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O sexo tem alguma coisa a ver com as alterações climáticas?

ecks1978

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O caminho da luta contra as alterações climáticas passa pela sua cama? Pelo sexo ou, mais precisamente, pelas escolhas que faz em termos de planeamento familiar ou contracepção? Em 2050, o ano-meta em que se concentram as atenções e previsões relativas às alterações climáticas, seremos 9,1 mil milhões, mais de dois mil milhões do que somos agora. Conseguirá o planeta aguentar ou devemos começar a pensar no número de filhos que temos?

James Lovelock, o autor da teoria de Gaia, ou o biólogo e realizador de documentários sobre a vida selvagem David Attenborough são alguns dos que defendem a necessidade de acabar com os tabus em torno da nossa própria reprodução. Quem luta contra as alterações climáticas ignorando o crescimento populacional "está a esconder-se da verdade", comentou Lovelock em Agosto, ao juntar-se ao think-tank britânico Optimum Population Trust (OPT). Na OPT juntam-se alguns dos mais célebres e respeitáveis cientistas britânicos e também norte-americanos.

Mas as Nações Unidas fazem um apelo semelhante - defendem o recurso do planeamento familiar para ajudar a salvar o planeta. O mesmo faz Al Gore, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos e galardoado com o Nobel da Paz em 2007 pelo que faz para divulgar a "urgência climática". Controlar o crescimento populacional é um dos capítulos do livro que acaba de publicar Our Choice - A plan to solve the climate crisis (a edição portuguesa sairá a 16 de Novembro, pela Esfera do Caos).

E quem gostar de crianças?

Habituados, aqui em Portugal, país da Europa do Sul, uma das zonas do mundo onde a fertilidade está a descer mais (a nossa taxa de fertilidade foi de 1,49 filhos por mulher em 2008), a ouvir falar em como seria positivo ter mais crianças, em incentivos à natalidade, em apoio a famílias numerosas, isto soa estranho. Será mesmo necessário mexer em algo tão íntimo?

Paul Ehrlich, o cientista que em 1968 escreveu o livro Population Bomb, que deu corpo aos receios de um planeta arrasado por um incontrolável crescimento populacional (o cenário do filme À Beira do Fim, de 1973, com Charlton Heston), não desistiu dos alertas. Agora o biólogo das populações das Universidade de Stanford (EUA) afirma, claramente, que ter mais que dois filhos "é egoísta e irresponsável".

"E quem gostar de crianças, não pode ter quatro ou cinco?", pergunta-lhe o jornalista do El País que o entrevistou à margem da conferência de Barcelona, usando aquele ponto de interrogação ao contrário a que os espanhóis recorrem para dar ênfase a uma pergunta. "Este é um assunto social. A si afecta-o quantos filhos terá o seu vizinho. É normal que goste de crianças, eu também gosto, não é isso que está em causa. O que pergunto é que vida quer dar a esses filhos, ou quantos filhos posso ter para que, juntamente com os dos meus vizinhos, possam ter uma vida decente, sem alterações climáticas e com água suficiente."

Bem, convenhamos que é mais do que trocar as lâmpadas todas ou desligar os electrodomésticos lá em casa. É um compromisso mais exigente do que separar o lixo - plásticos para um lado, papel para o outro... Mas a contracepção é a mais barata das "tecnologias verdes", diz um estudo feito por um investigador da London School of Economics para o OPT, divulgado em Setembro.

Cada sete dólares gastos em medidas básicas de planeamento familiar nas próximas quatro décadas, diz o autor do estudo, Thomas Wire, podem reduzir as emissões globais de dióxido de carbono (CO2) em mais de uma tonelada. Obter os mesmos resultados com tecnologias com baixas emissões de CO2 custaria, no mínimo, 32 dólares. O relatório "Menos emissores, emissões mais baixas, menos custos" (acessível a partir do site Optimum Population Trust) conclui que se poderia reduzir as emissões de CO2 em 34 mil milhões de toneladas até 2050 satisfazendo toda a procura de planeamento familiar. Isto é equivalente "a quase seis vezes as emissões anuais dos Estados Unidos".

Mas será que o verdadeiro problema não estará na forma como nos comportamos? Se todos os indianos consumirem tanto como os americanos estaremos em apuros - cada americano consumiu 8,6 toneladas de petróleo ou o seu equivalente em energia em 2007, segundo dados da BP citados pela revista Scientific American. Na Índia, o consumo de petróleo foi apenas de 0,4 toneladas per capita.

"Não podemos separar população e consumo", reconheceu Ehrlich ao El País. "É como a relação entre dois lados de um rectângulo. Não podemos manter a quantidade de gente que hoje temos ao nível de vida de um espanhol médio", responde.

A questão é que manipular a taxa de fertilidade terá efeitos a longo prazo - estamos a preparar o futuro das próximas gerações, tal como com as emissões de CO2, que se mantém pelo menos um século na atmosfera. "Podem-se mudar os modelos de produção e consumo de forma quase instantânea. Vi isso em 1941, quando os EUA deixaram de produzir automóveis para produzir tanques e em 1945 voltaram ao normal. Mas não se pode fazer isto com a população. É por isso que devíamos ter começado nos anos 1960", conclui Ehrlich.
Números até 2050


6800 milhões de pessoas vivem hoje no planeta.

79 milhões de bebés juntam-se todos os anos à população mundial.
9100 milhões é o número de habitantes previstos para 2050.

7900 milhões de pessoas viverão em 2050 em países em desenvolvimento – mais do que as que vivem hoje na Terra.
2,7 filhos por mulher é a taxa de fertilidade nos países menos desenvolvidos prevista para 2005-2010; em 2045-2050, generalizando-se o acesso à contracepção, essa taxa deve cair para 2,05.

1,6 filhos por mulher é a taxa de fertilidade nas nações mais ricas; na Coreia do Sul tem a mais baixa, 1,1. Para haver uma reposição das gerações a taxa de fertilidade tem de atingir 2,1 filhos por mulher.
9 países registarão metade do crescimento populacional projectado até 2050: Índia, Paquistão, Nigéria, Etiópia Estados Unidos, República Democrática do Congo, Tanzânia, China e Bangladesh. 200 milhões de mulheres em idade fértil gostariam de ter acesso a contracepção para adiar ou evitar a gravidez e não têm. Satisfazer essa procura custaria 3900 milhões de dólares por ano, e podia evitar 23 milhões de nascimentos não planeados, 22 milhões de abortos induzidos, 142 mil mortes relacionadas com a gravidez e 1,4 milhões de mortes de crianças até cinco anos de idade. 190 milhões de mulheres engravidam todos os anos, e em pelo menos um terço dos casos a gravidez não é desejada. 40 por cento é quanto se espera que suba a procura por contraceptivos nos próximos 15 anos. 1200 milhões dólares por ano seria a soma necessária para dar resposta à procura por aconselhamento de planeamento familiar e contracepção. Mas apenas estão disponíveis 550 mil dólares. 59 países em desenvolvimento tinham uma alta taxa de fertilidade em 1990-1995 (cinco filhos ou mais por mulher), mas em 2005-2010 apenas 27 encaixam nessa definição. 2000 milhões de pessoas terão mais de 60 anos em 2050; o número vai triplicar em relação ao actual, que é de 737 milhões. Em 2050, 79 por cento dos mais idosos viverão nos países menos desenvolvidos.publico
 
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