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Portugueses nos campos de concentração

kokas

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A pergunta surgiu depois de uma visita a Auschwitz: seria possível que, de todos os prisioneiros que por ali passaram, de tantos países, nenhum fosse português? Em 2013, fomos à procura da resposta. Durante nove meses, vasculhámos arquivos, analisámos listas de transporte e registos de baptismo, percorremos Portugal e visitámos campos de concentração, bases de dados e familiares de vítimas em França, Alemanha e Polónia. A resposta está dada: houve muitos portugueses enviados para os campos de concentração nazis. A segunda parte desta reportagem será publicada na próxima semana.
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[h=2]Parte I[/h][h=1]A história nunca contada dos portugueses nos campos de concentração[/h] Michael, judeu nascido em Lisboa, foi deportado para Auschwitz. Luiz, emigrado em Lyon, comunista, foi um dos 1191 passageiros de um comboio que saiu de Toulouse em direcção a Buchenwald. O algarvio Casimiro morreu no campo de concentração de Neuengamme. Maria nasceu em Ponte de Lima e passou por Ravensbrück, Neuengamme e Bergen-Belsen. Como eles, dezenas de portugueses não saíram incólumes do conflito que devastou a Europa há quase 70 anos. As suas histórias são, finalmente, contadas.


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Nascer em Lisboa sem nunca lá ter posto os pés

Nem todas as informações contidas nas bases de dados sobre o Holocausto podem ser consideradas como taxativas. E muito menos quando o que está em causa é a nacionalidade da pessoa a quem se refere determinada ficha ou pedaço de papel recolhido pelos Aliados. No caso dos portugueses, isto não é excepção. Se há muitos prisioneiros nascidos em Portugal que aparecem identificados com nacionalidades diferentes, também há cidadãos estrangeiros identificados como portugueses.
As deportações de França

O PÚBLICO encontrou 40 deportados de França para os campos de concentração nazis e a indicação de que uma portuguesa a residir na Bélgica também teria morrido em Auschwitz. Os seus nomes e os campos por onde passaram estão listados abaixo. Uma parte deles não sobreviveu.
Infografia Os campos por onde passaram portugueses

Durante a II Guerra Mundial, dezenas de portugueses que moravam em França foram presos, colocados em campos de internamento e deportados, posteriormente, para campos de concentração na Alemanha ou na Polónia. Alguns acabaram por ser transferidos para outros campos, na Áustria ou em França.
Vídeo International Tracing Service

O ITS - International Tracing Service reúne toda a documentação relativa aos campos de concentração: fichas de nomes, listas de entrada ou de transferência dos campos, os Livros dos Mortos, em que se registavam as vítimas, as fichas de avaliação médica e as relações dos bens que os prisioneiros transportavam, cartões de identificação... Guarda 30 milhões de documentos relativos aos prisioneiros dos campos, aos homens e mulheres submetidos a trabalhos forçados durante o regime nazi e aos sobreviventes, que passaram pelos chamados Campos de Deslocados.



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Os portugueses que viviam em França não escaparam às perseguições nazis e, por vezes, envolveram-se intensamente no combate à ocupação alemã. Alguns não sobreviveram à sua passagem pelos campos, outros puderam regressar a França e recomeçar as suas vidas. Hoje, 70 anos depois, cabe aos seus familiares guardar as suas histórias. Alguns contaram-nas à Revista 2.

[h=1]Michael Fresco[/h][h=2]Alberto Fresco, primo[/h]
Michael Fresco morreu em Auschwitz, cerca de um mês depois de ter sido deportado para este campo de concentração polaco. O português vivia, na altura, em França. Por cá, o primo Alberto Fresco reúne os fragmentos da sua história, feitos de memórias familiares.



A certidão de morte de Michael Fresco, em Auschwitz, foi passada a 28 de Junho de 1942. Michael Fresco nasceu em Lisboa, a 15 de Setembro de 1911 e foi deportado para Auschwitz a 25 de Junho de 1942. A Fresco, originária de Constantinopla, na Turquia, era judia. O campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polónia, é visitado por milhões de pessoas anualmente. O pai de Michael Fresco tinha uma mercearia em Lisboa. Os deportados para Auschwitz chegavam em comboios que entravam no interior de Birkenau. Michael Fresco emigrou para França e foi deportado para Auschwitz num comboio com mil judeus. O acesso a um dos crematórios de Birkenau, conhecido como Auschwitz II. As vítimas do campo de concentração são recordadas em exposições dispostas nas instalações de Auschwitz I. As bagagens dos prisioneiros eram abandonadas à chegada e guardadas num edifício conhecido como Canadá. Os nazis usavam o gás Zyklon B para assassinar em massa os prisioneiros do campo. O comboio que levava Michael Fresco saiu de Pithiviers às 6h15 do dia 25 de Junho de 1942. Os nazis não conseguiram apagar todos os vestígios do campo da morte e muitos pertences dos prisoneiros, como estes óculos, foram recuperados durante a libertação. As próteses dos que foram enviados para as câmaras de gás também era guardadas pelos nazis, para serem reutilizadas. Reconstituição do interior de uma das barracas de Birkenau, onde os prisioneiros eram amontoados, sem quaisquer condições. O certificado de morte de Michael Fresco indica que ele morreu em Auschwitz, a 24 de Julho de 1942. O português não sobreviveu sequer um mês em Auschwitz. Os Aliados conseguiram recuperar vários documentos sobre a deportação e a vida nos campos de concentração. Auschwitz I, com os seus edifícios de pedra, foi inicialmente usado como local de detenção de prisioneiros polacos. Muitos dos documentos sobre Auschwitz foram destruídos, mas alguns chegaram aos dias de hoje.


[h=1]Luiz Ferreira[/h][h=2]Amélia Martins, sobrinha[/h]
Quando o comunista Luiz Ferreira, emigrado em França, regressou a Portugal, no pré-25 de Abril, nasceu uma relação de proximidade com a sobrinha Amélia, que iria durar até à morte do português, que esteve preso no campo de concentração de Buchenwald. É ela quem guarda o espólio do tio Luiz.


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