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Entrevista a Carolina Bescansa, cofundadora do Podemos, liderado por Pablo Iglesia
Qual o principal rival do Podemos?
Os corruptos, a troika e os que se apresentam às eleições em seu nome.Qual seria um bom resultado no 20-D ?Conseguir a força necessária para trocar as coisas neste país.O que tem Pablo Iglesias que não têm os seus rivais? Porque seria um bom primeiro-ministro?Compromisso com as pessoas, sinceridade, formação, carisma, honradez e conhecer os problemas na primeira pessoa.Há um ano o Podemos era o partido com mais intenções de voto e agora as sondagens dizem que será a quarta força política...Há um ano que não paramos de crescer e chegamos ao 20-D com muito otimismo. Independentemente do que dizem as sondagens, sempre que houve eleições o Podemos cresceu (nas europeias e nas municipais). O Podemos nasceu para estas eleições, estamos a prepara-las e acreditamos que vamos ganhar.Fora de Espanha conhece-se menos o fenómeno do Podemos. Como explicam a aparição deste novo partido?Penso que em Portugal se percebe bem porque existe também uma crise da democracia representativa combinada com a crise financeira de 2008 que está a atingir com mais força os países do Sul. A combinação da crise institucional, económica e da democracia desemboca em enormes mobilizações sociais. Em Portugal não houve uma referência tão clara como o 15-M de 2011 em Espanha. Os dois países partilham uma sociedade mobilizada na rua mas nesta ocasião nós encontrámos mais cedo a via para levar às instituições o que já estava na rua. Nem sempre foi assim. Portugal já esteve à frente, tal como aconteceu em abril do 74.Há medidas muito inovadoras no programa do Podemos?O nosso programa foi elaborado durante meses por grupos de peritos e por pessoas da Plaza Podemos. Participaram mais de 10 mil pessoas e no fim votaram-se as propostas. A mais votada nasceu da Plaza Podemos, é anónima e não sabemos quem a propôs. Sugere que no meio da legislatura se possa convocar um referendo para revogar o mandato do primeiro-ministro e convocar novas eleições. É uma proposta diferente e a que melhor expressa o ADN do Podemos.Como é a Espanha do Podemos?Um país onde as pessoas não são despejadas se não têm uma alternativa de habitação, onde quem não tem dinheiro para pagar o aquecimento tem garantido o abastecimento de água, luz e eletricidade, onde todos os miúdos tomam o pequeno -almoço antes de ir para a escola, onde o ensino público recupera a dignidade e os recursos necessários para ter a qualidade que todas as crianças merecem, onde não há filas de espera nas salas das urgências, onde todas as vacinas são pagas pelo sistema nacional de saúde, onde todos têm os mesmos direitos independentemente do lugar onde vivem, onde os reformados não têm que pagar os medicamentos...Uma Espanha onde a dignidade é norma e onde todos tenhamos orgulho da nossa sociedade.Como é o perfil do votante de Podemos?É muito heterogéneo e por isso pensamos que podemos ganhar as eleições. Há perfis muito transversais em relação ao nível de estudos (variável que influi muito no voto), em género, em idade, e provavelmente onde temos menos igualdade é na variável campo/cidade. O nosso voto continua a ser muito urbano e temos problemas para fazer chegar a nossa mensagem ao meio rural.De onde vem o voto do Podemos?Quando tens um perfil tão transversal chega de muitos lugares. Há um processo de decomposição do eleitorado dos outros partidos. PP e PSOE juntos vão obter entre 40% e 45% dos votos quando em 2008 conseguiram 82%. Há muita volatilidade. O nosso voto vem nomeadamente do PSOE, IU e em parte do PP. E temos muito orgulho de saber que outra parte importante vem da chamada abstenção crítica, pessoas que nunca votaram porque não se sentiam identificadas com os partidos tradicionais, e dos jovens que votam pela primeira vez. Se nas eleições votassem só as pessoas com menos de 25 anos provavelmente íamos ter 250 deputados. Durante muito tempo falou-se da falta de interesse dos jovens pela política e com o Podemos isso melhorou. E sabemos que somos a força preferida dos espanhóis que vivem no estrangeiro. Um dos nossos objetivos é criar condições para que possam voltar.Um antigo votante do PP sente-se bem no Podemos?Em 2011 o PP obteve o melhor resultado da sua história e penso que muitas pessoas não votaram nele por razões ideológicas. O eixo esquerda-direita não é o que melhor explica o que se passa no nosso país. Muitas pessoas que não eram de direita acreditaram na mensagem do PP. Cerca de 20% votou PP não pela ideologia mas sim pelas promessas.Fez muitos estragos no partido o caso Monedero?Fez muito barulho. Não existe o tal caso e falou-se muito dele nos media. E o barulho fez estragos porque durante o tempo todo em que falaram de Monedero não falamos das nossas propostas para mudar o país. Existia interesse por parte de alguns de não nos deixar falar.O Podemos está mesmo livre de corrupção?Sem dúvida, porque não estamos a ser financiados pelos bancos. Recebemos dinheiro das pessoas. Como não temos dívidas não temos corruptos. É bom para os partidos não ter dívidas aos bancos e seria necessária para a democracia uma lei dos partidos que limitasse ao máximo o endividamento com os bancos. Estamos orgulhosos da nossa transparência e muito agradecidos às pessoas que com muito esforço mandam 10, 20, 30 euros, dinheiro com o qual estamos a financiar o sistema e a campanha.Como está a ser tratado o Podemos nos media?Eu perguntaria antes como fomos tratados pelo sistema: os partidos, as forças económicas e os meios de comunicação. Quando aparece uma força política com novas ideias e a intenção de mudar o país, há uma reação em bloco dos que se beneficiam do sistema. Reagiram com muita dureza mas contra isso temos a força das pessoas.Porque defendem salários baixos para quem se dedica à política?Historicamente defendeu-se que os salários dos políticos devem ser altos para garantir que não vão ser corruptos... ainda bem (risos). Os políticos devem fazer política por um sentido de compromisso com as pessoas e devem ter um salário digno porque se não só os ricos podem ser políticos. É importante viver com dignidade mas não estar afastados da realidade. Se com um salário próximo dos 2000 euros alguém não quer fazer política, os seus objetivos devem ser outros.Que papel tem a mulher no Podemos?Como no conjunto da sociedade, somos a maioria, e queremos a mudar muita coisa para ser um sistema mais justo e igualitário. O Podemos constrói-se sobre uma defesa de valores culturalmente femininos, que são a base dos direitos humanos. O rumo político do Podemos é feminino.Com quem pode formar governo o Podemos?É muito difícil falar agora. 30% a 40% do eleitorado ainda não decidiu o seu voto e nós saímos a ganhar. Podemos liderar um governo se formos o partido com mais votos de uma possível coligação. Se os nossos adversários conseguirem mais votos vão querer negociar com a direita. O cenário mínimo para formarmos governo é termos mais votos que o PSOE.
dn
Qual o principal rival do Podemos?
Os corruptos, a troika e os que se apresentam às eleições em seu nome.Qual seria um bom resultado no 20-D ?Conseguir a força necessária para trocar as coisas neste país.O que tem Pablo Iglesias que não têm os seus rivais? Porque seria um bom primeiro-ministro?Compromisso com as pessoas, sinceridade, formação, carisma, honradez e conhecer os problemas na primeira pessoa.Há um ano o Podemos era o partido com mais intenções de voto e agora as sondagens dizem que será a quarta força política...Há um ano que não paramos de crescer e chegamos ao 20-D com muito otimismo. Independentemente do que dizem as sondagens, sempre que houve eleições o Podemos cresceu (nas europeias e nas municipais). O Podemos nasceu para estas eleições, estamos a prepara-las e acreditamos que vamos ganhar.Fora de Espanha conhece-se menos o fenómeno do Podemos. Como explicam a aparição deste novo partido?Penso que em Portugal se percebe bem porque existe também uma crise da democracia representativa combinada com a crise financeira de 2008 que está a atingir com mais força os países do Sul. A combinação da crise institucional, económica e da democracia desemboca em enormes mobilizações sociais. Em Portugal não houve uma referência tão clara como o 15-M de 2011 em Espanha. Os dois países partilham uma sociedade mobilizada na rua mas nesta ocasião nós encontrámos mais cedo a via para levar às instituições o que já estava na rua. Nem sempre foi assim. Portugal já esteve à frente, tal como aconteceu em abril do 74.Há medidas muito inovadoras no programa do Podemos?O nosso programa foi elaborado durante meses por grupos de peritos e por pessoas da Plaza Podemos. Participaram mais de 10 mil pessoas e no fim votaram-se as propostas. A mais votada nasceu da Plaza Podemos, é anónima e não sabemos quem a propôs. Sugere que no meio da legislatura se possa convocar um referendo para revogar o mandato do primeiro-ministro e convocar novas eleições. É uma proposta diferente e a que melhor expressa o ADN do Podemos.Como é a Espanha do Podemos?Um país onde as pessoas não são despejadas se não têm uma alternativa de habitação, onde quem não tem dinheiro para pagar o aquecimento tem garantido o abastecimento de água, luz e eletricidade, onde todos os miúdos tomam o pequeno -almoço antes de ir para a escola, onde o ensino público recupera a dignidade e os recursos necessários para ter a qualidade que todas as crianças merecem, onde não há filas de espera nas salas das urgências, onde todas as vacinas são pagas pelo sistema nacional de saúde, onde todos têm os mesmos direitos independentemente do lugar onde vivem, onde os reformados não têm que pagar os medicamentos...Uma Espanha onde a dignidade é norma e onde todos tenhamos orgulho da nossa sociedade.Como é o perfil do votante de Podemos?É muito heterogéneo e por isso pensamos que podemos ganhar as eleições. Há perfis muito transversais em relação ao nível de estudos (variável que influi muito no voto), em género, em idade, e provavelmente onde temos menos igualdade é na variável campo/cidade. O nosso voto continua a ser muito urbano e temos problemas para fazer chegar a nossa mensagem ao meio rural.De onde vem o voto do Podemos?Quando tens um perfil tão transversal chega de muitos lugares. Há um processo de decomposição do eleitorado dos outros partidos. PP e PSOE juntos vão obter entre 40% e 45% dos votos quando em 2008 conseguiram 82%. Há muita volatilidade. O nosso voto vem nomeadamente do PSOE, IU e em parte do PP. E temos muito orgulho de saber que outra parte importante vem da chamada abstenção crítica, pessoas que nunca votaram porque não se sentiam identificadas com os partidos tradicionais, e dos jovens que votam pela primeira vez. Se nas eleições votassem só as pessoas com menos de 25 anos provavelmente íamos ter 250 deputados. Durante muito tempo falou-se da falta de interesse dos jovens pela política e com o Podemos isso melhorou. E sabemos que somos a força preferida dos espanhóis que vivem no estrangeiro. Um dos nossos objetivos é criar condições para que possam voltar.Um antigo votante do PP sente-se bem no Podemos?Em 2011 o PP obteve o melhor resultado da sua história e penso que muitas pessoas não votaram nele por razões ideológicas. O eixo esquerda-direita não é o que melhor explica o que se passa no nosso país. Muitas pessoas que não eram de direita acreditaram na mensagem do PP. Cerca de 20% votou PP não pela ideologia mas sim pelas promessas.Fez muitos estragos no partido o caso Monedero?Fez muito barulho. Não existe o tal caso e falou-se muito dele nos media. E o barulho fez estragos porque durante o tempo todo em que falaram de Monedero não falamos das nossas propostas para mudar o país. Existia interesse por parte de alguns de não nos deixar falar.O Podemos está mesmo livre de corrupção?Sem dúvida, porque não estamos a ser financiados pelos bancos. Recebemos dinheiro das pessoas. Como não temos dívidas não temos corruptos. É bom para os partidos não ter dívidas aos bancos e seria necessária para a democracia uma lei dos partidos que limitasse ao máximo o endividamento com os bancos. Estamos orgulhosos da nossa transparência e muito agradecidos às pessoas que com muito esforço mandam 10, 20, 30 euros, dinheiro com o qual estamos a financiar o sistema e a campanha.Como está a ser tratado o Podemos nos media?Eu perguntaria antes como fomos tratados pelo sistema: os partidos, as forças económicas e os meios de comunicação. Quando aparece uma força política com novas ideias e a intenção de mudar o país, há uma reação em bloco dos que se beneficiam do sistema. Reagiram com muita dureza mas contra isso temos a força das pessoas.Porque defendem salários baixos para quem se dedica à política?Historicamente defendeu-se que os salários dos políticos devem ser altos para garantir que não vão ser corruptos... ainda bem (risos). Os políticos devem fazer política por um sentido de compromisso com as pessoas e devem ter um salário digno porque se não só os ricos podem ser políticos. É importante viver com dignidade mas não estar afastados da realidade. Se com um salário próximo dos 2000 euros alguém não quer fazer política, os seus objetivos devem ser outros.Que papel tem a mulher no Podemos?Como no conjunto da sociedade, somos a maioria, e queremos a mudar muita coisa para ser um sistema mais justo e igualitário. O Podemos constrói-se sobre uma defesa de valores culturalmente femininos, que são a base dos direitos humanos. O rumo político do Podemos é feminino.Com quem pode formar governo o Podemos?É muito difícil falar agora. 30% a 40% do eleitorado ainda não decidiu o seu voto e nós saímos a ganhar. Podemos liderar um governo se formos o partido com mais votos de uma possível coligação. Se os nossos adversários conseguirem mais votos vão querer negociar com a direita. O cenário mínimo para formarmos governo é termos mais votos que o PSOE.
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