Um ensaio clínico internacional que envolveu 78 doentes de dois hospitais em Portugal mostrou ser capaz de travar a progressão da paramiloidose, conhecida como “doença dos pezinhos”. .
O fármaco, apoiado na molécula FX-1006A e desenvolvido por uma empresa farmacêutica norte-americana, teve resultados promissores mostrando que 60 por cento dos doentes que o experimentaram durante 18 meses não viram a doença avançar. Mas há mais estudos e ensaios em cursos com diferentes alvos terapêuticos para esta doença que actualmente apenas pode ser tratada com um transplante de fígado
“É um passo importante e promissor numa doença grave, progressiva e incapacitante como esta”, constata Teresa Coelho, responsável da Unidade Clínica de Paramiloidose (UCP) do Hospital de Santo António, no Porto. Apesar do optimismo, a médica que é também a investigadora principal do ensaio clínico pede alguma prudência. “Esta doença não tem tratamento. Tem a hipótese do transplante e não que não é resposta para todos os doentes. Quando os doentes vêem estas notícias ficam com muita esperança e é preciso lembrar que o fármaco não está ainda acessível e que ainda há algumas coisas que temos de perceber melhor”, lembra.
Os resultados que mostraram uma eficácia no bloqueio da progressão da doença em cerca de 60 por cento dos casos que experimentaram o fármaco terão ainda de ser validados e reconhecidos pelas diversas autoridades do medicamento que a nível nacional (Infarmed), europeu (EMEA) e nos EUA (FDA). No que se refere às escalas de qualidade de vida, verificou-se também que nos doentes que experimentaram o fármaco mantiveram-se estáveis e que se deterioraram nos outros 50 por cento de doentes incluídos no ensaio que estiveram com placebos. No total participaram 128 doentes europeus e latino-americanos no ensaio que envolveu ainda o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e outros seis centros localizados na Argentina, Alemanha, Brasil, Espanha, França e Suécia.
Em Janeiro de 2007 os primeiros doentes incluídos no ensaio clínico começaram a tomar o fármaco mas o processo de inclusão de doentes só terminou em Dezembro desse ano. Só agora foi possível abrir os resultados do ensaio “duplamente cego”, tendo colocado 50 por cento dos casos sob o efeito de um placebo, sem que os doentes ou os médicos soubessem.
“Foi possível perceber que o fármaco tem a capacidade de diminuir a progressão da doença mas os resultados não são tão estrondosos que permitam afirmar que está tudo resolvido”, nota Teresa Coelho. É preciso, por exemplo, perceber por que é que a molécula teve um efeito em alguns doentes e noutros não. E qual será o efeito de uma toma prolongada deste fármaco? Será que a sua eficácia se mantém a longo prazo? Por outro lado, o ensaio clínico envolveu doentes num estadio inicial, não sendo possível prever para já qual o resultado numa fase mais adiantada da doença. Apesar destas questões em aberto, a empresa farmacêutica norte-americana responsável pela FX-1006A espera submeter o fármaco para aprovação até ao Verão de 2010 e conseguir uma aprovação para entrar no mercado europeu em meados de 2011.
Outros alvos terapêuticos
A paramiloidose, designada como polineuropatia amiloidótica familiar (PAF), é uma doença hereditária que tem origem numa mutação de um gene (da transtirretina). Este “erro” genético leva à acumulação de uma proteína anormal nos tecidos que, no prazo médio de dez anos, pode levar à morte. Os primeiros sintomas desta doença que hoje deverá afectar cerca de 1500 pessoas em Portugal (cerca de 10 mil doentes em todo o mundo) são o formigueiro e perda de sensibilidade nos pés (daí o nome comum da doença). No entanto, o número de doentes assintomáticos no país deverá ultrapassar as cinco mil pessoas.
Devido aos complexos mecanismos envolvidos na doença há outras frentes de trabalho na tentativa de encontrar uma resposta para estes doentes. Maria João Saraiva, investigadora premiada do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto, considera que os resultados agora divulgados pela empresa norte-americana “parecem promissores” mas nota que estão em curso outros ensaios a nível académico. A investigadora portuguesa está envolvida num consórcio internacional que é responsável por um ensaio clínico dirigido a diferentes alvos terapêuticos. “Este fármaco da FX-1006A dirige-se à molécula precursora dos depósitos (da proteína nos tecidos), temos de ter outros alvos como o próprio tecido”, nota. Assim, depois de ter testado (em Itália) a aplicação de um antibiótico (a doxiciclina) no tratamento de doença com “resultados promissores” em 2005, a equipa internacional afinou a “fórmula” testando diferentes doses e regimes. Neste momento, explica a investigadora, está a ser preparado um ensaio que usa um composto que resulta da combinação este antibiótico com uma substância que evita a morte celular (um antiapoptótico). Segundo adianta, este ensaio académico não envolve doentes em Portugal e ainda não foi publicado qualquer resultado, prevendo-se que esta última fase termine dentre de um ou dois anos. Maria João Saraiva está também envolvida ainda outra linha de investigação que aponta para outro dos possíveis alvos terapêuticos: o gene. Colaborando com uma equipa nos EUA, a investigadora participa num projecto que quer conseguir silenciar o gene envolvido nesta patologia.
publico
O fármaco, apoiado na molécula FX-1006A e desenvolvido por uma empresa farmacêutica norte-americana, teve resultados promissores mostrando que 60 por cento dos doentes que o experimentaram durante 18 meses não viram a doença avançar. Mas há mais estudos e ensaios em cursos com diferentes alvos terapêuticos para esta doença que actualmente apenas pode ser tratada com um transplante de fígado
“É um passo importante e promissor numa doença grave, progressiva e incapacitante como esta”, constata Teresa Coelho, responsável da Unidade Clínica de Paramiloidose (UCP) do Hospital de Santo António, no Porto. Apesar do optimismo, a médica que é também a investigadora principal do ensaio clínico pede alguma prudência. “Esta doença não tem tratamento. Tem a hipótese do transplante e não que não é resposta para todos os doentes. Quando os doentes vêem estas notícias ficam com muita esperança e é preciso lembrar que o fármaco não está ainda acessível e que ainda há algumas coisas que temos de perceber melhor”, lembra.
Os resultados que mostraram uma eficácia no bloqueio da progressão da doença em cerca de 60 por cento dos casos que experimentaram o fármaco terão ainda de ser validados e reconhecidos pelas diversas autoridades do medicamento que a nível nacional (Infarmed), europeu (EMEA) e nos EUA (FDA). No que se refere às escalas de qualidade de vida, verificou-se também que nos doentes que experimentaram o fármaco mantiveram-se estáveis e que se deterioraram nos outros 50 por cento de doentes incluídos no ensaio que estiveram com placebos. No total participaram 128 doentes europeus e latino-americanos no ensaio que envolveu ainda o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e outros seis centros localizados na Argentina, Alemanha, Brasil, Espanha, França e Suécia.
Em Janeiro de 2007 os primeiros doentes incluídos no ensaio clínico começaram a tomar o fármaco mas o processo de inclusão de doentes só terminou em Dezembro desse ano. Só agora foi possível abrir os resultados do ensaio “duplamente cego”, tendo colocado 50 por cento dos casos sob o efeito de um placebo, sem que os doentes ou os médicos soubessem.
“Foi possível perceber que o fármaco tem a capacidade de diminuir a progressão da doença mas os resultados não são tão estrondosos que permitam afirmar que está tudo resolvido”, nota Teresa Coelho. É preciso, por exemplo, perceber por que é que a molécula teve um efeito em alguns doentes e noutros não. E qual será o efeito de uma toma prolongada deste fármaco? Será que a sua eficácia se mantém a longo prazo? Por outro lado, o ensaio clínico envolveu doentes num estadio inicial, não sendo possível prever para já qual o resultado numa fase mais adiantada da doença. Apesar destas questões em aberto, a empresa farmacêutica norte-americana responsável pela FX-1006A espera submeter o fármaco para aprovação até ao Verão de 2010 e conseguir uma aprovação para entrar no mercado europeu em meados de 2011.
Outros alvos terapêuticos
A paramiloidose, designada como polineuropatia amiloidótica familiar (PAF), é uma doença hereditária que tem origem numa mutação de um gene (da transtirretina). Este “erro” genético leva à acumulação de uma proteína anormal nos tecidos que, no prazo médio de dez anos, pode levar à morte. Os primeiros sintomas desta doença que hoje deverá afectar cerca de 1500 pessoas em Portugal (cerca de 10 mil doentes em todo o mundo) são o formigueiro e perda de sensibilidade nos pés (daí o nome comum da doença). No entanto, o número de doentes assintomáticos no país deverá ultrapassar as cinco mil pessoas.
Devido aos complexos mecanismos envolvidos na doença há outras frentes de trabalho na tentativa de encontrar uma resposta para estes doentes. Maria João Saraiva, investigadora premiada do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto, considera que os resultados agora divulgados pela empresa norte-americana “parecem promissores” mas nota que estão em curso outros ensaios a nível académico. A investigadora portuguesa está envolvida num consórcio internacional que é responsável por um ensaio clínico dirigido a diferentes alvos terapêuticos. “Este fármaco da FX-1006A dirige-se à molécula precursora dos depósitos (da proteína nos tecidos), temos de ter outros alvos como o próprio tecido”, nota. Assim, depois de ter testado (em Itália) a aplicação de um antibiótico (a doxiciclina) no tratamento de doença com “resultados promissores” em 2005, a equipa internacional afinou a “fórmula” testando diferentes doses e regimes. Neste momento, explica a investigadora, está a ser preparado um ensaio que usa um composto que resulta da combinação este antibiótico com uma substância que evita a morte celular (um antiapoptótico). Segundo adianta, este ensaio académico não envolve doentes em Portugal e ainda não foi publicado qualquer resultado, prevendo-se que esta última fase termine dentre de um ou dois anos. Maria João Saraiva está também envolvida ainda outra linha de investigação que aponta para outro dos possíveis alvos terapêuticos: o gene. Colaborando com uma equipa nos EUA, a investigadora participa num projecto que quer conseguir silenciar o gene envolvido nesta patologia.
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