Portal Chamar Táxi

Chernobyl. As crianças que vieram de férias e mudaram a vida de várias famílias portuguesas

kokas

Banido
Entrou
Set 27, 2006
Mensagens
40,722
Gostos Recebidos
3
A região ucraniana que se tornou dos piores lugares do mundo para viver, quando há 29 anos aconteceu o maior acidente nuclear da história.

O projecto de proporcionar um mês de férias em Portugal a crianças ucranianas de Chernobyl está a transformar-se numa relação para a vida inteira e a mudar as vidas das famílias de acolhimento e dos jovens.
“Há famílias que estão a pensar trazer os jovens para estudar em Portugal, por exemplo. Criam-se laços muito fortes", diz Fernando Pinho, o responsável pelo projeto, chamado Verão Azul, que em sete anos já proporcionou férias a mais de 100 crianças da região ucraniana que se tornou dos piores lugares do mundo para viver, quando há 29 anos aconteceu o maior acidente nuclear da história.
Anya Kot é uma dessas crianças, hoje já com 16 anos, que vive a 30 quilómetros de Chernobyl e que este ano passa férias em Portugal, com a família de Peniche, pela última vez. Mas não é o fim de uma relação, “é o princípio de uma nova fase”, diz Hernâni Leitão, que a acolhe desde que chegou pela primeira vez ao aeroporto de Lisboa e que lhe chama a sua “neta mais velha”.
“Isto é o princípio de uma nova fase. Pode acabar a fase do acompanhamento através da Liberty Seguros (que patrocina o Verão Azul) mas vai continuar a fase da ligação familiar, muito forte, que foi criada ao longo de todos estes anos. E vamos continuar a acompanhar a Anya, e ela vai continuar a vir para Portugal”, diz à Lusa, acrescentando: “Tem sempre aqui o seu quarto”.
Hernâni é funcionário da seguradora, conhece bem o projeto, e não tem dúvidas de que se criam “ligações extremamente fortes”. “As afinidades e os sentimentos familiares são muito fortes e essas ligações continuam para sempre”, diz, falando de uma jovem adulta que passou férias e que continua a vir para Portugal, agora como monitora dos mais novos, dos contactos frequentes entre famílias e jovens, dos que estão a pensar estudar em Portugal, dos que garantem vir porque têm cá a sua segunda família.
“Sempre falamos nos aniversários, escrevemos mensagens, falamos no Skype, trocamos prendas”. É já Anya quem fala, um português quase correto a recordar o primeiro ano em Portugal, quando era uma menina fechada, que “não sabia nada”.
Agora que está a terminar o “Verão Azul” garante que voltará, como monitora ou para trabalhar. “Não vai acabar aqui, gosto muito de Portugal”, diz, garantindo que outras crianças ucranianas têm a mesma ideia. E a justificação é tão simples: “Estas pessoas são a minha outra família, tenho uma família ucraniana e outra aqui. Isso é muito bom”.
Anya vem há sete anos para Portugal e Viktoriya Shevchenko chegou há uma semana. Mas o casal de acolhimento, Miguel Vasconcellos e Maria da Conceição também já sente que a jovem lhes mudou a vida. “Está a adorar e para o ano quer repetir”, diz Miguel.
O casal vive na zona de Lisboa e do grupo de 34 crianças que viajou este ano para Portugal calhou-lhes uma menina de nove anos, pobre como todos os que chegam. Primeiro compraram-lhe roupa, depois levaram-na a conhecer a cidade e a seguir vão de férias para o campo e praia. “Está a ambientar-se bem, já se desenrasca”, diz Miguel.
E acrescenta Maria da Conceição: “pensei que ia ser bastante complicado, que a comunicação seria mais difícil. A língua não é comum mas a mimica é universal e tem sido uma grande ajuda. Cada dia que passa a Viktoriya ensina-nos e nós ensinamos a Viktoriya”.
A verdade é que a menina já comunica em português e numa semana já “confiscou” o telemóvel da filha do casal. O carinho, a simpatia, o dar valor às pequenas coisas, conquistaram o casal.
Nas palavras de Fernando Pinho tem sido assim por todo o lado, é assim também este ano, de Braga a Beja. A língua é preocupação só nos primeiros dias e complicado é não poderem trazer mais crianças, porque do outro lado, na zona de Ivankiv, entre Kiev e Chernobyl, candidatos não faltam.
É por isso, pelo sol, pelo iodo, pela alimentação, pelo carinho, pela aprendizagem, que o projeto é para continuar, diz.
E depois tudo isso se junta e se transforma em algo que não tem fim. E rapidamente. “O primeiro mês muda a vida de toda a gente, é uma experiência extremamente forte em termos afetivos e isso marca-nos para a vida inteira”, diz Hernâni Leitão à porta de casa virada para o mar de Peniche.
E responde a mulher, Maria João: “quando entrámos no projeto (…) nunca pensámos que fosse assim uma coisa tão forte”.
Mais a sul, o casal da Pontinha, Lisboa, por certo não concordaria. Um mês? Maria da Conceição não se controla e começa a chorar quando acaba a frase. “Eu acho que a Viktoriya vai fazer parte da nossa família, nós gostamos muito dela”.

475188.jpg


Lusa
 
Topo