kokas
GF Ouro
- Entrou
- Set 27, 2006
- Mensagens
- 40,723
- Gostos Recebidos
- 3
Sampaio da Nóvoa diz, em entrevista ao DN, que os seus adversários são a abstenção e o candidato de direita, a quem acusa de usar a dissimulação política para fazer de conta de que não esteve ao lado da austeridade. Quer forçar uma segunda volta e, se for eleito, afirma que será um Presidente ao serviço da estabilidade.
Tem sido difícil dar-se a conhecer ao país?Quer dizer, tem sido um tempo muito apaixonante da minha vida
Mas, quando vai na rua, as pessoas já o identificam, já reconhecem?Ah, sim. Completamente.Já deixou de poder estar sossegado a tomar um café.Completamente. Sim. Sim. Sim,O que é que as pessoas lhe dizem?Para as pessoas, a marca da coragem é muito importante. Depois, a marca da independência: "ainda bem que uma pessoa independente se candidata". Muita gente a dizer-me "não votamos há 20 anos", "não votamos há..." Quer dizer, a lógica das pessoas que, eventualmente, estão mais desiludidas com a política, são provavelmente aqueles que vêm mais espontaneamente falar comigo.
[*=center]
[*=center]
Os quilómetros que tem de vantagem correspondem a uma vantagem política?Creio que não. Foi um tempo prévio de conhecimento que, para mim, foi muito importante, que foi importante, também, para criar alguma notoriedade.Surpreende-o, então, o seu score tão baixo nas sondagens?Não. Isto é, as nossas expectativas, desde o princípio, era que no início da campanha eleitoral o score, enfim, tendo em conta o cenário eleitoral, fosse entre os 15% e os 20%, não é? E ele situa-se exatamente nesses patamares. E a nossa expectativa sempre foi que, para forçar uma segunda volta, nós precisaríamos de chegar aos 22%, 23% e, portanto, estamos dentro das previsões que tínhamos feito desde o inícioO seu objetivo é forçar uma segunda volta?Ganhar à primeira, no atual cenário, parece muito improvável, não é? E, portanto, o objetivo, neste momento, é forçar uma segunda volta.Como é que financia a sua campanha?É financiada em bases muito modestas e muito prudentes, exclusivamente, por donativos individuais de pessoas. Temos feito vendas de serigrafias, de obras de arte, leilões, etc., que nos têm permitido financiar uma parte da campanha. De resto é o assumir de um risco pessoal meu, em função da subvenção que o Estado atribui às candidaturas presidenciais e, portanto, é um risco meu.Mas quando avançou esperava o apoio do PS?Não, nunca tive expectativas de apoios formais de partidos. Sempre disse que quero os apoios de todos, sempre afirmei, em todos os momentos, que se tiver apoios de todos os partidos, melhor, Portanto, não recusarei nenhum apoio de [um] partido mas nunca pedi o apoio de nenhum partido. O que não quer dizer que não seja, para mim, muito importante e muito relevante que haja muitos dirigentes socialistas que estão a apoiar esta candidatura. Nesta candidatura, há militantes de todos os partidos e, até, dirigentes de todos os partidos, com representação parlamentar. No núcleo fundador da candidatura esteve o apoio dos três anteriores Presidentes da República.Não seria normal, por exemplo, que figuras como o Manuel Alegre estivessem ao seu lado?Bem, eu não...Não o surpreende que não estejam?Há dimensões ideológicas que juntam as pessoas e, depois, há também questões de afinidades pessoais. Agora, eu acho é que a minha matriz, que se junta numa lógica de valores humanistas, de valores progressista, vai buscar muito, também, ao que é o melhor da social-democracia, ao melhor da democracia-cristã. Certamente, não aquela visão do PSD e aquela visão do CDS que prevaleceu nos últimos quatro anos e meio e, quer dizer, que representa uma visão extremista, radical, ideológica, de um neoliberalismo muito radicalizado.Mas a candidatura de Maria de Belém divide esse eleitorado para o qual se dirige?Há uma face positiva e uma face negativa neste processo. A face positiva é a pluralidade, eu sou um homem de todas as liberdades. Alguns dos valores que eu represento não são os mesmos que representa a dra. Maria de Belém. O lado negativo é quando isso reduz uma certa dinâmica e um certo entusiasmo, quando há muita gente que fica confuso ou baralhado.O que potencia abstenção?É isso, exatamente. Vou dirigir uma parte muito grande da minha campanha contra a abstenção.É o seu principal adversário, a abstenção?É um dos principais adversários, certamente. No dia 24 de janeiro, não vamos "apenas", entre aspas, escolher uma pessoa, vamos escolher uma determinada visão do país: se querem escolher um candidato como o Marcelo Rebelo de Sousa ou se querem escolher um uma candidatura como aquela que eu represento. E isso torna-se mais claro, essa visão, do que se estivermos a falar de características pessoais ou de maneiras pessoais ou de popularidade ou de ser mais famoso ou de ser mais simpático ou de ser menos simpático.O que o distingue de Marcelo?A ideia que o Marcelo tem para o país é totalmente colada ao que foram os últimos quatro anos e meio das políticas do PSD e do CDS. Marcelo foi sempre coerente, do ponto de vista político, como uma homem da direita portuguesa. Nós sabemos, porque isso é público, em quem é que vai votar o general Ramalho Eanes, o dr. Mário Soares e o dr. Jorge Sampaio: vão votar na minha candidatura. Por isso é que ninguém tem dúvidas em quem é que votará o dr. Cavaco Silva, não é? Em Marcelo. Ele é obviamente o homem que esteve nas candidaturas de Cavaco Silva, que se mobilizou por elas, ainda que agora queira parecer uma espécie do seu contrário.É por isso que elogia o governo de António Costa quase todos os dias?Mas é essa permanente dissimulação, do ponto de vista político, de fazer de conta que não esteve a favor das políticas de austeridade e a favor do governo da coligação e que não fez campanha por Passos Coelho e por Paulo Portas e fazer de conta que não esteve nas eleições de Cavaco Silva, que não foi um dos seus principais apoiantes, etc. Os portugueses ou são capazes de perceber esse jogo político de um grande oportunismo - estou aqui a falar do ponto de vista político, não estou a falar do ponto de vista pessoal -, ou então não percebem e deixam-se ir alegremente nesta nova persona que está a ser criada, Eu represento um país que precisa de abandonar o ciclo de austeridade e precisa de voltar a apostar naquilo que nos pode dar futuro. Na educação, no conhecimento, na ciência; aquilo que nos pode dar futuro é a capacidade de levar este conhecimento para as empresas, de criar inovação, de criar um país que esteja mais preparado para enfrentar este século XXI, que vai ser um século muito difícil. O século XXI vai ser um século muito difícil na Europa e no mundo, vai ser um século em que vamos precisar de estar muito preparados.Acha que António Costa fez bem em não apoiar nenhum dos candidatos?É muito difícil pronunciar-me sobre decisões de líderes partidários que têm as suas próprias lógicasMas nunca escondeu que gostaria de contar com o apoio do PS...Nunca escondi e nunca escondo. Ver-me-ão sempre a acolher todos aqueles que queiram entrar dentro desta candidatura.Esse apoio chegou a ser prometido ou não?Não. Não.E houve ou não algum momento em que equacionou a desistência?Não. Nunca. Nunca. Isso, para mim, foi muito claro no Trindade, no dia 29 de abril, quando eu apresentei a minha candidatura -, naquele momento, naquele exato momento, percebi que a candidatura já não era só minhaEstá confortável com os poderes de que o Presidente da República dispõe?Estou muito confortável. Acho que os poderes que a Constituição consagra são poderes mais do que suficientes e mais do que equilibrados. Revejo-me totalmente nesta Constituição. Enfim, é evidente que todas as constituições, em todo o mundo, podem ser objeto de melhorias e de alterações etc. Isso, aliás, é uma matéria do Parlamento. É mesmo a única matéria em relação à qual o Presidente da República é obrigado a promulgar e, portanto, não tem, sequer... é a única matéria, em relação à qual, não tem a possibilidade de veto. Sinto-me muito confortável e creio que no entendimento das funções presidenciais que foram feitas tanto pelo general Eanes, como pelo dr. Mário Soares e, depois, por Jorge Sampaio, se encontram bons exemplos da forma como o Presidente pode exercer os seus poderes presidenciais.Nunca dá Cavaco Silva como exemplo de uma boa Presidência...Infelizmente, não. Infelizmente, não. Na verdade, o que as pessoas me dizem mais, nas ruas, é essa sensação de que não tiveram um Presidente da República. Um Presidente da República que esteve muito pouco presente na vida das pessoas, que não disse a palavra certa quando devia ter dito a palavra certa, que não interveio no momento em que podia tê-lo feito. As pessoas não se sentiram protegidas. Eu acho que há um fenómeno muito interessante na maneira como o Presidente da República está concebido em Portugal que é alguém que protege as pessoas, o conjunto dos portugueses, e que tem um dever de proteção através da palavra, através da magistratura de influência. Espero que venhamos a ter nos próximos anos.Marcelo e Nóvoa pegam-se sobre currículo, gastos e o que disseram em 40 anos
[*=center]
[*=center]
"Os portugueses não iriam perdoar uma crise política já a seguir"Depois da pré-banca rota em 2011, a austeridade era inevitável?Durante anos e anos e anos e anos, foram economistas, comentadores, políticos a justificarem, justamente, as benfeitorias que a austeridade nos ia trazer. É verdade que, hoje, parece que estamos todos de acordo [ri-se], ao fim de quatro anos e meioEntão o que podia ter sido feito de diferente?O problema é se passou para a austeridade como ideologia. Era preciso ter preparado o país, era preciso ter preparado as pessoas para enfrentarem esses desafios do século XXI. Nós temos de inverter este ciclo, em que a questão da poupança tem de ser, obviamente, colocada em cima da mesa - as dificuldades não se resolvem porque nós, um dia, acordamos de manhã e dizemos: "Olha, a partir de amanhã, não há dificuldades". Não há nenhuma varinha de condão. As dificuldades estão cá, sempre estiveram e continuam em Portugal. Uma coisa que é central para o país é a crise de natalidade enorme. Em 1976, nasceram em Portugal 180 e tal mil crianças; o ano passado terão nascido pouco mais de 80 mil, quer dizer, menos de metade. Simultaneamente, estamos com um nível de emigração como não tínhamos há muitas décadas. Sem pessoas não há país, quer dizer. É neste compromisso que eu acho que o Presidente da República pode estar. Não tem de governar, não governa, não legisla mas pode ser portador desta ideia do país e tentar estabelecer compromissos estratégicos em torno desta ideia do país. É por isso que a ideia do compromisso estratégico para um desenvolvimento partilhado é, para mim, tão importante ao longo desta candidatura.E acha que o governo de António Costa vai ser capaz de levar por diante esse projeto?Espero que sim.Mas, pelo que já viu até agora, o governo tem uma base sólida? Por exemplo, agora do orçamento retificativo por causa do caso Banif, em que a esquerda, que é a base de sustentação do governo, acabou por votar contra esse orçamento...Acho que vai ser muito difícil. Acho que vai ser precisa muita cabeça fria, muita responsabilidade, vai ser preciso um sentido muito claro, não dos interesses de cada um - é evidente que os partidos têm de defender os seus interesses, também -, mas é preciso que se libertem um pouco das lógicas internas dos partidos e dos seus interesses e sejam capazes de perceber o que é que é preciso fazer para construir esse caminho de confiança e de esperança. Mas se eu tiver de dizer uma motivação para me candidatar, foi talvez uma espécie de indignação de ouvir muita gente dizer, de forma mais ou menos resignada, que os nossos filhos iriam viver pior do que nós. E eu disse: "Isto não pode acontecer". Não há sociedade, não existe sociedade se não houver a crença, a confiança e a esperança de que os nossos filhos vão viver melhor do que nós.Portanto, não acredita que haja uma crise política, já a seguir, com o Orçamento de Estado para 2016?Acho que os portugueses não iriam perdoar isso.E o Presidente da República tem aí um papel?O Presidente tem um papel muito importante que é ser um fator de estabilidade. Quer dizer, um dos compromissos mais fortes que eu assumo é o de ser um referencial de estabilidade.Isso materializa-se em quê?Traduz-se, na prática, na ideia de procurar, em todos os momentos, estar do lado dos acordos possíveis, dos consensos possíveis, em sede de maiorias parlamentares.A estabilidade durará até Bruxelas nos permitir?Eu espero que isto tenha o prazo de uma legislatura, porque é isso que é normal, não é? O normal é que os governos durem uma legislatura e que as pessoas sejam capazes de criar entendimentos para essa legislatura.Uma coisa é o que deseja, outra coisa é aquilo em que acredita...E acredito nisso. Porque eu acredito na boa-fé dos partidos, acredito na boa-fé dos acordos.
dn
dn
Última edição: