Portal Chamar Táxi

"José Sócrates é neste momento o FMI em Portugal"

Rotertinho

GF Ouro
Entrou
Abr 6, 2010
Mensagens
7,986
Gostos Recebidos
9
"José Sócrates é neste momento o FMI em Portugal"
"Como se pode aceitar que tenhamos de aumentar os impostos porque os bancos não pagam os seus?"


Uma bandeira o Governo já retirou ao BE, a taxação de mais-valias bolsistas.

É exactamente o contrário. Em Dezembro, o primeiro-ministro disse que não havia condições para aplicar a taxa. Em Março, voltou a dizê-lo. E na véspera da votação agendada pelo BE no Parlamento o Conselho de Ministros aprovou-a. Foi uma questão de pressão política, que continuaremos a fazer. É a primeira correcção que fazemos ao PEC...

Qual é a próxima?

Vamos continuar a defender um imposto especial sobre os bónus dos gestores. O Governo não quer; PSD e CDS votaram contra a proposta do BE. Voltaremos a apresentar no Parlamento um conjunto de alternativas ao PEC, que corresponde ao memorando que apresentámos ao Governo.

Parece um cão que agarrou as calças do Governo e não as larga…

O Governo é que está a morder o país, com uma agressividade social enorme. O problema do país chama-se PEC, desemprego e degradação das condições financeiras e económicas. Se permitimos que um ataque especulativo continue, isso quer dizer que por cada 1% que o juro aumente, pagamos mais sete milhões de euros por dia, se abrangesse o conjunto da dívida pública. É por isso necessário corrigir as contas públicas, defender os salários e impor uma política que crie emprego. Se Portugal continuar com dívida e défice elevados e estagnação, caímos num fosso. As medidas do PEC vão nesse sentido, nos seus disparates sucessivos, como a venda dos Correios.

A principal marca ideológica do PEC é o pacote de privatizações?

O pacote é surpreendente. Já se sabia que o Governo queria privatizar mais, mas não que ia incluir empresas que são monopólios naturais, como a REN, a CP e os CTT. O efeito global de todas as privatizações é poupar 50 milhões de euros por ano. Mas estas empresas dão 400 milhões de euros.

Há aí uma opção política, não de racionalidade económica?

Economicamente, é irracional. Só os Correios dão em dividendos ao Estado quase o dobro do que vai poupar! São um bem público. Não é por acaso que não são privados na maior parte dos países da Europa. O PEC tem uma agenda escondida, porque a única privatização prevista no programa do PS era a da ANA. Os portugueses foram enganados. Mas há outras matérias, como os cortes na Segurança Social. Hoje, há 300 mil desempregados que já não têm subsídio. Quando acabar o PEC, em 2013, nenhum dos actuais o terá, por causa do prazo de vigência. Vão bater à porta do rendimento social, mas não vão receber essa miséria, porque há um tecto. Porque Paulo Portas quis tirar--lhe 130 milhões de euros e Sócrates achou muito bem.

O BE defende a renegociação do contrato dos submarinos. O Governo tem margem de manobra?

Claro que sim! Não só esse. Dos três mil milhões de euros de contrapartidas militares, há 2300 que não estão cumpridos. Há contratos em que o grau de cumprimento é de 0%. Podem e têm de ser renegociados! Mas o problema de fundo é se Portugal precisa, entre 2010 e 2013, de investir em submarinos. A nossa resposta é não. Repare que o PEC corta na Função Pública, até 2013, um mês de salário. Podemos aceitar isto, quando se gastam mil milhões de euros em submarinos? Ou quando se concedem isenções fiscais a 18 mil milhões transferidos para off-shores, este ano, uma parte deles sem pagar imposto?

A agência europeia de notação, que o BE propõe, é o instrumento adequado para combater a especulação financeira?

É um dos instrumentos mais importantes, mais práticos e que mais realista se podia tornar. Endividamo-nos para pagar a dívida, por causa de um processo especulativo de empresas sem credibilidade. A Standard & Poors, a Moody's e a Fitch garantiam que os pacotes de subprime, que causaram a crise financeira, eram três A, o melhor que havia no mercado financeiro.

É uma questão de credibilidade?

E de favorecimento da especulação. São empresas privadas, elas próprias parte do mercado financeiro especulativo. Se a UE criasse uma entidade de notação, que desse transparência aos mercados, combateria fortemente a especulação. Há grandes pressões nesse sentido, mas os mercados financeiros mandam mais do que os governos. Não há na Europa responsabilização democrática. E onde existe, nos países, há uma resistência enorme em tocar nos interesses do sector financeiro. Isso acontece em Portugal. Se a banca pagasse 25% de IRC, o que pagam as outras empresas, seriam mais 500 milhões de euros.

Não é provável que o PS aceite essa alteração.

Nem o PS, nem o PSD, nem o CDS. Mas a proposta do BE tem o apoio da maioria da população. Como pode aceitar que os bancos subam os juros ao mesmo tempo que se baixam salários? E que tenhamos de aumentar os impostos porque não pagam os seus?

Considera previsível o aumento da contestação social?

Espero que no final de Maio a grande jornada da CGTP seja uma demonstração da presença democrática e da exigência da população trabalhadora contra o PEC. Creio que haverá uma contestação muito forte. A chave é a alternativa política. Não temos de aceitar medidas como as impostas à Grécia. Há alternativas de ajustamento orçamental, impor sacrifícios a quem nunca tem dado nenhum contributo, as grandes fortunas, o sistema financeiro e a especulação.

O FMI pode voltar a intervir em Portugal, como há 30 anos?

Neste momento, José Sócrates é o FMI em Portugal. O encontro com Passos Coelho é uma "santa aliança" do FMI: reduzir salários, manter pensões baixas, abdicar da criação de emprego. O PEC prevê como "grande" resultado até 2013 a criação de 25 mil postos de trabalho, o equivalente aos perdidos em Novembro e Dezembro de 2009. Em 2013, já não será desemprego, será pobreza absoluta, porque o Governo desistiu de criar emprego. É a política do FMI, enquanto uma elite anuncia pornograficamente que os bónus são intocáveis.


Jornal de Noticias
 
Topo