Sexualidade na adolescência
A educação da sexualidade leva os jovens a uma maior responsabilidade no que diz respeito à vida sexual. Nesta fase o diálogo com os adultos é essencial
Em qualquer fase da adolescência, a educação da sexualidade leva os jovens a uma maior responsabilidade no que diz respeito à vida sexual. Nesta fase o diálogo com os adultos é essencial.
A sexualidade é parte integrante do desenvolvimento da personalidade e da identidade, assim como do processo educativo, caracterizando o homem e a mulher no plano físico, afectivo, espiritual e psicológico.
Mas o que é isto de sexualidade, tão falada hoje em dia e considerada tabu em tempos? A OMS declara que sexualidade é «uma energia que nos motiva a procurar amor, contacto, ternura e intimidade; que se integra no modo como nos sentimos, movemos tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual; ela influencia pensamentos, sentimentos, acções e interacções e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental».
Mas o termo sexualidade não é fácil de definir. Segundo diz Ana Paula Bastos (2001), a sexualidade «em a ver com tudo o que somos e experimentamos, nasce e morre connosco, manifestando-se ao longo de toda nossa vida, está ligada à ideia de felicidade e comunicação com o outro, deve estar integrada no nosso projecto de vida». Ou seja, a sexualidade é todo o nosso ser, somos biofisiologicamente sexuados, tendo, a sexualidade, uma dimensão biológica indescritível, acompanhando-nos ao longo da nossa vida, diferente em cada idade e ao longo de todo o ciclo vital.
Para que se possa viver a sexualidade sem medos é importante passar a mensagem de que se deve falar deste tema com dignidade, simplicidade, oportunidade, clareza e verdade. Alguns jovens não conseguem lidar com este assunto com o à-vontade essencial para uma formação sexual positiva sendo, por vezes, uma matéria nova e ainda hoje considerada, por muitos, um tabu.
Apesar dos adolescentes estarem receptivos a mudanças, neste período acontece tudo muito rapidamente. São mudanças exteriores e interiores, é uma idade de conquista, da autonomia, da construção de identidade, de projectar o futuro e da definição da orientação sexual. É nesta fase que a família e os educadores têm um papel muito importante.
A ajuda destas pessoas permite um processo de crescimento mais lento, tornando a aprendizagem mais suave e o processo de maturação propícia ao desenvolvimento humano progressivo e harmonioso.
Em suma, de acordo com Ana Paula Bastos, a adolescência caracteriza-se por:
Período de transição entre a infância e a idade adulta;
Etapa fundamental do ser humano;
Tempo de abertura e de descoberta, de afirmação e construção;
Período de rápidas mudanças:
- Exteriores (do corpo, da imagem de si próprio;
- Interiores (emoções, humores, atitudes e valores, campo conceptual, relações com a família e os colegas...).
A formação de identidade do jovem adolescente determina o momento oportuno para o indivíduo enfrentar o desafio da intimidade, ou uma maior abertura e partilha no relacionamento com os outros. O autoconceito e a auto-estima ajudam o jovem a atingir uma estabilidade até à idade adulta.
É na escola, no grupo de amigos que estes jovens se sentem bem; os amigos são as pessoas mais importantes da sua vida, só a eles podem ser confidenciados os segredos, só eles são a companhia ideal, nos bons e maus momentos. É aqui que se desenvolve e consolida o conjunto de atitudes e valores face à sexualidade, ao amor, ao papel masculino e feminino, às normas de relacionamento entre os sexos.
Está consolidada, também, a orientação do desejo, ficando cada vez mais nítida a consciência sobre a orientação do desejo sexual, seja hetero, homo ou bissexual.
De acordo com alguns autores, a sexualidade na adolescência manifesta-se, fundamentalmente, através de sonhos sexuais, desejos, excitações e fantasias sexuais, masturbação, relações sexuais com ou sem penetração. Será, também, por esta altura (adolescência) e neste local (escola) que o aluno precisa de acções de prevenção ao nível da saúde sexual e reprodutiva, nomeadamente de gravidezes não desejadas e de contágio de infecções de transmissão sexual.
A família e a escola têm um papel preponderante nesta área. No que diz respeito ao espaço escolar, os objectivos de Educação Sexual, o desenvolvimento de atitudes e o desenvolvimento de competências passam por, segundo as linhas orientadoras do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde (2000), aumentar e consolidar os conhecimentos dos alunos acerca:
Das dimensões anatomofisiológicas, psicoafectivas e socioculturais de expressão da sexualidade;
Do corpo sexuado e dos seus órgãos internos e externos;
Das noções da higiene corporal;
Da diversidade dos comportamentos sexuais ao longo da vida e das diferenças individuais;
Dos mecanismos de reprodução;
Do planeamento familiar e, em particular, dos métodos contraceptivos;
Das doenças de transmissão sexual, formas de prevenção e tratamento;
Dos mecanismos da resposta sexual humana;
Das ideias e valores com que as diversas sociedades foram encarando e encaram a sexualidade, o amor, a reprodução e a relação entre os sexos;
Dos recursos existentes para a resolução de situações relacionadas com a saúde sexual e reprodutiva;
Dos tipos de abuso sexual e das estratégias dos agressores. Tenham desenvolvido atitudes de:
Aceitação das mudanças fisiológicas e emocionais próprias da sua idade;
Aceitação da diversidade dos comportamentos sexuais ao longo da vida;
Reflexão e de crítica face aos papéis estereotipados atribuídos socialmente a homens e mulheres;
Reconhecimento da importância dos sentimentos e da afectividade na vivência da sexualidade;
Aceitação dos diferentes comportamentos e orientações sexuais;
Prevenção face a riscos para a saúde, nomeadamente na esfera sexual e reprodutiva;
Aceitação do direito a cada pessoa decidir sobre o seu próprio corpo. Tenham desenvolvido competências para:
Expressar os seus sentimentos e opiniões;
Tomar decisões e aceitar as decisões dos outros;
Comunicar acerca do tema da sexualidade;
Aceitar os tipos de sentimentos que podem estar presentes nas diferentes relações entre as pessoas;
Adoptar comportamentos informados em matérias como a contracepção e a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis (DST’s) e infecções transmitidas sexualmente (ITS’s);
Adequar as várias formas de contacto físico aos diferentes contextos de sociabilidade;
Reconhecer situações de abuso sexual, identificar soluções e procurar ajuda;
Identificar e saber aplicar respostas assertivas em situações de injustiça, abuso ou perigo e saber procurar apoio, quando necessário.
É necessário, então, educar os jovens de que a sexualidade e a educação sexual têm a ver com o nosso corpo, com a nossa expressão e imagem corporal, com o nosso maior ou menor conforto em relação a ele. Não deixar que fiquem com a ideia de que a sexualidade é somente o acto sexual.
Não podemos separar a sexualidade dos afectos, daí que não se pode separar a educação sexual de uma educação da afectividade. Os pais, professores e o médico ou enfermeiro têm um papel fundamental na educação do adolescente.
Fonte:
Medicina & Saúde