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Fogo quanto baste

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Fogo quanto baste

Se pensa que todos os fogos são maléficos e devastadores saiba que nem sempre é assim. Venha connosco fazer uma breve incursão ao mundo do fogo controlado.

Cristina Pereira

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Quando vemos as imagens televisivas de fogos (e infelizmente têm sido muitas), pode ser difícil acreditarmos que existe algo como um "fogo controlado", uma técnica utilizada frequentemente em alguns países pelos profissionais que gerem os recursos naturais.

Na Austrália, África do Sul, Canadá e Estados Unidos da América esta é uma técnica comum de gestão do material vegetal combustível, utilizada em áreas públicas e privadas. De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA, entende-se como fogo controlado a aplicação deliberada de fogo em condições ambientais que permitam alcançar objectivos específicos de gestão de recursos. O fogo transforma-se em instrumento de gestão e não numa fatalidade, mais ou menos sazonal, como acontece em Portugal.

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As mais antigas referências ao uso de fogo controlado em Portugal datam de 1836, altura em que Frederico Varnhagen, 1º Administrador Geral das Matas do Reino, defendeu a possibilidade de utilização desta técnica com a finalidade de diminuir o risco de incêndio em povoamentos de pinheiro bravo.

No entanto, a utilização de fogo controlado em Portugal é ainda incipiente e pouco frequente. Exceptuando o caso das "queimadas" nas áreas montanhosas de Portugal, por vezes realizadas em alturas imprópias, só recentemente esta prática começou a ser utilizada. É um instrumento legal de gestão do território, disponível para os proprietários privados, desde que realizado por técnicos ou guardas florestais da Direcção Geral das Florestas.

No nosso País, de verão quente e prolongado, a utilização mais evidente do fogo controlado é a redução do material combustível em áreas de risco de forma a diminuir, ou evitar, a propagação de um incêndio. O fogo permite reduzir a quantidade de material inflamável e logo diminuir os riscos de fogo descontrolado em povoamentos florestais e/ou perto de povoações, quebrar a dormência das sementes e estimular a sua germinação, preparar o terreno para a instalação de espécies vegetais, controlar os insectos e fungos patogénicos ou ainda desbastar ou desramar um povoamento florestal.

Ao nível da gestão de habitats para a pastorícia ou cinegética, permite manter e melhorar as condições das espécies animais, por exemplo através da queima de sementes indesejáveis de plantas infestantes e difíceis de controlar por outros meios, como é o caso das acácias em Portugal.

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O uso de fogo controlado pode ser uma alternativa mais económica e expedita do que os tratamentos quimicos ou cortes manuais e mecânicos, mas de acordo com os técnicos só deve ser utilizado quando a acumulação de material vegetal fino (diâmetro inferior a 2mm) seja superior a 30 toneladas por hectare.

Os efeitos do fogo no solo dependem principalmente da sua intensidade, isto é, do grau de consumo da matéria orgânica e da exposição do solo mineral. A parte mineral do solo nunca deve ser afectada de forma a evitar a possibilidade de erosão.

Em relação à fauna do solo, importante na decomposição e produtividade do ecossistema, esta é afectada principalmente nos horizontes orgânicos e pouco alterada nos minerais. O seu decréscimo depende da manta morta e da camada de solo afectada. Assim, os fogos devem ser espaçados no tempo e não actuar em áreas contíguas muito extensas de forma a permitir a recolonização pela fauna do solo.

Relativamente aos efeitos do fogo na qualidade do ar, quanto maior for a libertação de fumo maior é o impacto ambiental.

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O fogo controlado deve ser executado no período de dormência das plantas, que coincide, em Portugal, com as melhores condições atmosféricas para esta prática: temperaturas baixas, humidade relativa elevada e vento fraco com direcção estável.

Consoante os objectivos e as condições climatéricas o tipo de fogo varia. Pode ser contra ou a favor do vento. A técnica mais utilizada é contra o vento, em que a chama é mais curta, o avanço é mais lento e a intensidade mais reduzida. O material vegetal demora mais tempo a arder e há necessidade de criar mais linhas de fogo para acelerar o processo.

Os custos com o material e com a segurança são baixos. Contrariamente, nos fogos a favor do vento os cuidados com a segurança terão de ser muito maiores, uma vez que a chama, a velocidade de propagação e a intensidade do fogo são elevadas. O fumo libertado também é maior, sendo necessário que a estrutura do povoamento permita uma boa visibilidade. Em ambos os casos têm que existir barreiras de segurança que delimitem a área a arder, podendo ser naturais ou criadas especialmente para o efeito.


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Bibliografia

Botelho, H. e Rego, F., (1988). O uso do fogo controlado na prevenção de incêndios florestais. In Com. Simpósio Sobre a Floresta e o Ordenamento do Espaço de Montanha. UTAD, Vila Real. Maio de 1988.

Botelho, H.; Rego, F. C. e Silva, J. M., (1987). Prescribed fire behavior in Pinus pinaster forests of Northern Portugal. In Com. International Symposium for the formulation of an effective common strategie for the prevention and combat of forest fires in the Mediterranean Region. Athens, Greece.

Cabral, M. T.; Ruas, L. M. e Rego, F. C., (1993). Estudo comparativo do fogo controlado sobre o sub-sistema decompositor de povoamentos de pinheiro bravo (Pinus pinaster), eucalipto (Eucaliptus globulus) e carvalho negral (Quercus pyrenaica). Silva Lusitanica, 1(1): 35-47.

Fernandes, Paulo, (1997). O uso da técnica do fogo controlado. Revista Florestal 10(1): 69-76.

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