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Notícias "Tragédia de Alcafache". Pior acidente ferroviário do país foi há 40 anos

Lordelo

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O relógio marcava 18h37 do dia 11 de setembro de 1985 quando aconteceu o maior desastre ferroviário de Portugal e um dos acontecimentos mais trágicos do país.


Duas composições, a uma velocidade aproximada de 100 quilómetros/hora, colidiram no Apeadeiro de Moimenta-Alcafache da Linha da Beira Alta, localizado na freguesia de Moimenta de Maceira Dão, concelho de Mangualde, distrito de Viseu.


O violento choque destruiu logo as locomotivas, assim como algumas carruagens de ambas as composições, e provocou vários focos de incêndio, devido ao combustível, que estava, na altura, também presente nos sistemas de aquecimento das carruagens.


Conta o jornal A Comarca de Arganil, em 2019, que "devido ao facto dos materiais utilizados nas carruagens não serem à prova de chamas, o fogo propagou-se rapidamente, produzindo grandes quantidades de fumo".


Foi o pânico. Os passageiros que não morreram no embate tentaram sair o mais depressa que conseguiam. Várias pessoas, entre as quais crianças, ficaram presas nos destroços das carruagens. Algumas ainda foram socorridas por outros passageiros, mas muitas não conseguiram sair a tempo e morreram devido às chamas ou asfixiadas pelo fumo que estas produziram.


Até hoje desconhece-se o número exato de vítimas mortais do acidente. Mas aponta-se para mais de 100.


Os enganos que conduziram à tragédia


As causas do acidente, descrito na altura pelo jornal 'O Primeiro de Janeiro' como 'A Tragédia de Alcafache', estão relacionadas com uma sequência de enganos.


Segundo a National Geographic, publicação que em 2024 fez uma reportagem sobre a colisão, às 15h57, parte de Campanhã, no Porto, um comboio Sud-Express com destino a Paris-Austerlitz. Levava à volta de 400 passageiros, a maior parte emigrantes que tinham vindo passar férias a Portugal. Sai com um atraso de 17 minutos.


Quase uma hora depois, às 16h55, parte da estação da Guarda um comboio regional com destino a Coimbra, cumprindo o horário. "Porque o Sud-Express segue em direcção a Vilar Formoso, atravessando assim a faixa centro-interior portuguesa, ambos os comboios terão de, a certa altura da sua viagem, passar no mesmo troço da Linha da Beira Alta, eixo ferroviário central na região, mas que na maior parte do percurso tem apenas uma única via", explica a mesma publicação.


O Sud-Express chega a Nelas às 18h19. Entretanto, o comboio regional alcança quatro minutos depois a estação de Mangualde, a poucos quilómetros. Aqui, tendo em conta o atraso do comboio internacional, este comboio devia ter aguardado. Mas não o fez.


"Ora, dois comboios cruzando a mesma linha única ao mesmo tempo é uma certeza assustadora de choque frontal: sendo impossível comunicar, na altura, com dois comboios em andamento, os passageiros e funcionários circulando em ambas as viaturas rumam a um desastre inevitável; e este ocorre às 18h37, quando o internacional 315 e o regional 1324 chocaram com estrondo e violência, descarrilando ao longo de dezenas de metros num espaço florestal", relata a National Geographic.


Os bombeiros que participaram na operação de salvamento descreveram - e ainda hoje em dia descrevem - que era um "cenário de absoluto horror".


Todos os hospitais da região, principalmente o de Viseu, ficaram lotados e algumas das vítimas, até pela gravidade, foram transportadas para Porto ou Coimbra. A Força Aérea Portuguesa e o Exército colaboraram ativamente nas operações, nomeadamente no resgate dos feridos e no transporte dos mesmos por via aérea.


Três dias de luto e apuramento de responsabilidades


Ramalho Eanes, que era Presidente da República na altura do acidente, visitou nessa mesma noite o local do acidente e os feridos internados no hospital de Viseu.


Eanes, ciente da gravidade do que tinha acontecido e também dos fantasmas de um país que apenas há uma década deixara de viver em ditadura, declarou que Portugal tinha o direito de saber o que se passara ali.


As imagens foram transmitidas pela televisão logo naquela madrugada, o que, naquela altura, só era possível porque o Chefe de Estado o fez acontecer.


Perante tais imagens, centenas de cidadãos dirigiram-se aos hospitais para dar sangue.


O primeiro-ministro Mário Soares anunciou, entretanto, três dias de luto nacional e um inquérito para apuramento dos factos.


O inquérito rapidamente concluiu que o acidente foi causado por erro humano. Alguém não comunicara o atraso do Sud-Express. No entanto, após quatro anos de julgamentos - que envolveram quatro arguidos -acabaram sem culpados.


Nota a National Geographic que "sem registos escritos ou eletrónicos" era a palavra de cada arguido contra a do outro e, como tal, o juiz não pode fazer mais do que os absolver.

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