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Saúde: Greve de alto risco

florindo

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O Governo teme que a paralisação dos médicos na próxima semana possa ser o rastilho de futuras contestações. Pela primeira vez em 25 anos, a greve une sindicatos e Ordem. Mais de 400 mil consultas poderão ser afectadas.A greve dos médicos – marcada para as próximas quarta e quinta-feira – ameaça paralisar quase por completo os hospitais e centros de saúde do país. Os sindicatos esperam uma adesão em massa e garantem que a paralisação não será desconvocada. Os dados oficiais apontam para que fiquem em risco quase cinco mil cirurgias e 400 mil consultas.
O Governo faz outras contas aos riscos desta greve. Primeiro: esta é a primeira vez em 25 anos que os dois sindicatos e a Ordem dos Médicos se unem num « cartão vermelho».
A última vez que tal aconteceu foi em 1987, durante o polémico mandato de Leonor Beleza no primeiro Governo de Cavaco Silva. Curiosamente, pela mesma reivindicação sindical: o bloqueio das carreiras médicas. Agora, até o insuspeito especialista Sobrinho Simões anuncia que fará greve pela primeira vez.
Além disso, no Governo, receia-se que possa ser um rastilho para outras contestações. «É um tiro no porta-aviões, muito cedo, quando o Governo ainda só tem um ano de vida. Pode ter o mesmo efeito que a luta dos professores contra o Governo de Sócrates», explica um dirigente do PS.

Requisição civil afastada


O bastonário dos médicos, José Manuel Silva, reforça a mensagem: «Acredito que muito em breve este protesto vai generalizar-se a outros sectores da saúde», afirma, lembrando o que se está a passar com os enfermeiros (cuja contratação a 4 euros à hora está a causar indignação).
Para os sindicatos e a Ordem, a gota de água foram os concursos públicos para contratar clínicos através de empresas de prestação de serviços, em que o critério para a contratação era «o mais baixo preço» e a prestação de cuidados era referida em «lotes». «Atingimos um ponto de ruptura» defende José Manuel Silva: «Nos concursos, não há limite mínimo de pagamento, o que quer dizer que podemos ter médicos a serem pagos a três euros à hora».
O bastonário – que apoia esta greve em nome «da qualidade da profissão garantida pelas carreiras médicas» – subscreve em conjunto com os sindicatos os panfletos que ao longo da semana foram distribuídos aos doentes, em todo o país.
Nos panfletos, explicam-se os motivos da paralisação e apela-se aos utentes que não se desloquem aos serviços de saúde nos dias 11 e 12, devido ao protesto. Garantido está o cumprimento dos serviços mínimos (urgências, cuidados intensivos, quimio e radioterapia, entre outros). Razão suficiente para que, segundo fonte do Governo, este resista a usar a ‘bomba atómica’ da requisição civil, que crê ter efeitos contraproducentes.

Desconvocar é «impossível»


A hipótese de desconvocação da greve, desejada pelo Governo, «será impossível» – garantiram ao SOL os responsáveis da Federação Nacional dos Médicos (Fnam) e do Sindicato Independente (SIM). Os contactos secretos dos últimos dias com o ministro, soube o SOL, não tiveram o efeito pretendido – apesar das cedências prometidas a muitas das exigências dos sindicatos.
O ministro, admite até promoções nas carreiras médicas, mas há «um ponto sem cedência: as grelhas salariais», defendeu ao SOL fonte do Ministério. As grelhas têm implicações orçamentais e põem em causa o cumprimento do acordo com a troika.
Os sindicatos fazem finca-pé: «Não vamos recuar», diz Sérgio Esperança, presidente da Fnam; «Vamos levar isto para a frente e será uma manifestação de grande expressão» – diz, por seu turno, Jorge Roque da Cunha, presidente do SIM e ex-deputado do PSD. «Há médicos de férias que já informaram os serviços que querem fazer greve», revela.

Seguro apoia, PCP agita


A contestação na Saúde é uma oportunidade para o PS fazer valer o discurso da defesa do Estado Social. Esta segunda-feira, aliás, António José Seguro juntou à mesma mesa os líderes dos sindicatos do sector e representantes corporativos. No mesmo dia – o da abertura do balanço socialista do Estado da Nação –, visitou um hospital em Lisboa e apoiou a greve: «Compreendo bem as razões pelas quais eles lutam. Há uma descaracterização das carreiras na área médica, que poderá ter um impacto negativo na qualidade da prestação de saúde».
Na CGTP, a luta vai em crescendo. As ‘esperas’ a membros do Governo e ao Presidente da República sucedem-se. Álvaro Santos Pereira, na passada sexta-feira, na Covilhã, viu um manifestante atravessar-se em cima da sua viatura oficial. Passos Coelho fintou logo depois uma manifestação hostil em Braga. Cavaco Silva passou a ser um dos alvos da CGTP, desde que promulgou o Código do Trabalho.
O discurso sindical é municiado pelo PCP. Ontem, o Avante!, órgão oficial dos comunistas agitava a bandeira do fascismo para incentivar a luta de massas. «(Os protestos) dos trabalhadores, saindo crescentemente à rua, irão impor a grande crítica – a que despejará esta política cripto-fascista», escreveu o articulista Henrique Custódio.
Ao SOL, Domingos Abrantes, equiparou a luta contra o Governo e o Presidente à defesa da democracia: «As pessoas começam a perder as ilusões de que os cortes de direitos eram temporários. Está em curso uma alteração do regime democrático e constitucional, sob o nome ‘mudanças estruturais’». A alternativa? «Intensificar a luta», dispara.

Fonte: SOL
 
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