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História das Cidades de Portugal

Satpa

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Águeda

História de Águeda

Existem no actual concelho de Águeda abundantes vestígios comprovativos da presença romana, nomeadamente na estação arqueológica do Cabeço do Vouga. Relativamente à cidade, há fortes probabilidades de que a via romana que ligava Aeminium (Coimbra) a Cale (Gaia) passasse por Águeda.

No que concerne ao próprio nome de Águeda, existem várias suposições tendentes a desvendar a origem no nome do rio aqui situado, o qual já no século IX se chamava Ágata.

Em documento datado de 1050 são mencionadas diversas villas situadas na área do actual cocelho de Águeda, tendo várias delas topónimos de origem árabe.

A cidade actual procede do repovoamento feito nos inícios da Nacionalidade (século XI-século XII): A povoação nunca terá prosperado, como é prova o facto de não ter recebido foral próprio, apesar de os seus moradores terem diversos privilégios como testemunham os procuradores de Aveiro nas Cortes de Évora em 1451.

D. Manuel I incluiu Águeda no foral concedido a Aveiro, em 1515. Em troca, o local de Assequins, actualmente incluído na cidade, recebeu foral próprio de D. Manuel I.

O concelho de Águeda, com a elevação da sede a vila foi constituído a 31 de Dezembro de 1853, integrando diversos concelhos, de origem medieval então extintos, entre eles o de Aguada de Cima,o de Castanheira do Vouga e o de Préstimo.

Águeda foi elevada à categoria da cidade por lei de 14 de Agosto de 1985.

A importância de Águeda veio-lhe das várzeas que lhe ficam fronteiras e alastram na bacia que começa um pouco acima da Borralha. Foram elas as causas de se encontrarem os nomes locais, nos documentos que se reportam à primeira reconquista.


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Évora

História de Évora


O nome Lusitano da cidade de Évora era Eburobrittium, provavelmente relacionado com a divindade celta Eburianus. A raiz etimológica viria do Celta *eburos, a árvore do Teixo. A cidade teve o nome de Ebora Cerealis durante a República Romana, tomando o nome de Liberalitas Julia no tempo do general Júlio César, sendo então já uma cidade importante, como o demonstram as ruínas de um templo clássico e os vestígios de muralhas romanas.

Conquistada aos Mouros em 1165 por Geraldo Sem Pavor, data em que se restaurou a sua diocese. Foi residência régia durante largos períodos, essencialmente nos reindados de D.João II, D.Manuel I e D.João III.

O seu prestígio foi particularmente notável no século XVI, quando foi elevada a metrópole eclesiástica e foi fundada a Universidade de Évora (afecta à Companhia de Jesus), pelo Cardeal Infante D.Henrique, primeiro Arcebispo da cidade.

Um rude golpe para Évora foi a extinção da prestigiada instituição universitária, em 1759 (que só seria restaurada cerca de dois séculos depois), na sequência da expulsão dos Jesuítas do país, por ordem do Marquês de Pombal.

Évora é testemunho de diversos estilos e corentes estéticas, sendo ao longo do tempo dotada de obras de arte a ponto de ser classificada pela UNESCO, em 1986, como Património Comum da Humanidade.


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Sacavém

História de Sacavém


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Brasão de armas de Sacavém: «Escudo de vermelho, ponte de três arcos, com os flancos incompletos, de ouro, lavrada de negro. Em chefe, cruz em aspa, de prata. Contra-chefe ondado de seis faixas de prata e azul, onde assentam três barcas de ouro vistas de proa. Coroa mural de prata de cinco torres. Listel branco, com a legenda a negro, em maiúsculas: "SACAVÉM".»
Um dos elementos centrais do brasão – a água – recorda o peso dos rios Tejo e Trancão na vida e na economia da cidade, enquanto o outro – a ponte romana – atesta a antiguidade da povoação, remontando pelo menos ao tempo dos Romanos, que aí ergueram essa construção que se manteve a ligar as duas margens do Trancão ao longo de mais de quinze séculos.


Sacavém, pela sua posição estratégica – situada na encruzilhada dos caminhos que, vindos do Norte e do Este, se dirigiam a Lisboa – esteve presente em inúmeros momentos da História portuguesa.

Povoação antiquíssima, existiu no tempo dos Romanos uma ponte em Sacavém cujos vestígios ainda eram visíveis, pelo menos, no século XVI (segundo o relato de Francisco de Holanda). Do tempo da ocupação mourisca ficou, aparentemente, o topónimo de origem arábica (شقبان, Šaqabān); imediatamente após a tomada de Lisboa pelos cristãos, em 1147, parece ter ocorrido aqui um combate (a Batalha de Sacavém), hoje comummente considerado lendário.

Durante a Idade Média, Sacavém constituiu um reguengo, do qual viriam a ser beneficiários o almirante Manuel Pessanha, a rainha D. Leonor Teles, e depois o Condestável Nuno Álvares Pereira. Por morte deste, passou a sua posse para a Casa de Bragança, à qual viria a pertencer até à queda da monarquia[1].

Severamente danificada durante o Terramoto de 1755, Sacavém entrou num lento marasmo que durou cerca de um século, até cerca de 1850 se iniciar a sua industrialização – donde ressalta a fundação da célebre Fábrica de Loiça de Sacavém, que espalhou o nome de Sacavém por Portugal e pelo Mundo, e a passagem do caminho-de-ferro pela povoação. Esta situação contribuiu para um aumento populacional sustentado, até meados da década de 1970, favorecendo ainda o desenvolvimento do associativismo (Cooperativa «A Sacavenense», Sport Grupo Sacavenense, entre outros).

No final da década de 1980, a freguesia ganha a sua actual configuração geográfica, com a separação da Portela de Sacavém e do Prior Velho. Em 4 de Junho de 1997, Sacavém vê enfim reconhecido todo o seu valor e potencial, tendo sido elevada a cidade. Meses mais tarde, era inaugurada a Ponte Vasco da Gama, ligando Sacavém ao Montijo, e que se tornou uma obra de referência na paisagem urbana da povoação.


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História da cidade do Porto

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História do Porto


Desde os fins da Idade do Bronze que o espaço hoje ocupado pela cidade do Porto tem sido quase ininterruptamente povoado. Ao longo deste tempo, e muito particularmente nos últimos mil anos, este pequeno pedaço de território e as suas gentes tiveram um papel primordial e único na história de Portugal.

Daqui Portugal foi buscar o nome. Daqui se saiu para conquistar Lisboa aos mouros. Aqui o português João e a inglesa Filipa contraíram matrimónio e nasceu o Infante, patrono dos descobrimentos. Aqui se doou a carne e se comeram as rezes para que o império se fizesse. Daqui se exportou o generoso vinho que tornou a cidade mundialmente famosa. Por entre trincheiras e paliçadas, aqui se defendeu a liberdade do liberalismo contra a tirania miguelista, se ganhou o coração do rei-imperador e o título de Invicta. Aqui se morreu pela implantação do regime republicano, no 31 de Janeiro. E aqui se manteve o norte naquele verão quente de 1975, quando todos pareciam desnorteados...

Vale a pena conhecer um pouco da história da mais portuguesa das cidades: o Porto.

Origens

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Estradas romanas: As margens do Douro, junto à sua foz, foram de fundamental importância na ligação entre a Lusitânia (a sul do rio) e a Galécia (a norte).

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Mosaicos romanos na Casa do Infante.

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Estátua de Vímara Peres junto à Sé, erguida em 1968 para comemorar o 1100.º aniversário da presúria.

O morro da Pena Ventosa (literalmente monte dos vendavais) é uma saliência granítica coroada por uma plataforma de cotas máximas na ordem dos 78 m, rodeada de vertentes de acentuado declive que descem para o rio Douro e para o pequeno rio da Vila. Estas características da topografia e da hidrografia constituíam boas condições defensivas e foram decisivas para que o alto da Pena Ventosa tivesse sido o sítio original da urbe portuense, primeiramente chamada Cale e, depois, Portus Cale e Portucale.

Durante as décadas de 1980 e de 1990, as investigações arqueológicas realizadas nas traseiras da Sé, nomeadamente na Casa da Rua de D. Hugo n.° 5, permitiram identificar um perfil estratigráfico que ilustra a evolução do núcleo primitivo da cidade. Destes estudos concluiu-se ter havido uma ocupação quase contínua do local desde os finais da Idade do Bronze.

Estes vestígios arqueológicos documentam:

Do século VIII a.C. até 500 a.C. – a existência de contactos com o Mediterrâneo de populações que viviam no alto do morro da Pena Ventosa;
Entre 500 e 200 a.C. – a presença de um povoado castrejo de casas de planta redonda e a continuação dos contactos com povos mediterrânicos;
Do século II a.C. a meados do século I d.C. – uma fase de romanização durante a qual o povoado adquire crescente importância, que se revela na função organizativa em relação aos territórios circundantes. Foram provavelmente os romanos que aqui criaram uma primeira estrutura urbana, reorganizando o traçado das ruas, implantando casas de planta rectangular e criando instalações portuárias nas imediações do local onde mais tarde se ergueu a chamada Casa do Infante.

A arqueologia permitiu também encontrar indícios da ocupação da Pena Ventosa nos séculos I e II d.C. e vestígios de uma muralha construída no século III. Pensa-se que o seu traçado fosse idêntico ao da Cerca Velha ou Românica reconstruída no século XII.

Segundo o Itinerário de Antonino, a estrada romana de Olissipo a Bracara Augusta (Via XVI) oferecia nesse passo do Douro uma estação. Não há unanimidade quanto à sua localização, na margem esquerda ou na direita. O mais provável seria a estação estar repartida nas duas margens. Os cavalos das mudas ficariam nos dois altos e os próprios mensageiros teriam de um lado e outro o seu albergue. No Século IV assiste-se a uma fase de expansão da cidade em direcção ao vizinho Morro da Cividade e à zona ribeirinha, tendo sido encontrados mosaicos romanos do século IV na Casa do Infante.

No final da época imperial o topónimo Portucale abrangia já ambas as margens e, mais tarde, passou a designar toda a região circundante.

No Século V assistimos à invasão dos suevos e, em 585 e seguintes, durante o reino visigótico, verifica-se a emissão de moeda em Portucale e a presença de um bispo portucalense no III Concílio de Trento, em 589. A relativa importância do lugar nessa época é comprovada por diversas e significativas moedas dos reis visigodos Leovegildo (572-586), Ricaredo I (586-601), Siúva II (601-603) e Sisebuto (612-620), cunhadas com a legenda toponímica de Portucale ou Portocale.

Em 716, deu-se a invasão muçulmana e a destruição da cidade por Abd al-Aziz ibn Musa. Julga-se, no entanto, que a dominação muçulmana de Portucale (em árabe: Burtuqal — برتقال) terá sido relativamente breve, pois parece ter sido atacada, logo por volta de 750, por Afonso I das Astúrias. Durante um século, a região teria jazido ao abandono e quase desabitada. Até à presúria de Portucale pelo conde Vímara Peres em 868, quando se dá início a uma fase de repovoamento e de renovação urbana. A partir daí, Portucale assume grande protagonismo político e militar, com a criação do respectivo condado. Nesta época, o nome Portucale já tem um sentido acentuadamente lato.

No trânsito do Ano Mil, a terra portucalense viu-se atravessada de lés a lés pela invasão de Almançor (em árabe: Al-Manṣūr — المنصور — que significava O Vitorioso, cognome de Muḥammad ibn 'Abd-Allah ibn Abū ʿĀmir — أبو عامر محمد بن عبد). Transpondo o rio Douro por uma ponte de barcas expressamente construída, concentrou as suas forças em Portucale, onde se lhes juntaram mais tropas vindas por mar. Daí seguiu para Santiago de Compostela, que reduziu a escombros.

O renascido burgo vive então uma existência difícil entre incursões de normandos e de sarracenos. Estas últimas só deixam de se fazer com a fixação do condado de Coimbra. As dos vikings ainda se mantêm nos princípios do século XI. Um dos assaltos dos nórdicos deu-se em 1014, nos arredores do Porto, no próprio coração das Terras da Maia, em Vermoim. Ao sul do Douro estendia-se então uma importante comarca guerreira portucalense, a chamada Terra de Santa Maria. O castelo da Feira, já existente, era o principal núcleo de defesa dessa, então, região estremenha.

Em 1096 dá-se a concessão do governo de Portucale ao conde D. Henrique de Borgonha e a capital desloca-se para o interior. Braga readquire, pela sua posição e pela sua tradicional primazia eclesiástica, um certo ascendente político sobre o burgo portucalense. Nela se sepulta o conde, pai do primeiro rei português, trazido, em cortejo fúnebre, da cidade de Astorga onde falecera.

Refundação da cidade
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Maqueta do Morro da Sé rodeado pela Cerca Velha[1].

No século XII dão-se acontecimentos de grande significado para a evolução da cidade do Porto:

1114 – D. Hugo toma posse da diocese do Porto;
1120 – D. Teresa faz a doação de um vasto território -- o Couto de Portucale -- a D. Hugo;
1123 – o bispo D. Hugo concede a carta de foral aos moradores da cidade.

Este foral, de carácter liberal e inovador, vem trazer um enorme impulso ao povoamento e ao desenvolvimento do burgo.
O Porto do século XII, com uma só paróquia, a Sé, era um burgo episcopal organizado em função da catedral, que começou a ser construída neste século, no local onde anteriormente tinha existido uma pequena ermida. Em redor, um conjunto de ruas, vielas, pequenos largos e becos ocupavam a plataforma superior da Pena Ventosa. As vertentes próximas foram também desde cedo habitadas e ligadas entre si por ruas, ruelas ou serventias que, sabiamente adaptadas à topografia, tanto seguíam o traçado das curvas de nível (por ex. a actual Rua das Aldas) como as cortavam perpendicularmente (por ex. a actual Rua da Pena Ventosa).

Outro importante elemento que condicionou a estrutura da malha urbana do burgo medieval foi a Cerca Velha ou Cerca Românica reconstruída no século XII sobre fundações de muros anteriores. Durante muito tempo conhecida por Muralha Sueva, está hoje identificada como obra de origem romana. Desta Muralha Primitiva apenas subsistem hoje um cubelo e um reduzido trecho, reconstruídos em meados do século XX.

Crescimento e autonomia

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A Praça da Ribeira, o pequeno Rio da Vila (à esquerda) e a Rua dos Mercadores (à direita)[2].

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Entrada de D. João I na cidade do Porto para celebrar casamento com Filipa de Lencastre[3].

O século XIII representou um período de expansão em que o Porto cresceu para fora da Cerca Velha em várias direcções:

Em redor da Pena Ventosa, terrenos antes de quintais, hortas, pomares, soutos e matas passaram a ter casas ligadas por ruas e vielas. Ainda hoje nalgumas ruas desta área subsistem designações de referências rurais, como por exemplo a Rua do Souto;
No sopé da escarpa que dava acesso à Porta das Verdades, próximo da margem ribeirinha, também se desenvolve casario, ruas, escadas e vielas, como por exemplo a Rua da Lada;
Na margem direita do rio da Vila o povoado crescia pela beira-rio de São Nicolau, por exemplo pela Rua da Reboleira ou pela Rua dos Banhos, acabando por atingir o "arrabalde" de Miragaia, pequeno núcleo de pescadores e construtores de barcos desde há muito ligados à vida do rio e do mar.
Assim, foram surgindo dois pólos de povoamento -- um na zona alta, no morro da Pena Ventosa, em redor da sé, e outro na zona baixa, na Ribeira, na margem do Douro próximo da foz do rio da Vila -- ligados por uma malha urbana que se foi adensando.

O eixo mais antigo que ligava os dois aglomerados seguía pela Rua "Detrás da Sé" (actual Rua de D. Hugo), pela Porta das Verdades e pelas Escadas do Barredo, segundo o caminho mais curto, mas de declive muito acentuado. Mais tarde, desenvolveu-se outro eixo de melhor acessibilidade constituído pelas Ruas dos Mercadores, Bainharia e Escura, ligando à Porta de São Sebastião.

Entretanto a encosta do Morro do Olival, na margem direita do rio da Vila e ainda pouco ocupada, começou a ser mais povoada sobretudo depois da instalação dos mosteiros das ordens mendicantes, o de São Francisco em 1233 e o de São Domingos em 1238, que, para além das casas conventuais, tinham extensas cercas com jardins, hortas, pomares e vinhas.

A construção destes conventos e a urbanização da encosta do Olival realizaram-se num clima de conflito entre o rei e o bispo, senhor do burgo. São exemplos desta luta de poderes a longa disputa pela faixa de terras entre o rio da Vila e o rio Frio (em Miragaia), exacerbada durante a edificação do Convento de São Francisco e da Alfândega Velha, hoje vulgarmente conhecida como Casa do Infante, iniciada em 1325, próxima do cais do rio. Estes acontecimentos representaram momentos em que o poder régio se quis afirmar perante o poder da Mitra.

Entretanto, em 1387, a cidade engalana-se para receber o casamento do rei João I de Portugal com a princesa inglesa Filipa de Lencastre, celebrado na Sé do Porto, selando a aliança luso-britânica. Foi no Porto que, em 1394, nasceu o Infante D. Henrique.

Após prolongadas negociações entre o rei D. João I e o bispo do Porto D. Gil Alma, chega-se a um acordo, ratificado em 1406 pelo papa Inocêncio VII, pelo qual o senhorio da cidade passava definitivamente do bispo para a coroa, conquistando a cidade a sua autonomia administrativa [4].


Nova muralha e afirmação da cidade burguesa

Ao longo do século XIV o Porto teve uma grande expansão do povoamento ao longo da margem ribeirinha do Douro, reflectindo a crescente importância das actividades comerciais e marítimas. A cidade sente, assim, necessidade de um espaço amuralhado mais vasto que o da Cerca Velha. Os primeiros a apresentarem essa reivindicação foram burgueses com casas e negócios extramuros e portanto menos protegidos.

Em meados desse século, ainda no tempo de D. Afonso IV, começou a ser construída uma nova cintura de muralhas que ficou praticamente concluída por volta de 1370. Esta Cerca Nova ou Muralha Gótica tem sido correntemente designada por Muralha Fernandina porque, apesar de iniciada com D. Afonso IV, o seu grande impulsionador, só ficou concluída no reinado de D. Fernando.
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Postigo do Carvão, única porta da Muralha Fernandina que chegou até hoje.

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Judiaria do Morro do Olival [5].

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Ruela da Ribeira.

Este muro, de traçado geométrico e uma altura de 30 pés (9 m), de alto porte e grande robustez, era recortado de ameias salientes, tendo vários cubelos e torres elevadas e ainda numerosas portas e postigos (dezassete, no total). Com um perímetro de cerca de 3.000 passos (2.600 m), limitava uma área de 44,5 hectares.

O traçado da Cerca Nova seguía pela margem ribeirinha do Douro até ao limite com Miragaia, subia pelo Caminho Novo e São João Novo até ao cimo do Morro do Olival; depois tomava a direcção leste passando junto às hortas do bispo e do cabido e continuava para Cimo de Vila; a seguir contornava os morros da Cidade e da Sé por nascente e descia pela escarpa dos Guindais até à Ribeira, próximo da saída do tabuleiro inferior da actual Ponte Luís I.

Entre as portas destacaram-se as de Cimo de Vila, de Carros (em frente à actual Estação de São Bento), de Santo Elói, do Olival (ao lado da actual Cadeia da Relação), das Virtudes, da Esperança (ou São João Novo), de Miragaia (ou Nova ou Nobre), da Ribeira (no local da actual Praça da Ribeira), do Sol. Os nomes das portas e dos postigos foram mudando ao longo dos tempos. Também aconteceu alguns postigos serem alargados e passarem a portas, como o de Carros, que deu origem à Porta de Carros, e o do Carvalho do Monte, mais tarde do Penedo, que veio a ser a Porta do Sol.

Em 1386, D. João I decidiu criar uma judiaria e, invocando motivos de segurança, mandou transferir os judeus, para os concentrar dentro de muros, no topo aplanado do Morro do Olival. Implantada num sítio quase desocupado, a Judiaria do Olival deu origem a uma urbanização própria que condicionou a posterior evolução da malha urbana deste local.

Na última década do século XIV, e ainda por iniciativa de D. João I, começou a ser aberta a Rua Nova, uma rua que contrastava com o labiríntico Porto medieval, "a minha rua formosa" como lhe chamou o rei. Constituiu um grande avanço em termos urbanísticos, pode mesmo dizer-se que foi o primeiro caso de planeamento do país. De traçado rectilíneo, considerada na época comprida e larga, foi local de prestígio que atraiu a construção de edifícios de luxo para habitação da elite burguesa e do clero e centralizou a vida e os negócios dos mercadores.

A Rua Nova (hoje do Rua do Infante D. Henrique) levou cerca de cem anos a ser concluída. Como ligava a Rua dos Mercadores ao Convento de São Francisco, constituiu um importante eixo de circulação paralelo à margem ribeirinha. Por causa desta rua, a partir do século XVI, a Porta de Miragaia ou Porta Nova passou a ser conhecida por Porta Nobre, através da qual entravam na cidade as figuras notáveis, bispos e reis, em actos oficiais.

No início do século XV a malha urbana fechada pela Muralha Fernandina era uma rede apertada de ruas e ruelas irregulares, estreitas e íngremes que se desenvolviam em redor de três núcleos:

O Alto da Sé, sede do burgo dos bispos até 1406, onde não permaneciam monges nem fidalgos;

A Ribeira, fervilhante de gentes ligadas às múltiplas actividades do rio e do mar, domínio dos mercadores e geradora de burgueses, com o centro na Praça da Ribeira e, a partir do século XV, em expansão para a Rua Nova;

O Morro do Olival, núcleo mais periférico e mais tardiamente ocupado, onde se situou a Judiaria Nova, dentro de muros. Nas vertentes deste morro, as ruas de Belomonte, Taipas, Ferraria de Baixo (hoje Rua do Comércio do Porto) vão tomando significado no tecido urbano, tal como a Rua de Trás, rente à muralha e próxima das Hortas do Bispo, aberta em 1491 aquando da construção do Convento dos Lóios ou de Santo Elói.

Dois eixos principais ligavam estes três núcleos:

Da Praça da Ribeira à Porta de Cimo de Vila (actual Praça da Batalha), passando pelas Ruas dos Mercadores e Bainharia, Cruz do Souto e Ruas Escura, Rua Chã e Cimo de Vila;

Da Reboleira à Porta do Olival, através das Ruas da Alfândega (Velha), das Congostas e da Bainharia, Cruz do Souto e Rua do Souto (que na época incluía a actual Rua dos Caldeireiros).

Ainda no século XV, o Largo de São Domingos, em frente ao convento do mesmo nome, tornou-se um centro importante da cidade, não só pela feira que aqui se realizava e pelas reuniões da câmara no alpendre do convento, mas também por constituir um nó de circulação e local de encontro dos portuenses, um verdadeiro centro cívico.

A estrutura urbana da cidade do Porto de finais do século XV tomou uma configuração radioconcêntrica com a posição das principais portas da Cerca Nova a evidenciar os acessos aos arrabaldes ou a áreas mais longínquas:

  • Porta de Carros – estrada de Guimarães;
    [*]Porta do Olival – estrada de Braga;
    [*]Porta de Cimo de Vila – estrada de Penafiel;
    [*]Porta de Miragaia – Foz e Bouças;
    [*]Porta do Sol – estrada de Entre-os-Rios.

Entretanto, em 1496, um decreto de D. Manuel I ordenava a conversão de todos os judeus, sob pena de expulsão. Alguns converteram-se tornando-se cristãos-novos outros, porém, decidiram abandonar a cidade e o reino. Foi o fim da Judiaria Nova do Morro do Olival.

Só em 1509 é que o Porto se abre aos nobres, até então impedidos de ter casa na cidade ou de nela residir por mais de três dias, o que explica a quase ausência de casas nobres dentro do perímetro amuralhado.


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cont. (Porto)


Do foral manuelino aos inícios do séc. XVII


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Lápide lembrando a expulsão dos judeus do Morro do Olival em 1496, colocada junto ao Mosteiro de São Bento da Vitória.

O Foral Novo de D. Manuel I, concedendo privilégios à cidade do Porto e datado de 1517, inicia um período de crescente desenvolvimento económico e urbano.

A partir de 1521, por iniciativa do rei, começou a ser aberta, através das hortas do bispo e do cabido e em terrenos da Misericórdia, a Rua de Santa Catarina das Flores, actual Rua das Flores. Construída para enobrecer a cidade, tornou-se elegante, aristocrática e ainda de importante actividade comercial. Ligando o Largo de São Domingos ao Convento de São Bento da Avé-Maria, permitia um acesso directo entre dois pólos citadinos de grande movimento, a Ribeira e a Porta de Carros. Este novo eixo de circulação vai ser vital para a progressiva urbanização da margem direita do rio da Vila.

Por meados do século XVI construiu-se uma ponte de pedra para atravessar este rio, substituindo uma anterior de madeira, o que permitiu a ligação da nova Rua de Santa Catarina das Flores à Rua da Bainharia e deu origem ao desenvolvimento da Rua da Ponte Nova. No rio da Vila, um pouco mais para jusante, havia uma outra ponte mais antiga, a de São Domingos.

Devido à concorrência do eixo da Rua das Flores, a velha Rua dos Mercadores perdeu progressivamente características de rua de grande comércio, habitada por burgueses de posses que viviam nas suas casas-torre medievais.

Durante os séculos XV e XVI a cidade vê surgir notáveis edifícios de congregações religiosas ou de assistência:

  • Convento de Santa Clara;
  • Convento dos Lóios;
  • Conventos femininos de São Bento da Avé-Maria e de Monchique (este último extramuros);
  • Hospital de D. Lopo;
  • Convento de São João Novo;
  • Mosteiro de São Bento da Vitória.
  • Na zona da Sé os padres da Companhia de Jesus dão início à construção do Colégio de São Lourenço e, mais tarde, da Igreja de São Lourenço (popularmente conhecida como "Igreja dos Grilos"), o que implicou a destruição de algumas ruas e trouxe alterações urbanísticas ao local.

Até 1583 o Porto teve apenas uma paróquia, a da Sé, que nesse ano foi dividida em quatro: Sé, São Nicolau, Nossa Senhora da Vitória e São João Baptista de Belmonte, esta última extinta alguns anos mais tarde.

No começo do século XVII iniciam-se as construções do primeiro edifício da Casa da Relação e Cadeia, do Convento dos Carmelitas Descalços, hoje quartel da Guarda Nacional Republicana (GNR) e as obras do Mosteiro e da Igreja de São Bento da Vitória, que irão prolongar-se por todo este século, ocupando o vazio deixado pelo abandono forçado dos judeus do Morro do Olival, um século antes.

De Nasoni aos Almadas

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Paço Episcopal do Porto

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Igreja dos Clérigos de Nicolau Nasoni.

Os finais do século XVII e o século XVIII vão trazer à cidade do Porto uma intensa actividade arquitectónica, tanto religiosa como civil, que lhe dará uma nova imagem. Realizam-se obras públicas como fontes e chafarizes. Constroem-se os grandes edifícios de arquitectura barroca, de aspecto monumental, que identificam um Porto barroco.

São exemplos:

  • O Paço Episcopal totalmente reconstruído;
  • A intervenção no edifício da Sé Catedral;
  • A frontaria da Igreja da Misericórdia do Porto;
  • A Igreja e a Torre dos Clérigos;
  • As Igrejas dos Terceiros do Carmo, da Ordem do Terço, de Santo Ildefonso;
  • A Casa do Despacho da Ordem Terceira de São Francisco;
  • O Palácio de São João Novo;
  • O Palácio do Freixo;
  • A Casa da Rua de D. Hugo n.º 17, actual Casa-Museu Guerra Junqueiro;
  • A Casa de Ramalde.

Muitos destes importantes edifícios têm o traço ou a influência de Nicolau Nasoni, artista italiano que chegou ao Porto em 1725 e aqui desenvolveu uma notável obra nos domínios da pintura e da arquitectura. São considerados expoentes máximos a frontaria da Igreja da Misericórdia e o monumental conjunto dos Clérigos, nomeadamente a sua célebre Torre com cerca de 75 metros de altura.

Até meados do século XVIII a vida urbana portuense ficou quase confinada aos limites da Muralha Gótica estendendo-se ainda ao longo das vias de ligação aos pequenos núcleos das paróquias rurais e dos centros pescatórios da margem do Douro. A segunda metade do século XVIII traz novas transformações urbanísticas e arquitectónicas que irão alterar profundamente o aspecto da cidade.

Foram factores decisivos para o desencadear desta nova fase o crescimento rápido da população citadina, uma conjuntura económica favorável ligada à actividade mercantil, nomeadamente ao comércio e à exportação do vinho do Porto como resultado da crescente importância da produção vinícola e da criação da Companhia da Agricultura do Alto Douro, e ainda a nomeação de João de Almada e Melo como comandante militar.

A data de 1763 representa o início do funcionamento da Junta de Obras Públicas, presidida por João de Almada, que incluía membros da Câmara apoiados por engenheiros militares e, mais tarde, por arquitectos encarregados dos trabalhos. A direcção do desenvolvimento urbanístico da cidade centralizou-se assim num único departamento que funcionou até 1804.

A acção da Junta introduziu uma abordagem racional na concepção da cidade, defendendo aspectos como a luz, a higiene e a salubridade. Segundo estes novos conceitos urbanísticos as construções deviam obedecer a planos rigorosos em que se privilegiava o conjunto arquitectónico e não o edifício isolado. O risco das novas ruas era acompanhado pelo desenho dos alçados a edificar. Estas áreas constituem, ainda hoje, paradigma de coerência e equilíbrio na relação rua-conjunto edificado.

O plano almadino pretendia renovar a cidade antiga e ordenar o crescimento para fora da Cerca Fernandina que, sobretudo desde meados do século XVII, estava a realizar-se de uma forma espontânea e caótica. Visava ainda redefinir as principais vias de acesso tornando-as desafogadas. São disso exemplos as Ruas de Cedofeita, de Santa Catarina, Direita (hoje de Santo Ildefonso), do Reimão (actual Avenida Rodrigues de Freitas), dos Quartéis (agora Rua de D. Manuel II), a Calçada da Natividade (Rua dos Clérigos), a Rua Nova das Hortas (troço inicial da Rua do Almada), o Passeio das Virtudes.

Da concretização deste plano resultaram: novas praças como a Praça de São Roque entre a Rua do Souto e a Rua das Flores (desaparecida um século mais tarde, aquando da construção da Rua de Mouzinho da Silveira); a renovação da Praça da Ribeira; a abertura de ruas amplas e com passeios como a Rua de São João; realinhamentos de fachadas e ruas antigas. Surgem também novas preocupações com os espaços públicos, de que são exemplos as alamedas voltadas para o rio Douro, como as das Virtudes, das Fontainhas ou de Massarelos.

O plano urbanístico de João de Almada para a cidade do Porto -- um dos primeiros planos de conjunto a aparecer na Europa -- criou um novo e importante eixo citadino que partia da Praça da Ribeira, seguia pela Rua de São João, Largo de São Domingos, Rua das Flores, Rua Nova das Hortas e Rua do Almada até ao Campo de Santo Ovídio (actual Praça da República).

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A fachada neoclássica do Hospital de Santo António.

A segunda metade do século XVIII foi também a época da construção de grandes edifícios representativos da arquitectura neoclássica de influência inglesa, que se prolongaria ainda pelo século XIX. São exemplos do Porto neoclássico:

  • O Palácio da Bolsa;
  • A Casa da Feitoria Inglesa;
  • O edifício da Cadeia e Tribunal da Relação;
  • O Hospital de Santo António;
  • O Quartel das Partidas Avulsas / Real Casa Pia;
  • Os edifícios do lado poente da Praça da Ribeira e os arcos abertos no "Muro da Ribeira";
  • O edifício da antiga Academia da Marinha e Comércio, mais tarde Academia Politécnica, hoje Reitoria da Universidade do Porto;
  • As Igrejas dos Terceiros de São Francisco, da Lapa, da Trindade, de N.ª S.ª da Vitória;
  • O edifício da Alfândega Nova.

Data ainda de finais de setecentos o Convento de Santo António da Cidade, dos Capuchos, um enorme edifício claustral situado defronte do actual Jardim de São Lázaro, onde desde 1842 tem funcionado a Real Biblioteca Pública da Cidade do Porto, depois Biblioteca Pública Municipal do Porto.

Entretanto, desde finais do século XVIII e ao longo do século XIX, a velha Muralha Fernandina foi sendo progressivamente demolida, uma resposta da época à crescente expansão urbana. Dela são hoje visíveis os trechos dos Guindais (o mais extenso), o do Caminho Novo e ainda vestígios como no Muro dos Bacalhoeiros e no interior do edifício da antiga Cadeia da Relação.

Apesar de todas estas transformações, o Porto de finais do século XVIII manteve-se uma cidade virada para o Douro, vivendo em função do rio, com o centro económico e social nas suas proximidades – Praça da Ribeira, Rua Nova dos Ingleses, Rua de São João e Largo de São Domingos.

As imagens da época, representando o rio coberto de navios, sugerem a importância do intenso tráfego comercial. O acentuado crescimento demográfico verificado por essa época na cidade e principalmente nos núcleos rurais fora da área amuralhada (onde surgiram as primeiras fábricas precursoras do dinamismo industrial do século seguinte) significa outra das potencialidades deste Porto de finais do século XVIII.

O Porto de oitocentos

O século XIX portuense ficou marcado, logo no início, por situações de instabilidade política como as invasões francesas, na primeira década, e as guerras liberais que culminaram com o Cerco do Porto, em 1832-1833, que provocaram destruições na cidade antiga, sobretudo na parte baixa ribeirinha e nas encostas circundantes.

Mas este século, principalmente a segunda metade, apresenta épocas de grande dinamismo que se traduziram no aumento da malha urbana e numa enorme expansão. A abertura de novas artérias extramuros, como a Rua dos Bragas ou a Rua de Álvares Cabral, proporciona novas áreas residenciais. A função habitacional concretiza-se agora nas mais diversas formas e dimensões, desde a pequena casa popular e operária às variadas casas da burguesia, mono ou polifuncionais, e às casas do brasileiro, de grande ostentação e representativas de outros gostos estéticos.

A fachada do Palácio de Cristal, construído para a exposição de 1865 e inspirado no Crystal Palace de Londres.A criação de mercados (do Anjo, em 1839; do Bolhão, em 1837), de jardins (São Lázaro, em 1834; Cordoaria, em 1866; Praça do Infante em 1885), a abertura do Cemitério de Agramonte em 1855, o aparecimento da arquitectura do ferro de que foi exemplo paradigmático o desaparecido Palácio de Cristal (1865), a instalação de sistemas de iluminação pública a gás (1855), de abastecimento de água ao domicílio (1887) e de saneamento, a criação do Liceu Central do Porto (1840), são alguns aspectos significativos da acelerada evolução portuense da segunda metade de oitocentos.

Esta intensa fase de expansão urbana surge inserida num contexto de forte crescimento demográfico, de atracção de populações do mundo rural e de transformações económicas, nomeadamente da crescente importância das actividades industriais. Observa-se uma grande difusão de fábricas, oficinas e bairros operários pela cidade fabril, sobretudo no Bonfim, em Massarelos, Cedofeita, Lordelo do Ouro e Ramalde. A presença das altas chaminés e das respectivas instalações fabris, assim como os extensos conjuntos de habitações operárias e ilhas, vêm introduzir novos elementos na paisagem urbana de algumas áreas da cidade.

A reorganização da estrutura urbana portuense no século XIX foi também muito condicionada pela revolução das infra-estruturas de circulação. Para a travessia do rio Douro, ao longo deste século, sucederam-se a Ponte das Barcas inaugurada em 1806, a Ponte Pênsil ou Ponte D. Maria II em 1843, a Ponte Maria Pia (ferroviária) em 1877 e a Ponte Luís I (rodoviária) em 1886. Ainda em 1875, na estação de Campanhã, são inauguradas as ligações ferroviárias até Nine (linha do Minho) e até Penafiel (linha do Douro). Também neste ano fica concluída a ligação ferroviária Boavista-Póvoa de Varzim.

Simultaneamente assiste-se ao desenvolvimento dos transportes urbanos: o americano, tracção animal sobre carris, estreia-se em 1872 ligando a Alfândega a Matosinhos; o carro eléctrico sobre carris circula pela primeira vez no Porto em 1895. Ainda neste ano é aberto à navegação o Porto de Leixões, que irá retirar importância ao velho porto fluvial do Douro.

As profundas mudanças da vida portuense durante o século XIX também atingem a parte mais antiga da cidade, dentro da Muralha Fernandina. O centro da vida social, política e de negócios portuense situado na área da Ribeira-São Domingos deslocou-se progressivamente para a Praça Nova e suas imediações, que adquiriram crescente importância. Nesta praça, num palácio que a delimitava do lado norte, esteve instalada a Câmara Municipal do Porto desde 1819 até 1916.

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Lado a lado, Ponte Luís I e Ponte Pênsil (colunas de sustentação).

Extraordinário aumento de escala em pouco mais de 40 anos!Em meados do século já o verdadeiro pólo da vida social, intelectual, cultural, política e administrativa assim como o centro comercial portuense estão localizados na zona da Praça Nova e áreas circundantes – a chamada "Baixa".

No núcleo antigo, na segunda metade de oitocentos, dá-se uma importante reorganização das vias de trânsito com a abertura de novas ruas que cortam e se sobrepõem à malha urbana preexistente. São exemplos a Rua de Ferreira Borges (iniciada em 1838), a Rua de Mouzinho da Silveira (1872) e a Rua Nova da Alfândega (1869-1871).

A Rua de Mouzinho da Silveira criou um novo eixo para a distribuição do tráfego e circulação das mercadorias, mais largo, rectilíneo e menos íngreme que os anteriores, ligando a Rua Nova dos Ingleses (Rua do Infante D. Henrique) ao Convento da Avé-Maria de São Bento.

Esta área antiga ficou também enriquecida com algumas monumentais construções que criaram novas centralidades. São exemplos:

  • O Palácio da Bolsa;
  • O Mercado Ferreira Borges, representativo da arquitectura do ferro;
  • A Alfândega Nova;
  • Vários edifícios de bancos e companhias de seguros.
  • Salientam-se ainda outras transformações no núcleo histórico durante o século XIX:

Perda progressiva da importância da actividade comercial, deslocada para o novo centro na Praça Nova e proximidades;
Fixação das sedes de empresas, seguros e bancos, ligados à burguesia mercantil e financeira, que procuram instalar-se junto dos novos arruamentos de melhor acessibilidade (Rua Nova da Alfândega, Rua de Ferreira Borges, Rua de Mouzinho da Silveira);
Redução da função habitacional devido à gradual transferência das famílias ricas para locais mais amplos e aprazíveis e consequente separação entre locais de trabalho e de residência;
Sobre-ocupação habitacional, acelerada pelo crescente afluxo de gentes do campo atraídas pelo despontar da industrialização. Esta ocupação tanto se deu nos velhos prédios da zona antiga, abandonados pelas famílias de posses e transformados em "colmeias", como nas numerosas ilhas. Em qualquer destas situações, verificou-se uma acelerada degradação das condições higiénicas e de salubridade.
Em suma, o Porto do século XIX industrializou-se, manteve a tradicional e próspera actividade mercantil, afirmou-se como centro polarizador de toda a região norte do país, como entreposto atlântico e mostrou-se uma cidade moderna, aberta à vida social, política e cultural, plena de vitalidade com os seus teatros, tertúlias, cafés, feiras, livrarias, exposições internacionais, os seus passeios públicos e jardins românticos.

Em 1895, com o início da abertura da estrada da Circunvalação e a inclusão das últimas três freguesias, Aldoar, Nevogilde e Ramalde, ficou definido o actual território do Porto, cidade e concelho.


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O século XX portuense

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Avenida dos Aliados, aberta em 1916.

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Palácio da Justiça, concluído em 1961.

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Ponte da Arrábida, aberta ao tráfego automóvel 1963.

A primeira metade do século XX portuense caracteriza-se por um acentuado crescimento demográfico acompanhado pelo alastrar de uma urbanização generalizada que progressivamente se foi subordinando às novas exigências do trânsito motorizado e às crescentes preocupações com o planeamento urbanístico concretizadas em numerosas e variadas propostas de planos. Ficaram mais conhecidos o "Plano Regulador" de Antão de Almeida Garrett (1952), o "Plano Director" de Robert Auzelle (1962) e, na última década do século, o "Plano Director Municipal" de 1993.

Nas primeiras décadas do século XX a implantação industrial e o êxodo dos campos continuaram a ser factores decisivos do crescimento da cidade[6]. A conclusão da Avenida da Boavista por volta de 1915 (iniciada em meados do século XIX) -- uma longa artéria de 5 km de extensão e 40 m de largura cortada pela ampla Rotunda da Boavista -- representou uma nova direcção de expansão do crescimento da cidade para ocidente em direcção ao mar e aproximou-a do Porto de Leixões, inaugurado em 1895. Na Baixa, a abertura da Avenida dos Aliados, em 1916, implicou a demolição do edifício dos antigos Paços do Concelho e o desaparecimento do bairro do Laranjal e desencadeou a transferência da banca e das empresas seguradoras do antigo centro São Domingos-Rua do Infante para a zona da Praça Nova, que se tornou também pólo financeiro. Mais tarde, a partir de 1957, com a transferência da Câmara Municipal do Paço Episcopal, onde funcionava desde 1916, para o actual edifício, esta área passou a ser centro do poder local.

Na arquitectura do início do século XX salientam-se grandes edifícios dispersos pela Baixa, representativos da influência do estilo francês que inspirou os projectos do arquitecto Marques da Silva, formado na escola de Paris. São exemplos a Estação de São Bento, o quarteirão das Carmelitas, o Teatro de São João e várias fachadas de edifícios da Avenida dos Aliados. No pós-guerra o urbanismo sofreu a influência dos princípios decorrentes da "Carta de Atenas" publicada em 1941, cujas orientações apontavam para a divisão das cidades em espaços exclusivos para as quatro funções básicas -- habitar, trabalhar, lazer, circular -- e para uma tipologia de construção em que dominava o bloco de andares isolado com amplos espaços à volta. Esta concepção opunha-se ao conceito tradicional de cidade, onde as diferentes funções se misturavam e a rua, tal como a praça, representava o elemento básico organizador do espaço urbano.

Surgem novos e grandes equipamentos como a zona industrial de Ramalde, a Ponte da Arrábida (inaugurada em 1963), a via rápida de ligação a Leixões, o aeroporto de Pedras Rubras. Infra-estruturas de circulação mais recentes como a Via de Cintura Interna - VCI, as novas pontes de São João (ferroviária - 1991) e do Freixo (rodoviária - 1995) vêm condicionar e determinar outras áreas de expansão da cidade do Porto e dos seus subúrbios.

A partir dos anos 50 verificou-se a disseminação de bairros sociais pela periferia de feição rural, que ainda ocupava largas extensões do interior da cidade. Aparecem então bairros como os de Fernão de Magalhães, Pasteleira, Ramalde, Francos, e muitos outros surgirão depois. Estes novos tipos de urbanizações vêm instalar-se predominantemente nas freguesias até então de dominante rural como Campanhã, Paranhos, Lordelo do Ouro, Aldoar e Ramalde.

Na segunda metade do século XX a proliferação generalizada dos blocos de cimento armado alterou profundamente o perfil da cidade tradicional, até então dominada pela proeminência das torres sineiras e das construções de granito. Sobretudo após os anos 60/70 as implantações dominantes são prédios em altura, muitas vezes numa escala desproporcionada em relação à envolvente. Também depois dos anos 70 a acelerada evolução do sector terciário contribuiu para o aparecimento de novos centros como o da Rotunda da Boavista que atraiu sedes de empresas e bancos.

Nas últimas décadas do século XX acentuou-se na cidade do Porto, e nomeadamente no seu centro antigo, a perda de população, sobretudo da população jovem. As novas urbanizações invadiram os arrabaldes da cidade onde se formaram subúrbios que se estendem muito para além dos limites administrativos desta. A mancha urbana tornou-se polinucleada e a vaga de expansão, cada vez mais tentacular e periférica, deu origem a um crescimento anárquico que os planos não têm tido capacidade de disciplinar.

Condicionada aos limites do rio Douro, do oceano Atlântico e da estrada da Circunvalação, a cidade do Porto -- cujo território, de uns meros 42 km2, coincide exactamente com o do respectivo concelho --, passou a posicionar-se como cabeça de uma extensa e dinâmica Grande Área Metropolitana do Porto, com cerca de 1.760.000 habitantes, polarizadora de toda a Região Norte do país e com potencialidades de atracção e irradiação por todo o Noroeste Peninsular.

Os primeiros anos do novo milénio

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Metro do Porto

Os primeiros anos do novo século foram pródigos em grandes investimentos em obras públicas, nem sempre geridos da melhor forma e, quase sempre, envoltos em controvérsia.

Logo em 2001, o Porto, em conjunto com Roterdão, foi Capital Europeia da Cultura (Porto 2001). O programa cultural gizado pela sociedade criada para gerir o evento, foi acompanhado por um forte investimento na recuperação do espaço público -- Jardim da Cordoaria, Praça da Batalha, Praça de D. João I -- e em novas construções -- Edifício Transparente e Casa da Música. Algumas das intervenções não foram concluídas, muitas sofreram grandes atrasos na sua execução e derrapagens orçamentais, e quase todas foram controversas.

Investimento estrutural para o Grande Porto foi o Metro do Porto, aberto em 2002 e que foi sendo alargado nos anos subsequentes. Contou com a adesão imediata dos portuenses que o viram como uma infra-estrutura da máxima importância, que só pecava por tardia. Igualmente válida parece ter sido a modernização e o alargamento do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, bem como a construção de uma miríade de vias rápidas e auto-estradas -- nomeadamente a Via de Cintura Interna, só inteiramente concluída em 2007 -- que foram desencravando o trânsito do Grande Porto, incentivando o uso do transporte individual, facilitando a fixação das pessoas mais longe do seu local de trabalho e o acesso fácil aos shoppings que foram proliferando.

Integrado na organização do Campeonato Europeu de Futebol de 2004, em Portugal, a cidade recebeu vários encontros, nomeadamente o jogo inaugural. Para este evento foram efectuados grandes investimentos, nomeadamente a completa remodelação e ampliação do Estádio do Bessa e a construção do novo e sofisticado Estádio do Dragão, projecto da autoria de Manuel Salgado, que veio substituir o já ultrapassado Estádio das Antas. Nova celeuma em torno da pertinência destes investimentos e da alegada promiscuidade entre o poder autárquico e o mundo do futebol.

A tendência de desertificação da Baixa, que já se fazia sentir nas últimas duas décadas do século XX, acentuou-se [7]. À diminuição da população, seguiu-se o encerramento dos estabelecimentos comerciais e a decadência do edificado no centro da cidade. Em fins de 2004 foi criada a Porto Vivo - Sociedade de Reabilitação Urbana, com a espinhosa missão de inverter esta situação.

Para além de perder gente para os concelhos periféricos, o Porto tem perdido também grande parte do protagonismo político e económico que tinha amealhado ao longo da sua história, em favor de Lisboa. Vê escaparem-se-lhe bancos, empresas e cérebros, vive crises de identidade e questiona-se sobre o seu lugar no país e na Europa...


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História da cidade de Lisboa

História de Lisboa
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Arco da Rua Augusta, no Terreiro do Paço, também conhecido por Praça do Comércio, a Praça Maior de Lisboa que se abre para o Tejo.

Lisboa é uma das mais antigas cidades da Europa, tendo sido fundada há mais de três milénios. É juntamente com Setúbal, Alcácer do Sal e algumas cidades do Algarve a mais antiga de Portugal e também a segunda mais velha capital da União Europeia, após Atenas, mais antiga por quatro séculos que Roma.
A sua história circula à volta da sua posição estratégica na foz do maior rio da Península Ibérica, o Tejo; do seu porto natural ser o melhor para o reabastecimento dos barcos que fazem o comércio entre o Mar do Norte e o Mediterrâneo; além da sua proximidade no extremo Sul e Ocidente da Europa, com os novos continentes da África Subsahariana e da América.


Pré-história

Existem vestígios de ocupação humana na área que hoje é Lisboa de há muitos milhares de anos, atraídos pela proximidade do rio Tejo. Os primeiros habitantes humanos da região teriam sido os Neandertais, extintos há cerca de 30.000 anos pela chegada à Península do Homem moderno. Durante o período Neolítico, os povos Iberos da região construíram os megalitos de função religiosa, tal como os restantes povos da Europa Atlântica: dólmenes, menires e cromeleques terão sido comuns, e alguns ainda sobrevivem hoje na zona.

Alis Ubbo: A fundação fenícia
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Situação de Lisboa na margem norte do Mar da Palha, à direita. O Atlântico fica para a esquerda

Diz a lenda popular e romântica que a cidade de Lisboa foi fundada pelo herói mítico Ulisses. Recentemente foram feitas descobertas arqueológicas perto do Castelo de São Jorge e da Sé de Lisboa que comprovam que a cidade terá sido fundada pelos Fenícios cerca de 1200 a.C.. Nessa época os fenicios viajavam até às Ilhas Scilly e à Cornualha, na Grã-Bretanha, para comprar estanho aos nativos.

O Mar da Palha ou estuário do Tejo é o melhor porto natural do percurso e o rio uma importante via para as trocas de alimentos e metais com as tribos do interior, tendo sido, talvez precisamente por isso, fundada a colónia chamada Alis Ubbo, que na língua fenícia significa "porto seguro" ou "enseada amena" (sendo provavelmente afilhada da grande cidade de Tiro, actualmente no Líbano). A colónia estendia-se desde a colina onde hoje se situam o Castelo e a Sé, até ao rio, que chamavam Daghi ou Taghi (que significa "boa pescaria" em fenício).[carece de fontes?]

Com o desenvolvimento de Cartago, também ela uma colónia fenícia, o controlo de Alis Ubbo passou para essa cidade. Durante séculos, fenícios e cartagineses terão desenvolvido a cidade a partir do que foi um simples entreposto comercial para o comércio nos mares do Norte, para um importante mercado onde eram trocados os seus produtos manufacturados pelos metais, peixe salgado e sal da região e das tribos contactadas pela via fluvial do Tejo. Os cavalos, antepassados dos actuais cavalos lusitanos, já eram então famosos no Mediterrâneo pela sua velocidade, tendo Plínio afirmado que as éguas do Tejo deveriam ser fecundadas pelo vento.

Os primeiros Judeus chegaram sem dúvida com os Fenícios, seus vizinhos. O Hebreu é praticamente idêntico ao Fenício e era raro o barco fenício que não levava mercadores ou sócios da Judeia.[carece de fontes?]
Com a chegada dos Celtas, estes misturaram-se com os Iberos locais, dando origem às tribos de língua Celta da região, os Conni e os Cempsi.[carece de fontes?]

Os antigos Gregos tiveram provavelmente na foz do Tejo um posto de comércio durante algum tempo, mas os seus conflitos com os Cartagineses por todo o Mediterrâneo levaram sem dúvida ao seu abandono devido ao maior poderio de Cartago na região nessa época.

Os deuses Aracus, Carneus, Bandiarbariaicus e Coniumbricenses eram venerados em "Lisboa" na época pré-romana, pelos Túrdulos da região.[1] [2]


Olissipo: Lisboa romana

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Olissipo situava-se na província romana da Lusitânia.

Olissipo aliou-se aos Romanos quando estes, liderados por Decimus Junius Brutus, procuraram conquistar os Lusitanos e outros povos do Noroeste Peninsular. Os habitantes da cidade lutaram ao lado das Legiões contra estas tribos célticas. Em troca foi-lhes reconhecido o título de cidadãos romanos e à cidade ampla autonomia como Município Romano. Foi incluída na província da Lusitânia, encabeçada por Emerita Augusta.

A cidade situava-se entre a colina do Castelo e a Baixa, mas as zonas mais ribeirinhas estavam nesse tempo ainda submersas pelo Tejo. Olissipo no tempo romano foi uma importante praça comercial, estabelecendo a ligação entre as províncias do Norte e o Mediterrâneo. Os seus principais produtos eram o garum, um molho de peixe de luxo; o sal e os famosos cavalos lusitanos.
A cidade foi um dos principais centros da introdução e desenvolvimento do Cristianismo na Península Ibérica. O primeiro Bispo foi São Gens de Lisboa.


As Invasões e os Germanos

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Reino dos Visigodos antes da Conquista do Reino dos Suevos

A degeneração do Império, e a feudalização da sociedade romana levaram às primeiras invasões dos povos Germanos, Hunos e outros. Inicialmente aceites como colonos nas terras desertificadas pelas epidemias terríveis que mataram grande parte da população da época (provavelmente de Sarampo e Varíola), transformaram-se depressa em expedições militares com objectivos de saque e conquista.

No início do século V os Vândalos (que depois se retiram para o Norte de África) tomam Olissipo, seguidos dos Alanos. Em 419 Olissipo foi saqueada e queimada pelos Godos do Rei tribal Walia, Remismundo conquistou Lisboa em 468 com a ajuda de um hispano-romano de Lisboa chamado Lusidius, e finalmente em 469 é integrada no Reino Suevo cuja capital era Braga. Após a invasão dos Visigodos, estes estabelecem-se em Toledo e após várias guerras durante o século VI, conquistam os Suevos, unificando a Península Ibérica, incluindo a cidade que chamavam Ulishbona.

Durante esta época conturbada, Lisboa perde as ligações políticas com Constantinopla, mas não as comerciais. Mercadores Gregos, Sírios, Judeus e outros, vindos do Oriente, formam comunidades que trocam os produtos locais com os do Império Bizantino, Ásia e Índia.


(cont.)

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Pois é assim a nossa linda cidade de Lisboa das sete colinas.
 

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(cont.) História da cidade de Lisboa

Al-Ushbuna: Lisboa muçulmana

Após três séculos de saques, pilhagens e perda de dinâmica comercial, Ulishbuna seria pouco mais que uma vila no início do século VII. É nesta altura que, aproveitando uma guerra civil do Reino Hispânico Visigótico, que os árabes liderados por Tariq invadem a Peninsula Ibérica com as suas tropas mouriscas, em 711. Olishbuna foi conquistada pelas tropas de Abdelaziz ibn Musa, um dos filhos de Tariq, assim como o resto do Ocidente.


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Hispania Muçulmana


Mais uma vez Lisboa, conhecida pelos árabes como al-Ushbuna, torna-se um grande centro administrativo e comercial para as terras junto ao Tejo, recolhendo os seus produtos e trocando-os por produtos do Mediterrâneo Árabe, particularmente Marrocos, Tunísia, Egipto, Síria e Iraque. Segundo as estimativas actuais a cidade teria no seu apogeu, no século X, mais de 100.000 habitantes, e com Constantinopla, Salónica, Córdova e Sevilha, seria uma das maiores cidades da Europa, muitas vezes maior que Paris e Londres, que em plena Idade Média teriam apenas 5-10.000 habitantes.

A maioria dos habitantes converte-se à língua árabe e religião muçulmana da minoria invasora que se instala como elite. A população cristã , Moçárabe, com o seu próprio Bispo segue o rito moçarabe de tradições visigóticas, falantes do árabe ou de uma variedade de Latim vulgar,o moçárabe, romance semelhante ao falado na Galiza e províncias do Norte, é tolerada na qualidade de de dhimmi em troca de imposto, o jizyah. Esta comunidade moçárabe que seguía ritos e costumes cristãos visigóticos é muitas vezes rejeitada quando entra em contacto com os católicos. Foram os moçárabes que levaram para Lisboa os restos de São Vicente, que se tornaria o padroeiro da cidade.

A comunidade Judaica, já existente desde a fundação da cidade pelos Fenícios, é grandemente reforçada pelos Judeus que aí se estabelecem como mercadores e financeiros, aproveitando a elevação da cidade a núcleo comercial proeminente. Além do sal, peixe e cavalos, negociavam-se as especiarias vindas do Levante, as plantas medicinais, os frutos secos, mel e peles. Os saqualiba passam a integrar a população e a ter uma posição de destaque. O eslavo Sabur al-Saqlabi torna-se, durante o que foi conhecido por regulo eslavo, governante da taifa de Badajoz, e os seus filhos Abd al-Aziz ibn Sabur e Abd al-Malik ibn Sabur governantes da taifa de Lisboa.

Al-Ushbuna é renovada e reconstruída de acordo com os padrões do Médio Oriente: uma grande mesquita, um castelo no topo do monte (que de forma modificada se transformou no Castelo de São Jorge), um palácio para o Governador ou (alcáçova), uma almedina ou centro urbano e um alcácer. O bairro de Alfama cresce ao lado do núcleo urbano original. A cidadela de al-Madan, a actual Almada é fundada na margem Sul do rio para proteger a cidade.

Os Árabes e Berberes introduzem nos arredores da cidade a sua agricultura irrigada, que é muito mais produtiva que os métodos de sequeiro anteriores. As águas do Tejo e seus afluentes são usadas para irrigar a terra no Verão, produzindo várias colheitas por ano e vegetais como alfaces e frutos como as laranjas.

Politicamente, de início, a cidade faz parte do Califado Omíada de Damasco, Síria. Consta das crónicas uma grande rebelião dos Berberes ou "Mouros" frente à elite dos Árabes da Arábia em 740, que precisou de reforços do Califado para ser suprimida. A cidade está depois sujeita ao Califado de Córdova, no qual os sobreviventes Omíadas ganham a independência do novo Califado Egípcio dos Abássidas.

Com o início da Reconquista, a opulenta al-Ushbuna é um alvo dos raides cristãos, que saqueiam a cidade primeiramente em 796 e por outras ocasiões nos anos seguintes, liderados pelo Rei Afonso II das Astúrias, mas a fronteira permanece a norte do Douro. Em 844 várias dezenas de barcos dos Vikings surgem no Mar da Palha, e os Escandinavos estabelecem o cerco, conquistam a cidade e os campos à volta, onde ficam durante 13 dias [3] . Mas os Vikings acabariam por partir face à resistência continuada dos habitantes da cidade liderados por Alah ibn Hazme.

No início do Século X surgem em al-Ushbuna várias seitas islâmicas de conversos da população hispânica. Estas seitas são formas de organização política com que os autóctones se revoltam contra os obstáculos postos na sua ascensão social por um sistema hierárquico em que primeiro vinha a pequena elite de descendentes do profeta Maomé, depois os Árabes de sangue puro, a seguir Berberes ou Mouros e só depois os Latinos arabizados e muçulmanos. Vários líderes Latinos surgem, como Ali ibn Ashra e outros, que se declaram Profetas ou descendentes de Ali (xiitas) que com aliados em outras cidades iniciam guerras civis com as tropas árabes sunitas. Os moçárabes eram tratados ainda de forma pior, assim como os Judeus, sofrendo por vezes perseguições que, apesar de lamentáveis aos olhos modernos, eram uma pálida imagem do que fariam os católicos contra não só muçulmanos e judeus, mas mesmo contra os próprios cristãos não católicos das terras reconquistadas.

Novo ataque Viking seguir-se-ia sem sucesso em 966. O Rei Ordonho I das Astúrias pilharia a cidade novamente em meados do século IX, assim como Afonso VI de Leão em 1093, que a reteve no seu Reino de Leão por dois anos, após conquistar a cidade de al-Santaryn ou Santarém.

Com a fragmentação do Califado de Córdova por volta do ano 1000 com as lutas intestinas, os notáveis de al-Ushbuna oscilam entre a obediência à Taifa de Badajoz ou à de Sevilha, conseguindo manobrar de forma a obter uma autonomia considerável. No entanto em 1111 um novo Califado pan-hispânico é estabelecido pela invasão a partir dos desertos de Marrocos dos Almorávidas liderados por Ali ibn Yusuf, cujas tropas são travadas apenas na região de Tomar por Gualdim Pais. Este dura pouco tempo até que regressam os tempos da divisão das Taifas e da autonomia e prosperidade de al-Ushbuna.


Cruzadas: Portugal conquista Lisboa


Enquanto se fragmentavam as Taifas islâmicas do Sul, no Norte sucedia o Condado Portucalense do Reino de Leão, já em plena Reconquista da Península Ibérica. Apesar de baseado em Guimarães, a força económica que permitia a autonomia do Condado Portucalense estava na cidade do Porto (Portucale ou porto da cidade de Cale, a actual Gaia). É interessante pensar como foi o novo Reino, centrado no dinamismo comercial da jovem cidade de mercadores do Porto, que usufruía de uma posição e importância semelhantes na foz do segundo maior rio da Península Ibérica, o rio Douro, como Lisboa no rio Tejo, que acabaria por conquistar essa venerável cidade.


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Afonso Henriques

Famosa e opulenta, a cidade daria reino bastante prestígio. A primeira tentativa de Afonso de conquistar al-Ushbuna deu-se em 1137 e fracassou frente às muralhas da cidade. Em 1140 aproveita os cruzados que passavam por Portugal para novo ataque que novamente falha.
Só em Junho e Julho de 1147, com a ajuda de uma força mais numerosa de cruzados, cerca de 164 barcos cheios de homens, consegue ser bem sucedido. Enquanto as suas forças portuguesas atacavam pela terra, os cruzados na sua maioria ingleses e normandos, aliciados pelas promessas de pilhagem livre, montaram as suas máquinas de cerco, como catapultas e torres, e atacavam simultaneamente pelo mar e impediam a chegada de reforços vindos do sul. Nos primeiros encontros os muçulmanos vencem os cristãos matando muitos, e a moral dos cruzados fica afectada, ocorrendo vários conflitos sangrentos entre os vários grupos de cristãos.


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Cruzados com Máquinas de Guerra


Conta a lenda que, após muitas tentativas, uma das portas é arrombada e o português Martim Moniz consegue mantê-la aberta com o próprio corpo permitindo que os seus companheiros entrassem, ainda que morrendo esmagado por ela. Mais provavelmente com a ajuda das máquinas de sítio, as muralhas são ultrapassadas, em 23 de Outubro de 1147. Segundo Osbernus[4], depois de entrarem na cidade, os colonienses e os flamengos não respeitam o juramento nem palavra dada ao rei de Portugal e saqueiam a cidade, actuam sem respeito contra as donzelas e cortam o pescoço ao bispo da cidade. Depois da conquista da cidade, uma epidemia de peste dizima milhares de vidas entre os moçarabes e muçulmanos [5].

Dom Afonso Henriques toma posse oficialmente da cidade no dia 1 de Novembro, quando numa cerimónia religiosa, manda transformar a grande mesquita de sete cúpulas, a Aljama, em Sé Catedral. O Bispo é Gilbert de Hastings, um cruzado inglês, e a muitos dos cruzados mais proeminentes são doadas terras da região e títulos. Santo António nasce em 1195 na cidade com o nome de Fernando de Bulhões.


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A Sé Românica de Lisboa

O Rei daria o Foral em 1179, e tentaria recuperar as ligações comerciais da cidade inaugurando uma grande nova feira ou mercado. O resultado destes esforços é que os mercadores Portugueses Cristãos ou Judeus não só retomam algumas ligações comerciais da antiga al-Ushbuna, como na Andaluzia (Sevilha e Cádiz), e no Mediterrâneo, até Constantinopla, como abrem-se novas vias para os portos da Europa do Norte, que os muçulmanos raramente visitavam devido às diferenças ideológicas. De facto a primeira vocação da Lisboa Medieval Cristã é a mais uma vez a mediação do comércio entre o Mar do Norte e o Mediterrâneo, mas graças aos avanços na navegação oceânica os volumes são cada vez maiores. Casas de mercadores Portugueses abrem em Sevilha, Southampton, Bruges e nas cidades da Hansa, e os Judeus Portugueses continuam a comerciar com os seus primos no Norte de África. Trocam-se as especiarias, sedas e mezinhas mediterrâneas; ouro, marfim, arroz, alúmen, amêndoas e açúcar comprados aos Árabes e Mouros; juntamente com o azeite, sal, vinho, cortiça, mel e cera Portuguesas com os têxteis de lã ou linho finos, estanho, ferro, corantes, âmbar, armas, peles e produtos artesanais do Norte. São fundados estaleiros para a construção de mais barcos comerciais e militares, cuja Armada é essencial na protecção do comércio contra os piratas sarracenos. Para responder à crescente demanda pelas populações cada vez maiores da Europa no Século XII e Século XIII, são estimuladas as inovações na construção dos barcos, que da barca forte mas tosca passam, numa síntese de saber cristão, viking e árabe, para a caravela (primeira referência em 1226), o primeiro verdadeiro navio atlântico. Às profissões ligadas à navegação, como carpinteiros e marinheiros, são dados privilégios e protecção, incluindo a criação em Lisboa de um Juiz próprio, o Alcaide do Mar (1242).

Um efeito indirecto de todo este dinamismo de Lisboa é a ruína dos comerciantes germânicos, que faziam o mesmo comércio por ter (uma rota mais dispendiosa mas a única possível quando os navios muçulmanos e os seus piratas controlavam o sul de Espanha e o estreito de Gibraltar) entre os Países Baixos e a Hansa e a Itália e os seus portos. O Sacro Império Romano-Germânico perde influência sobre os seus reinos, ducados e cidades-estado constituintes, e os mercadores alemães, até aí senhores do comércio Europeu, são forçados a procurar novos mercados a oriente.

No seguimento desta prosperidade, e com o aumento de segurança em Lisboa com a conquista definitiva dos Algarves no século XIII, em 1256 Afonso III de Portugal constata o óbvio e escolhe a maior e mais vigorosa cidade do seu Reino para Capital, movendo para aí a Corte, os Arquivos e a Tesouraria (que estavam em Coimbra). Dom Dinis, o primeiro Rei a presidir todo o seu reinado em Lisboa, cria aí a Universidade em 1290, que transfere para Coimbra em 1308 apenas devido aos conflitos crescentes dos estudantes com os lisboetas. É nesta altura que a zona onde hoje está o Terreiro do Paço é reclamada ao mar, através de drenagens do terreno já lamacento (era rio livre até ao tempo da conquista, mas sedimentou devido aos depósitos do rio).

Novas ruas são desenhadas, como a Rua Nova, e o Rossio torna-se pela primeira vez centro da cidade, roubando essa distinção à colina do Castelo. Outras construções de Dom Dinis foram uma muralha frente novo Cais da Ribeira contra os piratas, e renovações do Palácio Árabe (a Alcáçova, destruída no Terramoto de 1755) e da Sé.

Além das colónias de Portugueses nas cidades do Norte da Europa, colónias de mercadores do resto da Europa estabelecem-se em Lisboa, uma das mais importantes cidades do comércio internacional. Sem contar com os Judeus (que já existiam como Portugueses), os Genoveses são os mais numerosos, acompanhados de Venezianos e outros Italianos, além de Holandeses e Ingleses. Estes mercadores trazem para Portugal novas técnicas cartográficas e de navegação, além de técnicas bancárias, financeiras e outras conhecidas como o sistema do Mercantilismo, além de conhecimentos das origens Asiáticas dos produtos de luxo como as sedas e especiarias, que trazem do Oriente Bizantino e Islâmico.

Politicamente as tensões com Castela são contrabalançadas com uma Aliança assinada em 1308, que perdurou ininterruptamente até hoje, com o principal parceiro comercial de Lisboa (e também do Porto), a Inglaterra. A aliança forma um dos dois lados da Guerra dos cem anos, no outro lado estão além de Castela a França. No tempo de Fernando de Portugal inicia-se uma guerra com Castela, e os barcos lisboetas com canhões são recrutados assim como os Genoveses num ataque mal sucedido a Sevilha. Em resposta os castelhanos põem cerco a Lisboa, tomando-a em 1373, mas são pagos para se retirarem. É no seguimento deste desastre que são construídas as Grandes Muralhas Fernandinas de Lisboa.

Socialmente em baixo viviam todo o tipo de jornaleiros e mercadores de rua, além dos pescadores e dos agricultores das hortas de vegetais. São desta época as várias Ruas dos ofícios, nas quais se organizavam as corporações dos mesteirais, dirigidos pelos Mestres: Rua do Ouro (ourives); Rua da Prata (joalheiros de pratas); Rua dos Fanqueiros; Rua dos Sapateiros; Rua dos Retroseiros e Rua dos Correeiros. Estas corporações educavam os aprendizes e tinham sistemas de protecção social e controlo dos preços que beneficiavam os seus membros. A aristocracia, atraída pela corte, estabelecia-se construindo grandes palácios, e desempenhava funções burocráticas. Mas a mais importante classe social de Lisboa, mesmo após o ganho de funções políticas enquanto capital, era a dos mercadores, a burguesia que era a força deste núcleo comercial que era dos mais importantes da Europa. São os magnatas do comércio que controlam a cidade e o seu Concelho oligárquico. É devido às necessidades destes que se organizam na cidade os profissionais: banqueiros para coordenar os riscos; homens das Leis para proteger e manipular os seus direitos legais; especialistas e cientistas para construir os seus barcos e instrumentos de navegação. Com a sua influência, conseguem extrair da Monarquia medidas mercantilistas que os favorecem, e são o grande impulso à exploração de novos mercados. A Companhia das Naus é fundada, uma verdadeira companhia de seguros, que exige pagamento de cotas obrigatórias de todos os armadores em troca da partilha de perdas após naufrágios, organizando os mais de quinhentos grandes navios dos magnatas da cidade. Com os crescentes lucros, os mercadores mais ricos adquirem títulos de nobreza, enquanto os fidalgos mais pobres se dedicam ao comércio.

Entre as minorias, contavam-se as dos Judeus e dos Muçulmanos (não só mouros mas também árabes e latinos islamizados de língua árabe). Havia uma grande Judiaria que ocupava as freguesias de Santa Maria Madalena, São Julião e São Nicolau, na Rua Nova e dos Mercadores (onde ficava a Grande Sinagoga). Os Judeus (talvez 10% da população, ou mesmo mais) são grandes comerciantes, com ligações aos seus correligionários por toda a Europa, Norte de África e Médio Oriente, e os que não praticam o comércio constituem grande parte dos letrados, como médicos, advogados, cartógrafos e especialistas nas ciências ou artes. A sua actividade é fundamental para a vitalidade da economia da cidade. Entres Judeus Sefarditas de Lisboa contam-se grandes nomes como os Abravanel. No entanto são forçados a viver separadamente, proibidos de sair à noite, obrigados a usar distintivos nas vestes e pagam impostos extra, além de serem sempre as primeiras vítimas em situações de revolta popular.

A Mouraria era o gueto correspondente para os muçulmanos, contendo a Grande Mesquita, situada na Rua do Capelão. Contudo não eram prósperos e educados como os Judeus, já que as elites muçulmanas tinham fugido para o Norte de África, enquanto os Judeus letrados falantes de Português não tinham outra Pátria. A maioria eram trabalhadores de baixo nível de qualificações com salários baixos, e muitos eram escravos de cristãos. Também eles tinham de usar símbolos nas vestes e pagar impostos extra, e sofriam as violências das multidões. O termo saloio provém do imposto especial que pagavam os muçulmanos que cultivavam as hortas nos limites da cidade, o salaio; assim como o termo alfacinha vem do cultivo desses vegetais pelos árabes, então pouco consumidos no Norte.

No entanto a prosperidade da cidade viria a ser interrompida. Em 1290 ocorre o primeiro grande terramoto histórico, morrendo milhares de pessoas e desmoronando-se muitos edifícios. Novos terramotos registam-se em 1318, 1321, 1334, 1337 e um grande em 1344 que destrói parte da Sé e da Alcáçova, em 1346, 1356 (destrói outra porção da Sé), 1366, 1395 e 1404 possivelmente todos resultantes de reajustamentos na mesma falha. A fome surge em 1333 e em 1348 surge pela primeira vez a Peste Negra, que terá morto metade da população, com novos surtos de menor mortandade em cada década, à medida que nasciam mais pessoas susceptíveis. Estas catástrofes destruíram em Lisboa como na restante Europa a Civilização vibrante da Baixa Idade Média, com as suas catedrais e o seu espírito de Cristandade universal, mas prepararam o caminho para o surgimento da nova Civilização dos Descobrimentos e do novo espírito científico.


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(cont.) História da cidade de Lisboa

Revolução

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Na Batalha de Aljubarrota a nova elite burguesa de Lisboa derrotou a velha aristocracia feudal de Portucale e o seu aliado, Castela.

O novo capítulo da história de Lisboa nasce com a grande revolução da Crise de 1383-85. Após a morte de Fernando de Portugal, o Reino passaria para o Rei de Castela, João I de Castela. Os grandes aristocratas e clérigos do Norte, possuidores de grandes propriedades no Sul que adquiriram após a Reconquista, tinham interesses e cultura semelhantes às dos Castelhanos com ênfase nas distinções sociais baseadas na possessão da terra, no espírito de cruzada contra os Mouros no Norte de África, e nos benefícios da união de toda a Hispânia. Contudo não são esses os interesses dos mercadores de Lisboa (muitos dos quais pequenos fidalgos). Para Lisboa, a união com Castela significaria uma diluição das ligações comerciais com a Inglaterra e o Norte, e também com o Médio Oriente; além de um desvio de atenções dos privilégios aos mercadores e da construção de barcos comerciais e de guerra, para os exércitos terrestres e os privilégios aos Nobres. É por isso que os mercadores e pequenos fidalgos mercantes apoiavam inicialmente o Mestre de Avis, D. João.

A guerra de 1383 é no fundo uma guerra entre a Aristocracia conservadora católica e medieval, muito semelhante e ligada às suas congéneres Galega e Castelhana, do antigo Condado Portucalense centrado no Minho, e os mercadores ricos e pluralistas de Lisboa. Os nobres do Norte tinham fundado e conquistado o país e para eles o domínio crescente de Lisboa ameaçava a sua supremacia enquanto a aliança com os nobres Castelhanos a restabelecia. Para Lisboa, uma cidade do comércio, as práticas feudais e as guerras terrestres dos Castelhanos eram um risco para os seus negócios. São os burgueses que ganham a luta, com as suas ligações inglesas e capitais avultados: o Mestre de Avis é aclamado João I de Portugal, vencendo o cerco de Lisboa de 1384, e a Batalha de Aljubarrota sob liderança de Nun'Álvares Pereira em 1385 contra as forças de Castela e dos fidalgos do Norte. A nova aristocracia portuguesa é formada a partir dos mercadores Lisboetas, e é só a partir desta data que o centro de Portugal passa realmente do Norte para Lisboa, tornando Portugal numa espécie de cidade-estado, em que quase apenas os seus interesses determinam o rumo e a independência do país.

Os novos nobres burgueses constroem os seus palácios ou paços no bairro de Santos; outros edifícios são os da Universidade em Alfama, que regressa a Lisboa; a Igreja do Carmo; a Alfândega; e alguns dos primeiros edifícios de habitação em toda a Europa com vários andares, até cinco. A cidade é composta de ruas estreitas e tortuosas, a maioria de terra batida, em que as casas alternam com as hortas e os pomares. A cidade continua a crescer, e o largo abandono das técnicas de regadio muito produtivas dos muçulmanos significam que é necessário importar trigo de Castela, França, terras do rio Reno e até de Marrocos. Lisboa é uma cidade que cresce demasiado para o país, e este torna-se num território circundante semelhante aos de outras cidades comerciais. Lisboa, juntamente com Antuérpia no Atlântico servem a mesma função de organização do comércio que Veneza, Génova, Barcelona ou Ragusa no Mediterrâneo; ou Hamburgo, Lubeck e outras no Báltico. Em 1417 proíbe-se que se deite lixo perto do Mosteiro do Carmo e de outras áreas de Lisboa. Em 1426 outra lei proíbe lançar lixo e deixar galinhas soltas nas ruas de Lisboa sob pena de pagar multa.

A política externa segue os interesses de Lisboa: são assinados acordos comerciais e de cooperação com as cidades-estado comerciais de Veneza (acordo de 1392), Génova (1398), Pisa e Florença, cujos mercadores já habitavam na cidade, e muitos dos quais são naturalizados e se tornam nobres Portugueses. Ceuta é conquistada em 1415 para permitir aos mercadores Lisboetas um melhor controlo local (e luta contra os piratas sarracenos) do comércio Mediterrânico que passava para o Norte através das Colunas de Hércules assim como a exportação do trigo marroquino a melhores preços. Além disso, nesse tempo Ceuta recebia as caravanas do ouro e do marfim, comércio que os Lisboetas queriam dominar, e temia-se a tomada da cidade pelos Castelhanos da rival Sevilha ou dos Aragoneses de Barcelona. A Aliança com a Inglaterra, um dos seus maiores clientes, é prosseguída.


Lisboa, a Senhora dos Mares


A colaboração estreita com os Italianos, que dominavam a navegação no Mediterrâneo desde o tempo do Império Romano, trouxe frutos à cidade de Lisboa. Várias expedições se empreenderam com tripulações italianas e portuguesas, nas quais foram descobertos os arquipélagos dos Açores, Madeira e Canárias. Alguns afirmam que terão mesmo chegado ao Brasil. Estas ilhas permitem o estabelecimento de novas cidades-portos, úteis para a exploração de novos mercados.

A prosperidade de Lisboa fica ameaçada quando o Império Otomano invade e conquista os territórios Árabes do Norte de África, Egipto e Médio Oriente no século XV. Os Turcos são inicialmente hostis aos interesses de Lisboa e das suas aliadas Veneza e Génova, e o comércio das especiarias, ouro, marfim e outros bens sofre fortemente. Os mercadores de Lisboa, muitos descendentes de Muçulmanos ou Judeus com ligações ao Norte de África, reagem procurando negociar directamente com as fontes dessas mercadorias, sem usar os mediadores Muçulmanos. As ligações dos judeus portugueses aos judeus magrebinos, e a conquista de Ceuta, permitem aos mercadores de Lisboa espiar os mercadores árabes, descobrindo que o ouro, os escravos e o marfim vêm para Marrocos em caravanas pelo deserto do Saara, a partir das terras do Sudão (que nesse tempo incluía todas as pradarias a sul do Deserto, o actual Sahel); e que as especiarias como a pimenta são levadas para os portos do Mar Vermelho no Egipto a partir da Índia. A nova estratégia dos mercadores Portugueses, Cristãos e Judeus, e Luso-Italianos é navegar directamente à fonte dos materiais.


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O Infante Dom Henrique


O grande impulsionador deste objectivo é o Infante D. Henrique, que se baseia na cidade de Tomar. Sede da Ordem de Cristo (antigos Templários), e de uma grande comunidade de mercadores Judeus, a cidade está também muito ligada a Lisboa pelo comércio dos cereais e frutos secos (uma das principais exportações de Lisboa). Os capitais e conhecimentos do Oriente por parte dos Templários e Judeus foram sem dúvida fundamentais para se conseguírem os propósitos dos mercadores Lisboetas. O Infante Dom Henrique é o impulsionador de um projecto que não foi ele que imaginou, mas sim os mercadores de Lisboa. Estes que sustentavam através dos impostos e taxas alfandegárias a monarquia, tornando-a praticamente independente dos recursos dos nobres territoriais, convertem-na aos seus propósitos mercantilistas. O Infante D. Henrique é o organizador de um certo dirigismo de Estado: os grandes riscos e capitais necessários à abertura das novas rotas precisam da cooperação de todos os mercadores através do Estado (como hoje muitos projectos de grande capital são empreendidos internacionalmente). O Infante Dom Henrique organiza e dirige os esforços dos navios portugueses de atingir as fontes do ouro, marfim e escravos, que estes por si mesmos já empreendiam de forma ineficiente. Com os capitais da Ordem de Cristo, são fundadas escolas de marinheiros e concentrados recursos e conhecimentos, dos mercadores Lisboetas Judeus, Luso-Genoveses ou Luso-Venezianos, para atingir o objectivo. Várias expedições são lançadas sob a forma de contratos com alguns dos mais influentes burgueses de Lisboa, até que o Golfo da Guiné é finalmente atingido por volta de 1460.

Nesta época há nova tentativa dos nobres feudais nortenhos que permaneceram, de retomar o controlo do Reino, assustados com a crescente prosperidade dos mercadores lisboetas contra as suas perdas de rendimento. O propósito é a facilidade da conquista de Ceuta, que abre perspectivas de mais conquistas relativamente fáceis no Norte de África. Esta empresa seria favorável aos nobres, que ganhariam saque e mais terras e arrendatários em Marrocos, mas é contrária aos interesses dos mercadores-fidalgos e judeus de Lisboa, que seriam os pagadores dos impostos extra necessários às expedições e que procuram antes investir as forças e recursos do Reino na descoberta dos novos mercados africanos e asiáticos e não em aumentar ainda mais o poder da hostil e pró-castelhana nobreza Portucalense. Todas as lutas que D. João II manteve contra esses nobres, com a ajuda dos mercadores Lisboetas, exprimem esta realidade subjacente de luta entre Lisboa e o Norte, o antigo Portucale, berço da nação, pela definição do rumo do país. Após várias conspirações e incidentes, nas quais mais uma vez os nobres nortenhos pedem auxílio aos seus congéneres Castelhanos, vence mais uma vez Lisboa e os seus mercadores, e os cabecilhas são executados, entre os quais os Duques de Bragança e Viseu, mortos em 1483 e 1484. Todos os projectos de expansão terrestre em África são abandonados em troca do comércio nas novas terras descobertas mais a sul. Depois da morte do Infante D. Henrique, quando o caminho já estava aberto, inicia-se a iniciativa privada. O mercador lisboeta Fernão Gomes é o primeiro, sendo-lhe reconhecido monopólio sobre o comércio africano em 1469, em troca de descoberta de 500 quilómetros de costa para Sul a cada ano e 200.000 reais.

As ilhas da Madeira e dos Açores são populadas, e programas de cultivo de produtos comerciais para Lisboa são implantados prioritariamente: a cana-de-açúcar e o vinho. Na recém-descoberta Guiné, produtos baratos como potes de metal e tecidos são trocados por ouro, marfim e escravos a partir de feitorias controladas pelos lisboetas: os nativos deslocam a sua actividade económica para trocar com os Europeus, mas não são conquistados, já que seria dispendioso. Fazem-se casamentos dos habitantes das feitorias com as filhas dos chefes locais, facilitando as trocas: o objectivo é o lucro e não a colonização. O resultado é um novo impulso para o comércio de Lisboa. Na capital aparecem o açúcar de cana e o vinho da Madeira, o trigo de Ceuta, o almíscar, o indigo e outros corantes de roupa, algodão do Norte de África e significativas quantidades do ouro da Guiné e da Costa do Ouro, em grande falta na Europa no fim do século XV.

Além disso são traficados de forma brutal escravos Berberes das Canárias e depois Africanos. Os primeiros escravos são distribuidos pelo território Português, e aparecem os primeiros Africanos de pele escura mesmo nas terras do interior, comprados pelos senhores das propriedades. Um produto inovador foram as malaguetas.
Estes frutos picantes seriam cultivados na Índia (para onde foram levadas pelos mercadores Lisboetas) mas são originárias da Guiné. Rapidamente este bem de monopólio lisboeta ganhou favor na culinária mediterrânica.

Contudo os melhores mercados e produtos viriam de outra descoberta, a Índia e o Oriente. A guerra entre o Império Otomano e Veneza aumenta muito os preços da pimenta e outras especiarias e da seda trazidas pelos venezianos para a Itália, para Lisboa e daí para o resto da Europa a partir do Egipto (que recebia barcos árabes vindos da Índia no Mar Vermelho. Para contornar o "problema turco" é organizada a viagem de Vasco da Gama, mais uma vez por iniciativa dos mercadores Lisboetas mas com capital régio, que chega à Índia em 1498. Daí os mercadores atingem a China onde fundam a colónia comercial de Macau, as ilhas da actual Indonésia, e o Japão antes do fim do século XVI. No caminho estabelecem contractos comerciais e portos de escala com os chefes e Reis em Angola e Moçambique. Um grande Império colonial é consolidado por Afonso de Albuquerque, cuja armada segura o Oceano Índico e portos em localizações convenientes, para os mercadores vindos de Lisboa contra a competição dos turcos e árabes. Não são tomados territórios mas apenas portos e fortes de trocas com os nativos. Do outro lado do mundo, Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil em 1500.

O resultado para Lisboa são os novos produtos que trafica com a restante Europa em regime exclusivo durante muitos anos: além dos produtos africanos chega a pimenta, canela, gengibre, noz moscada, plantas medicinais, tecidos de algodão e os diamantes pela Carreira das Naus da Índia; as especiarias da Molucas, as porcelanas Ming e a seda da China, os escravos de Moçambique, o pau-brasil e o açúcar brasileiros. Além disso continua o comércio do peixe (bacalhau salgado pescado na Terra Nova), os frutos secos e o vinho. As outras cidades portuguesas, como o Porto e Lagos, contribuem para o comércio externo apenas de forma marginal, praticamente limitando-se a exportar e importar de Lisboa. Os Lisboetas controlam ainda muito do comércio de Antuérpia, da qual importam tecidos finos para o resto da Europa. Os mercadores alemães e italianos, vendo as suas rotas, terrestres no caso dos primeiros, Mediterrâneas para os segundos, largamente abandonadas, fundam grandes casas comerciais em Lisboa reexportando os produtos de todo o mundo para o Leste da Europa e para o Médio Oriente.

Lisboa é o mercado para os gostos de luxo das elites de toda a Europa: Veneza e Génova arruínam-se e a Inglaterra e Holanda vêem-se obrigadas a imitar os Portugueses para travar as perdas de divisas. Os Lisboetas controlam durante várias décadas todo o comércio desde o Japão até Ceuta. A cidade ganha fama que chega a mito, e no século XVI é sem dúvida a mais rica cidade de todo o Mundo. Para ela migram comerciantes de toda a Europa, que se misturam com as já substanciais minorias Judaicas e Muçulmanas, além dos grandes números escravos Africanos (seriam entre um décimo e um quinto da população) e até alguns Indianos, Chineses e mesmo Japoneses e Índios Brasileiros. No tempo do Rei D. Manuel I, nas ruas de Lisboa as festas são feitas com desfiles de leões, elefantes, rinocerontes, camelos e outros animais não vistos na Europa desde o tempo do Circo Romano. Um rinoceronte e um elefante chegam inclusivamente a ser oferecidos ao Papa Leão X (ver Castelo de If). Na Europa o mito de Lisboa e das suas descobertas é tão grande que quando Thomas More inventa a sua ilha da Utopia, tenta dar-lhe credibilidade dizendo que foram os Portugueses a descobri-la.


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Junto à Torre de Belém ancoravam as naus que partiam para o movimento de expansão ultramarina.


Para organizar todo o comércio privado e recolher os impostos, são criadas na capital do século XVI as grandes Casas Portuguesas de comércio: a Casa da Mina, a Casa de Arguim, a Casa dos Escravos, a Casa da Flandres (Países Baixos) e a célebre Casa da Índia. Os grandes lucros são usados na construção de outros edifícios: são deste século o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém no novo estilo Manuelino (que evoca o comércio de além-mar), o Forte de São Julião da Barra numa ilha do Tejo, o Terreiro do Paço, o novo e imponente Palácio Real (destruído em 1755) e o Arsenal militar todos construídos junto ao Mar (da Palha); e ainda o Hospital Real de Todos-os-Santos, e inúmeros palácios e solares privados. O impulso à pavimentação das ruas com formas geométricas e desenhos formados por cubos de calcário branco e basalto preto (a calçada portuguesa) foi um luxo iniciado na época, que outras cidades da Europa não podiam pagar. A cidade expandia-se atingindo quase 200.000 habitantes, sendo construído o Bairro Alto, inicialmente conhecido por Vila Nova dos Andrades em honra dos ricos burgueses galegos que aí se estabeleceram, e que rapidamente se torna o bairro mais rico da cidade. É inaugurada em 1552 a Feira da Ladra, que ainda funciona hoje no mesmo local.


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Aspecto do Bairro Alto, com um Palácio ao fundo.

Culturalmente vive no século XVI em Lisboa a geração de ouro das Ciências e Letras portuguesas: entre os cientistas o humanista Damião de Góis (amigo de Erasmo e Lutero), o matemático Pedro Nunes, o médico e botânico Garcia da Orta e Duarte Pacheco Pereira; entre os escritores Luís de Camões, Bernardim Ribeiro, Gil Vicente e outros. Isaac Abravanel, um dos maiores filósofos hebreus, é nomeado Tesoureiro do Rei.

Socialmente todas as classes beneficiam. Os fidalgos urbanos da administração Real e os burgueses são os mais beneficiados, mas mesmo o povo vive com luxos inatingíveis para os ingleses, franceses ou alemães seus contemporâneos. Os trabalhos pesados necessários são feitos pelos escravos africanos e pelos galegos. Os primeiros são vendidos na Praça do Pelourinho, sendo separadas as famílias, e trabalham todo o dia sem salário, alguns sujeitos a tratamento brutal. Aos segundos certamente compensava a viagem face às condições miseráveis da Espanha rural, e a língua praticamente idêntica facilitava a integração.

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O Mosteiro dos Jerónimos, terminado em 1572.

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Os Judeus incluem como sempre alguns pobres e outros que se contam entre os mais educados e ricos comerciantes, financeiros e letrados da cidade. O primeiro livro impresso em Lisboa foi o Comentários sobre o Pentateuco de Moisés ben Nahman, um livro em hebraico, publicado por Eliezer Toledano em 1489. Em 1496 os espanhóis expulsam os Judeus do seu território, animados pelo espírito fundamentalista de uma Monarquia exclusivamente cristã. Muitos vêm para Lisboa, tendo provavelmente a sua população duplicado (seriam depois da expulsão um quinto dos Lisboetas, ou mesmo mais). Em troca de um casamento real, os Reis Católicos de Castela e Aragão pedem a Manuel I de Portugal que faça o mesmo. Reconhecendo a importância central dos Judeus na prosperidade da cidade, Dom Manuel decreta antes que todos os Judeus são Cristãos e não os deixa sair do País.

Durante muitos anos estes cristãos-novos praticam o Judaísmo em segredo ou abertamente e apesar de motins e violências contra eles (como muitas crianças que são arrancadas dos pais e dadas a famílias cristãs que as tratam como escravos) são tolerados até à implantação da Inquisição em Portugal, muitos anos depois. O resultado é a ascensão social dos cristãos-novos. Temporariamente sem as limitações dos Judeus, progridem até aos mais elevados cargos da corte. Novamente são as antigas elites descendentes da antiga aristocracia das Astúrias e da Galiza (os nobres de Portucale) que criam problemas à ascensão social dos Judeus, frequentemente melhor educados e mais hábeis que eles. O maldizer dos Cristãos-Velhos culmina em massacres dos Cristãos-Novos em 1506 incitados pelos Priores menores das Igrejas. Vários milhares terão sido assassinados antes de serem impedidos pelas tropas do Rei. Como resultado dos conflitos, o Rei é persuadido pelos nobres territoriais a introduzir a Inquisição (em 1531) e as limitações legais a todos os descendentes de cristãos-novos (semelhantes às antigas contra os Judeus), que os impedem de ameaçar os cargos superiores do Estado à Aristocracia dos cristãos-velhos. O primeiro auto-de-fé (morte de heréticos na fogueira) é realizado no Terreiro do Paço em 1540. Além da Inquisição surgem outros problemas. Em 1569 há a grande Peste de Lisboa, em que terá morrido um terço da população.

A inquisição mata na fogueira muitos Cristãos-novos, mas expropria a propriedade e as riquezas de muitos outros. Muitos mercadores cristãos-velhos são expropriados também após uma denúncia anónima falsa, que os inquisidores aceitam como válida já que as riquezas dos condenados para eles revertem. Por outro lado poucos mercadores não teriam ascendência cristão-nova, devido aos casamentos comuns entre filhos de burgueses que eram sócios em empresas importantes. A Inquisição torna-se assim um instrumento de controlo social na posse dos antigos cristãos-velhos contra quase todos os mercadores Lisboetas, restituindo-lhes finalmente a supremacia há muito perdida.


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Auto-de-fé, Quadro de Pedro Berruguete

É neste clima de intolerância e perseguição, em que os lucros obtidos pelos ricos e o génio dos mercadores bem sucedidos são desfeitos pela inveja dos grandes proprietários de terras (que rendem muito menos), que a prosperidade de Lisboa é destruída. O antigo clima liberal propício ao comércio desaparece e é substituido por um fanatismo católico e conservadorismo absolutos. Às elites do país exige-se o sangue puro antigo e cristão-velho, ou seja, do Norte. Muitos dos mercadores fogem para a Inglaterra ou Países Baixos onde se estabelecem difundindo os conhecimentos navais e cartográficos dos Portugueses. Lisboa é tomada pelas mentalidades feudais dos grandes nobres, e os mercadores Portugueses, sem condições de estabilidade, segurança, apoio e crédito devido às perseguições da Inquisição, são incapazes de competir com os mercadores Ingleses e Holandeses (muitos deles de origem Portuguesa) que lhes roubam os mercados da Índia, Índias Orientais e China.

Em sua substituição as elites de Portucale convencem o débil Rei, D. Sebastião a virar-se para a conquista de um Império territorial, com mais terras e rendimentos para os Nobres, no Norte de África, que lhes permitiria manter a supremacia económica frente aos mercadores. Após o desastre militar de Alcácer-Quibir em 1578, os Aristocratas recolhem-se mais uma vez aos braços dos seus congéneres Castelhanos de mentalidade semelhante. Desta vez bem sucedidos, em 1580 o Castelhano Filipe II de Espanha é declarado Rei Dom Filipe I de Portugal, depois de derrotar o candidato dos enfraquecidos mercadores, o Prior do Crato, Dom António (o qual era cristão novo e mais liberal, filho de mãe Judia). Filipe I completa assim a ambição do seu pai o Habsburgo Rei Carlos I de Espanha também Imperador Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico (Alemanha), e Senhor da maior parte da Itália e Holanda que afirmara famosamente Se fosse Rei de Lisboa, seria em breve Rei do Mundo.

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O Rei Habsburgo Filipe I de Portugal, II de Espanha

Domínio Filipino

Filipe I de Portugal, o primeiro dos Habsburgos portugueses, é assim o primeiro rei da Hispânia. Apesar de desde 1492 os Reis Católicos Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão terem dominado o que hoje é a Espanha, o título de Rei das Espanhas foi inicialmente usado para Filipe II quando conquistou Portugal e portanto, de facto, todas as Espanhas.

Filipe I tenta inicialmente conciliar os interesses da nobreza na aquisição de mais territórios na Europa, do Clero em derrotar os Protestantes e da burguesia em eliminar a concorrência e pirataria dos Ingleses e Holandeses. Todos os barcos capazes de acção militar de Lisboa, Sevilha e Barcelona são reunidos numa Invencível Armada que é enviada contra a Inglaterra. Devido a uma grande tempestade e à perícia dos Almirantes Ingleses, a armada é destruída. Esta derrota converte finalmente o Rei aos interesses da Nobreza territorial. Grandes exércitos (os Terços) de mercenários, pagos pelos mercadores e comandados pelos grandes Aristocratas de sangre puro Cristão-Velho, como o Duque de Alba, são formados e atravessam a Europa para tomar as cidades e terrenos férteis dos Países Baixos Calvinistas para o benefício dessa mesma Nobreza.

Enquanto isso os holandeses e ingleses dominam os mares, e incapazes de conquistar os impérios territoriais espanhóis do México e Peru, concentram-se em tomar as feitorias, portos e colónias costeiras dos portugueses, que traficam com Lisboa. São tomados os portos nordestinos do Brasil, Luanda em Angola, portos da África Oriental, o Cabo da Boa Esperança, Ceilão, Malaca e as Ilhas Molucas, a ilha de Formosa, a licença de comércio no Japão e outros portos.


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A Armada Invencível, Quadro de Philippe-Jacques de Loutherbourg, 1796

Lisboa, com os seus mercadores já sob perseguição da Inquisição (que expropriava os cripto-judeus e mesmo os cristãos genuínos), perdera grande parte da sua frota no desastre da Invencível Armada e que pagava impostos altíssimos para sustentar os exércitos dos nobres espanhóis na Europa, perde agora a maioria dos seus portos e produtos e é finalmente e irreversivelmente arruinada, rapidamente perdendo importância.

Em 1598 a catástrofe é aprofundada por um terramoto e pela peste. Finalmente Filipe II de Portugal torna-se exclusivamente Filipe III de Espanha e depois o seu filho apenas Filipe IV de Espanha quando, sob conselho da Nobreza Castelhana e com a aquiescência dos Nobres territoriais Portugueses, absorve o Reino de Portugal no Reino de Espanha. Lisboa, a grande cidade cosmopolita é agora uma cidade de província sem qualquer influência junto dos grandes espanhóis de sangue puro, que governam da então conservadora e fundamentalista católica Madrid. Nesta época a cidade perde actividade económica e habitantes, diminuindo a população até menos de 150.000.

As construções deste período cabem em duas categorias: as defesas contra os piratas do norte, e os edifícios religiosos que apelam para a lealdade à monarquia universal católica pretendida pelo Rei. Foram construídos o Torreão um maciço edifício junto ao Terreiro do Paço, que não sobreviveu ao terramoto de 1755; o Convento de São Vicente de Fora; novas muralhas com novas disposições de acordo com a engenharia militar da época, como a Torre do Bugio numa ilha no meio do Mar da Prata; e fortificações em Cascais, Setúbal e na margem Sul. Os piratas ingleses e holandeses, como Francis Drake, fazem diversos ataques a algumas praças Portuguesas, mas não se atrevem a atacar Lisboa.

Com o declínio económico e o desemprego, aumenta muito a miséria e a criminalidade. As autoridades Espanholas são obrigadas a introduzir uma espécie de corpo policial, os quadrilheiros que patrulham as ruas da cidade e controlam o crime de rua, as lutas, a bruxaria e o jogo. Segundo algumas crónicas do tempo, a taxa de assassinatos no início do século XVII seria mesmo superior, numa cidade de 150.000 pessoas, à de hoje em Lisboa com 2.500.000.

Os problemas para o comércio na cidade aumentam quando os Catalães, um povo mercador como o de Lisboa, também oprimidos pelas taxas castelhanas, se revoltam em 1636. É a Portugal que Madrid vem exigir os homens e os fundos para derrotar os catalães, numa tentativa de usar os de Portugal contra os da Catalunha.

É então que os mercadores da cidade se aliam à pequena e média nobreza. Tentam convencer o Duque de Bragança, Dom João, a aceitar o trono, mas este, como o resto alta Nobreza, é beneficiado por Madrid e só o prospecto de se tornar Rei o convence finalmente. Os conspiradores assaltam o Palácio do Governador, aclamando o novo Rei D. João IV, com o apoio inicialmente do Cardeal Richelieu de França, e depois a velha aliança retomada com a Inglaterra.



O Ouro do Brasil


A Lisboa pós-Restauração é uma cidade cada vez mais dominada pelas ordens religiosas Católicas. Mais de 40 conventos são fundados na cidade em adição aos 30 já existentes, e os religiosos ociosos cuja sustentação é assegurada pelas esmolas e expropriações contam-se aos muitos milhares, constituindo mais de 5% da população da cidade. O clima político é cada vez mais conservador e autoritário e a Inquisição, depois de destruída a classe mercadora, concentra-se no controlo das mentalidades, vigiando as ideias e a criatividade, que suprime em nome da pureza da Religião. Os segundos e terceiros filhos, que não recebem a herança do pai, e que antes se dedicavam ao comércio e às empresas além-mar, agora simplesmente se refugiam nas ordens religiosas e vivem à conta de outrem, a maioria das vezes de forma apenas superficialmente religiosa.

A situação de ruína económica é finalmente resolvida não pelos projectos bem sucedidos dos mais capazes empreendedores, mas pela exploração colonial pura e pelos subsídios do Estado: é descoberto Ouro no Brasil, no actual Estado de Minas Gerais. O Estado Português cobra como imposto um quinto do ouro extraído, que começa a chegar a Lisboa em 1699 e cujas receitas Reais rapidamente chegam às várias toneladas anuais (mais de 15 toneladas após 1730) representando quase todo o orçamento do Estado. A desligação do empreendimento económico e da riqueza, devido ao ouro que é extraído por uma fracção do custo, permite a manutenção do novo clima conservador autoritário na Capital. Em Portugal o Poder é de quem tem o Ouro, que não deseja reformas e pretende manter o Antigo Regime.


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O Palácio de Mafra: um edifício construído com o Ouro do Brasil, nunca teve qualquer utilidade excepto proclamar o Poder da Igreja em Portugal

Com o ouro, obras simbólicas da finalmente atingida supremacia absoluta das forças sociais conservadoras Portuguesas, o Clero Católico e a Aristocracia Territorial, são construídas no novo estilo da Contra-Reforma, o Barroco. O mais significativo é o Convento de Mafra (acabado em 1730 por mais de 50.000 trabalhadores, mas nunca usado), nos arredores da cidade; o Panteão Nacional (ou Igreja de Santa Engrácia) em Lisboa; grandiosas modificações do Palácio Real; juntamente com inúmeros Palácios Aristocráticos e algumas obras úteis mas construídas com desperdício, como o Aqueduto das Águas Livres (1720).

Contrastando com a enorme riqueza corrupta das altas elites, o povo vive na miséria. A cidade cresce com a necessidade de mão-de-obra para as construções faraónicas, para 185.000, mas após as obras não há emprego. São deste período as primeiras descrições de Lisboa como uma cidade suja, degradada e não europeia: apenas dois séculos depois de sob governo dos mercadores liberais, ter sido conhecida como a mais prospera e cosmopolita da Europa.


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Terramoto de 1755

Termina este período em 1 de Novembro 1755, dia de Todos os Santos, em que ocorre o grande terramoto de Lisboa. Ás nove horas e quarenta minutos a terra começa a tremer com uma intensidade que provavelmente não foi ultrapassada até hoje em todo o Mundo. Após cerca de um minuto, regressa a calma, seguida de novo tremor. A população acorre às praças com espaço junto ao rio Tejo, para morrerem afogadas pelo enorme Tsunami que vem do Atlântico. Depois do sismo, Lisboa está em ruínas. O grande Torreão Real, a Casa das Índias, o Convento do Carmo, o Tribunal da Inquisição, o Hospital de Todos-os-Santos são destruídos. Das 20.000 casas das classes mais baixas, de construção menos sólida, 17.000 são destruídas.

Sobrevive o rico Bairro Alto, alguns edifícios de pedra sólida e poucas outras áreas. Seguem-se as pilhagens e os grandes incêndios. No fim, dos 180.000 habitantes, mais de 10.000 terão morrido e muitos outros perderam toda a sua propriedade. É esta catástrofe que abala a confiança do Antigo Regime, e dá espaço ao Ministro, o Marquês de Pombal, de tentar por finalmente em prática em Portugal as reformas cientificas e liberais já usadas com sucesso no Norte, da novas teorias políticas e económicas do Iluminismo.


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O Marquês de Pombal

Século das Luzes

O Marquês de Pombal Sebastião José de Carvalho e Melo, Ministro da Guerra e Negócios Estrangeiros e oriundo da Baixa Nobreza, reagindo celebremente às ruínas do terramoto, terá dito que era necessário enterrar os mortos, cuidar dos vivos e construir a cidade. Uma ideia que vai desenvolver de seguida a nível da economia e sociedade. O poder da Igreja é limitado e a sua falange, os Jesuítas, é expulsa do país. O poder da aristocracia territorial conservadora é brutalmente suprimido, numa série de conspirações e contra-conspirações, que acabam com a cruel execução da família que lidera a reacção, os Távora.

Estes teriam sido responsáveis por um atentado ao Rei José I de Portugal numa tentativa de proclamar o conservador Duque de Aveiro Rei, e demitir Pombal, embora haja historiadores que defendam que esta acusação não terá passado de uma farsa manipulada pelo próprio Marquês por motivos pessoais. A Inquisição é extinta e os cristãos-novos, ainda então constituindo a maior parte das classes médias educadas e liberais da cidade e do país, são libertados das suas limitações legais e é-lhes finalmente permitido o acesso aos altos cargos governamentais, anteriormente monopólio legal da aristocracia de "sangue-puro".

A indústria é apoiada de forma algo dirigista mas vigorosa, sendo estabelecidas várias fábricas reais em Lisboa e noutras cidades, que prosperam. Após o período Pombalino há 20 novas fábricas para cada uma que existia anteriormente. Finalmente os vários impostos e direitos alfandegários dentro de Portugal, prejudiciais ao comércio, são abolidos. Em todos estes propósitos, Pombal apoiam nas doações e empréstimos dos mercadores e industriais Lisboetas.


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Estátua a D. José no Terreiro do Paço.

Em Lisboa, o Marquês, recusando os conselhos de alguns que pretendem mover a capital para outra cidade, ordena a reconstrução de acordo com as novas teorias de organização urbana, após ordenar uma avaliação da situação real através de um inédito inquérito à população. É ainda o Brasil colônia que paga quase toda a reconstrução, com mais de 20 milhões de cruzados. A cidade recebe ainda ajudas de países como a Inglaterra, a Espanha e a Hansa alemã, enchendo-se de estaleiros de construção. A maior parte da nobreza e aristocracia portuguesa refugia-se nas suas quintas nos arredores de Lisboa.

O Rei instala-se num palácio improvisado de madeira ,a Tenda Real, enquanto o novo em pedra começava a ser erigido em Belém então ainda uma região fora da cidade de Lisboa. O grande volume de obras acontece, no entanto, no centro da antiga cidade, com o desenho de um novo projecto para a Baixa, o bairro mais atingido pelo terramoto. Este é projectado por Eugénio dos Santos e Carlos Mardel e aprovado pelo Marquês, enquadrando-se no espírito iluminista e pragmático da época: as ruas estreitas são substituídas por largas ruas rectilíneas dispostas ortogonalmente. Estas permitiriam não só a devida iluminação e ventilação das ruas (arejamento), como aufeririam mais segurança (patrulhamento, acesso aos edifícios em caso de incêndio e evitar a propagação de incêndios transversalmente à rua, etc.). Os edifícios a construir também foram alvo de uma política consistente, tendo a equipa projectista definido o desenho das fachadas, as regras de construção da estrutura dos edifícios e elaborado um conjunto de outra regulamentação com vista à produção de um conjunto habitacional capaz de enfrentar melhor um eventual terramoto, assim como redesenhar a estrutura social da cidade de Lisboa, atribuindo-lhe um novo pendor comercial à cidade.

A estrutura inovadora escolhida consistia num esqueleto de madeira (a gaiola pombalina), uma malha rectangular com travamentos das suas diagonais (em cruz de Sto. André) onde se procurava que a flexibilidade da madeira se adaptasse à sobrecarga provocado pelo terramoto sem que a estrutura quebrasse. Esta estrutura em madeira assentaria num envasamento em alvenaria (que corresponderia ao primeiro piso das habitações, destinado a lojas, oficinas e armazéns) com arcos em abóbada de berço, que conferiria peso ao conjunto.

Todos os edifícios da zona da Baixa assentariam numa estacaria em pinho que permitiria dar mais resistência ao solo arenoso da Baixa e garantir a transferência eficaz do peso dos edifícios para o solo sem que este cedesse. Os novos edifícios eram de arrendamento horizontal, estando hierarquizados em importância e qualidade pela sua proximidade à rua (geralmente o último piso possui pé direito mais baixo, varandas comuns, janelas mais pequenas, divisões menores, etc. e seria destinado à famílias com menos posses). Todos os edifícios teriam paredes corta-fogos de alvenaria a separá-los uns dos outros. A estandardização das fachadas, das janelas, das portas, dos azulejos de padrões geométricos simples no hall, etc. permitiria a aceleração do processo de construção através da produção em série destes elementos fora do local da obra. Todo o conjunto possui proporções e regras de composição clássicas, com recurso à proporção áurea.

O centro estruturante da nova cidade seria a Rua Augusta que ligaria o limite Norte da cidade, o Rossio, e o limite Sul, o Terreiro do Paço, onde uma disposição monumental dos edifícios, o arco da Rua Augusta, um monumento ao rei e o Tejo a fechar a praça, contribuiriam para o desenho daquilo que se pretendia que fosse o novo coração da actividade comercial da reconstruída cidade de Lisboa. Os edifícios do Terreiro do Paço estariam destinados à instalação dos armazéns e grandes casas comerciais que se esperaria que voltassem a surgir e a animar a praça, mas após vários anos de abandono acabaram por ser ocupados por ministérios, tribunais, o Arsenal, a Alfândega e a Bolsa, já no reinado de D. Maria I.


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Rua Augusta: as novas ruas mais largas e rectilíneas, com prédios de construção em gaiola resistentes aos terramotos.

Na extremidade Norte, paralela ao Rossio, estaria projectado um novo mercado, que acaba por nunca ser construído, tendo ficado a praça, inicialmente conhecida por Praça Nova ou das Ervas, hoje denominada Praça da Figueira.

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A nova Praça da Figueira foi construída como novo mercado no período Pombalino.

Ao contrário dos desejos e esperanças do Marquês de Pombal e da sua equipa, a reconstrução da cidade demora muito mais tempo do que esperado, tendo apenas terminado a sua reconstrução em 1806. A isto, deve-se em grande parte a pouca capacidade financeira da burguesia de uma cidade em crise. Apesar de tudo, e dentro da política de renovação da economia portuguesa, começam a surgir lentamente indícios de desenvolvimento.

Moderadamente a cidade cresce até aos 250.000 habitantes em todas as direcções geográficas, ocupando os novos bairros da Estrela, Rato, então o novo centro industrial da cidade polarizado em torno da recente fonte de abastecimento da água trazida pelo aqueduto (novas fábricas de cerâmica), Alcântara, Ajuda, Sapadores, e as Amoreiras (onde estavam as novas fábricas da Seda, cujos vermes são alimentados das folhas dessa árvore).

O Primeiro-Ministro tenta de todo o modo estimular as classes médias, que via como essenciais ao desenvolvimento do país e ao progresso. São formados os primeiros cafés propriedade de Luso-Italianos: alguns sobrevivem hoje desse tempo, como o Martinho da Arcada no Terreiro do Paço; o Nicola no Rossio, cujo dono Liberal iluminava a fachada após cada vitória política progressista; entre outros. Surge o hábito das soirées sociais entre os burgueses mais ricos, com a participação inédita de mulheres, em que a Nobreza conservadora não participa. É deste modo que surge novamente em Lisboa a classe média burguesa auto consciente, composta de cristãos-novos e cristãos-velhos provenientes do Povo, a origem dos movimentos políticos pelo Liberalismo e pela República, que se manifestam nos novos Jornais da capital.

Pombal viria a ser demitido após a morte de Dom José, e a ascensão ao trono da muito religiosa Dona Maria I de Portugal, cuja grande contribuição foi a Basílica da Estrela. Aconselhada pelo Clero e pelos Nobres conservadores, além de demitir o primeiro-ministro procurou limitar e até reverter algumas das suas reformas progressistas, num movimento denominado a Viradeira.

Segue-se a deterioração das condições económicas que muito tinham melhorado no tempo Pombalino, e os problemas orçamentais. Para lidar com a miséria e criminalidade novamente crescentes, é criada a Polícia sob liderança de Diogo Pina Manique em 1780. Renova-se a perseguição política desta vez sob forma secular: a Polícia persegue, prende, tortura e expulsa todos os progressistas: maçons, jacobinos e liberais; os jornais são submetidos à censura; muitas obras de filósofos liberais ou Protestantes proibidas e os cafés vigiados por polícias à paisana. A cultura é controlada e todas as manifestações menos Católicas são ilegalizadas, incluindo o antiquíssimo Carnaval. Só o Teatro é estimulado, com a construção em 1793 do Teatro de São Carlos no Chiado, que vem substituir a Ópera destruída durante o terramoto. É, no entanto, financiado pela iniciativa privada.



Guerra Civil: Liberais e Conservadores


No fim do Século XVIII, com a Revolução Americana de 1776, ganham peso as ideias liberais por toda a Europa. Na França estala a Revolução em 1789. Em Lisboa os liberais jubilam com a derrota da Aristocracia Francesa. Rapidamente se radicaliza a Revolução em Paris, caíndo nas mãos da extrema-esquerda, e o centrista Napoleão Bonaparte é chamado ao Poder pela Burguesia assustada, acabando por auto nomear-se Imperador. A sua política na Europa é o Bloqueio continental, ou seja a proibição do comércio com a Inglaterra. Aliado deste país, Portugal recusa e Napoleão envia Junot à frente de um grande exército para conquistar o país.

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Napoleão Bonaparte

Junot entra em Lisboa no dia 30 de Novembro de 1807. A Família Real portuguesa, alta Aristocracia e Clero haviam fugido no dia anterior. Junot é a princípio bem recebido pelos lisboetas e estabelece-se no Palácio de Queluz. As novas ideias liberais são discutidas pela burguesia Lisboeta com os oficiais franceses nos cafés da cidade, em especial no Nicola do Rossio, onde se estabelece o Quartel General Francês. Todos esperam a continuação das reformas do Marquês de Pombal, mas Junot não quer estimular ideias radicais e nada faz. Portugal é antes considerado um país a dividir: Lisboa seria directamente incorporada no Império Francês, enquanto o antigo Portucale seria ressuscitado no Reino da Lusitânia Setentrional.

A falta de reformas e o comportamento violento dos soldados franceses leva finalmente à Junta do Supremo Governo a pedir o auxílio da Inglaterra. É enviado um corpo expedicionário liderado por Wellesley e Beresford, e os franceses em menor número, são obrigados a retirar-se em finais de 1808 entrando simultaneamente, seguindo um acordo de retirada, os Ingleses na cidade onde se estabelecem em Arroios. Lisboa sofre economicamente com a abertura dos portos do Brasil à Inglaterra. Os Ingleses recebem de D. João VI, residente no Rio de Janeiro, o controlo do governo da cidade e país, que administram como uma colónia. Os burgueses partidários da França são executados. São então construídas defesas nos acessos à capital em Torres Vedras, onde desde o tempo dos Romanos acabava o território de Lisboa. Aí é vencida e forçada a retirar a nova força de invasão francesa liderada por André Masséna, em 1811. Daí partiriam os ingleses e alguns portugueses sob o General Wellington para libertar a Espanha. Napoleão será finalmente derrotado em 1815.

Com os burgueses de Lisboa sob opressão dos ingleses, são os burgueses do Porto que tomam controlo da cidade e se rebelam contra o colonialismo inglês e pelo Liberalismo em 1820, seguidos pelos de Lisboa a que se juntam expulsando os governadores ingleses num Golpe de Estado. As Cortes são convocadas pelos Liberais e é promulgada uma Constituição de 1822, uma Carta dos Direitos do Homem, e o fim dos privilégios do Clero e da Nobreza. O filho do rei, D. Miguel de Portugal encabeça os Reaccionários Conservadores Absolutistas, e inicia a Guerra Civil, contra as forças Revolucionárias Constitucionalistas Liberais do seu irmão o Imperador Pedro I do Brasil, depois Pedro IV de Portugal. É Dom Pedro que vence a guerra em 1834, mas a Constituição promulgada é mais conservadora que o esperado. No entanto são feitas algumas (poucas) reformas liberais, como a extinção das Ordens Religiosas, e a expropriação de muitos bens da Igreja Católica, que havia apoiado os Miguelistas. Desiludidos com Dom Pedro, há nova conspiração em Lisboa no ano de 1836, dos Setembristas (pequenos burgueses e letrados) que exigem a Constituição de 1822; e depois do sentido contrário, dois golpes de Estado dos Absolutistas, em 1836 e 1837. O País divide-se em dois grupos radicais que recusam dialogar um com o outro. Neste ambiente de caos, as grandes potências do norte planeiam a divisão das colónias e províncias do país.

No período de Governo Liberal (1820-1842) é marcado pelas guerras e guerrilhas mas ainda assim são introduzidas diversas reformas e empreendimentos. É finalmente implantado o velho projecto da iluminação pública da cidade, já existente em muitas propriedades privadas da burguesia, entre os anos de 1823 e de 1837. Inicialmente com lamparinas de azeite, mas mais tarde com óleo de peixe, serão substituídos pelas lâmpadas de gás em 1848. Além disso é construída uma nova rede de estradas; e são introduzidos os barcos a vapor ligando Lisboa ao Porto pelo mar. São feitos planos para lançar os caminhos de ferro, mas a guerra com os Conservadores não o permite, e o primeiro troço, entre Lisboa e o Carregado só será inaugurado em 1856.

Este período é marcado pela perda de alguma viabilidade económica da cidade de Lisboa. O Brasil torna-se independente e os seus produtos e ouro já não escoam para a Capital. No período do Cabralismo são atribuídos títulos nobiliárquicos a muitos grandes burgueses, para os comprometer, com algum sucesso, com o partido conservador. Após a sua perda de rendimentos do Brasil a dependência do Estado torna-se atractiva e a classe ocioso teme a competição e apoia as divisões sociais artificiais e rígidas. É nesta época que se multiplicam os Barões e Viscondes desligados de propriedades territoriais, muitos hereditários mas muitos outros limitados à vida do beneficiário, que recebem rendas do Estado ou se dedicam à política corrupta do tempo. A grande aristocracia territorial ganha o hábito de passar o Inverno em Lisboa, seguindo para os seus solares apenas no Verão. No entanto é o povo que mais sofre com as guerras e a perda do Brasil: a cidade estagna e perde importância e de quinta mais populosa da Europa passa para décima e continua a descer. Os empregos tornam-se mais precários e a miséria aumenta novamente.


Lisboa entre a Europa e a África

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A Estação do Rossio.

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O Elevador de Santa Justa, de 1902
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Um americano eléctrico moderno

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Mapa da cidade em 1885.


Após terminarem as guerras e conflitos entre os conservadores e liberais, Lisboa, tendo perdido o ouro e monopólio dos produtos do Brasil, a fonte de toda a sua riqueza desde o fim do século XVI encontrava-se numa situação económica desesperada. No Norte da Europa, as nações iniciavam a industrialização, e enriqueciam com o comércio das Américas (a Inglaterra viria a dominar o comércio brasileiro) e da Ásia. O atraso de Portugal parecia irreversível.

Sem conseguir derrotar definitivamente os Liberais, e assustadas com o desastre económico a que as políticas conservadoras tinham conduzido Portugal desde o século XVI, em contraste com o sucesso liberal da Inglaterra, França e Países Baixos, os Conservadores que dominavam o País e a capital cederam parcialmente. Reformas limitadas seriam permitidas em troca de manter o espírito Católico, rural e conservador e do poder político ser mantido nas mãos dos grandes proprietários. Seriam realizadas eleições mas apenas por aqueles qualificados pela propriedade avultada. A liderança do Estado seria partilhada com a nova classe e foram concedidos títulos aos grandes burgueses e capitalistas. No entanto mantiveram-se os privilégios e subsídios do Estado às classes dirigentes, e a industrialização seria limitada aos interesses destas.

Neste período Lisboa é uma cidade pobre e suja quando comparada às cidades do Norte da Europa. Quase toda a sua importância comercial se resume ao monopólio que mantém sobre os produtos das colónias portuguesas, especialmente Angola e Moçambique. O próprio país é descrito em Londres, Paris e Berlim como uma extensão do Norte de África, ou seja, um território incapaz de se governar a si mesmo. Iniciam-se as primeiras emigrações já não para governar e dirigir outras terras, mas antes para trabalhar a partir da mais baixa escala social: partem para o Brasil muitos milhares de pobres lisboetas. Face à miséria e atraso de quase todo o país surge em Lisboa uma classe alta muito rica que, como se cega, gasta e comporta-se como se pertencesse às elites do Norte da Europa, enquanto governa um país rural e atrasado, vergado pelo proteccionismo económico, falta de educação e cuidados de Saúde providos pelo Estado. Com a diminuição de importância da terra como factor de riqueza, nobreza territorial e alta burguesia orbitam a Corte Real, vivendo luxuosa mente dos subsídios e salários distribuídos por esta com os impostos recolhidos aos pobres. Estabelece-se um regime "de brandos costumes", onde cessam as perseguições, mas também as reformas, e a corrupção é rotina e quase sempre impune.


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Última Parte da História da cidade de Lisboa


Entre os governantes inertes e corruptos, existem alguns que melhor compreendem a necessidade de mudanças. Fontes Pereira de Melo é o ministro que mais luta pela liberalização da economia e a industrialização. Vários empreendimentos económicos e industriais são estimulados.

É construída uma rede de caminhos de ferro ligando Lisboa ao Porto e cidades intervenientes, a partir de duas novas estações de comboios, a Estação de Santa Apolónia e a Estação do Rossio. A luz eléctrica é implantada em 1878, substituindo a iluminação a gás. Em termos urbanísticos, são criados os primeiros planos directores. É necessário mudar a imagem da suja capital que choca os visitantes da Europa do Norte. Os habitantes são então estimulados a usar azulejos ou pintar as fachadas de cor-de-rosa, segundo as directrizes municipais (ainda hoje dominam o centro da cidade os inúmeros prédios rosas com azulejos deste período). Além disso são criados os primeiros sistemas de canalizações, esgotos e tratamento de água, respondendo aos ataques de cólera que matam milhares. Utilizando o novo proletariado miserável, é possível agora recalcetar as novas e velhas vias (incluindo o Rossio) tal como havia sido feito em menor escala no século XVI, com a velha técnica da calçada portuguesa. Outras inovações importantes são os americanos ou carruagens transportadas em carris por cavalos, introduzidos em 1873 (seriam substituídos em 1901 pelos americanos eléctricos, que ainda hoje existem); os elevadores eléctricos que são instalados em muitas das colinas depois de 1880.


O centro cultural e comercial da cidade passa então para o Chiado. Com as velhas ruas da Baixa já ocupadas, os donos de novas lojas e clubes estabelecem-se na colina anexa, que rapidamente se transforma. Aqui são fundados os Clubes, como o Grémio Literário famoso das histórias de Eça de Queiróz, e frequentado por Almeida Garrett, Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Oliveira Martins e Alexandre Herculano. Estabelecem-se ainda lojas de roupas das modas de Paris e outros produtos de luxo, grandes armazéns no estilo do Harrods de Londres ou das Galerias Lafayette de Paris e novos cafés de Luso-Italianos, como O Tavares e o Café do Chiado.

Novas construções e vias abrem os novos bairros do norte de Lisboa, estimulados pela Câmara Municipal apoiada pelos burgueses. Em 1878 o Passeio Público é demolido e substituído em 1886 pela nova Avenida da Liberdade, desenhada por Ressano Garcia. A Avenida tem mais de um quilómetro e estende-se pelas terras agrícolas, antecipando a expansão urbana. É criado a partir dela todo o eixo urbano central da cidade (hoje em 2005 novamente em expansão). No cimo da avenida é construída a Praça do Marquês de Pombal, da qual partem as novas vias da Nova Lisboa. Nestas Avenidas Novas constroem palacetes as elites de Lisboa, junto a novos edifícios públicos como o Liceu Camões (1907) e a Maternidade Alfredo da Costa (1909). A mais importante destas é a Avenida Fontes Pereira de Melo, para nordeste, que termina na nova Praça Duque de Saldanha. Daí parte a outra grande Avenida, hoje da República mas inicialmente de Ressano Garcia.

Nas imediações deste existe o Campo Grande (então um descampado e não um Jardim) e a nova praça de touros do Campo Pequeno, acabada em 1892 num estilo neomourisco. Novos bairros são construídos nas imediações segundo planos semelhantes aos da Baixa Pombalina: o bairro de Campo de Ourique para oeste, e o da Estefânia para leste. Junto ao bairro da Estefânia é construída nova grande Avenida Dona Amélia (hoje Avenida Almirante Reis), ligando-a ao Martim Moniz. Todas estas novas construções transformam a cidade. O novo centro geográfico de Lisboa é o Marquês e a Baixa é apenas a localização das grandes lojas. Para leste estabelecem-se as pequenas classes médias e o povo, enquanto para oeste as altas classes médias e os ricos burgueses.

Culturalmente este é o período em que as touradas e fado se transformam em verdadeiros entretenimentos populares regulares. A eles se junta o teatro popular ou teatro de revista (inventado em Paris) que, com as velhas e eruditas comédias e dramas, disputa os novos teatros da capital. Um entretenimento tipicamente português deste tempo é a Oratória, em que actores corrompem a velha arte do Padre António Vieira em argumentos cantados, floridos e quase sempre superficiais com que disputam prémios. Surgem ainda os primeiros grandes jardins públicos, imitando o Hyde Park de Londres e os jardins das cidades alemãs: o primeiro é o Jardim da Estrela, onde passeiam os burgueses aos fins-de-semana.

Socialmente as classes altas são agora uma mistura de nobres conservadores que são obrigados com relutância a aceitar algumas ideias liberais e burgueses titulados que aderem a muitas ideias conservadoras. A eles juntam-se os brasileiros, os emigrantes pobres e pouco educados que haviam enriquecido no Brasil e voltado para a cidade na ânsia de aceitação nos altos círculos sociais. Lisboa é o centro industrial do país (apesar de a sua industrialização ser mínima comparada à da Inglaterra ou Alemanha). As classes pobres de Lisboa crescem exponencialmente, com a chegada dos primeiros proletários que trabalham nas novas fábricas. Estes vivem muitas vezes em bairros miseráveis e degradados, onde grassa a cólera e outras doenças, trabalhando todo o dia para apenas ter suficiente que comer.

Os liberais das classes médias traídas, cujos impostos pagam os luxos das classes altas sem nada receber em troca, renovam-se num novo movimento liberal mais radical, que ameaça não só os antigos proprietários de terras mas também os novos barões e viscondes capitalistas dependentes do Estado.
Da aliança entre os proletários mais educados e as classes médias nasce o novo Liberalismo Radical, melhor conhecido como Republicanismo devido à sua oposição à aliança de antigos liberais agora dependentes do Estado Monárquico (os burgueses titulados) e Conservadores (velha aristocracia) Monárquicos: os grandes capitalistas, proprietários de terras e dependentes da Corte.


A Revolução de 1910

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A Bandeira do Partido Republicano é hoje a Bandeira de Portugal

Com o surgimento do compromisso entre os Liberais mais à direita e os conservadores mais moderados, que se manifestou na Monarquia Constitucional, a falta de desenvolvimento e de reformas ainda notável do País levou a ala mais esquerdista, ou radical dos Liberais,constituida principalmente pelas classes médias, a reformular os seus objectivos políticos. Nasceu assim o Partido Republicano que defendia reformas liberais radicais como o sufrágio universal, o fim dos privilégios à Igreja Católica e das rendas aos nobres, e acima de tudo o derrube de uma elite política cada vez mais desacreditada pela corrupção e incompetência. O País endivida-se e está cada vez mais dependente dos Países do Norte. Um episódio catárquico foi sem dúvida a humilhação frente ao Ultimato Inglês, por uma nação aliada.
As condições que possibilitaram a subida ao poder dos Republicanos foram acima de tudo económicas. No fim do século XIX, houve uma lenta e pouco vigorosa industrialização em Portugal, mas ela concentrou-se bastante na cidade de Lisboa. Apesar de o povo do país continuar rural e católico na sua maioria, e apoiar o Rei e a Igreja, nasce então uma nova classe popular em Lisboa (e em menor grau no Porto e na Beira) que partilha ideias mais progressistas: o proletariado.

A grande indústria de Lisboa é então o fabrico de derivados do tabaco, mas também existem fábricas de texteis, vidros, conservas e borracha, entre várias outras. No total, no fim do século XIX haveria muitas dezenas de milhares de trabalhadores nas indústrias numa população total de mais de 300.000 pessoas. As primeiras "zonas industriais" de Lisboa são os bairros de Alcântara, Bom Sucesso e Santo Amaro. As condições em que vive a nova classe popular de Lisboa são miseráveis. Vindos em grandes números do meio rural sem nada, instalam-se em bairros de lata extensos, nos arredores da cidade, e é frequente as crianças trabalharem longas horas nas fábricas. Outros vêm em grupos grandes da mesma aldeia, e instalam-se em terrenos abandonados, em núcleos fechados no interior da cidade, conhecidos por pátios ou quintais (muito comuns na Graça). Surgem os primeiros bairros operários, cujas habitações são construidas a custo mínimo por empresários para atrair força laboral.

Surgem então os primeiros sindicatos, muitos dos quais se afiliam com os anarquistas. Em vez de se juntarem aos novos partidos Marxistas como noutros países da Europa, outros proletários reúnem-se à volta das classes médias e profissionais (médicos e advogados) do Partido Republicano. Como resultado, o Partido, muito débil no norte do País (com a excepção do Porto), ganha cada vez mais influência na capital. Apesar de defenderem a propriedade e o mercado livre, os republicanos prometem melhoria das condições laborais e medidas sociais. Contudo as classes altas vivem ainda numa sociedade à parte, e não são capazes de reagir às novas exigências excepto com a repressão. O resultado são as acções cada vez mais violentas.

Alarmadas as elites impõem a ditadura em 1907 com João Franco, mas é tarde de mais. Em 1908 a família real sofre um atentado em que morrem o Rei Dom Carlos de Portugal e o Príncipe herdeiro, numa acção provavelmente executada pelos anarquistas (que neste período atacam figuras públicas em toda a Europa). Em 1909 os operários de Lisboa organizam extensas greves. Em 1910 Lisboa revolta-se finalmente. A população da cidade forma barricadas nas ruas e são distribuídas armas. Os exércitos ordenados a reprimir a revolução são desmembrados pelas deserções. O resto do país é obrigado a seguir a capital, apesar de continuar profundamente rural, católico e conservador. É proclamada a Primeira República.
São promulgadas medidas liberais: apoio social aos trabalhadores, com criação do Estado Previdência, direito à greve, fim dos privilégios da Igreja e nobreza, direito ao divórcio. Os impostos são modificados, de um modelo que se baseava nas contribuições dos trabalhadores e classes médias, para outro que tributava mais os mais ricos.


República

O período da República é marcado pelas disputas e violências políticas. Apesar de a situação ser tensa neste período por toda a Europa, com vários ataques terroristas e tumultos mesmo nos países mais desenvolvidos, em Portugal a situação terá sido mais crítica. Entalado entre as elites monárquicas hostis e os movimentos laborais cada vez mais extremistas, animados pelas novas teorias do anarquismo e marxismo, que apelam à luta nas ruas contra os "regimes burgueses", e herdando uma dívida pública recorde dos últimos anos da Monarquia, a República é um período de convulsões: sucedem-se as greves gerais (agora legais), as manifestações e mesmo os atentados à bomba e bala nas ruas de Lisboa, e a classe política Republicana divide-se sobre o modo de lidar com a situação.

Em 1912 os monárquicos aproveitam o descontentamento com as leis liberais dos republicanos no norte do país, e aí tentam o golpe de estado, que falha. Em 1914 Portugal entra do lado aliado na Primeira Guerra Mundial, enviando homens e recursos muito consideráveis num período de crise, e a situação económica e política fica cada vez mais tensa, havendo mesmo episódios de fome.
O resultado são mais golpes de Estado contra a república democrática pelos conservadores e pró-católicos, muitas vezes com o apoio dos líderes dos sindicatos e movimentos de trabalhadores que pretendem criam distúrbios que lhes permitam mais ganhos revolucionários: em 1915, toma pela força o poder o general Joaquim Pimenta de Castro, e em 1917 Sidónio Pais assume o Poder de forma autoritária e inconstitucional. Ambos dissolvem o Parlamento e governam de forma ditatorial. Em 1918 cai sobre a cidade a gripe espanhola, que mata muitos milhares e piora a situação dos operários, que de seguida se revoltam várias vezes, e Sidónio Pais é assassinado.

Neste período é construída grande parte dos edifícios de habitação ao longo do norte da cidade aberto pelas Avenidas Novas. Pintados com as cores tradicionais da cidade, amarelo, cor-de-rosa e azul claro, com fachadas de vários andares encabeçadas por mansardas, formam ainda hoje a mais visível face da cidade. Quase todos são erguidos por pequenos empresários, na sua maioria oriundos da cidade de Tomar, e por isso conhecidos como patos bravos. Alguns dos novos edifícios são construídos à pressa e com poucas preocupações de segurança, que dariam origem a vários acidentes com desmoronamentos e vítimas mortais nos anos seguintes.

O fim da I República ocorre em 1926, quando a direita conservadora anti-democrática (ainda em pleno século XX largamente liderada pelos descendentes da antiga Nobreza do norte de Portugal e pela Igreja Católica) toma finalmente o poder após mais duas tentativas em 1925, alegadamente de forma a por fim à anarquia que ela própria tinha largamente criado. Inicialmente militar, liderado pelo General Gomes da Costa, o novo governo rapidamente adopta uma ideologia semi-fascista sob a liderança de Salazar. O regime de Salazar e Marcello Caetano seria derrubado pela revolução dos cravos num golpe de estado realizado em Lisboa a 25 de Abril de 1974.

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Johny89

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História do Funchal - A primeira cidade da Expansão

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O povoamento iniciou-se em 1424, quando a ilha da Madeira foi dividida em duas capitanias. A capitania do Funchal coube a João Gonçalves Zarco que aqui se fixou com os seus familiares. A designação de Funchal deve-se à abundância de funcho na área do primitivo burgo, que se alargava até à beira-mar. Devido à sua posição geográfica, à existência de um bom porto marítimo e à produtividade dos seus solos, desde cedo constituiu-se num importante núcleo de desenvolvimento da ilha.

A povoação recebeu o primeiro foral entre 1452 e 1454, sendo elevada a vila e a sede de concelho. Pouco depois, em 1508 foi elevada a cidade.

Entre os acontecimentos marcantes no concelho podem-se mencionar o ataque de corsários franceses em 1566, sob o comando de Bertrand de Montluc, gentil-homem da corte de Carlos IX de França e filho segundo do marechal Blaise de Montluc. No mês de Setembro, embarcou em Bordeaux uma força de cerca de mil e duzentos homens, em três navios de alto-bordo e oito embarcações menores. Essa armada saqueou o Porto Santo, notícia que logo passou à Madeira, levando as vilas de Machico e de Santa Cruz a armarem-se para a eventualidade. No Funchal, por determinação do então governador, Francisco Gonçalves da Câmara, não se tomou qualquer tentativa que fosse considerada como hostil.

A armada, entretanto, ancorou na praia Formosa, desembarcando uma força de cerca de 800 homens, que marchou sobre a cidade em três colunas, sem encontrar resistência até à ponte de São Paulo. Na altura da ponte foram confrontados por uma pequena força da fortaleza, com algumas peças de artilharia de pequeno calibre, que em pouco tempo debandaram. Na altura da rua da Carreira, foram combatidos por um pequeno grupo de franciscanos, que foi rapidamente abatido. A fortificação do Funchal foi então assaltada pelo lado de terra, onde a condição de defesa era precária e, sem que se conseguissem reposicionar as pesadas peças apontadas para o mar, sucumbiu. A cidade sofreu então um violento saque de quinze dias, a que quase nada escapou.

Após esse episódio, no ano seguinte era remetido para o Funchal o arquitecto militar Mateus Fernandes, tendo se procedido a partir de então a uma profunda modificação do sistema defensivo da cidade. A visão desse profissional encontra-se registrada no chamado "Mapa de Mateus Fernandes" (1573), considerado a mais antiga planta conhecida do Funchal. De cariz militar, esse documento enfatiza as defesas da cidade, com vistas ao planeamento de uma vasta fortificação para o morro da Pena.

A nível de património arquitectónico destacam-se: Igreja e Mosteiro de Santa Clara, construídos entre 1489 e 1496, em estilo hispano-árabe, o Fortaleza-Palácio São Lourenço da primeira metade do século XVI, a Sé Catedral, projectada por Pêro Anes a mando do rei Manuel I de Portugal e que tem um dos mais belos tectos de Portugal feitos com a madeira da Ilha, contém uma mistura de estilos arquitectónicos: o flamengo, com linhas góticas e características do estilo Manuelino foi terminada em 1514 ano em que é também elevada a bispado. Edifícios também importantes são: o paço episcopal, o palácio do governo regional, a câmara municipal do Funchal, o teatro Baltasar Dias, os museus das Cruzes, Municipal e de Arte Sacra.

No século século XVII assinala-se a instalação de comerciantes vinícolas ingleses que modificaram os modos de vida, a morfologia arquitéctonica e o desenvolvimento económico da cidade.

Algumas personalidades marcantes que passaram pelo Funchal foram: Elizabeth Wittelsbach, conhecida como Sissi imperatriz da Áustria (1837 - 1898) que procurou esta cidade por motivos de lazer e de saúde, Carlos I, Imperador da Áustria e rei da Hungria, marechal polaco Józef Piłsudski para recuperar a sua saúde, Winston Churchill que passou pelo Funchal de férias onde pintou alguns quadros, Fulgêncio Batista que fez uma escala no Funchal para o exílio em Espanha.

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