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Cardeal de Hong Kong acusa Vaticano de vender católicos chineses a Pequim

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Set 27, 2006
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Francisco fez da normalização das relações com a China uma das prioridades da Santa Sé e estão a decorrer negociações há cerca de ano e meio. Críticas de Joseph Zen foram classificadas como algo "surpreendente e lamentável"


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O Vaticano repreendeu o cardeal de Hong Kong Joseph Zen por este dizer que os seus diplomatas estão a "vender" os chineses católicos fiéis ao Papa como parte do acordo que pretende normalizar as relações entre a Santa Sé e Pequim ao pedir a dois bispos clandestinos para abdicarem a favor de nomeados do governo. O Vaticano disse na terça-feira ser "surpreendente e lamentável" que algumas pessoas ligadas à Igreja estivessem a "promover confusão e controvérsia".



"O Papa está em constante contacto com os seus colaboradores, em particular o Secretariado de Estado, sobre as questões chinesas, e é informado por eles com fidelidade e detalhes sobre a situação da Igreja Católica na China e sobre os passos no diálogo em andamento entre a Santa Sé e a República Popular da China, que ele segue com especial atenção", disse o diretor do gabinete de imprensa da Santa Sé, Greg Burke, sem nunca referir o nome de Joseph Zen. "Por isso é surpreendente e lamentável que o contrário seja dito por pessoas na Igreja, promovendo confusão e controvérsia".




Francisco fez da regularização das relações entre o Vaticano e Pequim uma das prioridades da Santa Sé e estão a decorrer negociações à porta fechada há cerca de ano e meio, mas o ponto de desacordo entre as duas partes é precisamente quem podem nomear bispos.



Esta resposta surge um dia depois do incisivo e direto cardeal e bispo emérito de Hong Kong ter criticado o Vaticano num longo texto que publicou no seu site pessoal. Joseph Zen, de 86 anos, refere-se a uma notícia da agência AsiaNews sobre a atividade dos negociadores do Vaticano que procuram unir as duas Igrejas antes do possível retomar dos laços diplomáticos entre o Vaticano e Pequim, cortados em 1951, dois anos após a proclamação da República Popular da China.


Desde então os católicos estão divididos entre uma Igreja clandestina que reconhece o Papa e tem os seus responsáveis nomeados pela Santa Sé e os que pertencem a um grupo de fiéis controlados pelo Estado e no qual os bispos são escolhidos pelo governo, a chamada Associação Patriótica Católica Chinesa, fundada em 1957. Macau e Hong Kong têm liberdade religiosa.



Os católicos clandestinos têm sido alvo de perseguições ao longe de décadas, que incluem prisão - o cardeal Kung, por exemplo, foi condenado em 1960 a prisão perpétua por atividades contrarrevolucionárias, acabando por ser libertado em 1988 - ou tortura - um dos casos mais conhecidos é o do padre jesuíta Beda Chang, torturado até à morte em 1951. Mais recentemente, em 2014, uma campanha contra alegados edifícios ilegais na província de Zhejiang levou à demolição de mais de duas mil construções cristãs e de 600 cruzes. O objetivo de Francisco é unir a comunidade católica chinesa, que se estima que abranja entre 10 e 12 milhões de pessoas (destes, segundo números oficiais, cerca de 5,1 milhões pertencerão ao grupo permitido pelo Estado).




A AsiaNews noticiou na semana passada que os negociadores do Vaticano pediram a dois bispos chineses leais ao Papa para abdicarem dos seus postos e dar lugar a dois outros apoiados pelo governo de Pequim. A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying, disse ontem numa conferência de imprensa não estar ciente dos detalhes da situação, mas garantiu que a China procura "manter um diálogo construtivo" com o Vaticano com base em "princípios relevantes".



No seu texto, o cardeal de Hong Kong afirmou que o Papa Francisco lhe disse - numa audiência privada no passado dia 12, que durou cerca de meia hora - que tinha instruído os seus colaboradores a "não criar outro caso Mindszenty", numa referência ao cardeal Joseph Mindszenty, libertado da prisão durante a curta revolta húngara contra a União Soviética em 1956 e que depois viveu refugiado na embaixada dos Estados Unidos em Budapeste durante 15 anos até o Vaticano o obrigar a deixar o país. Na altura, a Santa Sé foi acusada por alguns de se vender aos comunistas, mas defendeu-se dizendo que tomou uma decisão necessária para proteger a Igreja de mais perseguições.



O cardeal chinês defendeu que o seu problema "não é a abdicação de bispos legítimos, mas o pedido para dar lugar para outros ilegítimos e até excomungados. Muitos bispos clandestinos idosos, apesar de a idade de reforma nunca ter sido aplicada na China, têm pedido insistentemente por um sucessor, mas nunca receberam uma resposta da Santa Sé. Outros, que já têm um sucessor nomeado, até podem estar na posse da Bula assinada pelo Santo Padre, receberam ordens para não avançar com a ordenação com medo de ofender o governo".



"Se eu penso que o Vaticano está a vender a Igreja Católica na China? Sim, definitivamente, se eles forem na direção que é óbvia tendo em conta tudo o que têm feito nos últimos anos e meses", escreveu ainda Joseph Zen. "Sou o maior obstáculo no processo de alcançar um acordo entre o Vaticano e a China? Se for um mau acordo, fico mais do que contente por ser o obstáculo".




dn

 
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