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Sozinhos em casa

Luana

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Será que os filhos já estão preparados para ficar sozinhos em casa? E os pais estarão prontos a dar esse voto de confiança? Convidá-los a participar na elaboração das refeições, a fazer a própria cama ou a fazer pequenos recados pode ajudar a desenvolver a maturidade dos mais novos.

A primeira vez que Celeste Sebastião deixou a filha Joana, de 10 anos, sozinha em casa a experiência teve direito a verificação das regras. «A Joana sempre foi alertada para os perigos externos e a primeira vez que a deixámos sozinha em casa foi numa ida ao supermercado», recorda a mãe. «Quando voltámos estacionei o carro um pouco distante da casa e fui tocar à campainha para verificar se ela abria a porta a estranhos ou se cumpria a regra. Escondi-me, tocámos duas e três vezes e ela nem sinal, foi como se não estivesse ninguém em casa». Celeste Sebastião diz que a experiência funcionou pois «foi ela que quis ficar sozinha, logo tinha todo o interesse em cumprir. Esta parte é importante e possivelmente as primeiras vezes que ficam sozinhos devem ser eles a querer, pois esforçam-se mais por cumprir as regras que definimos».


Mas será que existe uma idade ideal para começar a deixar os filhos sozinhos em casa, ainda que por curtos períodos de tempo? O psicólogo José Quintino Aires defende que não existe uma idade fixa «porque a evolução da maturidade depende muito de criança para criança. Normalmente começa a ser seguro deixar os filhos sozinhos em casa, por períodos curtos, quando eles entram na puberdade, o que acontece entre os 10 e os 12 anos». Ainda assim, o psicólogo reforça que devem ser «crianças habituadas a visitar outras crianças, que ficaram sozinhas mas com adultos por perto e não exactamente na mesma divisão da casa, ou que experimentaram pequenos movimentos de autonomia, como ir sozinho para a escola. Uma criança sem experiência tende a explorar tudo ao mesmo tempo, o que pode ser um comportamento muito perigoso».


No entender de Catarina Figueiredo, psicóloga educacional, os pais não devem deixar os filhos sozinhos em casa antes dos 12 ou 13 anos «mesmo que seja por um período de tempo muito curto. Contudo, esta decisão estará sempre dependente de cada criança, da sua autonomia e independência face aos pais, assim como da maturidade emocional de lidar com a solidão enquanto os pais se encontram ausentes». Para a psicóloga, algumas crianças sentem-se sozinhas em casa. «Além de grande parte das crianças serem filhos únicos, ao regressarem da escola passam muitas horas desacompanhadas, sem regras, a fazer a própria gestão do tempo, que muitas vezes passa pelo visionamento de TV até os pais chegarem a casa. Sentem a ausência deles, sentem-se desacompanhadas para conversar, realizar os trabalhos de casa ou até mesmo para brincar/jogar». As dificuldades que os pais sentem em conciliar a vida profissional com a vida familiar ajuda a explicar parte do problema. «Alguns pais não têm uma rede de apoio que lhes permita deixar os filhos com os avós, por exemplo, enquanto estão a trabalhar. Assim, alguns ‘pedem’ inconscientemente que os filhos cresçam e assumam a responsabilidade de adultos, entregando-lhes a chave de casa ou deixando-os sozinhos, por longos períodos, numa idade precoce».

Será que chegou a hora?


Catarina acabou de completar 10 anos, mas ainda assim não se sente muito à vontade para ficar sozinha em casa ou para ir sozinha para a escola. «Nunca deixo os meus filhos sozinhos em casa», confessa Margarida Almeida, mãe de Catarina e dos gémeos Miguel e João, de seis anos. «Se alguma vez ficaram sozinhos em casa foi uma questão de poucos minutos, só para ir à garagem buscar alguma coisa esquecida no carro. Mas isso é mesmo muito raro. Tenho medo que aconteça algum acidente, que se magoem. Enfim, tenho receio de todos aqueles acidentes domésticos que podem ocorrer».


Os pais podem aperceber-se se os filhos estão ou não preparados para ficar sozinhos em casa pelo seu comportamento no dia-a-dia. «Muitos pais simulam estar pouco atentos, ou até criam situações artificiais com a ajuda de amigos pedindo-lhes para telefonar para casa», refere Quintino Aires. Outro truque passa por convidar os filhos a participar em actividades realizadas na cozinha, «um espaço normalmente mais perigoso, onde podem avaliar e ensinar os filhos na sua presença. Quando percebem que a criança domina os perigos que ali podem surgir começam a dar-lhes mais autonomia». O que não tem de ser necessariamente aos 10 anos. «Um jovem que não sabe fazer a própria cama, que não tem o cuidado de preparar a pasta com tudo o que precisa para o dia seguinte na escola, que não é capaz de estudar sozinho, que não sabe preparar o pequeno-almoço, que nunca se treinou no desconhecido mundo indo sozinho para a escola, mesmo com 16 ou 18 anos, não está ainda preparado para ficar sozinho em casa», avança Quintino Aires. Catarina Figueiredo acrescenta outra dica: «Um pai pode pedir ao filho para ir à padaria mais próxima de casa e avaliar como a criança vivenciou essa experiência. Se aquando do pedido a criança recusar, é sinónimo de que não se encontra preparada para ficar sozinha em casa».


Mas o facto de os filhos demonstrarem um maior grau de maturidade também pode depender das atitudes dos progenitores. «Muitos pais começam muito cedo, logo que os filhos iniciam o 1º Ciclo do Ensino Básico, chamando-os a participar nas actividades de casa. Claro que fazem poucas coisas e as mais seguras, sempre com a vigilância dos adultos. Mas a cada vez podem atribuir-lhes mais responsabilidades, maior participação e chegam a um momento em que sentem que é seguro experimentar deixar o filho em casa por pouco tempo», explica Quintino Aires. «É uma caminhada longa, não acontece de um ano para o outro, por isso deve começar cedo». Sofia Roque começou a deixar o filho Pedro, de sete anos, sozinho em casa por curtos períodos de tempo. «Depende da autonomia e da maturidade revelada, além das relações de proximidade com os vizinhos». Por viver numa aldeia, tem a sorte de os vizinhos funcionarem como uma família alargada, «sempre atentos e disponíveis. Comecei a deixá-lo ir fazer pequenas compras sozinho, à padaria ou mini-mercado, vigiado de perto nas primeiras vezes, mas sem se aperceber. Uma espécie de liberdade controlada». Estes pequenos recados ajudam à construção da autonomia e confiança das crianças. «Por exemplo, quando vão jantar fora, deixe que seja o seu filho a fazer o pedido, ou até mesmo se quer um copo de água que seja ele a pedi-lo», exemplifica Catarina Figueiredo.

Perigos à espreita


Outro aspecto a ter em atenção passa pela intimidade dos filhos com os pais, «pois só assim terão a coragem de alertar o pai ou a mãe caso alguma coisa corra mal ou seja suspeita. As crianças que passam mais tempo junto dos pais, mesmo que cada um esteja envolvido nas suas próprias actividades, amadurecem mais cedo, portanto a prática de chamar os filhos para um espaço comum da casa, evitando os tempos longos que hoje muitas crianças e jovem passam sozinhos no próprio quarto, é uma excelente ideia», avança Quintino Aires. Mesmo que a criança esteja ocupada a brincar, no seu mundo, está sempre muito atenta às conversas dos adultos «e deste modo pode aprender muitas coisas que nessas experiências de ficar sozinha lhe poderão ser muito úteis». E caso, seja necessário ausentar-se, lembre-se de informar os filhos do local exacto onde se encontra. «Os pais devem ter a preocupação de informar os filhos do seu paradeiro, pois esta tomada de conhecimento por parte dos filhos transmite-lhes confiança e segurança. Além disso os pais devem estar sempre contactáveis», sublinha a psicóloga.


Para Margarida Almeida, os mil e um perigos que uma criança pode enfrentar ao ficar sozinha em casa chegam para a demover dessa ideia. «Tenho medo que consigam abrir alguma janela e possam cair, que vão buscar alguma faca ou tesoura e se cortem, que abram a porta a estranhos», confessa. Segundo Quintino Aires, o maior risco «é a introdução de estranhos, que a criança ou mesmo alguns adolescentes não têm capacidade para avaliar. São frequentes os roubos realizados por amiguinhos da escola, por isso nem precisamos pensar nos perigos maiores que representam adultos estranhos». É por isto que entregar as chaves de casa é um sinal que se reconhece a maturidade do filho, pelo que este gesto só deve acontecer quando há realmente esse reconhecimento. Este voto de confiança pode ser benéfico para a construção da própria individualidade e autonomia do adolescente. Mas atenção: «é importante que não seja uma falsa construção da identidade. Iludir um jovem sobre a sua individualidade e autonomia quando o nível de desenvolvimento alcançado ainda não corresponde à capacidade de ficar sozinho em casa atrapalha mais do que ajuda», sublinha o psicólogo. «O jovem sente-se perdido, sem referências e, mais grave, enviesa a relação entre pais e filhos que à primeira falha reclamam mais maturidade do filho que, convencido que já é grande, deixa de respeitar a autoridade dos pais».
Actualmente com 16 anos, Joana tem regras muito bem definidas. «Pode sair quando quer, desde que eu saiba onde e com quem», explica Celeste Sebastião. «Tem de ter o telemóvel sempre à mão e responder sempre às minhas mensagens. Claro que em tempo de aulas as saídas são reduzidas e até hoje sempre deu mostras de ser responsável e de confiança. Essa é a regra mais importante. Se não falhar tem tudo, se falhar não tem nada».



Defina regras


Antes de os pais tomarem a decisão de deixar os filhos sozinhos em casa, deverão seguir alguns passos prévios:
- Auscultar a opinião da criança. Se abordar o assunto com o seu filho e ele confessar que não quer estar sozinho, ou mostrar algum sentimento de desconforto ou pouco à-vontade com a ideia de ficar sozinho, então a melhor opção é encontrar outra solução a deixá-lo sozinho em casa;
- Deixe o alarme ligado;
- Os telemóveis devem estar sempre ligados;
- Deixe comida já preparada, para que não sejam obrigados a mexer no fogão;
- Avise amigos ou familiares que vivam perto que a criança ficou sozinha em casa;
- Trancar a porta pode revelar-se uma má opção. Em caso de emergência a criança não consegue sair. Opte por dar-lhe uma chave e ficar com outra;
- Dê-lhe uma lista com números de telefone importantes para ligar em caso de necessidade, como o seu, da PSP, GNR ou dos bombeiros. Explique em que circunstância os deverá utilizar;
- Se alguém bater à porta, ensine-o a não a abrir e a não dizer que está sozinho. A mesma regra aplica-se às chamadas telefónicas;
- Dê-lhe algumas tarefas que o obriguem a ficar ocupado e a fazer algo que não o coloque em risco;
- Ensine-o onde estão as lanternas em caso de falhas de electricidade.





A idade ideal para


Pode atribuir pequenas tarefas aos seus filhos consoante as idades. Claro que as recomendações devem ser adaptadas consoante a maturidade de cada um, assim como aos hábitos de cada família.

Dos 3 aos 5 anos


Experimente pedir-lhes para trazer alguma coisa que está noutra divisão da casa. Isso ajuda-os a sentirem-se autónomos num ambiente controlado e a perder o medo de ficarem sozinhos. Pode dizer-lhes para lavarem os dentes sozinhos, para acender a luz do corredor e tentar vencerem o medo por eles próprios.


6 aos 8 anos


É a altura de interiorizar as regras de segurança, como não abrir a porta da rua excepto com a autorização dos pais. Também podem passear na rua sem dar a mão ao pai ou à mãe, se respeitarem as regras. Esta é a idade ideal para serem ensinados através de exemplos, pois vão copiar as suas acções.

9 aos 12 anos


Pode deixá-los sozinhos em casa por curtos períodos ou deixá-los sozinhos dentro do carro enquanto vai comprar o jornal ao quiosque do outro lado da rua. A partir dos 12 anos também pode encarregá-los de fazer pequenos recados no bairro, como ir ao mini-mercado. Em caso de emergência pode sempre ligar-lhe através do telemóvel.

13 aos 15 anos


Esta é a altura indicada para cuidarem de um irmão mais novo durante uma curta ausência dos pais. Também podem ficar sozinhos em casa a estudar ou a brincar e já podem ter acesso às chaves de casa para poderem entrar ou sair.




Escrito por Sónia Mendes de Almeida
 
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