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História dos Bombeiros Portugueses

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História dos Bombeiros Portugueses

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Os incêndios, grande flagelo, ao longo dos tempos, outrora mais a nível urbano, e hoje mais a nível florestal, começaram a ser combatidos com meios arcaicos, mas com expressivo e contagiante espírito de solidariedade não só dos vizinhos, mas da população em geral.

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D. João I (1385-1433)

D. João I, através da Carta Régia de 23 de Agosto de 1395, tomou a primeira iniciativa em promulgar a organização do primeiro Serviço de Incêndios de Lisboa, ordenando “que em caso que se algum fogo levantas-se, o que Deus não queria, que todos os carpinteiros e calafates venham àquele lugar, cada um com seu machado, para haverem de atalhar o dito fogo. E que outros sim todas as mulheres que ao dito fogo acudirem, tragam cada uma seu cântaro ou pote para acarretar água para apagar o dito fogo”.
Estabelecia também que os pregoeiros da cidade saíssem de noite pela ruas, a avisar, em voz alta, os moradores, de que deveriam tomar cuidado com o lume em suas casas.

No Porto, os Serviços de Incêndio também funcionaram, desde o século XV. Medidas de prevenção foram tomadas, nos séculos XV, XVI e meados do século XVII. O senado da Câmara de Lisboa promulgou normas, com o objectivo de prevenir incêndios, provocados pelas fogueiras, manuseamento de pólvoras ou lumes domésticos.

Esta preocupação de organização começou a generalizar-se por todo o País, tendo decidido a Câmara do Porto, na reunião de 14 de Julho de 1513:
“Eleger diversos cidadãos para fiscalizar se os restantes moradores da cidade apagavam o lume das cozinhas à hora indicada pelo sino da noite”. E a mesma Câmara, na reunião de 9 de Setembro de 1612 “ordenou que fossem notificados os carpinteiros da cidade de que iriam receber machados e outras pessoas de que entrariam na posse de bicheiros, para que, havendo incêndios, acudissem a ele com toda a diligência”.

Mas só no Reinado de D. João IV, se tentou introduzir em Lisboa, o sistema usado em Paris, tendo o Senado aprovado a aquisição de diverso material e equipamentos, e concedendo prerrogativas a nível de remunerações e de habitações.

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Carta Régia de D. João I

O serviço de incêndios, em 1646, reorganizou-se, tendo a Câmara proposto a compra ao Rei D. João IV: “de seis escadas federadas no alto dellas, duas de quinze degraus e outras de vinte e sinquo; e outras duas de trinta, as quais se encostão na caza onde se pega o fogo, e seis varas de trinta palmos de comprido ferradas com seus bicheiros de ganchos e duzentos calões de couro cru que leve hum almude de água cada hum, porque estes servem e não quebram, e se lançam do alto das cazas à rua e para cima vão continuando cheos de água...

A estes homens dá a Câmara casas em que morem por esta pensão de acudirem, tanto se toca a sino a incêndio. Porém, não tendo a Câmara desta cidade comodidade de dar casas a estes homens se pode remediar dando-lhes um salário conveniente para estarem à obrigação deste trabalho... e parecendo conveniente se obrigarem os donos das casas circunvizinhos do incêndio a darem um adjutório para estes homens que trabalham por lhe livrarem suas casas. E tendo estes salários acudirão com obrigação porque a razão de não acudirem é por quebrarem suas ferramentas e queimarem seus vestidos, arriscando-se sem lhes darem nenhum socorro e por esta causa se escondem fogem do trabalho.

A instalação, em Lisboa, dos três primei-tos “quartéis” (três estações para arrecadação de aparelhos e ferramentas), foi decidida por D. Afonso VI, em 28 de Março de 1678:

O Senado ordenará, com toda a brevidade, que nesta cidade haja três armazéns... e que estejam providos de todos os instrumentos que se julgarem necessários para se acudir aos incêndios, e escadas dobradas de altura competente, para que, com toda a prontidão, se possam remediar logo no princípio; e a chave terá cada um dos mestres assalariados pelo Senado, com obrigação que, logo que se tocar a fogo, abra o armazém que tiver a seu cargo, onde acudirão todos os oficiais assalariados...”

Três anos depois, em 1681, a reorganização, prosseguiu, tendo sido mandado vir da Holanda, duas bombas e uma grande quantidade de baldes de couro, sendo distribuídos 50, por cada bairro. Os pedreiros, os carpinteiros e outros mestres pasmaram a ser alistados para o combate aos sinistros, ficando sujeitos a uma pena de prisão por cada incêndio, a que não comparecessem.

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D. Pedro II (1683-1706)

O primeiro Regulamento do Pessoal, publicado, em Lisboa, no ano de 1683, assim determinava entre outras medidas:

Capítulo I

cada um dos juízes do crime desta cidade no bairro de sua repartição mandará fazer uma lista de todos os pedreiros, carpinteiros, calceteiros, serradores e trabalhadores que por seus jornais costumam ganhar dinheiro...

Capítulo II e III

cada um dos ofícios nomeasse dois oficiais mais idóneos para servirem de cabos e que houvesse um livro no qual constasse toda a existência dos materiais de combate.

Capítulo IV

... para saberem se as pessoas a quem estas ferramentas, baldes, lanternas forem repartidas estão moradoras nos ditos bairros em que forem alistadas…

Capítulo V

Para se porem em resguardo os esguichos, escadas e morriões e mais apetrechos que ao Senado parecer necessário, com diligência e prontidão se acudir aos incêndios, terá o mesmo Senado duas casas...”

A prevenção continuava a ser considerada fundamental, para se evitarem maiores catástrofes, tendo apresentado o Senado da Câmara de Lisboa, em 1714, a Sua Majestade, D. João V, diversas medidas:

“Haverá três armazéns: um no meio do Bairro Alto; outro no meio do Bairro da Alfama e outro no meio do Bairro de inter-médio dos dois bairros. Em cada um destes estarão duas bombas, quatro escadas...; uma dúzia de baldes com suas cordas...”

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A Companhia do Fogo ou Companhia da Bomba, fundada, em 1722, no Porto, era constituída por 100 “homens práticos”, capazes de manobrarem a “Bomba, machados, fouces” tendo publicado D. João V, em 5 de Fevereiro, de 1728, a provisão acima reproduzida e que, em parte, transcrevemos:

Dom João por graça de Deus, rei de Portugal, e dos Algarves d’aquem, e d’além mar em África, Senhor da Guiné... Faço saber aos que esta minha Provisão virem, que tendo consideração a Me representarem os Oficiais da Câmara da Cidade do Porto, que na dita Cidade havia uma Bomba com que se acudia aos incêndios, remédio mais eficaz a atalhar aquele damno, e esta estava depositada em casa de hum homem intitulado Cabo, que a tinha pronta sempre, e capaz de servir, e ao primeiro toque do sino mais vizinho ao lugar do fogo, que fazia sinal de o haver, acudirão à casa do dito cabo oito homens, que irão obrigados a ir buscalla...

Privilégio que os isentava dos encargos do concelho, e guerra, por prémio daquele grande trabalho a que não só restavam castigo quando faltavam; para o que tomava conta delles em toda a ocasião o Cabo, e de tudo dava parte na Câmara... o Tenente Coronel Bento Felix da Veiga, que por não querer conservar a isenção aos ditos homens, largarão todos as ocupações, causa por que nesta parte ficará a dita Cidade em notável desamparo... me pedirão em nome de todo aquelle Povo lhe fizesse mercê ordenar, que o Coronel que governa as Armas do Partido da dita Cidade, e seus sucessores não obriguem aos ditos homens pelo Militar, e encargos de guerra, para por aquelle trabalho terem este Privilégio por prémio...”


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D.João V (1706-1750)


O termo “Bombeiro”, que está intimamente ligado às bombas, um dos equipamentos mais avançados para a época, e que as Corporações consideraram da maior utilidade, surgiu, pela primeira vez, em Lisboa, no ano de 1734. Neste mesmo ano foram adquiridas mais quatro bombas, em Inglaterra.

Aos homens dos serviços dos incêndios, por trabalharem com as Bombas, passaram a ser designados Bombeiros. Encontramos aqui a origem da denominação de bombeiro, assim como a razão de ser da origem do nome “Companhia da Bomba”.

Existiram outras designações, para as quais ainda não encontrámos explicação. É o caso da primeira Companhia de Bombeiros de Lisboa, criada, em 17 de Julho de 1834, pela Câmara Municipal, que ficou também conhecida por Companhia do Caldo e do Nabo.

A partir do ano 1868, foram introduzidas as bombas a vapor, originando a obrigatoriedade dos proprietários instalarem bocas-de-incêndio nos prédios. Apareceu também a escada “Fernandes”, precursora da “Magyrus” e foi instituída a classe de Sotas - Bombeiros permanentes, cuja denominação era atribuída aos Capatazes dos antigos aguadeiros.

O movimento Associativo dos Bombeiros começou com a Companhia de Voluntários Bombeiros de Lisboa, criada, em 1868, e que depois, em 1880, passou a Associação de Bombeiros Voluntários.

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Informação retirada do livro - BOMBEIROS DE GOUVEIA (1904-2004)


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