi a questão da Segunda Circular a motivar um raro momento de convergência à esquerda. Fernando Medina defendeu o projeto que, neste mandato, acabou por ficar pelo caminho (com a câmara a alegar um conflito de interesses da empresa responsável pela execução do projeto), um corredor arborizado com uma forte componente de transportes públicos. Ricardo Robles concordou, o que levou Assunção Cristas a comentar que ali estava um momento com as "esquerdas a concertarem-se para Lisboa". "A invejazinha não lhe fica bem", retorquiu Medina, com resposta pronta da candidata da coligação "Nossa Lisboa" - "Inveja nenhuma. Eu quero ser alternativa".
No debate, conduzido por Pedro Pinheiro, diretor-adjunto da TSF e Paulo Tavares, diretor-adjunto do DN, estiveram Fernando Medina (presidente da câmara e candidato socialista), Teresa Leal Coelho (PSD), Assunção Cristas (CDS), João Ferreira (CDU), Ricardo Robles (BE) e Inês Sousa Real (PAN), os candidatos dos partidos com representação na Assembleia Municipal de Lisboa.
dn