História da Cultura Cajun
No começo do século XVII, colonos da França ocidental, na sua maioria fazendeiros e pescadores, chegaram à região do Canadá conhecida hoje como Nova Escócia e fundaram uma colónia baptizada de Acadia. Devido à rivalidade entre a França e a Inglaterra pelo domínio da América do Norte, os ingleses ganham o controle da região em 1713. Os acadianos declaram sua neutralidade, mas os ingleses exigem lealdade e invadem o Forte Beauséjour em 1755, capturando 300 conscritos acadianos. A partir daí, a sua sorte foi selada. Considerados traidores pelos ingleses, os acadianos passam a ser perseguidos. Até o ano de 1763, quando a guerra entre a França e a Inglaterra terminou, dos cerca de 15.000 acadianos existentes, 10.000 foram capturados, ou deportados, ou tiveram que fugir para escapar de destino semelhante. Muitos vieram para a Louisiana, então parte do território francês chamado Nova França; outros, que haviam sido embarcados pelos ingleses para as 13 Colónias, foram hostilizados por seus habitantes e tiveram que fugir para a França ou para as possessões francesas na América, sendo que alguns, menos afortunados, foram embarcados como prisioneiros de guerra para a Inglaterra.
Em 1762, a Espanha ganhou a posse da Louisiana e desejosa de aumentar a sua população com colonizadores que se opusessem aos seus vizinhos que falavam inglês, não só suportou a presença de cerca de 2000 acadianos no território, como enviou sete navios para a França, para ir buscar mais cerca de 1600 acadianos para se estabelecer na Louisiana. Numa tentativa de reconstruir o seu primitivo modo de vida, os acadianos retiraram-se para o isolamento em áreas inóspitas, como os pântanos e planícies despovoadas da Bacia de Atchafalaya, onde mantiveram sua cultura francófona virtualmente intacta, resistindo a qualquer assimilação pela cultura americana. Essa cultura francesa que eles exibiam fez com que seus vizinhos passassem a chamá-los de cadien, forma simplificada do francês "acadien", mais tarde adaptada para o inglês "cajun".
Somente a partir de 1950, a cultura cajun passa a sofrer um processo de aculturação, incorporando-se um pouco mais à cultura americana. Os três factores mais decisivos para essa mudança foram:
- A demanda por óleo e gás, a qual trouxe inúmeros empregos em companhias americanas para os cajuns;
- Novas estradas cortando a nação, que praticamente acabaram com o isolamento em que os cajuns viviam;
- A Segunda Guerra Mundial, que jogou milhares de jovens cajuns no mundo exterior.
Mesmo assim, até hoje, existem jovens e velhos cajuns que só se comunicam no seu francês arcaico, ignorando totalmente o idioma inglês e a cultura americana.
Mas a população cajun era muito pouco numerosa para poder sobreviver em completo isolamento. Desse modo, os cajuns do sudoeste da Louisiana são forçados a procurar contacto com outras populações para relações comerciais e pessoais. Como sua exclusão da sociedade anglófona os empobrecera, os cajuns procuraram estabelecer contacto com outras populações francófonas e como não tinham posses, suas relações eram, na sua maioria, com populações igualmente pobres, como os escravos, os índios, os camponeses.
Em primeiro lugar, os cajuns passaram a se relacionar com as outras culturas francesas da América, estabelecendo contactos com os franceses das Antilhas, da Martinica e do Haiti, bem como com os escravos que falavam francês (ou um crioulo francês), oriundos dessas regiões, muitos dos quais vinham dar no sudeste da Louisiana. São os creoles que irão dar um sabor especial à vida e a cultura da cidade de Nova Orleans. Embora essa cultura creole possua alguns traços próprios, distintos dos traços da cultura cajun, será a existência da cultura cajun que lhe servirá de amparo e contraponto, com as duas culturas exercendo influências recíprocas. Com a adopção da língua inglesa pela população de Nova Orleães, os focos de resistência dessa cultura creole só se mantêm porque já se incorporaram a uma cultura francófona maior, a cultura cajun.
Em segundo lugar, temos a situação dos índios. Como é de conhecimento geral, os europeus que tratavam melhor os indígenas da América do Norte, que estavam menos interessados em explorá-los e mais respeitavam seu modo de ser e viver, o que os tornava mais estimados pelos silvícolas, eram os franceses. Quando os ingleses tomaram os territórios dos índios americanos, expulsando os franceses, era natural que os indígenas resistissem a aprender a língua desse novo dominador, tão pior do que os antigos, e optassem por manter bilinguismo entre o francês e a língua da sua tribo. Esse bilingüismo, no entanto, só se sustentará pela possibilidade de os índios se comunicarem em francês (ou num crioulo francês) com seus vizinhos cajuns, incorporando-se, de forma cada vez mais acentuada, à cultura de seus vizinhos.
Como resultado dessas vertentes, temos, agora, na Louisiana, a seguinte situação linguística:
- a) Uma população anglófona no norte, com pouco ou nenhum vestígio do passado francês na sua língua ou na sua cultura;
- b) Uma população anglófona afrancesada e um tanto africanizada na região de Nova Orleães, falando um inglês entremeado, em maior ou menor grau, de vocábulos franceses (por exemplo, praticamente todos os habitantes dessa região empregam ou são capazes de entender o francês "Bonne chance!" no lugar do inglês "Goodluck";
- c) Uma população predominantemente branca, que só fala o crioulo cajun, nos pântanos, florestas e planícies do sudoeste da Louisiana;
- d) Uma população indígena bilingue, que fala idiomas nativos e o crioulo cajun, nos pântanos e florestas do sudoeste da Louisiana.
Actualmente, houve um ligeiro acréscimo na influência francesa na região de Nova Orleães, devido ao aumento da popularidade da música e da cultura cajun; por outro lado, aumentou muito o número de cajuns que falam inglês, quer como primeira, quer como segunda língua (mais de 50%), mas a cultura cajun persiste, vigorosa como nunca, com um número expressivo de crianças cajuns falando activamente no crioulo cajun com outras crianças e com a família.
A culinária cajun tem como pratos típicos o gumbo (um tipo de ensopado de quiabo), a jambalaya (camarão com molho picante), a carne de jacaré, o peixe enegrecido (peixe frito a ponto de ficar enegrecido por fora) e vários tipos de linguiça, sendo que o camarão é usado como símbolo tanto do Estado de Louisiana quanto da cultura cajun. Esta comida cajun é acompanhada pela sua música cajun chamada zydeco, tendo por base um violino e um acordeão. É uma música alegre, dançante, que faz lembrar, por um lado, as canções mais ritmadas dos cantores franceses, como Maurice Chevalier; por outro lado, a música western das danças de quadrilha americanas. A postura festiva diante da vida pode ser demonstrada pelo facto de que praticamente não se vê nenhuma reunião dos cajuns em que não haja comida, bebida e dança. A cultura cajun tem algo de carnavalesco, sendo muito apegada a fantasias, enfeites, etc. Não é de admirar, portanto, que o mais típico e mais importante carnaval dos Estados Unidos seja o Mardi Gras (reparem no nome francês) de Nova Orleães, uma mistura da tradição cajun com a tradição creole.
Uma quarta característica cultural cajun, em grande parte devida ao seu contacto com a cultura creole, é o misticismo, a feitiçaria, a medicina alternativa, oriunda das crenças dos negros africanos (do Haiti, das Antilhas, da costa sudeste) em contacto com a superstição própria dos habitantes da zona rural. Nova Orleães ou Nova Orleans (em inglês New Orleans), é a maior cidade do Estado americano de Louisiana, conhecida pelo seu legado multicultural - especialmente influências culturais francesas, espanholas e afro-americanas, e pela sua música e pela sua culinária. Desde o final do século XVIII, o Estado da Louisiana destacou-se por ser uma região multicultural. A Luisiana fora colonizada inicialmente pelos franceses, e fazia parte da província colonial da Nova França. A Luisiana passou a controlo espanhol em 1763, e novamente a controlo francês em 1800, para passar definitivamente a controlo americano em 1803.
Cajuns